Argentum

Capitulo 102

A viagem de volta foi ainda mais calma do que a de ida. Quase uma hora antes de chegarem a cidade a exaustão venceu Maia e ela adormeceu com a cabeça caindo levemente para o lado esquerdo, apoiada no encosto do banco. Alicia sorriu quando fez uma pergunta aleatória e notou o motivo de não receber sua resposta. Ela conduziu mantendo a velocidade e tentando não acordar a namorada, o que conseguiu já que ela estava completamente exausta. Ao chegarem na cidade a veterinária decidiu ir direto para sua casa, ao chegar e estacionar o carro ela desceu do veículo e ligou para o Rancho.

Avisou Antonieta que Maia estava cansada demais para fazerem a viagem de volta e que na manhã seguinte ela a levaria. Dona Marta chegou quando ela estava abrindo a porta do passageiro, notando a jovem adormecida ela sorriu para a filha e gesticulou para que ela a trouxesse para cima. Aí veio a tarefa difícil para Alicia: levar a namorada sem que ela acordasse. Enquanto Marta segurava a porta do carro ela se inclinou para dentro do veículo. Delicadamente tirou o cinto de segurança e pegou a mão direita de Maia colocando o braço dela em volta de seu pescoço. Puxou o corpo devagar até ela estar apoiada em seu peito e passou o braço esquerdo em volta do tronco da menor. Colocou o braço direito por baixo dos joelhos e puxou o corpo desacordado para o mais próximo da borda do banco que conseguia.

Um impulso um pouco maior e Alicia se colocou ereta trazendo a namorada em seus braços. Marta se aproximou delas depois da filha se afastar do carro e pegou a mão esquerda de maia colocando-a sobre o colo dela e ajeitando a cabeça da mais nova próxima ao pescoço de Alicia. Assim que sua mãe pegou a bengala de Maia e seguiu a frente para abrir as portas a veterinária se moveu levando a namorada. Haviam acabado de entrar no quarto dela quando Maia se moveu tentando abrir os olhos e se dando conta de que estava nos braços de Alicia que se sentou em sua cama com ela ainda nos braços.

– Chegamos? – Maia conseguiu perguntar, com a voz ainda embargada de sono e sem realmente abrir os olhos para se localizar.

– Na minha casa, vamos para o Rancho amanhã – Alicia respondeu baixinho e colocando a namorada sobre a cama – Não se preocupe agora, meu amor. Volte a dormir e descanse mais um pouco.

– Eu dormi muito tempo? – Maia ainda conseguiu perguntar enquanto sentia sua namorada a colocar sobre a cama e começar a tirar seus sapatos.

– Não o suficiente pelo que vejo – a veterinária respondeu com um sorriso divertido e amoroso, ela conseguiu puxar as botas de cano curto dos pés de Maia e ajeitou as pernas dela sobre a cama antes de se inclinar sobre ela e dar um beijo em sua testa – Descanse mais um pouco. Eu te chamo para comermos algo ok? – Maia só consegui piscar lentamente enquanto acenava com a cabeça e fechar os olhos, Alicia deixou tocou o rosto dela fazendo com que abrisse os olhos outra vez e deu um selinho rápido que fez Maia sorrir antes de desistir de acordar.

Alicia ainda a ajeitou sobre a cama, puxando o edredom e a cobrindo e depois indo até a janela do quarto para fechar as cortinas. Ao passar pela cama novamente ela deixou um outro beijo nos cabelos da namorada que havia acabado de abraçar seu travesseiro escondendo seu rosto nele, só então ela saiu e desceu para a clínica. Teria que atender uma consulta em menos de meia hora e já queria que ela não fosse demorada apenas para poder voltar ao seu quarto e ficar com Maia adormecida.

Duas semanas e meia se passaram depois dessa primeira consulta. Dr. Márcio havia garantido a Maia que a manteria informada, mas até aquele momento não houve nenhum avanço na situação do caso de Renato. Ao mesmo tempo em que nada caminhava na justiça a fisioterapia de Maia dava passos largos. Era sábado, Alicia e Maia haviam retornado da quinta consulta com Bernardo na tarde anterior, passaram novamente a noite na casa da veterinária e se dirigiram ao Rancho pela manhã; uma pequena rotina a qual elas já estavam se acostumando.

A manhã foi de total descanso já que Maia sempre voltava exausta das sessões, o plano das duas era passar a tarde juntas também e, se Alicia não tivesse nenhum chamado de emergência no domingo, passarem um tempo com os cavalos e talvez até fazerem algum passeio curto montadas. Na segunda a veterinária voltaria para a cidade depois da sessão leve com Maia e, na quarta pela manhã Carlos levaria Maia até a clínica de onde as duas partiriam para a próxima consulta dela com Bernardo.

O planejamento, como sempre, parecia estar seguindo seu rumo. Almoçaram e estavam no escritório tomando um café enquanto Maia lia alguns relatórios que precisava revisar e Alicia lia alguns artigos novos para manter os conhecimentos atualizados. Duas batidas na porta já aberta antecederam a entrada de Antonieta. As duas ergueram seus olhares das letras e números para observarem a senhora se posicionar próxima a entrada do escritório.

– Desculpe-me, Senhorita – ela começou, por mais que insistisse, Maia não conseguia fazer com que lhe tratassem pelo nome ou de uma maneira menos formal – Há um senhor na sala que quer falar com a senhorita. Ele diz ser seu pai, mas, bem, eu não o conheço – Antonieta falou enrolando as mãos no avental que estava usando em sinal de nervosismo – Por causa dos últimos acontecimentos eu achei melhor não deixa-lo subir. Perdoe-me se fiz errado.

– Meu pai? – Maia se questionou confusa enquanto começava a guardar os papéis para deixar o trabalho para outro momento – Não se desculpe, Antonieta. Fez muito bem, nunca lhes mostrei nenhuma foto de meu pai, não teria como você saber quem ele é. Avise-o que estou descendo e peça para que espere na sala.

Alicia guardou o celular no bolso da frente da calça e deu a volta na mesa para ajudar Maia a se levantar. A sessão de fisioterapia do dia anterior havia sido extenuante para a dona do Rancho e ela ainda se sentia muito cansada. Quando se colocou sobre seus pés ela fechou o computador que estava usando e se apoiou no braço estendido pela namorada que afastou a cadeira para que ela saísse de perto da mesa.

– Quer a bengala ou a muleta? – a veterinária perguntou.

Bernardo havia lhe entregado a muleta no dia anterior, o fisioterapeuta havia dito a elas que queria que Maia se sentisse mais desenvolta em suas atividades além de que ela se afastasse da memória dos momentos complicados antes deles começarem o tratamento, por isso quis afastar dela a imagem e a presença física da muleta que era algo que acompanhava Maia a mais de anos. A verdade era que Bernardo estava considerando indicar que Maia voltasse a buscar um acompanhamento psicológico, pois ele sentia que haviam muitas questões que sua paciente tinha consigo mesma decorrentes ainda do trauma do acidente e das sequelas, mas nenhuma das duas ainda sabia desse pensamento dele.

– A muleta – Maia respondeu depois de uma pequena indecisão – Ainda não me acostumei com a bengala, e cansada como estou, é melhor usar algo que eu já tenho costume. Fora que ela me passa mais segurança – ela completou a resposta.

Alicia concordou e foi alcançar o objeto que estava do outro lado da cadeira. No fundo não importava o que ela escolhesse, a veterinária não deixaria a namorada sem segurança e acompanharia cada passo. Considerou até sugerir carrega-la nos braços até o andar de baixo, mas como não sabiam quem realmente as esperava achou melhor que Maia não demonstrasse estar dependente dela. Por mais que a enfurecesse pensar sobre, ela sabia que a maioria das pessoas nunca saberia reconhecer a força daquela mulher como ela o fazia.

– Então – a veterinária comentou enquanto tinha seu braço agarrado pelo da namorada e começavam a sair do escritório – Seu pai. É normal que eu esteja um tanto receosa com esse encontro, não é? – falou tentando fazer uma afirmação, mas desistindo no final com um sorriso constrangido.

– Não se intimide – Maia respondeu sorrindo e acariciando a pele exposta pela manga da camisa estar dobrada – Mesmo que seja realmente meu pai lá embaixo, isso em nada altera nosso namoro nem nada no nosso relacionamento. Ele é meu pai, mas eu não lhe devo satisfações.

– Não parece confiar que seu pai vai receber nosso namoro de uma forma não ruim – Alicia notou com o tom amargo com que a namorada se referia ao homem.

– Leandro Almeida nunca foi um homem que aceitou menos do que a perfeição dos outros, mesmo que ele próprio nunca sequer tenha se aproximado disso – ela respondeu a pergunta implícita que Alicia havia feito sobre seus motivos para falar daquela forma do pai – Meu pai nunca foi o tipo de homem que sabe valorizar as mulheres da forma que deveria. Podemos dizer que foi por isso que minha mãe pediu o divórcio quando eu tinha 10 anos.

Alicia preferiu não responder, obviamente o pai de Maia seria um homem muito mais parecido com Giovanni do que com sua namorada. Ela não sabia como as coisas aconteceriam quando chegassem a sala, mas já estava preocupada com o bem-estar da mais nova. Mas, além disso, tinha que se preparar para enfrentar um homem que, com quase toda certeza, não aceitaria o relacionamento delas. Conhecendo bem a namorada que tinha, ela sabia que Maia não faria questão de conversar e preparar o pai antes de soltar a informação. Ela apenas torcia para que as coisas não se tornassem passionais demais; nada faria com que permitisse que alguém ferisse Maia, tanto física quanto sentimentalmente.

 

N/A: Quem é que achou que eu não ia aparecer mais hoje levanta a mão! u_u/ 

Hehe, pois é, foi quase, mas estou aqui nessa linda segunda de Carnaval. Espero que tirem uns minutinhos pra ler entre um bloquinho e outro kkkkk.

Semana que vem teremos fortes emoções, preparem os coraçõeszinhos.

Bjs pessoinhas, até o próximo
;]

 



Notas:



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