Argentum

Capítulo 113

A fisioterapia com Bernardo no dia seguinte foi relativamente tranquila, apesar do jovem ter notado que as duas estavam um pouco cansadas, mas ficou sabendo que elas tinham vindo no dia anterior para saírem juntas em um encontro e preferiu não comentar já que, apesar de tudo, Maia fez todos os exercícios sem grandes problemas. Ao ficar sabendo das consultas com a psicóloga ele pediu para poder entrar em contato com ela para conversarem e Maia passou o contato de Monique. Com isso ele confirmou a próxima consulta, mas avisou que marcaria as próximas datas depois de sua conversa com a psicóloga.

Na quarta elas tinham outra consulta com Monique que havia conversado com Bernardo no dia anterior e tinha mais questões que sabia que teria de abordar. Entretanto o assunto que surgiu com ambas foi a questão do convite ao leilão. Monique tomou um cuidado redobrado para trazer do assunto as questões que ela percebeu que poderiam ou já estavam afetando as duas a respeito das possibilidades do que poderia acontecer nesse evento. Para sua surpresa ela sentiu uma insegurança maior em Alicia do que na própria Maia. Apesar de tudo a psicóloga notou que a aparente “segurança” de Maia provavelmente era um mecanismo de defesa que ela desenvolveu com os anos para que as opiniões dos outros não lhe afetassem mais.

Durante esse tempo até o leilão Maia teve mais uma sessão com Bernardo que estava definitivamente contente com o progresso dela que, mesmo ainda sem forças para se sustentar sozinha por muito tempo, já tinha conseguido manter seu equilíbrio em pé sem o apoio da bengala ou de qualquer outro objeto. Ela teria ainda mais uma sessão com ele, na quinta antes do leilão no sábado. Naquela quarta Maia e Alicia estavam no consultório de Monique para a terceira consulta delas. Como sempre, a pedido da mais nova, os horários das duas eram os últimos, mas naquele dia, diferente dos anteriores, a psicóloga pediu que Maia entrasse primeiro e que Alicia fosse a última.

Com a primeira Monique abordou mais temas relativos a como ela vinha se sentindo com a fisioterapia até aquele ponto e, só nos últimos minutos, perguntou sobre as expectativas dela para o tal leilão no fim de semana. A loira percebeu que, apesar de tudo, Maia estava determinada a comparecer ao evento e mostrar que ela estava levando adiante o trabalho do tio no Rancho com a mesma qualidade e que continuaria trabalhando para aumentar ainda mais a importância de seus animais no cenário do país. Monique percebeu que Maia estava se identificando com a posição em que se encontrava e isso estava contribuindo para que a autoestima dela finalmente voltasse a crescer.

Com Alicia o assunto começou sendo a respeito das sessões de Maia e de como ela estava se sentindo com o progresso da namorada. Monique continuava abismada e maravilhada com a forma como o olhar da veterinária chegava a mudar simplesmente por falar da dona do Rancho e mais ainda quando ela tinha a oportunidade de elogiar a namorada. Com alguns pequenos direcionamentos a psicóloga conseguiu trazer o assunto do leilão e a mudança em Alicia foi imediata. Seu olhar ficou preocupado e toda sua postura que estava relaxada e confortável passou a demonstrar tensão e ansiedade.

– Eu… eu estou receosa com isso, Monique – Alicia admitiu depois da loira perguntar como ela estava realmente se sentindo com a proximidade desse evento – Sabe…eu sou só uma veterinária qualquer. Certo que tenho minha clínica, posso ser uma profissional bem sucedida e tudo, mas eu sou simples. Eu não sei o que é estar dentro de um ambiente de negócios no nível que será esse leilão. Sempre estive mil vezes mais confortável dentro do meu macacão, toda enlameada e suja no meio de um mangueiro do que lidando com proprietários grandes e eventos cheios de empresários e coisas do tipo.

– E porque isso te deixa receosa? – Monique tentou trazê-la de volta a questão de seus sentimentos.

– É complicado, Monique – ela falou desviando o olhar.

– Bem, estou aqui para ouvir as coisas complicadas – a psicóloga falou com um tom calmo e um sorriso gentil – Vamos, as coisas simples você não tem que falar comigo – Alicia encarou a mulher e sorriu com a pequena brincadeira, logo depois respirou fundo.

– Eu não sei se me encaixo nesse tipo de lugar, sabe? – a veterinária começou apoiando o cotovelo direito no braço da poltrona onde estava sentada e logo apoiando o queixo sobre o punho fechado e olhando para um canto próximo a janela ao lado das duas poltronas onde elas estavam sentadas – E Maia… Ela parece que nasceu pra isso. Dá pra ver no jeito que ela lida com tudo. Aquela mulher nasceu para ser alguém importante, ela é uma administradora nata. Tem sempre uma resposta perfeita na ponta da língua pra se posicionar. Não consigo ser assim, não sei usar as palavras nesse tipo de situação e ela sempre tem a perfeita. Eu lembro de quando a conheci e de como pensei no quanto eu queria poder estar com ela pra protege-la de tudo, mas hoje eu sei que ela não precisa da minha proteção. Ela sabe se defender por si mesma e às vezes eu me sinto um pouco inútil por estar com ela e nunca fazer nada, sempre deixar que ela se defenda…mas ao mesmo tempo eu não posso a sufocar como se ela precisasse desse meu cuidado todo.

– Mas você compreende que ela precisa sim desses cuidados, não é? – falou Monique observando a postura da veterinária que estava menos ansiosa – E não é por conta das dificuldades dela e das sequelas do acidente. Toda pessoa precisa de carinho e cuidado.

– Não me entenda errado, Monique – Alicia falou firme e confiante em suas palavras, até um pouco séria – Esse carinho e cuidado eu sempre vou ter com ela, me referia as situações com outras pessoas. Ela não é uma mulher indefesa que precisa ser salva, aliás – ela falou se recordando de alguns dias atrás quando a namorada lhe deu um presente – Se tem algo que eu melhor que ninguém sei é que Maia tem a força dela e que não é nada indefesa – disse com um sorriso bobo tentando não se perder naquele tipo de lembrança, apesar de saber que a psicóloga certamente notaria que havia um sentido diferente naquela frase, o que ela realmente notou e Alicia viu quando Monique sorriu sugestivamente, mas se manteve calada, até que Alicia continuou – Ela vai estar lá nesse leilão, toda superior, com aquela postura dela de confiança e calma – comentou a veterinária imaginando a namorada e sorrindo bobamente com a imagem que se formou em sua mente – Ela não precisa de ninguém ao lado dela pra ser isso, eu não vou precisar estar a noite toda junto dela. Eu não sou e nem quero ser o tipo de namorada que sufoca a outra pessoa desse jeito… Mas tenho medo do que pode acontecer…E se eu fizer algo que a envergonhe ou a deixe mal? Não me perdoaria se acontecesse algo do tipo.

– Acha que Maia sente vergonha de você? – Monique perguntou já sabendo a resposta, mas instigando a mente de Alicia a perceber certos detalhes.

– Claro que não. Maia não é de fingir, ela nunca demonstrou ter vergonha de quem sou ou do que somos, mas se eu fizer algo… – Alicia foi interrompida pela voz da psicóloga.

– Não vai mudar nada o que quer que você faça – a loira disse sorrindo para os olhos castanhos que a encaravam – Essa é só a terceira consulta de vocês, mas posso dizer três coisas sobre você, Alicia. A primeira é que tu ama Maia, e é um amor tão simples, puro e ingênuo que me surpreende até agora, um tipo de amor que a maioria das pessoas não acredita que existe. A segunda é que você é uma mulher forte e justa, que vai se posicionar pelo que é certo. E a terceira é que você tem medo de não ser o suficiente, pois coloca Maia num pedestal de grandeza por conta de toda sua admiração, mas não percebe que isso faz com que se sinta inferior a ela – Alicia tinha um olhar confuso e quase ofendido enquanto ouvia a psicóloga que sorriu calmamente antes de continuar – Não é ruim que você tenha Maia num pedestal de admiração e devoção, você a ama e pra ti ela é a mulher mais incrível do mundo. Mas precisa lembrar que apesar do amor, vocês estão juntas por que ambas querem isso. Acredito que em algum ponto você se sente inferior a ela e por isso sua insegurança enorme de que ela de deixe por alguém melhor. Alicia, a mesma coisa que eu vejo em você quando fala dela eu vejo em Maia quando ela me fala de ti. Não acredito que exista algo que você possa fazer que faça com que ela se sinta envergonhada da sua pessoa ou que provoque nela qualquer sentimento ruim – Monique deixou de lado seu caderno de capa de couro que usava durante as consultas para fazer anotações e se inclinou para frente se aproximando da veterinária e sorrindo para a mesma – Não é incomum o que você sente, Alicia. Não pense como se fosse a única pessoa no mundo que tem esse receio todo de perder a pessoa amada. Mas isso é algo que o casal precisa trabalhar junto, essas inseguranças apenas Maia vai ser capaz de te ajudar a diminuir. Eu sugiro que converse com ela sobre suas inseguranças. Imagino que esteja preocupada com as inseguranças dela e esteja esquecendo das suas e, talvez, por você não demonstrar essas inseguranças Maia possa estar acreditando que elas não existem. Converse com ela antes do leilão, exponha seus medos, deixe-a notar que essas inseguranças existem e eu tenho certeza de que ela vai estar com você para lidar com elas.

 

 

N/A: Bom dia pessoinhas (ou boa tarde, ou boa noite, não sei qnd vcs irão poder ler esse capítulo hehe)

Espero q gostem dele, eu o achei muito importante. E fiquem atentas (olhinhos bem abertos pras notificações hein), só digo isso.
Bjs pessoinhas, até o próximo
;]


Notas:



O que achou deste história?

3 Respostas para Capítulo 113

  1. Bom dia =]
    Acho que qualquer pessoa num relacionamento já deve ter se sentido dessa maneira, mas não acho que seja correto que uma das partes se anule ou se sinta inferior. Mas, independente de se sentir dessa forma ou não, uma orientação psicológica correta de um(a) profissional responsável sempre vai ser benéfica hehe

    Bjinhos e até o próximo
    ;]

  2. Bom dia!
    Essa consulta foi bem esclarecedora até p mim, como leitora. Às vezes bate tanto medo de perder a pessoa amada q eu acabo meio q me anulando, colocando-me como inferior à outra pessoa. Acho q estou precisando de uma orientação psicológica. rsrsrsrsrsrs

    • Bom dia =]
      Acho que qualquer pessoa num relacionamento já deve ter se sentido dessa maneira, mas não acho que seja correto que uma das partes se anule ou se sinta inferior. Mas, independente de se sentir dessa forma ou não, uma orientação psicológica correta de um(a) profissional responsável sempre vai ser benéfica hehe

      Bjinhos e até o próximo
      ;]

Deixe uma resposta

© 2015- 2019 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.