Dom chegou ao escritório e foi direto para a sala de sua mãe, explicou tudo que aconteceu, Flora ficou preocupada, sabia do temperamento dos dois, tanto do filho quanto da ex de sua filha, autorizou a entrada da medida protetiva, mas resolveu ligar para a filha, Marina estava cansada, aliás, desde o término com Lis, a filha vinha trabalhando demais, havia um acúmulo de coisas e o início do namoro com Sofia foi difícil.
A filha era doce, de todos os filhos de Flora, Marina era a menos combativa, não gostava de brigas, de confusões, fazia de tudo para evitar mal-estar, por isso sabia do grande esforço que a filha vinha fazendo para se manter forte.
Explicou para a mãe que não queria mais confusão e que a ex estava proibida de entrar na empresa, Flora explicou a importância da medida e que no Brasil isso era uma forma de mantê-la segura. Tudo certo, o encaminhamento podia ser dado.
A semana passou correndo, todos estavam envolvidos com a feira, as máquinas e os sistemas desenvolvidos pela Pegasus já tinham sido testados pelo menos umas cinco vezes e tudo já estava no local, Marina mandou uma equipe para fazer tudo in loco, não permitiu que eles voltassem, era precavida e não queria correr riscos.
A segundo chegou cheia e terça, tanto Sofia quanto Marina já iriam para a fazenda, Flora chegaria na quarta com os demais convidados da família.
O chope artesanal fora entregue no Aquarela naquela segunda, o transporte iria ocorrer junto com os demais insumos, todo muito estava muito atribulado, o maior desafio de Sofia era manter duas frentes de trabalho com excelência, o bar não podia fechar, mas sua chefe fazia questão de ir para a feira, também não era justo impedir que Carlão fosse, tudo teria que ser extremamente organizado.
A Fazenda Cariri estava um vai e vem de pessoas, stands, obras, trabalhadores, todos corriam para a abertura oficial da feira que aconteceria na quarta, o maior público sempre aparecia nos finais de semana, mas os grandes negócios eram feitos antes do sábado, eles eram costurados na quinta e na sexta, em que os negociantes e donos de terras e supermercados batiam o martelo, por isso o público da feira era diferente nesses primeiros dias, e Simone sabia perfeitamente disso, assim como Ciço e Bené.
O café todo de vidro recebeu um pequeno anexo, uma tenda grande com uma minicozinha profissional e um forno grande capaz de assar os pães e os bolos que serviriam aquele batalhão de gente durante 24 horas ininterruptas, se tinha uma coisa que Simone sabia fazer era organizar feiras, Bené ficou com a parte dos insumos e estava trabalhando bastante, inclusive abriu vaga para boulangerie para o café, sabia que a equipe precisava ser ampliada.
As máquinas que cuidariam da reciclagem estavam funcionando perfeitamente, para isso quatro grandes geradores haviam sido alugados, a fazenda possuía dois, mas não dariam conta.
Havia menos de 48 horas para a equipe da fazenda terminar os ajustes, a área dos expositores ficava a cargo de cada pequeno empresário ou grande empresário que iria expor, por lá tudo estava ok, mas a área da fazenda que eles abriam para exposição, o mini curral, o engenho comercial que Ciço mandou fazer, ainda precisavam de ajustes, o cearense queria produzir rapadura, doce de leite artesanal e puxa-puxa ao vivo, havia um engenho maior na fazenda que supria o café de alguns produtos e eles não comercializavam para fora, a ideia era expandir, apresentar os insumos de excelente qualidade.
Faltava ajustar as formas de madeira e a prensa, de resto o mini engenho estava pronto e estava a coisa mais linda, tudo de um bom gosto e de um capricho que era o grande diferencial da fazenda na região, nada que saía dali tinha pouca qualidade, eles só trabalhavam com intensidades exageradas: muito bom, maravilhoso, excelente, por isso, Ciço e Simone sabiam que, naquele ano, a feira seria mais do que um sucesso.
Carlão conferiu todo o estoque que o bar comprou, chope larger e ipa, maravilhosos, fez a checagem do lote, das especificações sanitárias e quando viu que tudo estava ok, assinou a nota e o recebimento, Sofia dobrou o estoque de barris para aquele ano e, caso não usassem todos, o próprio Aquarela usaria no seu balcão de madeira, entrou no escritório e disse a Sofia que tudo estava ok.
Sofia chamou toda a equipe do bar, as duas equipes estavam completas para a reunião de logística e escolha, quem ia, quem ficava, quem ia voltar e quem iria ficar direto. Além disso, naquele ano, Sofia contratou uma empresa de arquitetura, queria uma estrutura rústica e confortável para os clientes, nesse tipo de evento, as pessoas andavam muito, sentiam sede e fome e passavam horas circulando pelo local.
No planejamento de Sofia, a partir das 16h de quarta feira o Aquarela estaria pronto para funcionar até domingo às 22h, mas até lá alguns ajustes teriam que ser feitos. Era metódica como a tia e para isso tinha um celular potente e uma agenda toda SINCORNIZADA. Essa agenda também se sincronizava com o sistema do bar, que era instalado nos DMC que o Aquarela usava, Sofia teve a brilhante ideia de usar os dispositivos que o IBGE utilizava para fazer a coleta de dados das pessoas, o DMC (Dispositivo Móvel de Coleta) era mais que eficiente, todo o sistema estava interligado, inclusive, se quisesse saber quanto o Aquarela estava vendendo durante a feira, bastava acessar o perfil do bar em São Paulo.
A reunião foi demorada, todas as informações foram colocadas à mesa, cada grupo ficou responsável pela gestão de uma parte da logística, conferiram todos os insumos, desde os guardanapos até os copos descartáveis e recicláveis, as águas, refrigerantes, as comidas perecíveis, tudo estava ok, bastava a empresa sinalizar que o ambiente estava ok e eles levariam tudo para a fazenda.
O local na praça de alimentação do Aquarela deveria ficar pronto até o final daquela tarde, para na ter-feira, tudo ser levado e a organização ocorrer com calma, além do escritório de arquitetura, Sofia resolveu climatizar parte do ambiente, nessa época do ano, o sol castigava, nos anos anteriores, todos sofreram um pouco, a empresa trabalha com energia solar, mais um ponto para a feira, os climatizadores já estavam ok, tinha recebido o aviso de Simone, faltava só a finalização da estrutura.
Marina tinha quatro técnicos na fazenda, desde a instalação, não os trouxe de volta, não queria que nada desse errado, além disso, tinha reunião com a empresa de marketing e estava esperando a autorização para colocar um drone voando sobre a fazenda nos dias de feira. Era a primeira vez que a Pegasus levava suas máquinas de autoatendimento de reciclagem em um evento tão grande no Brasil, esse tipo de serviço era caro e não fazia os olhos dos empresários brilharem, mas Simone queria inovar, era uma empresária corajosa, não tinha medo de pagar para depois ganhar o dobro, ou o triplo. Por isso, nada poderia dar errado.
Marina finalizou a reunião de marketing, ficou decidido que três membros iriam na terça e só retornariam no domingo, mas a empresa estava enfrentando um problema, não havia mais vagas em hotel, tudo estava mais do que lotado, eles conseguiram apenas uma vaga em uma cidade vizinha que ficara a cerca de 70km, o que era inviável, decidiu ligar pra Simone, precisava de ajuda.
Não pensou duas vezes, afinal o marketing seria para a feira dela também. Pegou o telefone e ligou, ele só tocou duas vezes, Simone deveria estar cheia de coisas.
– Não me diga que temos problemas com minhas máquinas de reciclagem!?
– Suas máquinas estão a todo vapor, inclusive esse software melhorado que criamos para a Feira Cariri já está na nossa matriz, acredita?
– Eu vou ganhar alguma porcentagem com isso? – Marina gargalhou.
– Infelizmente, não, mas eu vou, além disso, a empresa mandou uma equipe de marketing profissional para cobrir a feira, acabei de pedir a Anac autorização para dois drones sobrevoarem a fazenda, então, de certa forma, você ganhou sim.
– Que maravilha! Muito feliz, Marina, sabia que minha contratação geraria bons frutos para todos. Então, se não são minhas máquinas, é algo relacionado à Sofia?
– Não, estamos bem, graças a deus. Minha ligação é um pedido de ajuda, mas antes de pedir gostaria de deixar claro que se não puder ajudar não tem problema.
– Pode falar, farei o possível.
– Devido ao sucesso do software e a demanda das máquinas, a matriz pediu que a equipe de marketing ficasse a feira inteira, estava acordado que eles iriam sábado, passariam o dia e depois voltariam. Minha secretária passou a tarde tentando uma hospedagem para a equipe, mas só conseguimos numa cidade mais ou menos próxima, que fica a 100km de distância, o que torna inviável para a equipe ir e vir. Então, gostaria de saber se você não conhece nenhum lugar que ainda possa ter disponibilidade para hospedagem de terça a domingo.
– Não sei se a Sofia falou com você, mas tivemos que fazer alguns ajustes de hospedagem, só conseguimos disponibilizar um chalé para o Dom, que seria o menorzinho. Você, Sofia e a Flora ficarão aqui na casa principal, mas estarão muito bem instaladas, não se preocupe. Marina eu tenho ainda uma casa na vila da fazenda, ela foi reformada agora para a veterinária que contratamos para os meus cavalos e os de Flora, acredito que ela possa servir, são três pessoas?
– Isso, são dois homens e uma mulher.
– Há problema os três permanecerem na mesma casa?
– De forma alguma, Ricardo e Raquel são irmãos e o Junior é superamigo dos dois, não tem problema nenhum.
– Então, você já tem a hospedagem dos três, vou pedir que deixem um dos carrinhos de golfe com eles e solicitar que um dos meus funcionários fique à disposição para mostrar tudo, além disso, eles podem tomar café na Bené, nós ampliamos a capacidade de servir do café, só preciso dos dados e documentos de todos e gostaria que eles se movimentassem identificados, com crachá e blusa da empresa. Estou falando isso, porque já vi seus técnicos todos identificados e para a nossa segurança tudo fica mais fácil.
– Simone, não sei nem como lhe agradecer, qual o valor a empresa deve pagar?
– Porque não fazemos assim, o pagamento pode ser feito com umas imagens áreas que eu já ia contratar, fica uma coisa pela outra, tudo bem?
– Tudo mais do que bem, se você puder me enviar o que deseja ainda hoje ou até amanhã de manhã, eu já deixo agendado com os meninos, você acha que consegue?
– Marina, vou repassar para a minha gerente, o nome dela é Carla, ela vai entrar em contato com você via e-mail, caso não seja possível todas as solicitações, você pode negociar com ela, de qualquer forma, ela terá as imagens mais importantes, as que preciso, tudo bem?
– Tudo ótimo, muito obrigada, tenho certeza de que a feira será um sucesso.
– Eu também, mas estou super cansada.
– Simone!?
– Oi!
– Minha mãe me contou sobre vocês, eu queria dizer que eu e o Dom estamos muito felizes e torcendo muito, queremos muito que ela seja feliz e você é a pessoa que pode fazer Flora feliz.
– Eu sei disso, Marina, mas acho que sua mãe ainda não sabe, de qualquer forma, muito obrigada pela torcida, vamos ver como isso tudo termina. Até amanhã. Você chega somente à noite?
– Isso, Sofia e eu chegaremos já à noite.
– Aguardaremos vocês com um jantar maravilhoso, uma costela no bafo que já está marinando desde hoje, além do bolo de coco com chocolate, estamos ansiosos, Ciço e Bené adoram a casa cheia. Dom chega à noite também?
– Chega sim, na verdade, acho que chegaremos todos juntos ou quase na mesma hora, minha mãe vai antes, ela falou alguma coisa com você?
– Ela me disse que só consegue vir na quarta, tem uma audiência pela manhã e depois vem. Deve chegar à tardinha, um pouco depois da abertura da feira.
– Tá certo, muito obrigada e até amanhã. Beijos!
– Beijos, até!
Simone pensou sobre o que Marina disse, ela ter contado para a família já era um grande passo, mas Flora ainda se mantinha distante, ainda mais quando Simone não ia para São Paulo com tanta frequência, trocavam mensagens rápidas, muito mais pela viagem à França, que ela ainda estava decidindo se ia ou se mandava a veterinária, com a proximidade da feira, as mensagens diminuíram, Simone estava trabalhando demais, as demandas eram inúmeras, Ciço ajudava mais na logística, enfim, não iria insistir com Flora, deixaria as coisas acontecerem, estava mais armada, era verdade, ficou com medo quando sentiu falta, era muito bem resolvida, se apaixonar não estava nos planos, mas a vida esfrega os nossos planos na nossa cara, só não queria sofrer, até porque viu todo o sofrimento de Ida, enfim, voltou à ativa e chamou a secretária, pediu que ela anotasse tudo, falou sobre o grupo de imagens que precisava, pediu que ela solicitasse a documentação e solicitou que o gerente adjunto fosse receber a equipe, pediu que um mapa da fazenda fosse separado e que a versão digital também fosso disponibilizada. Carla anotou tudo e foi em direção ao escritório providenciar o que a chefe pediu.
Resolveu enviar uma mensagem para a Flora, só para confirmar mesmo da sua vinda apenas na quarta, assim que enviou a mensagem de texto o telefone tocou, era ela.
– Oi, Simone, como estão as coisas? Finalizou tudo?
– Ainda não, mas hoje finalizamos tudo, inclusive o mini engenho de Ciço, que está a coisa mais linda, você vai ver quando chegar.
– E você? Vem apenas quarta?
– A audiência foi confirmada para quarta às 10h, não consegui adiar, meu bem, sinto muito, a abertura é às 14h?
– Isso, é uma abertura simbólica, pela manhã os negociantes já estarão por aqui, a praça de alimentação também abre na quarta a partir das 16, as máquinas da Pegasus estão funcionando perfeitamente, elas são incríveis, todo mundo aqui na fazenda ficou impactado.
– Que maravilha, fico muito feliz que tudo esteja dando certo, assim que terminar a audiência eu vou direto para a fazenda, eu falei com o Carlão, ele deve ir amanhã de manhã acompanhar uma entrega de insumos, mas retorna na terça mesmo e vai na quarta novamente para levar a chefe do Aquarela, você acha que preciso ir de carro, ou posso ir com eles de carona?
– Não precisa vir de carro, pode vir de carona com eles. Na volta, além de carona, posso deixar você também se for preciso.
– Outra coisa, eu já livrei minha agenda para novembro, você consegue ir até a França para trazermos os cavalos?
– Vamos fazer o seguinte, quando a feira passar, nós checamos as nossas agendas, tudo bem?
– Claro, sem problemas. Está precisando de alguma coisa, algo para levar?
Simone lembrou das lanternas, será que seria muita cara de pau?
– Eu preciso de umas lanternas de led, meu fornecedor acabou esquecendo de enviar, se eu pedir que ele deixe no escritório, você pode trazer para mim?
– Claro que levo, pode pedir para ele enviar para cá.
– Ótimo, o valor já foi pago, será somente receber.
– Apesar de você está distante de mim, queria dizer que estou com saudades e com vontade de fazer amor, não vejo a hora de encontrar você.
– Que bom, porque pensei que já tinha esquecido o que nós acordamos.
– Não esqueci, mas esses dias para nós duas foram corridos demais, sinto sua falta.
– Eu também, espero você na quarta para almoçarmos juntas, tudo bem?
– Tudo certo, beijos.
– Beijos, Flora.
Simone era uma vendida, bastou Flora Holanda demonstrar o mínimo de afeto que ela já estava rendida, todas as forças se tornavam fraquezas com uma única frase: “… com vontade de fazer amor.” O desejo se materializou na mesma hora, entre as pernas, como coração descompassado, era grave e Simone sabia.
Conforme a tarde de segunda caía, a fazenda se transformava num verdadeiro palco de fazer negócios e diversão, a roda gigante já estava funcionando, as crianças, filhas dos colaboradores da fazenda, já faziam fila para andar, Simone liberava o mini parque na segunda e na terça para todos da fazenda brincarem sem pagar nada, era uma festa só, ouviam-se os sorrisos, as gargalhadas, o pega-pega, o esconde-esconde, nada de celular, só para fotos, Ciço adorava, Bené também, todos se uniam para apreciar o feito da equipe.
Simone foi em direção à casa grande, lembrou que estava com fome, e resolveu parar no café, Bené estava finalizando tudo, mas não negaria um bom café de fim de tarde para sua cunhada.
O barulho do sininho da porta ecoou pelo salão, Bené viu a cunhada com a cara pensativa, esperou por ela no balcão, até vê-la se sentar e dizer:
– Dia difícil?
– Até que não, tudo está dentro do planejado e adiantado, esse ano a feira será maior, então decidimos começas cedo para não ter problemas com demandas maiores, e por aqui? A extensão do café tá pronta que eu já vi, tudo funcionando normalmente?
– Tudo. Nossas massas já estão feitas e descansando, já temos a primeira leva de pães, acho que amanhã já teremos um movimento diferente, hoje recebemos algumas pessoas, mas ainda usamos apenas a área interna. Com fome?
– Bastante, me esqueci até de comer, acredita?
– Acredito, quer um café completo, o da tarde?
– Quero, pode incluir uma carne de sol desfiada também, acho que depois daqui vou dar uma volta pelo parque e depois vou dormir, amanhã promete, quero um café reforçado.
– Posso sim, sente lá na mesa, que levo já já.
Simone foi em direção à mesa que ficava encostada no vidro, tinha uma vista ampla da fazenda, adorava aquele projeto do café, via-se tudo por dentro e por fora, e naquele horário, as luzes se acendiam, era como pintar a noite com o sabor do café, adorava, adorava tanto que perdeu a noção do tempo e quando percebeu Bené veio trazer seu prato lindo: ovos mexidos, duas fatias de pão de fermentação natural com sal grosso e alecrim, uma rabanada de canela e chocolate, e num potinho a parte, a carne que tanto adorava e fazia lembrar da sua terra natal, dela e do Ciço. O capuccino cremoso veio numa xícara maior, com raspas de chocolate ao leite por cima e cheirinho de canela invadindo o ambiente, tudo lindo e gostoso, feito na hora pela sua cunhada talentosa que misturava culinária francesa com nordestina e saía aquele prato que esgotava nas feiras.
– Coma, você parece preocupada, está tudo bem mesmo?
– Em relação á feira e à fazenda, está sim, meu problema é outro.
– Seu problema é uma advogada, acertei?
– Sempre acerta.
– Eu pensei que vocês tinham se entendido.
– Entender é uma palavra muito forte, na realidade, o problema é porque eu acho que estou apaixonada, se fosse só mais um rolo como os tantos que eu tive, esse tipo de distância não seria um problema, mas agora ela me incomoda, a distância física e a distância que ela impõe.
– Ela já sabe disso?
– Que estou apaixonada? Não.
– Como você acha que ela vai lidar quando souber dessa sua paixão?
– Eu não sei, Bené, a minha impressão é que a Flora não quer ser feliz, ela tem culpa pela morte da Ida, acha que foi culpada, que poderia ter feito alguma coisa. Eu não quero ficar envolvida nesse tipo de história, uma história que não pode ser modificada, então, estou presa nisso tudo e não sei se quero ficar ou quero sair.
– Simone, acho que está com medo, com medo de se machucar, de sofrer, isso tudo é novo para você, nunca antes você se viu nessa situação, acho que você tem que arriscar, um amor chegou e você se assustou, dê um tempo a ela, ela também deve estar com medo.
– Não sei, Bené, não me vejo indo atrás de uma mulher o tempo todo, já fui atrás de Flora mais vezes do que já fui atrás de qualquer mulher, vamos ver como será esse período que ela ficará aqui.
– Quando ela chega?
– Ela só vai conseguir chegar na quarta, para o almoço e para a abertura, tem audiência na quarta de manhã, mas os demais convidados chegam na terça à noite.
– Acho que ela vem pra ficar com você e vocês podem conversar, tente se abrir com ela, mas não a pressione, ela também deve estar confusa e com medo.
– Vou tentar, Bené, além do mais, você sabe como é uma feira, ainda mais essa, que estamos apostando alto, tudo é dobrado, inclusive meu trabalho, por mais que eu tenha gente boa trabalhando pra mim, você sabe que gosto de acompanhar tudo de perto. Vamos ver como ficaremos nessa semana. Obrigada pelo café, pela conversa, tudo estava maravilhoso, como sempre. Vou lá na área do parque depois vou pra casa, descansar, estou exausta.
Simone saiu em direção ao parque, pegou um carrinho de golf e foi até à área toda iluminada, cheio de sons de felicidade, crianças correndo, famílias reunidas, pipocas, algodão doce, muitos cansados, mas felizes.
Assim que chegou e foi vista, foi abraçada por várias pessoas, Ciço também estava por lá, tomando seu caldo de cana, vendo o miniengenho funcionando, feliz demais, assim que viu a irmã, foi até ela.
– Está tudo pronto, acho que esse ano nós nos superamos.
– Nos superamos sim, a feira será sensacional.
– E que cara amarrada é essa?
– É só cansaço.
– Tem certeza?
– Tenho sim, tudo certo por aqui? Os brinquedos estão todos funcionando?
– Tudo certo, os brinquedos estão funcionando muito bem, está tudo pronto, você pode ir descansar, eu vou ficar mais um pouco, Bené está vindo e os meninos também chegam hoje, vamos esperar os dois.
– Tá certo, pois eu vou descansar mesmo, amanhã checaremos tudo e estaremos pronto para começar.
Simone abraçou o irmão e foi em direção a casa grande, pensando tanto que quem olhasse de longe, poderia jurar que estava saindo fumaça da sua cabeça, decidiu dormir, dormir sempre ajudava e amanhã tinha muitas coisas mesmo, coisas demais, não deixaria Flora lhe tirar de foco.
Sofia finalizou tudo no bar, dois caminhões já tinham sido carregados, a maioria iria amanhã com o Carlão, somente os insumos de sua chefe iriam na quarta, estava cansada e doída, pegou muito peso, resolveu ligar para a namorada que já estava em casa arrumando as coisas.
– Oi, meu bem, ainda no bar?
– Acabamos agora, estou toda doída, mortinha, mas terminamos tudo.
– E, você? Tudo pronto?
– Hoje, tive uma reunião com a equipe de marketing, a matriz decidiu enviá-los amanhã logo, Simone me salvou em relação à hospedagem, tentamos achar um local, mas tudo estava lotado já. Nossas máquinas estão funcionando perfeitamente bem, estou aliviada. Agora estou arrumando minhas coisas, vamos em qual carro?
– Podemos ir no meu? Você pode ir de uber amanhã e já levar as malas que, no máximo, às 17h nós saímos, dá certo pra você?
– Dá certo sim, por favor não se canse tanto, sua mãe já viajou né?
– Viajou nessa madrugada, por isso dormi pouco, eu já estou quase saindo, vou pra casa, arrumar minhas coisas e amanhã já levou tudo para o bar, vou tentar descansar um pouco pela manhã, quer que eu leve seu almoço?
– Não precisa, não quero que se canse, descanse mais, eu posso pedir meu almoço, minha mãe disse que talvez me convide para almoçar, há um assunto delicado em relação à Lis.
– Que seria qual?
– Dom vai pedir uma medida protetiva, eu não quis discutir com ele, e autorizei.
– Marina, você deveria ter autorizada não porque não quer brigar com o Dom, mas porque é o certo.
– Sofia, Lis não vai mais me importunar, ela não vai entrar mais na empresa e nem sabe onde eu moro, esse assunto para mim está encerrado. Por favor, não vamos deixar que isso tire a nossa paz tão sonhada.
– Tudo bem, meu bem, descanse, eu já vou pra casa e vou adiantar tudo, estou com saudades e doida para viajar com você, mesmo que nós duas tenhamos que trabalhar, não vejo a hora de ficar com você.
– Eu também, não vejo a hora.
– Boa noite, meu bem, durma bem e um beijo.
– Um beijo, meu bem.
Sofia se despediu de todos no bar e foi em direção ao estacionamento, não percebeu quem estava sentado no banco à frente, toda de preto com uma lata de cerveja na mão, a rua estava movimentada, o Aquarela não era o único bar da rua, além das barraquinhas de bebidas que ficavam naquela região.
Sofia saiu com o carro e teve a placa fotografada, a imagem ficou nítida, perfeita para a pesquisa necessária.
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