Argentum

Capitulo 101

Elas haviam aproveitado o resto da tarde passeando pela cidade e acabaram por ir assistir a um filme qualquer que estava em cartaz no primeiro cinema que acharam. No final do dia elas encontraram um hotel próximo ao consultório do fisioterapeuta e, depois de jantarem num restaurante próximo, foram para o quarto descansar para o dia seguinte. Foi um acordo mudo entre olhares quando Maia pediu por um quarto com cama de casal, elas já começavam até a ter uma rotina ao dormirem juntas e não parecia ser uma ideia agradável a nenhuma das duas dividir um quarto, mas não dormirem na mesma cama.

Um pequeno habito da veterinária, que agora pertencia a Maia também, era sempre ter uma muda de roupas quando saía para viagens mais longas. Por essa razão não haviam se preocupado em comprar qualquer peça de roupa, entretanto, se esqueceram de que não tinham nada que pudessem usar para dormir o que gerou um pequeno desconforto em cada uma ao chegarem ao quarto e repararem nesse fato. Mas já estava tarde demais para irem atrás de um lugar aberto que vendesse pijamas ou qualquer coisa que pudessem usar como tal. Alicia decidiu que dormiria com suas roupas intimas e a regata que tinha usado por baixo da camisa cinza que havia vestido naquela manhã, não seria desconfortável porque ela estava com um top de malha confortável. Já sobre a roupa que Maia usaria, nenhuma das duas tinha pensado ou falado a respeito.

Por conta disso que a mais nova pediu que Alicia fosse ao banheiro primeiro, ela ainda estava pensando se conseguiria dormir com as roupas que havia usado durante o dia. Mas sabia que se sentiria muito desconfortável com o sutiã que possuía uma armação rígida e com a blusa de gola alta e justa que havia usado por baixo do casaco fino de algodão. A veterinária não demorou mais do que 20 minutos e logo estava saindo do banheiro com a toalha branca, com o nome do hotel, enrolada na cintura. Maia se adiantou com suas coisas para o banheiro encontrando lá dentro dois roupões brancos pendurados na porta e uma segunda toalha, igual a de Alicia, cuidadosamente dobrada sobre um suporte ao lado da pia onde estavam também duas toalhas de rosto.

Ela tomou seu banho tranquilamente, demorou bem mais do que a namorada. Enquanto esperava Alicia desligou as luzes do quarto, não sabia o quão confortável Maia se sentiria em um ambiente claro sem estar com um de seus pijamas de mangas compridas e calças. Apesar de tudo ela não pretendia forçar a namorada a enfrentar os receios que tinha com o próprio corpo assim. Por esse motivo ela também ligou a televisão e se deitou do seu lado habitual na cama. Cobriu-se até a metade do tronco já que o clima estava fresco e ficou quase 15 minutos procurando alguma coisa interessante para ver. Enquanto esperava ela viu um final de um jornal e depois achou um filme de animação já na metade em outro canal.

Já passava de meia hora que Maia havia entrado no banheiro quando ela finalmente saiu. Alicia viu a figura da namorada fechando a porta do banheiro e caminhando para dentro do quarto envolta num dos roupões brancos do hotel. Ela caminhou em frente a cama, passou em frente a TV e parou em frente ao pequeno guarda-roupas onde elas haviam deixado suas mochilas. Ela colocou as roupas que tinha nas mãos ali e depois virou seu olhar pelo quarto. Alicia já havia voltado seu olhar para o final do filme que parecia envolver um cachorro. Enquanto isso Maia terminou de olhar pelo quarto. Encostada na parede, logo abaixo da televisão e ao lado do pequeno frigobar, ficava uma pequena mesa com uma cadeira, sobre a mesa haviam dois copos e diversos doces, guloseimas e salgadinhos. Os olhos verdes pararam sobre o encosto da cadeira.

As botas de Alicia estavam embaixo da mesa, a calça jeans dobrada sobre o acento da cadeira e, sobre o encosto, a camisa cinza de mangas compridas que ela havia usado o dia todo estava pendurada. Maia caminhou de volta para perto da cadeira tocando com a ponta dos dedos o tecido da camisa, Alicia tentava prestar mais atenção ao filme fofo de animação do que a sua namorada, mais fofa ainda, se movendo pelo quarto. Mas foi impossível desviar o olhar quando Maia deu um passo atrás até estar próxima da cama levando as mãos para o laço que prendia o roupão fechado. A mão direita puxou uma das pontas desfazendo o nó. Alicia viu o tecido macio escorregar pelos ombros da namorada, mas não o notou cair parcialmente em cima da cama. Seus olhos estavam fixos nas costas nuas de Maia.

Ela usava a calcinha vermelha do conjunto limpo que tinha separado e mais nenhuma outra roupa porque nenhuma das suas que tinha ali seriam confortáveis para dormir. Mas, quando ela viu aquela camisa da veterinária, pensou que ela seria perfeita para lhe servir de pijama. Os olhos castanhos acompanharam os movimentos da outra, que deu um passo de volta para perto da cadeira. Maia puxou a camisa encaixando suas mãos nos espaços das mangas antes de girá-la sobre seu corpo deixando o tecido escorregar por seus braços. Foi quando Alicia escorregou seu olhar para baixo, acompanhando o tecido que descia cobrindo a pele arrepiada que esteve exposta e notando a única peça de roupa da namorada e engolindo me seco com a visão. Maia ainda teve a paciência de, ainda de costas para a cama, abotoar metade dos botões deixando a camisa fechada o suficiente apenas para não expor mais do que o começo do vale entre seus seios.

– O que é que você tem com as minhas camisas? – Alicia perguntou em tom baixo após usar o controle para colocar a televisão no mudo quando Maia se virou e começou a caminhar em direção ao seu lado da cama enquanto dobrava calmamente as mangas da camisa que cobriam suas mãos.

– São confortáveis e quentes – ela respondeu com um sorriso divertido começando a subir na cama quando a veterinária ergueu a ponta do edredom – E tem o bônus delas terem seu cheiro – Maia sussurrou quando se deitou com seu corpo colado ao da namorada que puxou o cobertor para cobrir seu corpo que ainda estava arrepiado pelo ar fresco do quarto.

– Fofo – Alicia disse com um pequeno sorriso e sentiu beijos em seu pescoço – Mas você continua sendo uma pequena provocadora – ela completou envolvendo o corpo menor que o seu em seus braços e puxando-o para ainda mais perto.

Maia riu baixo contra a pele quente da namorada, mas não negou a pequena acusação que Alicia fez, com certeza a respeito das suas últimas atitudes. Ao contrário, ela apenas continuou a distribuir os beijos aproveitando que a regata era colada, mas bem aberta, deixando bastante pele exposta.

– Não vai te incomodar dormir com o top? – ela perguntou entre os beijos castos que continuava a distribuir pelo pescoço da Alicia.

– Prefere que eu durma sem? – a veterinária devolveu a pergunta com outra, mas usando o mesmo tom que ela havia usado para explicar sua preferência pelas suas camisas o que fez Maia sorrir e se afastar o bastante para encarar os olhos castanhos.

– Só estou interessada no seu conforto, meu amor – ela falou e, dessa vez, realmente não era uma provocação – Você costuma dormir sem ele – ela observou voltando ao tom provocador de antes e deixando um beijo na bochecha de Alicia.

A veterinária riu e girou os corpos das duas até Maia estar deitada de costas e ela estar se apoiando no cotovelo esquerdo para ficar parcialmente por cima da namorada e colocando sua mão direita na cintura dela, por cima do tecido da camisa.

– Você é mesmo uma pequena provocadora, Senhorita Augustus – Alicia disse beijando a namorada levemente.

– Não fiz nada demais – Maia respondeu sussurrando e sorrindo com os lábios ainda colados aos da veterinária – Não é nenhuma provocação que você não possa devolver.

– Não é nada demais – Alicia respondeu quando finalmente pararam o beijo – Mas, infelizmente, não é uma provocação que eu posso responder a altura no momento – ela completou e viu Maia erguer uma sobrancelha em sinal de desafio – A senhorita tem uma consulta com o fisioterapeuta amanhã bem cedo, não pode se cansar demais as vésperas de algo assim. Precisa estar com seu corpo descansado.

Maia rolou os olhos e Alicia riu da cara emburrada que a namorada fez, no fundo ela sabia que a veterinária tinha razão, só não queria admitir. Mas logo ela estava sorrindo também e puxando Alicia para mais um beijo. A pressão que a mão quente dela fazia em sua cintura e a perna que ela havia encaixado entre as suas eram um claro sinal de que Alicia havia aceitado a provocação e também queria ir além daqueles simples beijos, mas ela tinha um motivo justo e plausível para não o fazer e Maia acabou por concordar, mesmo contrariada por não achar que a sessão de fisioterapia pudesse ser tão cansativa.

Alicia acabou mesmo por tirar o top e dormir apenas com a regata e elas acabaram adormecendo com a veterinária abraçando as costas da Dona do Rancho que dormiu com a cabeça sobre o braço esquerdo da namorada enquanto abraçava o direito que ela havia colocado em volta de seu tronco. Na manhã seguinte ela agradeceu mentalmente por Alicia ter sido a voz da razão na noite anterior porque, quando a sessão de fisioterapia acabou, ela sentia todos os seus músculos cansados e doloridos, além de um desconforto enorme nos joelhos, tornozelos, quadril e ombro.

A longa sessão durou mais de uma hora e meia e Alicia acompanhou de perto e até ajudou Bernardo em alguns momentos. O fisioterapeuta estava testando uma pequena ideia que lhe ocorreu no fim do dia anterior ao tentar pensar em formas de tornar o tratamento de Maia mais eficiente sem que ela precisasse viajar tantas vezes. Ficou agradavelmente surpreso no final da sessão por notar que sua pequena ideia poderia funcionar muito bem. Quando acabaram ele puxou uma das cadeiras de frente a sua mesa e trouxe para perto do sofá onde Maia estava praticamente deitada sobre o corpo de Alicia.

– Como está se sentindo? – ele perguntou a sua paciente que já tinha os olhos até fechados, provavelmente pelo pequeno carinho que a veterinária fazia em seu braço

– Exausta – foi a resposta que teve da mais nova, o que fez com que ele e Alicia sorrissem de forma divertida.

– É normal e esperado, fizemos uma sessão um tanto quanto mais intensa do que o normal hoje – ele explicou olhando mais para a veterinária, que virou sua atenção para ele, do que para Maia que nem sequer havia se movido – Bom, depois de hoje Maia precisa descansar dois dias antes de uma nova sessão. Então estive pensando e acho que podemos tentar uma solução para que não tenham que viajar tão constantemente até aqui – ele falou e Alicia moveu a cabeça prestando atenção – Eu percebi que você conseguiu me ajudar bastante bem, Alicia – ele falou com um sorriso – A minha proposta é que você ajude Maia em alguns exercícios simples nos intervalos entre uma consulta e outra.

– Como assim? – questionou a veterinária curiosa e surpresa e Maia se ergueu um pouco para olhar para Bernardo esperando uma explicação.

– Eu pensei assim – ele começou se apoiando com os cotovelos sobre os joelhos para olhar para as duas – Nas sessões aqui comigo Maia fará exercícios mais intensos e complexos. Depois destes ela precisa de uns dois dias de descanso pra se recuperar. Após esses dois dias, ao invés de vocês voltarem aqui, Alicia ajuda você, Maia, com alguns exercícios mais simples e fáceis, pouco intensos, nada mais longo do que 40 ou 50 minutos. Depois disso você tem mais um dia de descanso e repouso antes de mais uma sessão comigo. Dessa forma só nos encontramos de cinco em cinco dias. Isso diminuiria bastante as suas viagens até aqui. Podemos testar isso por umas duas ou três semanas, se funcionar bem mantemos e vamos acompanhando seu quadro. Se funcionar muito bem, podemos começar a instruir melhor Alicia para que ela te ajude com exercícios um pouco mais intensos com o tempo. O que acham? – ele terminou tão animado quanto havia começado.

Elas se encararam e trocaram algumas palavras, mas a solução parecia perfeita para ambas e acabaram por aceitar a proposta do fisioterapeuta. Antes de irem ele explicou quais seriam os exercícios que Alicia deveria ajudar Maia a fazer dali a dois dias e então elas foram liberadas para voltarem para casa. A viagem de volta foi tranquila e com isso Maia finalmente voltaria a se comprometer com a fisioterapia, já que que Alicia estaria constantemente ao seu lado a incentivando e auxiliando.

 

 

N/A: Gente, antes de tudo eu queria deixar bem claro que eu entendo absolutamente NADA de fisioterapia, então não vou descrever muita coisa dessas sessões dela com o Bernardo nem ela com Alicia. Mas a melhora vai ser visível já nos próximos capítulos onde ocorrer a passagem de tempo entre as consultas. Se por acaso alguém ai entender do assunto e eu falar alguma besteira, pfvr me corrija ok? Obrigada =P

Bem, espero que tenham gostado, até semana que vem
;]


Notas:



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