Alicia e Maia terminavam de descer as escadas quando viram Antonieta parada ao final delas e as três figuras na sala. Uma garota loira com os olhos azuis estava na ponta do sofá, as pernas cruzadas e um Iphone na mão. Ao lado dela estava um rapaz de cabelos castanhos claros, também com um Iphone nas mãos e completamente distraído com o que quer que estivesse vendo ali. Os dois não pareciam ter mais do que 15 ou 16 anos e, em frente ao sofá, um homem andava de um lado para o outro aparentemente muito irritado. O senhor aparentava ter por volta de 50 anos, vestia um terno cinza, seus cabelos ainda parcialmente negros e os olhos verdes.
– Ah, aí está ela – falou o homem parando de andar de um lado para o outro quando viu as duas mulheres quase no final da escada – Agora pode me explicar que incompetência é essa dos seus funcionários em não permitir que o seu próprio pai adentre a propriedade, Maia? – falou ele encarando diretamente os olhos verdes da filha.
– Boa tarde para o senhor também – Maia disse rolando os olhos e finalmente chegaram ao final da escada – E, caso não esteja bem lembrado, não temos muitas fotos com você, pai. Mamãe as jogou fora quando você foi embora, caso tenha esquecido esse detalhe – ela disse caminhando ainda com o braço dado com Alicia que vinha a seu lado – Então, creio que meus funcionários foram extremamente eficientes ao esperar a minha presença para confirmar quem era o senhor – ela completa ainda encarando o pai, mas Alicia nota que o olhar dos dois jovens saiu das telas para encararem sua namorada.
O Senhor Almeida fez um gesto de descaso como se aquela informação não fosse relevante. Colocou suas mãos nos bolsos da calça social e encarou as duas mulheres, demorando-se um pouco mais na veterinária que sustentou o olhar dele.
– Bom, pendências resolvidas, mande preparar quartos para nós, vamos ficar alguns dias – ele disse voltando o olhar a filha e mantendo uma expressão tranquila – Aproveitei essa visita para trazer os gêmeos para que se conhecessem, já que você e Giovanni nunca se deram ao trabalho de ir me visitar para que essas apresentações fossem feitas – ele sinalizou para que os dois jovens se levantassem e eles o fizeram com expressões entediadas e contrariadas.
Um silêncio percorreu a sala depois da frase dele. Tempo o bastante para que os dois meio irmãos de Maia se posicionassem ao lado do pai deles. Maia encarava o homem mais velho com uma máscara de tranquilidade, mas Alicia sentiu a mão esquerda dela apertar com mais força seu braço mostrando que ela estava se controlando. Quando a veterinária achou que o silêncio não iria sumir notou a namorada respirando fundo antes de tomar a palavra.
– Não nos demos ao trabalho? – ela questionou fazendo o pai erguer uma sobrancelha com o tom irônico usado por ela – Ah, claro. Porque Otávio Almeida com certeza estava ocupado demais para fazer a viagem ele mesmo não é? – ela continuou com o mesmo tom e dando um sorriso forçado – Talvez o senhor não tenha tido a informação de que eu não exatamente tinha condições físicas de realizar uma viagem tão longa antes de dois ou três anos atrás. Mas, afinal, não teria como saber disso não é? Nunca se interessou por nada referente a mim e a Giovanni depois que se separou da minha mãe.
– Poderia muito bem ter ido quando estava em condições – devolveu Otávio desmerecendo os fatos.
– E porque eu iria atrás de um homem que havia passado os últimos 13 anos me ignorando? – Maia perguntou com o mesmo sorriso falso – Vamos ser objetivos aqui, pai – falou com ironia – Qual o motivo de ter saído dos Estados Unidos depois de tantos anos para voltar ao Brasil. Porque duvido muito que tenha sido apenas para visitar os filhos.
Mais um silencio desconfortável surgiu. Otávio encarou Alicia e Antonieta que continuava próxima da escada com evidente desconforto por Maia estar falando daqueles assuntos na presença de pessoas aleatórias. Enquanto isso os gêmeos mudavam os olhares confusos e surpresos do pai para a irmã. Aparentemente eles não sabiam exatamente as motivações do pai, apesar de que estavam insatisfeitos de serem retirados de suas férias para uma visita que achavam que não parecia necessária. Otávio se recuperou um pouco das palavras da filha e decidiu ser direto.
– Certo, vamos deixar de lado a educação, que parece que sua mãe não soube lhe dar – ele resmungou cruzando os braços sobre o peito largo – Seu irmão me procurou para falar do seu comportamento nos últimos meses. E, ao contrário do que você parece acreditar, me importo o bastante com meus filhos para vir até esse país subdesenvolvido colocar algum juízo na sua cabeça para que volte a Minas e deixe essa ideia maluca de viver nesse fim de mundo.
Alicia acreditou que mais um silêncio desconfortável surgiria depois disso, mas ocorreu exatamente o contrário disso. Maia soltou uma alta gargalhada com as afirmações do pai, o olhar dos gêmeos se tornou totalmente surpreso, o da garota quase poderia ser dito como admirado.
– Isso foi realmente muito engraçado – ela disse quando conseguiu parar de rir, ao seu lado Alicia tentava a todo o custo prender o riso da expressão etada e ultrajada que Otávio tinha no rosto – Meu querido pai, devo lembrar ao senhor que você não me dá ordens desde os meus 17 anos. Abdicou desse “direito” quando se separou da minha mãe e foi embora sem mandar notícias por anos. Mas devo dizer que é impagável saber que meu irmãozinho correu para o colo do pai quando eu lhe neguei suas vontades. Nem parece que Giovanni é o mais velho entre nós – Maia tinha um sorriso realmente divertido nos lábios ao comentar sobre isso – Sempre soube que meu irmão era apenas um garotinho mimado, mas estou surpresa em ver que ele não cresceu nada nos últimos 20 anos da vida dele.
– Tenha um pouco de consideração pelo seu irmão! Ele estava pensando no seu bem! – Otávio falou irritado apontando o indicador direito na direção de Maia que perdeu o ar de riso na mesma hora e soltou a muleta que segurava na mão direita para acertar a mão do pai que havia se aproximado de seu rosto.
– Nenhum de vocês dois tem moral para falar de consideração – ela disse sem se exaltar, mas os olhares de todos os presentes estavam arregalados com o som do tapa que ela havia acertado na mão do mais velho – Não seja hipócrita fingindo que acredita em Giovanni e que veio até aqui com boas intenções. O senhor está na Minha Casa e está falando com uma mulher adulta e não com uma criancinha; exijo respeito debaixo do Meu teto – ela deixou um pequeno silêncio se assentar enquanto esperava do pai uma resposta que não veio, então continuou – Apesar de acreditar que meus irmãos tenham vindo contigo ao Brasil por serem obrigados, faço questão de oferecer minha casa para que eles fiquem o tempo que quiserem, caso queiram, obviamente. Agora, quanto ao senhor, e vou ser bem direta, não me oponho a sua presença aqui desde que respeite a sua posição de convidado e esqueça a ideia idiota de me dizer o que posso ou não fazer. Antonieta – ela chamou a senhora que se aproximou das duas rapidamente – Acompanhe meu pai e meus irmãos ao andar superior e os acomode em seus quartos, se precisar de ajuda chame alguém – Maia terminou de falar e logo estava se voltando aos pais após receber um aceno afirmativo da mulher mais velha que saiu em seguida – Depois de instalados vocês podem descer novamente que mandarei prepararem um café da tarde para que as ‘devidas apresentações’ possam ser feitas como o senhor bem disse. Enquanto isso os deixo para que pensem sobre minhas propostas, principalmente o senhor, pai.
Antonieta voltou acompanhada de Carlos e Maria que recolheram as malas e convidaram os três a seguirem-nos para o andar superior. Alicia se abaixou para pegar a muleta que Maia havia soltado e depois de tê-la na mão outra vez, a dona do Rancho deu as costas aos presentes e puxou a namorada em direção a cozinha deixando que seus funcionários garantissem que os três seriam levados a seus quartos.
– Isso foi intenso – Alicia falou pela primeira vez quando chegaram a cozinha.
– Mas infelizmente necessário – foi a resposta de Maia ao se sentar no banco de madeira junto a mesa – Meu pai não vai chegar aqui achando que tem direito a algo na minha vida depois de anos sem dar a mínima.
– Ele obviamente não ficou nada contente, espero que não tenha uma reação ainda pior quando for “devidamente” apresentado a mim – a veterinária comentou se sentando ao lado da namorada e suspirando já em antecipação a difícil conversa que se seguiria em alguns minutos.
– Se ele não gostar que vá embora – Maia comentou respirando fundo e puxando um braço da namorada para se recostar contra o corpo dela indicando que esperava um abraço – Só espero realmente ter a oportunidade de conhecer os gêmeos. Meu pai nunca os trouxe ao Brasil, querendo ou não são meus irmãos. Tenho curiosidade de saber como são, que tipo de pessoas estão se tornando.
Alicia não soube o que dizer, então apenas abraçou Maia apertado. Esperava que a namorada tivesse mesmo a oportunidade disso. Ela nunca teve irmãos, mas tinha a relação de irmandade com Talitha e gostaria sinceramente que Maia pudesse ter algo parecido com os meio irmãos, já que nunca teve com Giovanni. Não havia como saber o que aconteceria quando eles descessem, mas ela estava torcendo para as coisas não serem tão difíceis.
N/A:
Pais sempre acham q os filhos são eternas crianças.
O pai de Maia está muito enganado se acha q Maia é uma menina indefesa.
Ela é uma brava lutadora, vai saber sair desse inesperado encontro, ainda mais forte!
O pai da Maia na verdade acredito que acha q por ser pai dela pode mandar e desmandar no que ela é e faz…. péssimo pai na minha opinião.
Mas Maia está mesmo longe de ser uma garotinha indefesa, ela sabe se virar muito bem
;]
Gente, e esse “pai” da Maia? Ave-maria, despencar dos EUA pra dar sermão em mulher maior de idade é dureza! Ainda mais que pelo visto, não tem moral para… Espero que os irmãos não sejam tão escrotos.
Otávio não tem senso do ridículo ¯\_(ツ)_/¯
E moral tem menos ainda –‘
Vamos ver agora os gêmeos hehe
;]