Argentum

Capítulo 20

Quando chegou na clínica era perto das 13h da tarde, ela conseguiu evitar Talitha que havia ido almoçar em casa. Sua mãe pareceu ignorar a expressão satisfeita e, talvez, boba que ocupava seu rosto. Alicia desceu para a consulta marcada para as 130 apenas quando ouviu que a senhora e seu velho cachorrinho haviam chegado. Ele estava fazendo acompanhamento de diabetes e a senhora consumava brincar com Alicia que era impressionante que ela não tivesse a doença, mas seu pequeno amiguinho sim. A veterinária foi direto para seu consultório deixando apenas um sorriso e um ‘boa tarde’ para a amiga que a encarou com um olhar repreendedor, mas se manteve calada.

A consulta durou pouco mais de uma hora e meia. Alicia coletou sangue e fez o teste da glicemia do cachorrinho de 15 anos e ainda marcou outro dia para ele vir fazer um outro exame de sangue. Marcando ainda uma data de um exame completo para algumas semanas. Logo que a senhora e seu cachorrinho sairam Talitha fez uma moça com um gato entrarem. O animal parecia ter ingerido algo que não deveria e Alicia levou gato e a moça para a sala de ultrassom. Descobriram que ele havia ingerido uma pequena pedra, mas era tão pequena que, passado o desconforto gástrico que ela provocou o animalzinho não teria outros problemas.

Alicia receitou alguns protetores gástricos para serem usados no dia e um laxante para acelerar a saída do corpo estranho que deveria ser usado no dia seguinte. Pediu o retorno para a segunda feira para fazerem outros exames porque o animal parecia estar ingerindo um pouco de terra por algum motivo e isso poderia significar alguma deficiência de minerais. Era quase 17h da tarde quando a veterinária começou a higienizar seu consultório e os aparelhos que havia utilizado separando o que Talitha deveria esterilizar. Estava tranquilamente limpando a mesa de atendimento com álcool quando ouviu a porta do consultório ser aberta.

– Você não vai fugir dessa conversa agora, dona Alicia – disse a voz séria e irritada de Talitha fazendo a veterinária suspirar.

– Não temos nada para conversar – respondeu ela continuando o que fazia mostrando que não tinha intenção de prolongar o assunto.

– Você está fugindo de mim, se está fugindo então é óbvio que temos o que conversar – insistiu Talitha se sentando sobre a mesa de Alicia – Vamos, diga o que tem a dizer sobre a Srta. Almeida. Estou aqui esperando para ouvir.

– Não tem nada que você precise ouvir – suspirou a veterinária deixando a mesa de atendimentos de lado e se sentando ao lado de Talitha em sua mesa de madeira clara – Foi divertido até, estou ensinando algumas coisas sobre cavalos a ela. Vamos nos tornar boas amigas e isso é tudo – disse ela dando de ombros.

– Amigas? Sério Ali? – questionou Talitha com um olhar preocupado e triste – Você vai ser só amiga dela? Simples assim?

– Sim Talitha, simples assim – disse a veterinária ficando séria – Já estamos nos tornando boas amigas, sinto isso. Vamos ser grandes amigas ainda e para min isso está ótimo. É tudo o que eu preciso.

– Mentira – acusou Talitha se levantando e ficando em frente à amiga – Está escrito na sua cara que é mentira. Olha só pra você, amiga. Só de falar que é tudo o que precisa você já fica com essa cara triste de quem está conformada com a derrota.

– Mas isso é tudo o que posso ter esperanças de ter, Litha. Eu e ela nunca seremos mais do que simples amigas. Tenho que me contentar com isso porque não vou conseguir simplesmente não ficar perto dela – falou a veterinária cruzando os braços – Não adianta eu alimentar falsas esperanças. Seremos grandes amigas e espero que apenas isso seja o suficiente para mim. Porque se não for farei que ser.

– Podem até ser grandes amigas, mas sua melhor amiga continuarei sendo eu – reclamou a mais nova descruzando os braços da veterinária a fazendo com que ela abraçasse sua cintura, passando seus braços pelos ombros dela e começando um carinho nos cabelos escuros – E como melhor amiga sei que isso de ser amiga da olhos verdes vai te machucar.

– Você é mais que minha melhor amiga – murmurou Alicia com um suspiro apertando a cintura de Talitha – É minha irmãzinha e nunca ninguém vai tomar esse posto de você. Mas não posso querer mais do que a amizade da Maia. Vou me machucar se criar falsas esperanças de poder ser mais. Prefiro sofrer por um motivo que já sei prever do que por um que não imagino quando ou como vai acontecer. Vai ser melhor assim.

– Não está certo isso – murmurou a mais nova suspirando e continuando o carinho na amiga – Você não merece sofrer Ali. Das pessoas que conheço a que mais merece ser feliz é você. Não é justo que tenha que passar por isso e sofrer por um sentimento que é tão bonito.

Alicia não respondeu, só ficou naquele abraço reconfortante por mais um tempo. Sabia que sofreria de um jeito ou de outro, não havia uma escolha quando a não sofrer. Ela já havia notado que não conseguiria se afastar de Maia, além de ter percebido também que não conseguiria simplesmente parar de pensar na dona dos olhos verdes mais lindos que ela já tinha visto na vida. A veterinária estava conformada em entrar na vida de Maia como uma amiga apenas e permanecer para sempre com aquela paixão platônica pela dona do Rancho Aureus. Mesmo que lhe doesse demais estar perto dela e não poder estar como gostaria realmente.

Mas Alicia queria estar perto, queria proteger a mais nova. Havia notado que ela teria muitos obstáculos na administração do Rancho, notou também que ela teria muito trabalho até se adaptar além de que teria que se adaptar fisicamente a morar numa propriedade rural, mesmo que daquele porte. Alicia havia conhecido uma parte de Maia e já estava encantada com a força, determinação e inteligência daquela mulher, mas queria conhecer o resto. Se para isso precisaria se contentar com apenas a amizade dela então assim seria. O dia acabou com a veterinária cansada e o sábado começou com uma Dona Marta preocupada.

Enquanto servia o café para a filha no dia seguinte ela encarava a expressão cansada de quem não havia dormido direito. Alicia estava sentada e, por mais que tentasse disfarçar, ainda era possível ver as olheiras e o olhar cansado dela. Dona Marta novamente debateu consigo mesma se deveria ou não dizer algo a filha. Talitha havia lhe dito algumas coisas sem que a veterinária ouvisse e ela estava mais ou menos sabendo o que havia acontecido no Rancho. Depois de muito pensar ela decidiu que a filha precisava ouvir alguns conselhos e se sentou em frente à Alicia.

– Às vezes eu gostaria que você voltasse a ser aquela garotinha de 10 anos que sempre vinha me contar as coisas que aprontava – disse Dona Marta com um pequeno sorriso – Assim eu não pareceria estar invadindo sua privacidade para lhe dar um conselho ou dois.

– Você sempre pode me dar conselhos, Dona Marta – respondeu Alicia com uma expressão divertida – Mas não creio que esteja precisando de algum.

– Pois eu sei que estas – falou Marta levando aos lábios sua xícara de chá – Fiquei sabendo da garota, a nova proprietária do Rancho.

Alicia ergueu o olhar de sua comida e encarou a mãe. Não sabia o que dizer. Tinha certeza de que Talitha havia dito algo, mas não saberia precisar o quanto e não queria soltar mais informações à mãe. A verdade era que ela não queria soltar mais informações a ninguém porque não queria ter de encarar suas escolhas novamente, após tanta dificuldade que teve em fazê-las. Mas ali estava sua mãe, perguntando-lhe diretamente sobre Maia. Não se podia fugir de Dona Marta, porque ela poderia relevar muito por muito tempo, mas quando queria saber de algo ela nunca ficava em círculos na conversa.

– Vou ser como sempre fui, minha filha. Direta – disse Dona Marta pousando a xícara – O que está acontecendo entre você e essa Srta. Almeida?

– Não está acontecendo nada, minha mãe. Absolutamente nada – respondeu Alicia segura por saber que, infelizmente, essa era a verdade.

– E o que está acontecendo com você? – questionou Marta vendo a veterinária respirar fundo e prender a respiração sendo pega de surpresa.

Alicia desviou o olhar para sua comida e seu café. Não sabia se queria falar sobre isso com sua mãe. Dona Marta sempre foi o lado liberal da família, sabia que a mãe lhe apoiava, mas não se sentia confortável em falar de seus interesses por mulheres com ela.

– Vamos, Alicia. Não seja covarde. Fale de uma vez – disse Marta soltando um suspiro.

– Não pode haver nada acontecendo comigo, Dona Marta – respondeu a veterinária com um suspiro cansado e encolhendo os ombros – Não pode nem vai acontecer nada.

– Engane a si mesma meu amor – disse Marta com um sorriso – Você está gostando dessa moça e não quer admitir ou admite, mas não vai fazer nada a respeito?

– Não há nada que eu possa fazer, mãe! – falou Alicia erguendo um pouco o tom sem perceber, mas logo respirando fundo – Admito que estou encantada pela pessoa que Maia está demonstrando ser. Mas não vai acontecer mais nada além disso. Eu e ela seremos amigas, eu espero muito conseguir apenas ser uma grande amiga para ela porque é tudo o que posso sonhar em alcançar.

– Não vai lutar pela sua felicidade? – perguntou Marta com um olhar sério.

– Eu vou lutar para não sair machucada de novo – disse Alicia num tom cansado enquanto se levantava – Não vou criar expectativas para vê-las serem destruídas. Maia nunca vai me ver assim, o melhor que faço é fingir que só a tenho por amiga.

– Não tem como saber o que a moça vai sentir ou não – disse Marta se levantando também e, calmamente, começando a recolher as coisas sobre a mesa – Presumir como você está fazendo só é prejulga-la. Você não sabe o que ela escolheria se soubesse que tem escolha. Você só está sendo realmente covarde desistindo antes, sequer, de saber suas chances. Quando você se der conta da própria estupidez e conseguir reaver sua antiga coragem eu lhe dou o conselho – disse Marta encerrando o assunto.

Tudo o que Alicia pode fazer foi olhar para a mãe sem reação. Depois de um tempo percebeu que não haveria mais diálogo e simplesmente saiu sabendo que a mãe lhe ignoraria se continuasse ali. Desceu para a clínica e começou a ajeitar as coisas para sua consulta da manhã enquanto tentava não pensar nas palavras de Dona Marta.

 

N/A: Cheguei, soltei a bomba, e saí correndo hehe 

Dona Marta é incrível mesmo não é? 

;]



Notas:



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4 Respostas para Capítulo 20

  1. cara, mãe é mãe! e sabe de tudo! agora essa da Alicia de querer ser so amiga da Maia, fala serio! Alguém tem que sacudir ela! eu heim!
    bjs
    mascoty

    • Talitha tentará essa sacudida kkkkkk, mas Alicia é um caso difícil =P
      E Dona Marta é incrível kkkkk E Mãe sempre sabe kkkkk

      Bjs
      ;]

  2. Teu emoji combinou com tuas NF kkkkkk.

    É Dna Marta foi muito sutil em sua explanação a respeito do que Ali está fazendo. É tenho que concordar que ela está pre-julgando Maia.

    Tem muita consulta e potrinhos ainda a acontecer kkkkkkk até elas se entenderem.

    Paciência?

    • Kkkkkkkkkkk Verdade, combinou perfeitamente hehe

      Eu ainda gostaria que Dona Marta tivesse sido menos sutil (Alicia tá precisando de uma sacudida na minha opinião kkkk).

      Realmente, tem muuita coisa pra acontecer hehe. E haja paciência =P

      ;]

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