Argentum

N/A: Olá!!!!

Cá estou como prometido. Bem, antes de tudo, eu queria deixar aqui uma pequena dedicatória (vai haver outra no epílogo, bem mais completa e bonitinha, mas esse de hoje é um pouco especial).

Estou atualizando hoje (12.01.2020) especificamente porque é o aniversário de uma pessoa muito especial pra mim. Minha namorada é alguém que tem me apoiado demais em todos os anos em que estamos juntas e ela tem sido incrível sempre comigo e eu só queria deixar registrado que Argentum existe e está sendo finalizada por conta de todo o suporte e apoio que ela me dá. Os últimos meses foram incrivelmente complicados pra mim, eu perdi uma pessoa muito querida e que eu amava muito e isso me travou por um tempo a escrita, e ao mesmo tempo houve tanta coisa e tanta correria do dia a dia que faltava forças e ânimo para continuar. Nesse tempo todo ela sempre esteve comigo, sempre me apoiando, sempre me incentivando a fazer o que eu tivesse vontade e sempre cuidando de mim para que eu me sentisse melhor. Graças a ela eu voltei a ter vontade de escrever e por isso eu dedico essa obra toda a ela. Argentum é Total e Completamente dela e eu adoro isso hehe.

Fiquem com os capítulos agora. Serão 3 hoje, eu volto a atualizar entre os dias 18 e 20 e depois do dia 22 solto o último capítulo+Epílogo+bônus então fiquem atentas e atentos.

Bjs e, antes de encerrar, Muito Obrigada a cada pessoinha maravilhosa que ainda está aqui esperando e acreditando em mim.

;]

PS: Eu não consegui excluir o cap de ano novo, por isso ele vai continuar na sequência =P

Após a resolução do caso envolvendo Renato a rotina das duas namoradas voltou a um ritmo estável em que ambas ainda estavam tentando encontrar os pontos certos de equilíbrio. Infelizmente as coisas não foram tão tranquilas no que diz respeito ao trabalho de ambas. Alicia realmente chegou a perder alguns clientes, principalmente produtores rurais um pouco mais velhos para os quais a veterinária fazia alguns serviços como inseminação ou algumas consultas de emergência.

No geral o movimento para Alicia não diminuiu tanto quanto ela imaginava. Pelas aparências seu trabalho não chegou a cair muito mais do que 30%. Os problemas de Maia eram um tanto mais complicados, alguns compradores tradicionais das frutas do Rancho não voltaram a procura-los para novas compras, ao mesmo tempo em que as negociações começaram a ser mais complicadas. Os compradores não estavam oferecendo preços justos, a maioria baixava alguns centavos ou reais nos valores das caixas ou das toneladas de frutas. A irritação da jovem administradora foi a altos níveis quando percebeu que o único fornecedor que negociou com Giulio foi também o único que aceitou um valor até um tanto mais lucrativo.

Revoltada com a situação Maia decidiu fazer algo a respeito. Ela começou a ir negociar primeiro sozinha, sabendo que não fecharia negócio nenhum. Depois ela mandava Carlos ou Giulio falar com o mesmo comprador e deixava que os homens fizessem a negociação. Assim que eles fechavam o negócio Maia aparecia para assinar os contratos e via os olhos dos homens arregalarem-se ao ver que ela era a dona das frutas. Com os fornecedores ela fez algo diferente, quando eles a procuravam, antes deles começarem a negociação subindo o preço de seus produtos, ela iniciava a conversa avisando que havia recebido uma proposta melhor e que tinha interesse em encerrar os negócios com o fornecedor.

Ela também procurava os outros fornecedores para dizer a mesma coisa e a resposta de todos era sempre igual. Ofereciam propostas melhores e faziam o que fosse preciso para manter o Rancho Aureus na lista de clientes. Não demorou muito para que compradores e fornecedores entendessem que não era uma fácil negociação com Maia. Após isso passaram a leva-la mais a sério durante as negociações e ela se mostrou uma pessoa difícil de se dobrar. Aos poucos ela conseguiu ir se impondo como negociadora e como administradora.

Os meses foram se passando com velocidade. Maia teve que enfrentar algumas dificuldades na recuperação quando seu progresso estagnou e, mesmo Bernardo explicando que a parte do fortalecimento muscular era mais complicada e poderia demorar, isso gerou uma frustração grande que quase a levou a desistir da fisioterapia. Foi o ponto onde Alicia teve de intervir com um pulso mais firme, chegando até a apresentar para a namorada como funcionava a fisiologia muscular para que ela entendesse que precisava dar tempo aos próprios músculos.

O que foi decisivo para a continuidade do progresso de Maia foram as aulas de equitação que Alicia colocou como um compromisso para elas aos fins de semana. Lua já podia ser montada e a veterinária decidiu fazer duas coisas que queria muito: ensinar Maia a montar com desenvoltura e começar a ensinar e adaptar Argentum as cordas e a presença de outras pessoas. Ela queria muito que o potro se tornasse um reprodutor como o pai, mas sabia como era difícil manter alguns garanhões e que eles, muitas vezes, se tornavam animais arredios e agressivos e não queria que acontecesse o mesmo com o potro.

As festas de fim de ano foram concentradas na casa de Alicia. Dona Marta fez questão de que Maia viesse passar o Natal com elas e chamou também Catarina e Talitha. De Renato tinha-se apenas a notícia de que ele estava em Porto Alegre procurando um emprego. Maia recebeu uma chamada de vídeo dos irmãos e conversaram por horas antes dos dois desligarem por terem que ir para a ceia de Natal com a mãe, eles estavam num hotel caro em Londres. No ano novo a chamada se repetiu e os dois disseram que só não vinham passar alguns dias com ela porque o recesso deles na escola seria muito curto.

A relação das duas continuava com o mesmo clima romântico. Após o carnaval Bernardo havia decidido reduzir as sessões de Maia para uma por semana, mas as orientações dele foram para que ela se mantivesse fazendo exercícios, seja a equitação ou algumas das outras atividades que ele sugeriu. Ela já havia, finalmente, conseguido ganhar um pouco de força e confiança na perna esquerda; apesar de que o progresso com a mão esquerda não estivesse ainda no mesmo nível.

Tudo corria como o esperado e elas estavam se aproximando do décimo mês de namoro com Alicia planejando algo para o aniversário delas. Maia estava voltando de mais uma das consultas com Bernardo, as duas pararam na Clínica para Alicia pegar uma muda de roupas e seguiram para o Rancho. Passava um pouco das 16h da tarde e as duas estavam entrando na sala do casarão quando o telefone fixo começou a tocar. Maia o alcançou e se sentou no maior do sofá antes de atender a chamada. Ela nunca imaginaria, nem por um único segundo de sua vida, que receberia aquele tipo de telefonema.

Era Giovani ligando para ela de um telefone público porque seu celular estava apreendido, assim como todas as suas contas. O irmão mais velho da dona do Rancho estava sendo acusado de desvio de verbas, má administração e de colocar em risco a vida dos pacientes por comprar materiais inapropriados para uso hospitalar. Seis meses antes ele havia sido convidado para assumir a administração e a presidência de um grande hospital particular junto de um de seus amigos que era um neurologista que tinha parte das ações do hospital.

Ele e o tal ‘amigo’ acabaram envolvidos com algumas sonegações de impostos e negociações ilícitas. Ganharam muito dinheiro em pouco tempo comprando produtos de baixa qualidade por valores elevados. Além de se envolverem com pagamento de propinas ligados a serviços prestados ao SUS. Estavam nisso a quase seis meses quando uma denúncia foi feita e investigações começaram. Fazia uma semana que eles foram chamados para prestar esclarecimentos. O tal amigo de Giovani, que havia sido quem o chamou para o esquema, garantiu que seus advogados ajudariam ele também, mas o que aparentemente aconteceu foi que o neurologista estava, com o advogado, tentando deixar toda a culpa cair sobre o cardiologista.

– Eu sinto muito por você – Maia falou depois de ouvir a breve explicação do irmão mais velho – Mas ainda não compreendo o motivo de estar ligando justamente para mim. Porque não procurou pelo papai? Aposto que ele pode conseguir um bom advogado para você.

– Eu procurei – Giovani respondeu num tom quase de choro – Gastei tudo o que ainda tinha da última parcela do plano telefônico pago para ligar para o papai. Ele me falou que se eu fui burro o bastante para deixar que colocassem a culpa toda em mim eu não merecia a ajuda dele – Maia pode ouvir o irmão soluçar baixinho – Ainda me disse que não o envolvesse nisso só por ele ter me visitado alguns meses antes. Eu te juro que nunca pretendi fazer algo que colocasse a vida de alguém em risco. Eu te juro isso, Maia. Também não vou te pedir que faça de tudo para me livrar dessa – ele fez uma pausa e pelo tanto que a voz que ela ouvia estava embargada, ela imaginou que o irmão estava limpando o rosto – Eu só estou pedindo que você me ajude a achar um outro advogado, algum que eu possa pagar se desbloquearem os meus bens. Eu só preciso arrumar outro advogado.

Maia respirou fundo e olhou para a namorada que estava sentada ao seu lado com uma expressão confusa e preocupada. Ela não tinha dúvida nenhuma de que o irmão estava realmente desesperado, mas ela percebeu também que ele estava diferente. Giovani havia perdido o tom soberbo que sempre teve ao falar com outras pessoas, a arrogância ao se expressar que ele sempre teve, principalmente quando se afirmava certo.

– O número de casa ainda está funcionando? – ela perguntou depois de alguns segundos pensando enquanto encarava os olhos castanhos cor de mel, a resposta foi positiva – Pois vai voltar para casa, eu entro em contato com você em alguns minutos. Preciso pensar no que posso e quero fazer por você Giovani, mas retorno a ligação ainda hoje.

Ele concordou e os dois encerraram a chamada. Maia encarou o outro sofá do lado oposto da sala respirando profundamente. Alicia pegou a mão esquerda da namorada e a envolveu entre as suas para chamar a atenção dos olhos verdes. Ela pediu para subirem e a veterinária apenas concordou antes de se levantar. Em silencio elas subiram as escadas até chegarem ao quarto de ambas. Maia puxou a namorada para a cama, tiraram seus sapatos e se acomodaram contra os travesseiros. Alicia puxou a namorada para que ela deitasse a cabeça em seu ombro e esperou que Maia dissesse algo.

– Giovani está em uma situação complicada – ela finalmente começou depois de alguns minutos – Parece que fez coisas que não devia, mas acabou confiando em outras pessoas que agora estão tentando jogar a culpa de tudo sobre ele.

– Acredita na versão que ele te contou? – a veterinária perguntou, mas não havia nenhum tipo de receio nem suspeitas, ela simplesmente queria a opinião da namorada.

– Sim. O pior é que acredito, mas não vou acreditar cegamente, tenho que descobrir os fatos e as provas antes de confiar totalmente nele – Maia suspirou e escondeu o rosto no pescoço da namorada – Eu não sei o que fazer.

– Você vai ajudar seu irmão – Alicia disse simplesmente como se aquele fato esclarecesse todas as dúvidas – Não importa que ele tenha sido um babaca com você, é seu irmão. Mesmo depois de tudo, se ele se arrependeu mesmo, você vai ajuda-lo porque sempre vai ter por ele o amor de irmãos.

– Não me acha idiota por não conseguir ser racional nisso? Depois da forma como ele me tratou, eu não deveria nem sequer considerar oferecer ajuda – Maia falou se apoiando em seus cotovelos para encarar a namorada.

– Não é idiota meu amor – Alivia respondeu colocando uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha de Maia – É lindo, é uma atitude incrível de uma pessoa maravilhosa e madura e, acima de tudo, generosa. E independente do que for, vou apoiar você. Agora pegue seu celular e ligue pro teu irmão. Vamos resolver isso – ela encerrou dando um selinho na namorada e alcançando o celular dela que estava no bolso de trás do jeans que Maia usava.