Argentum

Capítulo 26

Quando a porta finalmente se fechou elas se encararam. Maia se aproximou erguendo a mão até o ombro da veterinária, movimento que fez Alicia paralisar até ela perceber que a mais nova apenas estava reparando em seu ferimento.

– Você está sangrando de novo – disse Maia num tom baixo e arrependido, como se sentisse que era culpada pelo que havia acontecido.

– Não é nada demais – assegurou Alicia colocando a mão direita da menor entre as suas – Você está realmente bem? Porque nesse momento estou repensando seriamente em mudar meus planos e ficar aqui. É seu irmão, mas depois do que vi hoje eu não confio na sua segurança com ele por perto.

O sorriso discreto que surgiu no rosto de Maia não fazia jus a alegria que percorreu seu corpo com a preocupação de Alicia, mas ela controlou suas expressões. Apenas levou sua outra mão colocando-a sobre as mãos quentes que envolviam sua mão direita e sorriu um pouco mais largo passando confiança para o que diria.

– Vou ficar bem, não pretendo sair do meu quarto hoje, farei as últimas refeições do dia aqui – disse ela acariciando com o polegar o dorso da mão de Alicia – Vou conversar com Antonieta quando ela vier levar as louças do chá. Manterei a porta trancada, mesmo que duvide que meu irmão tenha coragem de voltar a falar comigo hoje. Amanhã trataremos por intermédio de um advogado, o qual vou contatar ainda hoje informando sobre o que ocorreu agora a pouco. Garanto-lhe que não precisa se preocupar com minha segurança, muito menos mudar seus planos. Mas pode falar comigo quando chegar em casa para que eu lhe confirme que tudo continua bem aqui – disse ela encarando as mãos das duas juntas o tempo todo, até parar de falar e erguer o olhar encarando os castanhos claros da veterinária que estavam um tanto mais escuros naquele momento por estarem longe da luz que entrava pela janela.

– Prometa-me que não vai ficar sozinha com ele? – pediu a veterinária sem conseguir controlar seu sentimento de proteção um tanto exagerada em alguns casos, mas completamente compreensível naquele momento.

– Prometo – assegurou Maia com mais um sorriso – Obrigada por me defender. Nunca havia visto Giovani naquele estado. Não pretendo mais ficar sozinha com ele, não sabendo que provocarei sua ira mais vezes ao não aceitar suas ordens.

– Certo – concordou Alicia com um movimento da cabeça acompanhando a palavra, mas internamente ela ainda se debatia entre ir e ficar.

– Vá tranquila – murmurou Maia se aproximando da maior enquanto soltava suas mãos das dela para envolver a cintura de Alicia com seus braços e pousar a cabeça no centro do peito da veterinária – Obrigada por tudo. Eu não tenho como lhe agradecer devidamente.

-Tem sim – sussurrou Alicia com um suspiro cansado e ao mesmo tempo aliviado, todo seu corpo se acalmando ao sentir o corpo pequeno de Maia se aconchegar ao seu – Já o está fazendo. Apenas fique bem – disse ela devolvendo o abraço e acariciando os cabelos claros com uma das mãos.

Demoraram vários minutos antes de se soltarem, ainda se encararam por vários instantes após isso. Alicia soltou mais um suspiro antes de se aproximar deixando um beijo na testa de Maia como despedida. Com o coração apertado ela se despediu e pegou suas coisas para ir para casa. Antes de sair, no entanto, passou na cozinha dizendo a Antonieta para manter um olho em Giovani pois aquele homem estava descontrolado com a irmã mais nova dando ordens acima dele. A velha senhora disse que garantiria que ele deixasse Maia em paz até o momento de terem que se encontrar com o advogado.

O caminho até a cidade foi deito com certa pressa. Alicia queria chegar logo a fim de ligar para Maia e conferir se ela estava mesmo bem. E assim foi feito quando ela chegou, às 203, e estacionou dentro da garagem de sua casa. A clínica estava fechada e apenas as luzes do andar superior estavam acesas indicando que sua mãe estava fazendo alguma coisa na cozinha e sala. Após conferir que Maia iria jantar e, logo após isso, dormir a veterinária finalmente saiu de seu carro e subiu. Deu um beijo rápido na mãe e correu para seu carro antes que Dona Marta visse o machucado por baixo da jaqueta que ela estava usando.

Sabia que teria de se explicar para a mãe no dia em que ela pegasse suas roupas para lavar, mas não estava com vontade de contar tudo sobre aquela tarde naquele momento. Sabia que tinha sorte de não ter Talitha ali para lhe exigir os fatos e queria aproveitar isso para digerir os últimos acontecimentos. Sempre foi uma pessoa carinhosa, podia dizer que todas suas ações para com a dona do Rancho advinham desse aspecto da sua personalidade. O que ainda tentava entender era a reciprocidade que sentiu de Maia. Ainda não conhecia o suficiente da mais nova para atribuir isso a algum lado de sua personalidade, mas em sua mente a única explicação para a forma com que havia sido tratada era essa.

De toda forma ela ainda precisava processar tudo o que havia acontecido naquela tarde. Todos os sustos e tensões pelas quais ela passou ainda estavam influenciando demais suas percepções e ela não queria falar com ninguém antes de realmente analisar por si mesma tudo o que havia se passado. Mas ela tinha plena consciência de que teria apenas aquela noite para isso, por esse motivo teria que aproveitá-la. Mas também sabia que não aproveitaria nada pois passaria todo o resto dela pensando em Maia e se recordando das incrivelmente boas sensações que haviam lhe preenchido por estar tão perto da menor.

Alicia não foi a única a ter pensamentos rodando sua mente antes de dormir. Maia não conseguia parar de pensar e relembrar cada instante de sua tarde com a veterinária. Por alguma razão que desconhecia sua mente se recusava a pensar em qualquer coisa que não fosse a médica veterinária de olhos cor de mel e cabelos escuros. Queria entender as reações de seu corpo à proximidade de Alicia e, principalmente, aos carinhos da mais velha. Não estava acostumada a receber carinho assim, ao menos nada perto disso depois da morte de sua mãe. Tentava dizer a si mesma que a surpresa de ter alguém que havia acabado de conhecer protegendo-a e cuidando-a daquela forma era o motivo para tudo o que sentiu, mas sabia com toda a certeza do mundo que não era. Só ainda não havia entendido o que eram aqueles sentimentos.

Por conta desses pensamentos inundando sua mente ela acabou por conseguir dormir apenas quando era muito tarde. Foi acordada por Antonieta abrindo a porta de seu quarto com a chave reserva e entrando com seu desjejum em uma bandeja. A senhora informou que Giovani estava na sala de jantar comendo também e que Dr. Márcio, o advogado, havia acabado de chegar. Quase uma hora depois Antonieta informou aos dois que Maia os estava esperando no escritório. Eles a encontraram usando um vestido azul claro de algodão sentada atrás da mesa do escritório, recostada ao estofado da enorme cadeira em frente as amplas janelas.

– Sinto muito que tenham esperado tanto – disse ela cumprimentando Márcio com um aceno de cabeça – Mas já podemos começar.

O advogado se sentou em uma das duas cadeiras em frente a longa mesa e começou a retirar papéis de dentro de sua pasta preta. Giovani não se deu ao trabalho de se sentar. Ele apenas encarou Maia com um olhar de raiva e indiferença antes de se pronunciar.

– Podemos parar com essa baboseira – disse ele de braços cruzados sobre o peito coberto pela camisa social branca de marca – Você não vai assumir esse lugar porcaria nenhuma. Viaja amanhã. Vai morar com nosso pai. Ele, assim como eu, tem a cabeça no lugar e achou essa ideia ridícula, você vai para os Estados Unidos o mais cedo possível para que nosso pai coloque um pouco de juízo em você – disse ele com a mesma expressão de superioridade e indiferença que tinha adotado desde o momento em que entrou no escritório.

O advogado encarou-o com o cenho franzido, surpreso com as palavras que ele escolheu. Maia, no entanto, passado os primeiros segundos enquanto ela absorvia a informação dada por seu irmão começou a gargalhar deixando Márcio ainda mais surpreso e Giovani desconfortável e indignado. Controlado seu pequeno acesso de riso, Maia simplesmente cruzou os dedos sobre a mesa e encarou o irmão com um sorriso divertido no rosto.

– Então, quando não teve seus desejos e vontades atendidos, você simplesmente decidiu ligar para o papai pedindo que ele me repreendesse? É isso mesmo o que você fez, Giovani? – perguntou ela com um ar de riso se inclinando na direção do irmão – Achei que tivéssemos 33 e 27 anos e não 12 e 6 de novo.

– Está achando engraçado? Pois pode parar de rir, você vai para os Estados Unidos sim! E quando chegar lá vai ficar encantada com tudo e sequer vai se lembrar dessa porcaria de fazendinha no fim do mundo! Porque você tem que admitir para você mesma que só está querendo tentar isso por puro capricho seu. Não dou seis meses para enjoar de brincar de administradora e querer voltar para Minas – ele ia dizendo, parecia ter ainda mais a dizer, mas o som alto da mão de Maia acertando a madeira da mesa com força o calou.

 

N/A: Um presentinho pra quem vai fazer Enem amanhã (como eu) kkkkk

Bjs 

;]



Notas:



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4 Respostas para Capítulo 26

  1. Que cara insuportável! esse irmão da Maia! agora só falta o pai dela aparecer na fazenda também!
    Ainda bem que Maia é decidida!
    Eu achei que fosse rolar um beijo leve entre elas no quarto! acho bom esse primeiro beijo delas algo muito bom! pq a ansiedade que voce esta causando na gente, e demais! kkk
    bjs
    Fica na paz!

    • Realmente insuportável, concordo kkkkkk e realmente, só falta o pai dela mesmo, mas não faria muita diferença no que ela decidiu mesmo hehe.
      Kkkk Esse beijo demora, eu já alerto kkkk, mas vai valer a pena.

      Bjs
      ;]

  2. Alini, estou na torcida para vc fazer uma ótima prova!
    Obrigada por mais um ótimo capítulo!!
    Bjs

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