Marina ficou pensativa depois que Lis saiu da sala, pensativa sobre o que contaria a Sofia e se contaria. O início do namoro fora difícil, complicado, cheio de impedimentos, agora que, aparentemente, tudo estava resolvido, trazer isso para o colo de Sofia, não sabia se seria viável.
De qualquer forma, teria tempo para pensar, ainda tinha uma reunião pendente para finalizar o dia, depois, iria encontrar a mãe na padaria que as duas amavam, era um plano, mas devido ao tempo, não saberia se daria tempo, por isso, preferiu avisar à Flora desse impedimento trabalhista, talvez não tivesse hora para sair da empresa naquele dia.
Lis resolveu caminhar um pouco pela Paulista, estava pensativa, distante, não imaginou que Marina estivesse envolvida com outra pessoa e, ainda mais, gostando dessa outra pessoa, não sabia qual próximo passo daria, mas imaginou o que Marina diria se soubesse que três peças que instalaria na exposição seria em sua homenagem. Será que ela conseguiria ver a relação? Provavelmente sim.
A noite começou a cair e resolveu entrar em um Pub que viu, o ambiente era agradável, não estava cheio, resolveu se sentar no balcão corrido de madeira e pediu um chope, ficou olhando para uma televisão à toa sem saber muito bem o que fazer naquele mês, mas continuaria tentando, não desistiria fácil, Marina valia a pena.
Saiu do pub, quando estava começando a encher, pediu um uber e retornou ao bairro onde ficaria morando por, pelo menos 3 meses, foi às compras. Na esquina do apartamento, havia um supermercado, Lis comprou algumas coisas básicas, 5 garrafas de vinho, dois packs de cervejas e muitas frutas, principalmente, aquelas que não conhecia, queria provar tudo, além de outras coisas, saiu carregando tudo e subiu ao apartamento, ainda estava cansada, sofrendo com o fuso, arrumou tudo e deitou, acabou adormecendo antes de oito da noite.
Depois que Sofia terminou a reunião do novo cardápio, conversou com seu contador, o Aquarela ia muito bem, o faturamento estava a todo vapor, o final do ano se aproximava e a divisão de dividendos sempre acontecia com o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro salário, além disso, precisaria ampliar o quadro de funcionários, pelo menos um barman ou barwoman e mais ajudante de cozinha, Pauline já havia solicitado há tempos, no dia que o Aquarela abria para o almoço, as entregas explodiam.
Quando percebeu, seu telefone estava tocando, era sua mãe.
– Oi, mãe.
– Minha filha, eu e Robson estamos esperando você aqui na casa dele para jantarmos, você sai que horas do bar?
– Estou finalizando algumas coisas e já chegou aí.
– Está certo.
Sofia resolveu enviar mensagem para Marina, sabia que ela estaria numa reunião e sairia tarde, esses dias seriam corridos para sua namorada, a feira da fazenda se aproximava e outros contratos chegaram.
“Oi, meu bem, estou saindo do bar e indo à casa do meu primo jantar com ele e a mamãe, quando sair me avise, sei que tem muito trabalho pendente e reuniões, beijos.”
Marina ficou olhando a mensagem e imaginou como diria a Sofia o que tinha acabado de acontecer e se perguntou como a namorada reagiria e se era necessário mesmo contar. Qual a probabilidade das duas se encontrarem? Pensou tanto que a cabeça doeu e desistiu de achar uma solução para este momento, tinha reuniões e problemas para serem resolvidos, inclusive o novo software desenvolvido por ela e por sua equipe para a máquina da feira da Fazenda Cariri, era a primeira vez que ele iria ser testado na prática e com um volume de solicitação grande, nada poderia dar errado.
Decidiu responder à mensagem de sua namorada da forma mais amorosa que sabia e sempre sabia ser amorosa com Sofia e foi em direção à sala de reuniões, sua equipe já estava esperando.
O software já estava rodando desde a manhã, mas quando eles aumentaram o volume de solicitação ele perdeu robustez no desempenho, então tinha que resolver isso, a quantidade de pessoas esperadas na feira era em torno de 10 a 15 mil por dia, foram os dados que ela recebera de Simone, mas havia a possibilidade dessa quantidade aumentar no sábado que era sempre o dia mais concorrido, então Marina estava trabalhando com uma margem de 25 mil pessoas, por isso a dificuldade de readequação.
Ângela já havia questionado a chefe, porque não uma margem de 20 mil pessoas, e Marina já tinha respondido que era melhor pecar para mais do que para menos, então o trabalho da equipe estava todo voltado para essa nova configuração, após a resolução desse problema, ele seria instalado na máquina e começariam os testes in-loco.
Sofia finalizou as pendências do bar e foi em direção à casa de Robson onde sua mãe e ele já lhe esperavam, no caminho agradeceu as forças superiores por Lúcia ter compreendido a história toda, apesar de também ter tomado a culpa para si, tantos culpados, mas os verdadeiros tinham sido isentados dessa leva toda de culpa, o que era completamente injusto, morreram sem saber que a podridão iria ser revelada, pena que sua tia não estava mais entre elas.
O amor que Ida tinha pela boa cozinha, Robson também tinha e Sofia sabia que comeria muito bem naquele jantar, a conversa era sempre boa e, quando chegou, toda a história já tinha sido contado ao primo, sua mãe já fizera esse favor.
– Quer dizer que minha priminha está namorando sério uma nerd francesa?
– Boa noite pra você também, Robson! Oi, mãe, tudo bem por aqui?
– Tudo, filha, tudo bem no Aquarela?
– Tudo finalizado, espero que não tenha nenhum problema que eu tenha esquecido de resolver.
– Você já pensou na ideia de um gerente administrativo?
– Mãe, o Carlão me ajuda e eu já tinha conversado com ele para ver outra pessoa para cuidar da segurança, mas ele insiste em dizer que dá conta das duas coisas e eu acabo deixando pra lá, sei que não é justo, porque, teoricamente, ele ganha por um cargo, mas essa semana vou conversar com ele direito e resolver esta pendência. O que teremos para o jantar?
– Robson preparou um risoto de lagostins que o cheiro estava maravilhoso e de sobremesa ele fez uma mousse de limão siciliano e leite condensado com trufas de chocolate ao leite, aquela que sua tia comia quase chorando e que ele nunca deu a receita pra ninguém.
– Nossa, estou com água na boca. Mãe, você não deveria ter gastado tanto dinheiro com essas roupas de marcas caras, até parece que eu não tenho condições de me vestir bem, a Marina deve ter ficado chocada.
– Condições de se vestir bem você tem, minha filha, e se veste, mas sua namorada estava com uma blusa Hermés hoje, de uma casualidade sem igual, isso quer dizer que para ela isso é mais do que comum e pode ter certeza, depois que eu vi a Flora e o Dom naquele escritório, os dois grifados e chiques, imaginei que esses presentes seriam uma boa ideia.
– Eu me senti uma maltrapilha.
– Nem se você se esforçasse muito você conseguiria, meu bem, com esse rosto e esse ar de princesa moderna, você teria que nascer de novo.
O jantar estava maravilhoso, Sofia lamentou profundamente que Marina não estivesse ali para comer aquelas delícias, fez Robson prometer que teriam um jantar com esse mesmo menu e que ela levaria a namorada, já estava tarde, despediram-se, mas Lúcia resolveu ficar na casa de Robson pelo menos naquela noite, queria dar espaço para a filha, preparou um potinho generoso com a sobremesa e disse que Sofia levasse para Marina.
Ao sair do apartamento, resolveu ligar para a namorada, não demorou muito e a ligação foi atendida.
“Oi, meu bem, tudo bem?
Tudo, você ainda está na empresa?
Ainda, tivemos um problema com um dos softwares de uma máquina da feira e tivemos que reescrever alguns códigos, mas estamos mais perto do que longe. Vamos já parar, estamos exaustos. Tudo bem com o jantar?
Marina, já são quase meia-noite, não está na hora, meu bem!? Eu estou indo pegar você, tudo bem?
Sofia, você vai sair do seu caminho, prometo que já vamos finalizar e vou embora.
Não tem problema, o Robson mora bem perto da Paulista, minha mãe ficou no apartamento dele e eu estou com um potinho de sobremesa do jantar que minha mãe separou pra você, você pelo menos fez uma refeição adequada?
Pedimos comida japonesa e eu comi, mas não tivemos sobremesa, você chega aqui em quanto tempo?
Chego em 15 minutos no máximo, você quer que eu suba?
Não, vamos parar por aqui, eu desço e espero você. Um beijo.
Um beijo.”
Sofia seguiu em direção à Paulista, Marina trabalhava demais, ela também, mas aqueles dias estavam bastante intensos para sua francesinha, sabia que boa parte dessa intensidade se dava devido à aproximação da feira da Fazenda Cariri, será que era sempre assim? Tantas horas a mais?
Quando encostou no prédio luxuoso da Pegasus, sua namorada já estava embaixo lhe esperando, havia mais algumas pessoas e aquela desagradável da Ângela e mais dois rapazes, Sofia buzinou levemente e viu a namorada se despedindo afetuosamente de todos, inclusive da folgada mais nova que insistia em olhar pra Marina de forma diferente, pensou em descer do carro, mas não era uma mulher insegura, quer dizer, podia até ser, mas confiava na namorada que tinha.
– OI, meu bem, só tirando você do seu caminho.
– Se as saídas do meu caminho me levarem até você, quero sair todos os dias. Oi, coração.
As duas se beijaram e Sofia entregou o potinho de sobremesa para Marina, que não se fez de rogada e resolveu comer ali dentro do carro mesmo, estava exausta e se essa sobremesa fosse pelo menos um pouco parecida com as delícias da fazenda, valeria a pena comer aquele doce naquela hora da noite.
– Por que tantos problemas nessa máquina da feira?
– Bem, vamos lá, todas as vezes que instalamos nossas máquinas em eventos, precisamos adaptá-la para o evento em si, para as necessidades do evento, no caso da feira, Simone me disse que o maior número de pessoas , provavelmente, seria no sábado, talvez a feira da fazenda alcance umas 15 mil pessoas durante todo o dia, a máquina principal tem esse suporte de 15 mil pessoas, mas se nós tivermos um fluxo maior, ela pode parar ou travar, porque a programamos para o serviço máximo de reciclagem e troca de brindes, veja bem, se tivermos 15 mil pessoas, não quer dizer que as 15 mil pessoas usarão este serviço, mas também quer dizer que eu posso ter 8 mil pessoas que usarão a máquina mais de uma vez, então nós estamos reescrevendo o código para que ela atinja 25 mil possibilidades de uso em um mesmo dia, e isso dá realmente um pouco de trabalho.
– Entendi, você está trabalhando com uma margem bem grande para não correr o risco, não é isso?
– Nesse tipo de negócio, a gente não corre risco, Sofia, e nem trabalhamos com ele, porque se uma máquina dessa para no meio de um evento grande, o prejuízo é enorme, para a Pegasus e para quem nos contratou, esse tipo de coisa nunca aconteceu com minha equipe.
– Isso se chama alta competência, não que eu duvidasse, mas ver você em ação é muito maravilhoso, por falar em feira, nosso chalé já está reservado e pago, vamos ficar num menorzinho, tudo bem?
– Tudo sim, nós vamos na sexta mesmo ou você pretende ir na quinta, no dia que a feira começa?
– Dá certo irmos na quinta de manhã? O Aquarela vai fornecer os chopes artesanais e um cardápio de bolinhos especialmente para a feira: o de costela e o de camarão, então os meninos vão na quarta para montar a estrutura, verificar se tudo está ok e nós vamos na quinta de manhã, dá certo?
– Dá certo sim, minha equipe irá na terça de manhã, as máquinas já foram testadas, mas falta o software atualizado, essa semana resolvemos e instalamos via rede, no final de semana os meninos vão ver de perto todas as instalações e conferir tudo, vamos na quinta.
– Tudo bem, além dessa questão do código, tem mais alguma coisa que está preocupando você?
Sofia já a conhecia, Marina sabia disso e mal conseguia disfarçar um leve incômodo, não sabia como verbalizar o encontro que tivera mais cedo e nem qual seria a reação de Sofia com a presença de Lis em SP e tão perto das duas, mas mentir não seria uma saída, não mesmo.
– Tem mais alguma coisa sim.
– Foi o almoço com a minha mãe?
– O almoço com sua mãe foi mil vezes melhor do que eu jamais poderia esperar, aliás, o presente que eu ganhei me deixou sem jeito, porque tenho certeza de que ele foi muito caro.
– O que está acontecendo então, coração?
Sofia tinha começado a chamar Marina de coração naquele dia e não estava aguentando de tanto que estava apaixonada por ela, falar sobre o encontro seria algo inesperado para aquela relação recém-estabilizada.
– Podemos falar quando chegarmos, depois de um banho?
– Claro que podemos.
Chegaram rápido ao apartamento de Sofia, àquela hora da noite não havia mais trânsito, deixou uma roupa para sua namorada e foi preparar um overnight para si, estava comendo muitas coisas e precisava voltar com as corridas, enquanto terminava de guardar tudo, Marina apareceu de cabelos lavados e cheirosa, como sempre.
– A gente pode conversar agora, meu bem, sei que está tarde, mas queria conversar antes de dormirmos.
Sofia pegou o pano de prato e enxugou as mãos, pegou o chá de camomila que já tinha deixado esfriando e entregou uma xícara para Marina e pegou a sua, as duas foram em direção ao sofá da sala.
– Hoje, quando eu saí de uma reunião com a diretoria, minha secretária disse que havia uma pessoa me esperando, quando eu olhei para a entrada dei de cara com a Lis.
– Lis!? Sua ex?
– Isso minha ex, ela está no Brasil para a exposição itinerante, eu havia comentado com você.
– Essa exposição não era em novembro?
– Para o tipo de arte que ela faz, geralmente, esses artistas vêm antes, uns dois ou três meses, isso depende, como são instalações eles olham tudo, luz, sombra, espaço, então ela veio.
– Marina, você e eu sabemos que ela veio antes por sua causa, você sabe disso né? O que ela queria?
– Ela conversou um pouco e disse que queria mais uma chance, que voltou para Paris e eu não estava mais lá e conseguiu descobrir com amigos em comum que eu voltei para o Brasil e tinha conseguido uma promoção na Pegasus, foi fácil ela achar o endereço da empresa.
– Você disse o quê?
– Eu disse que o nosso tempo tinha acabado e que eu já estava em outro relacionamento e que estava apaixonada, depois pedi pra ela ir embora.
– Essa mulher é muito cara de pau mesmo, não acredito que ela teve essa audácia de procurar você no seu local de trabalho, você proibiu a entrada dela na empresa já?
– Sofia, eu acho que ela não vai mais me procurar na empresa.
– Mas, você já proibiu?
– Eu não tive tempo de pensar nessa possibilidade, eu estou trabalhando muito, por favor, meu bem, você não precisa ficar dessa forma, Lis é passado, nós estamos juntas, eu sou apaixonada por você, Sofia.
– Você pode proibir?
– Sofia, qual a necessidade disso?
-Eu estou pedindo simplesmente para você não permitir a entrada da sua ex no seu local de trabalho, acho que isso não é nenhum pedido absurdo.
– Podemos terminar essa conversa amanhã? Já é madrugada, eu estou tão cansada, Sofia, por favor?
Sofia a olhou e viu que realmente ela estava cansada, devia estar cansada física e mentalmente, o ritmo de Marina estava um pouco insano, principalmente, as duas últimas semanas, entendeu que naquele momento não seria justo com ela aquela discussão, não queria repetir os mesmos erros, não queria fazer com Marina o que Rodrigo fazia consigo e percebeu que estava sendo indelicada.
– Tudo bem, meu bem, me desculpe, vamos descansar você está exausta, que horas precisa entrar na empresa amanhã?
– Eu disse para equipe que eles precisariam chegar depois das dez, precisamos dormir.
– Ótimo, pois vamos descansar.
Foram para o quarto e, assim como a primeira noite das duas, não foi feito o amor, dormiram muito juntas, mas Sofia demorou um pouco mais, Marina adormeceu logo que se deitaram. O medo havia voltado, a chegada da ex de Sofia não tinha sido algo bem-vindo e trouxe novamente o mesmo sentimento do começo do namoro.
Dormiu sentindo o cheiro de Marina, com ela em seus braços e foi o rosto de sua francesinha que viu quando abriu os olhos, o nariz arrebitado, os cabelos bem cortados e curtos na altura do pescoço, um Chanel na medida perfeita que sempre era mantido muito bem tratado e cuidado. Marina tinha olhos doces e amorosos, os cílios grandes, parecia uma boneca, literalmente uma boneca de lux, já que andava sempre impecavelmente elegante.
Foi para esse rosto bonito e altivo que Sofia ficou olhando um bom tempo, estava realmente apaixonada, muito apaixonada, tão apaixonada que a breve possibilidade de perdê-la gerou um incômodo nítido em si. Não era um incômodo da perda inevitável, aquela que vem com a morte, mas algo mais palpável, a perde de alguém que ainda está vivo e que simplesmente não escolhe mais estar do nosso lado. Esse era o medo.
Resolveu sair da cama devagar, viu a hora no celular, ainda era cedo, tomou um banho e foi preparar um café decente para a sua namorada, sua mãe tinha também abastecido a geladeira. Por volta de 9 da manhã, resolver acordar Marina e fez isso da forma mais carinhosa e doce que podia.
Chegou perto da cama devagar, começou cheirando as pernas, beijou as coxas da sua namorada que eram deliciosas, e cheirou o pescoço , perto da orelha, o lugar onde Marina sentia cócegas, foi agarrada imediatamente.
Tomou um susto gostoso e sorriu para Marina que disse que queria fazer amor, um amor matinal, igual ao primeiro amor delas, ali naquela cama, cheio de cheiros e sensações, e assim foi feito, o mesmo amor, só que dessa vez mais intenso, mais demorada, mais tocada, houve mais gemidos, mais toques, tudo era mais intenso, Marina sabia que se atrasaria no mínimo umas duas horas, mas não se importou, queria que Sofia sentisse que ela a amava, tinha medo de verbalizar esse tipo de sentimento tão rápido, mas podia fazer Sofia se sentir dessa forma.
E assim foi feito. As duas terminaram exaustas e suadas, nuas, em cima da cama de Sofia, olhando uma para outra, imaginando coisas ditas e não-ditas, mas que foram completamente sentidas, pelas duas.
– Meu bem, tenho certeza de que você deve estar morrendo de fome.
– Eu estou mesmo, temos café da manhã?
– Temos sim, mas vou preparar uns sanduiches, porque acho que você não vai almoçar, então pelo menos tomamos um café reforçado.
Enquanto Marina tomava banho, Sofia terminava de arrumar o café, estava pensativa, não sabia se deveria tocar no assunto da ex, poderia quebrar o clima, estavam tão bem. Quando Marina chegou devagarinho ficou observando a namorada terminando de arrumar a mesa, tudo estava lindo, parecia um café de hotel, estava faminta.
– Você preparou tudo isso em meia hora?
– Mais ou menos, eu já tinha começado, vim só finalizar, você deve estar faminta e merece um café decente.
Realmente, Marina estava faminta, o café foi leve, Sofia preferiu não tocar no assunto da Lis, esperou que Marina falasse sobre algo, mas ela não falou, não se veriam mais naquele dia e, no dia seguinte, era o jantar na casa do Dom.
Por causa do horário, Marina foi de uber para a empresa, precisava finalizar o código naquele dia sem falta, não tinham mais tempo, senão os dias de testes não poderiam acontecer e ela correria um risco sobre o funcionamento das máquinas, jamais trabalhava dessa forma.
Chegou quase 11 da manhã, entrou tão rápido pela recepção que não esperou o recado de sua secretária e quando viu havia um buquê de peônias rosas, parou imediatamente. Parou tão de repente que sua secretária quase esbarra em si.
– Senhorita Marina, essas flores chegaram e eu optei por colocá-las logo em seu escritório.
– Quem veio deixar?
– Foi o entregados de uma floricultura, aquela que tem no início da Paulista, eu reconheci a logo do uniforme. Tem um cartão, eu deixei sobre a sua mesa.
– Avise a minha equipe que preciso delas na sala de reunião em meia hora, por favor.
– Pois não, senhora, com licença.
Antes de ler o cartão, Marina já sabia de quem elas eram, Lis. A escolha lhe levou para o início do namoro das duas, logo nos primeiros encontros, era primavera em Paris, a cidade estava mais do que florida, ela e Lis estavam passeando por Montmartre, quando Lis viu a banca de flores foi até e lhe trouxe um pequeno buquê de peônias e lhe disse:
“Veja, mon chéri, as peônias possuem mais de 50 pétalas em cada flor, essas aqui, dessa cor, representam o amor, são suas.”
Marina sempre lembrava desse dia por dois motivos: o primeiro era porque fora a primeira vez que Lis falou claramente sobre amor e porque as flores eram realmente lindas, Marina nunca tinha visto uma daquelas na vida.
Foi até sua mesa e pegou o cartão, que estava em francês, era um cartão simples e direto, assim como a autora.
“Eu sei que existe uma outra pessoa, mas eu ainda preciso insistir um pouco mais, você vale a pena. Não enviei duas peônias, dessa vez estou lhe mandando 20, elas representam o tamanho da minha saudade. Lis”
As flores eram lindas, Marina ficou com o cartão na mão olhando para o nada, alguém estava a sua porta, mas ela só percebeu depois que Ângela chegou bem perto, avisou que a equipe estava toda na sala de reunião à sua espera.
– Desculpe, Ângela, estava distraída, vou pegar meu tablet e já estou indo. Marina saiu da sala, esqueceu o cartão sobre a mesa e o celular na bolsa, foi em direção à sala de reunião, tinha muito trabalho, não ia pensar nisso agora.
Sofia chegou ao Aquarela depois de meio-dia, Carlão já estava esperando para as entrevistas dos candidatos para compor a equipe do Aquarela. Naquela tarde, iriam entrevistar candidatos para ficar no bar, eram 5, três homens e duas mulheres, o dia seria cheio também, ligou para a mãe rapidinho, Lúcia disse que iria com Robson a casa de uma outra prima e mais tarde estaria em casa.
Sofia queria uma mulher para compor o staff do Aquarela, tinha um maravilhoso barman, mas a demanda estava muito grande e nem os ajudantes estavam mais sendo suficientes, por isso, a necessidade de contratar mais gente, depois que terminou de conversar com todos os candidatos, foi comer alguma coisa na cozinha, Pauline sempre deixava algo pronto, ou pré-pronto, bastava alguém verbalizar que estava com fome e assim foi feito.
Enquanto esperava a finalização de um picadinho meio francês meio brasileiro, Sofia resolveu enviar mensagem para Marina, percebeu que a última entrada dela no aplicativo de mensagens foi assim que chegou à empresa, umas 11 da manhã, olhou para o relógio, eram quatro da tarde, resolveu ligar.
O telefone chamou duas vezes até cair na caixa, ligou para a secretária dela.
– Oi, boa tarde, aqui é a Sofia, estou tentando falar com a Marina, mas o celular só chama, ela está em reunião, pode atender?
– Boa tarde, senhorita, a senhorita Marina está na sala de reunião com a equipe dela de programação, estão lá desde a hora que ela chegou na empresa, a senhorita quer que passe algum recado ou transfira a ligação para o ramal de lá?
– Não é necessário, a senhora sabe informar se ela almoçou já?
– Ainda não, eu perguntei se ela queria que eu providenciasse, mas disse que ela mesma pediria, mas até agora não chegou almoço.
– Quantas pessoas estão com ela na sala de reuniões?
– Com a senhorita Marina, são cinco pessoas.
– Ok, muito obrigada, boa tarde.
Sofia perguntou se tinha como Pauline preparar cinco PFs, ela esbravejou um pouco, mas preparou cinco obras de arte, enquanto Sofia almoçava.
O almoço foi colocado numa sacola térmica do Aquarela e Sofia saiu pessoalmente para deixar, dez minutinhos andando pela Paulista lhe fariam bem, aproveitou e passou numa cafeteria go coffee e foi tomando um frapuccino, pensando em quem contrataria para ocupar o espaço do bar.
Chegou a Pegasus quase cinco da tarde, tinha a entrada liberada, subiu para o andar que Marina trabalhava e foi até a sua recepção, foi reconhecida na mesma hora pela secretária de Marina que a recepcionou de forma educada e com um sorriso gigante.
– Oi, tudo bem? Nos falamos no telefone, sou a Sofia, vim trazer uma comida para a Marina e a equipe dela.
– Boa tarde, senhorita, acredito que sua comida será festejada por todos da equipe.
Quando a secretária fechou a boca, Sofia ouviu um barulho vindo do corredor, era Marina com um tablet na mão e duas pessoas atrás falando e rindo.
Marina ficou paralisada, não imaginou que iria encontrar Sofia na sua recepção e lembrou na mesma hora das flores que estavam eu seu escritório, ficou sem ação, parada, até que sua secretária anunciou e ela voltou a si.
– Oi, meu bem, tá tudo bem? Se aproximou de Sofia e a beijou na frente de todos, recebeu o beijo de volta e foi cheirada na cabeça.
– Oi, está sim vim trazer comida para vocês, Pauline fez um picadinho que se transformou num PF e separei cinco, acho que vocês não comeram, mas esqueci a sobremesa, conseguiu terminar o trabalho?
– Acho que a minha equipe vai começar a exigir que você nos forneça as refeições, por que não vamos à sala de reuniões e comemos todos lá, tudo bem assim?
– Claro, vamos, hoje estou na parte das entregas.
Sofia e Marina foram em direção à sala de reuniões, Ângela ainda estava lá com outro membro da equipe, estavam finalizando o programa, tudo tinha dado certo, finalmente.
Dessa vez, Sofia foi apresentada como namorada à Ângela, que fez uma cara indiferente, mas recebeu um grande sorriso vitorioso e um aperto de mão firme da namorada de sua chefe.
O Almoço foi leve e todos os pratos foram devorados, Marina pediu café e chocolates como sobremesa, Sofia aceitou, mas precisava voltar para o bar, tinha uma decisão para tomar, precisava ser hoje e queria debater com Carlão e seu sub-gerente, despediu-se de todos, o clima era de alívio, disse que Marina podia ficar com a equipe que ela sabia o caminho, foi levada até a porta e recebeu um beijo, de forma discreta, mas recebeu.
– Obrigada pelo almoço, estava delicioso e você é perfeita, vai voltar em segurança?
– Em plena segurança, mais tarde nos falamos.
Sofia saiu feliz, estar apaixonada era muito bom, Marina superava todas as suas expectativas, na hora de ir embora, perguntou a secretária de Marina onde tinha um banheiro mais próximo, ela disse que poderia usar o da sala de Marina, agradeceu e entrou na sala.
O buquê de peônias foi exatamente a primeira coisa que ela viu, e o frio no estômago fez sua espinha gelar. Foi até a mesa e, ao lado do buquê, um cartão sobre a mesa com a logo de uma floricultura que ela conhecia muitíssimo bem, não abriu, mas viu o remetente, um nome curto, escrito em letras impressas douradas: DE: LIS.
Não quis ver mais nada, saiu rapidamente da sala sem se despedir da secretária que não entendeu absolutamente nada, caminhou pela Paulista como se estivesse flutuando, desde que havia começado esse namoro não tinha tido dois dias de paz, começou a se questionar, a fazer levantamentos dentro de si, era um comportamento pragmática, se fosse sofre, que ele viesse logo, nada de adiar sofrimento, mas antes disso precisava fazer uma coisa.
Chegou ao Aquarela vinte minutos depois, pediu que Carlão a acompanhasse até o escritório.
– Está tudo bem? Sua cara está estranha.
– Se eu pedir uma coisa a você, tem como você fazer?
– Depende, preciso saber primeiro, é alguma coisa ilegal?
– Depende do seu ponto de vista.
– O que está acontecendo, Sofia?
– Quero que você descubra onde uma pessoa está hospedada.
– E essa pessoa seria!?
– A ex da Marina, sei que ela chegou ao Brasil, mas não faço a mínima ideia onde ela possa estar, pelo pouco que sei, ela não deve estar em hotel, provavelmente, deve ter alugado algum apartamento por temporada, mas não sei.
– Você sabe o nome completo dela?
– Só sei que se chama Lis Marie, mas o sobrenome eu não, mas isso é fácil, ela vem expor aqui no Brasil e já estava expondo no México.
– Ok, tem uma foto?
Sofia acessou a rede social da artista, ela tinha sido marcada pelo museu de arte moderna do México, passou o celular para que Carlão visse a foto, ele tirou o próprio celular e fotografou, aquilo seria suficiente.
– Quando eu descobrir o endereço, você já sabe o que vai fazer?
– Vou fazer uma visita.
quase posso imaginar esse encontro mas antes a Sofia chamaria a mãe dizendo “vamos as compras ” pra chegar na tal ex arrasando no look
eita, pressinto que as coisas vão esquentar agora pq o sangue latino está fervendo, o que vai rolar quando ex e atualse encontrarem?? aguardo ansiosa , cara autora
Que delícia, estava ansiosa pela continuidade dessa história!