Amores de Sofia

21. UMA VISITA INESPERADA

São Paulo, sexta .
O apartamento de Marina era “low profile”, um quarto e sala amplo e moderno no mesmo bairro da mãe, era uma dessas construções tecnológicas e funcionais, mas havia uma casa, uma casa de vovó que Marina tinha comprado e que estava fechada, era um plano para quando casasse, reformar a casa, ter um cachorro, não era uma casa tipo a do Dom, mas era uma casa.
Sofia achou o apartamento uma graça, a decoração era um misto de Brasil e de Paris, havia uma identidade.

— Pode entrar, Sofia, não vou morder você, a não ser que você peça, é claro.

— Pode deixar que vou pedir, seu apartamento é lindo, Sofia.

— Não é meu, na verdade é do escritório da minha mãe e do Dom, quando retornei ao Brasil, comprei uma casa, uma casa de vovó.

— Uma casa de vovó? Da sua avó?

— Não, não. Existem uns arquitetos que estão garimpando casas nos grandes centros urbanos brasileiros, são casas antigas, que foram apelidadas de casa de avó, essas casas ficam em bairros residenciais e que sobreviveram aos novos modelos verticais de construção. Eu comprei , vou reformar para quando eu casar, porque quero ter um cachorro também.
Enquanto Marina falava, Sofia a olhava toda apaixonada, pensando como ela era doce, cheia de sonhos e tinha planos, tudo aquilo que Sofia naquele momento não tinha, planos para um casamento. Já tinha aceitado que estava apaixonada, tinha aceitado que se relacionar com mulher era infinitamente melhor, que o prazer que sentia com Marina nunca havia sentido com nenhum outro homem, apesar de não ter ido para cama com tantos outros homens, sabia que o planejamento havia ido por água abaixo, quando Marina a levou para cama a primeira vez, tudo mudou.

— Você é toda planejada, eu acho isso lindo. Assim como deve ser linda essa sua casa de vovó que você comprou. A título de curiosidade, qual seria a raça do cachorro que você gostaria de ter?

— Hum, interessada nos meus planos?

— Estou sim, ainda esperando qual seria a raça do cachorro que você deseja?

Bem, eu sempre tive vontade de ter um Golden, mas devido à fama e ao peso cultural dos caramelos, acredito que os dois sejam um número adequado, o que você acha?

Eu acho um número justo, mas eu acho que se você vai morar numa casa, seria bom um cão de guarda, desses que marcam território e que avisam sobre um possível impostor.

— Então, o que você sugere? Um pit Bull?

— De forma alguma, eu sugiro um pinscher, eles são maravilhosos e eu sou apaixonada por eles.

Marina soltou uma gargalhada gostosa que fez Sofia rir também, não estava acreditando que seu amor gostava de pinscher, os cachorros demoníacos, aqueles que latem para tudo, até para a própria sombra, aqueles que têm absoluta certeza que são dobermans, que não compreendem sequer a estatura que possuem, essas criaturinhas eram objeto de desejo de Sofia.

— Isso pode ser negociável com a pessoa que irá morar comigo, aí depende de você, vou me trocar e saímos, prometo que serei rápida.

Sofia foi até a janela olhar a paisagem, a ideia de uma casa numa vila escondida em SP não era tão ruim assim, ainda mais se nela estivessem também Marina, um Golden, um caramelo e seu pinscher para fazer a guarda de todos, sorriu sozinha e não percebeu os minutos passarem, quando sua futura namorada saiu já pronta e chique estava ao telefone com sua mãe, soltou um sorriso e Marina foi em direção à cozinha preparar um café espresso. Acenou de longe uma pequena xícara e Sofia balançou a cabeça afirmando que também queria um.

Depois de desligar o telefone, tomou o café e beijou Marina que estava linda, elegante que só ela, foram almoçar no restaurante que Sofia já havia feito a reserva, tinha conhecido por causa da tia e de Simone, a Fazenda Cariri fornecia os queijos, todos artesanais, era de uma italiana charmosa que Sofia tinha certeza que já havia ido para cama com Simone.

O bistrô era um pedacinho da Itália em SP, pequeno, escondido e com uma quantidade reduzida de mesas, aliás só tinha conseguido devido à amizade mesmo, já que havia fila de espera por mesa pelo menos uma semana antes.

— Espero que goste, La Ragazza é uma ode à boa comida, um achado por aqui, a dona é uma amiga da minha tia e de Simone.

O local era uma graça, tinha elementos cantinescos italianos, mas havia uma delicadeza na louça e na arquitetura que tornava o local mais chique do que uma cantina italiana. Quando Sofia anunciou o nome a hostess a encaminhou direto à mesa das duas.

— Nós furamos a fila, Sofia, as pessoas estão olhando para a gente, se alguém reclamar?

— Nós temos reserva, Marina, não pegamos o lugar de ninguém.

— E você fez essa reserva quando? Porque pela quantidade de pessoas, esse restaurante é bem concorrido.

— Fiz há uma hora, eu conheço a chefe e usei um privilégio.

— Acho que devo ficar lisonjeada, né?

— Tenha certeza disso, eu nunca faço isso, essa foi a primeira vez.

— Eu não sei se eu agradeço ou fico preocupada, ou os dois.

— Pode agradecer é o suficiente e nada de preocupação.

O almoço foi uma delícia, as duas optaram por pastas, uma com carne a outra com frutos do mar, mas Marina amou mesmo foram os pães italianos, todos de fermentação natural e de produção própria, a sobremesa, Sofia foi de brownie, já que amava, e Marinha pediu um suflê de doce de leite acompanhado de farofa de avelã e de dois cafés espressos. Já no final, enquanto comiam a sobremesa, Sofia perguntou a Marina sobre seu último relacionamento.

— Você ainda gosta dela?

— Dela?

— Da sua ex?

— Meu término foi bem traumático, Sofia, não tem como eu gostar de Lis Marie.

— O que houve?

— Você quer a história completa ou apenas o resumo?

— Nem quero completa e nem quero o resumo, gostaria de entender como uma pessoa em sã consciência termina com você.

— Vamos lá, eu estava solteira e um amigo em comum nos apresentou, eu já a conhecia de vista, ela era uma artista conhecida em Paris, não era a fama que desejava, mas já conseguia viver de arte, a fama também se estendia a cama dela, que corria à boca pequena, ela deixava um rastro de corações arrasados. Nós passamos a noite perambulando por um bairro boêmio de Paris, vendo arte, comendo bolo e tomando café, ficar com ela foi natural para mim, mas imaginei que teríamos esta noite e pronto. No final de semana seguinte, ela me ligou e me chamou para ir a uma mostra de um artista alemão que trabalhava com aço, este artista era a sua grande inspiração, eu aceitei e nós fomos, depois disso os convites se tornaram mais frequentes, até que começamos a dividir apartamento, eu morava com meu irmão mais novo que também estudava em Paris, com o convite dela, me mudei e passamos a morar juntas. Tudo estava bem, pelo menos para mim, num belo dia, cheguei do trabalho mais cedo e avistei duas malas prontas na porta de entrada do nosso apartamento. Ela estava toda de branco na varanda, tomando um vinho me esperando. Me disse que havia se inscrito para essa imersão com aquele artista alemão, que nem lembro mais o nome, e que tinha sido selecionada, teria que passar dois anos com ele para se apropriar das técnicas e que estava indo embora, que não precisava eu fazer escândalos, que a vida era assim. Eu fiquei muito mal, por vários motivos, ela me não avisou que havia se candidatado, não me disse absolutamente nada, alguns amigos sempre me avisaram sobre ela, que ela era fria como o aço que usava. Eu nasci aqui, mas vivi quase minha vida toda em Paris, descobri que sou latina demais, que meu DNA não nega a minha origem. Fiquei mal, muito mal, meus irmãos me salvaram e chegou um momento que decidi que deveria superar. Me candidatei a uma vaga de gerência na Pegasus e a vaga de SP abriu, Dom já tinha voltado, minha mãe também, apenas eu e meus irmãos ainda mantínhamos residência em Paris e meu pai ficava 15 dias lá e 15 dias cá, então vim para o Brasil e Lis Marie deve ainda estar na Alemanha. Meus colegas de trabalho viviam insistindo para eu participar do happy hour de sexta, eu neguei várias vezes, até que um dia, decidi ir, então, lá estava você, andando com duas canecas de chope, um coque, umas das coisas mais lindas que já vi na vida, e olhe que eu já vi coisas belíssimas, mas você, você é linda demais, tão linda que fiquei com medo e ainda estou, acho que foi basicamente isso.
Sofia a olhava toda apaixonada e pensou como essa francesa fria feito aço deve ser muito burra mesmo, olhou para Marina e disse:

— Olha, eu sinto muito por você ter sofrido tanto, mas eu preciso agradecer a essa mulher, se não fosse isso, não estaríamos aqui. Eu convidei você para esse almoço, usei de prerrogativas culinárias quase corruptas pra perguntar se você não quer namorar comigo?
Marina parou dez segundos, ficou estátua, processando o que tinha ouvido e disse:

— Pode repetir para eu ver se é isso mesmo que estou ouvindo? Sofia sorriu.

— Você é boba mesmo, eu acredito que você deve namorar comigo, eu espero que você diga sim, Marina, porque seria muito injusto eu receber um não agora.

— Sofia, eu espero isso há meses, mas eu sei que há alguma coisa por trás desses dias, eu espero que não seja nada especifico entre mim e você, contudo minha mãe deve estar envolvida, eu já estou namorando você sozinha há muito tempo, então minha resposta é sim, agora eu tenho direitos sobre minha mulher, vou usufruir de todos eles.

— Ufa! Pensei que ia receber um não.

Sofia mexeu na sua cadeira e se aproximou dela, o beijo veio lentamente com um gosto de amor feito delicioso, tinha café e chocolate, desejo e paixão, alma e sentimento, parecia que, finalmente, Sofia tinha encontrado um amor seu, cheio de delicadeza, apego e um sentimento de tranquilidade que havia tido em poucos momentos.

Depois do beijo, a chefe chegou, já abraçou Sofia e Marina já foi devidamente apresentada como namorada, e o sorriso largo da francesinha não escondeu a felicidade. Depois de uma breve conversa, as duas saíram de mãos dadas e foram em direção ao Aquarela, na sexta, o bar ficava lotado e Carlão já havia ligado avisando que algumas pendências precisavam ser resolvidas.

— Eu estou muito feliz, ainda bem que minha namorada resolveu namorar comigo também, isso é muito positivo.

— Marina, você é boba mesmo.

— É muito ruim namorar sozinha, Sofia, horrível mesmo.

— Você quer que eu deixe você na Pegasus, depois você vai ao bar , quer dizer, se você não tiver nada programado.

— Você sabe que minhas sextas à noite sempre são suas e do seu bar há muito tempo, é claro que vou encontrar você, acredito que não deva demorar muito, só um pouco.
Sofia dirigiu em direção a Pegasus, era um prédio imponente na Paulista, moderno, parecia daqueles de filmes americanos, deixou sua francesinha na porta, depois de um beijo demorado cheio de apego, rumou em direção ao Aquarela, havia uma pessoa que precisava conversar. Pelo adiantado da hora, o bar já teria clientes, mas a conversa com Carlão não podia mais esperar.

O trânsito começava a ficar intenso por causa do horário, Sofia entrou pela parte de trás do Aquarela, onde tinham as vagas dos funcionários e a sua vaga exclusiva, reconheceu os carros de seus funcionários na hora em que o bico do carro adentrou a garagem, era uma das coisas que havia aprendido com a sua tia. “Olhe seus funcionários, olhe nos olhos, perceba se estão felizes ou tristes, converse com eles, se seus funcionários estiverem bem no ambiente de trabalho, tudo fluirá da melhor forma possível.” E pela forma que Carlão estacionou o carro, sabia que ele estava agoniado, ele era sempre meticuloso, o carro sempre era estacionado de forma linear e milimetricamente estacionado.

Olhou os demais carros, todos ok. Entrou feliz, apesar de tudo, estava leve, havia uma completude substancial em seu peito, sabia que era Marina, a sua completude era uma gerente de TI finíssima, com um censo de moda singular, poliglota, cheirosa e mais doce do que o bolo de chocolate com coco que amava.

Passou pela cozinha, cumprimentou sua chefe temperamental que se achava francesa, agora tudo lembrava Marina, era a paixão ou amor, ou os dois, falou com todos da cozinha, roubou um pedaço de bolo que ainda não tinha sido partido, e saiu ouvindo os resmungou da sua chefe, enquanto os demais riam, porque todos sabiam que Sofia tinha feito isso de propósito, adorava fazer essas coisas com a chefe de vez em quando, sempre existia comida fresca no bar para a equipe, assim como havia uma máquina de café espresso na cozinha disponível para todos sem limite de bebida, Sofia queria sua equipe feliz, bem remunerada e bem alimentada, desde o começo foi assim, ainda com sua tia.

Quando apontou na saída da cozinha, Carlão a esperava ansioso, pronto para o trabalho já, inclusive já estava com o rádio.

— Sofia, podemos conversar?

— Vamos subir, Carlão, não precisa ficar assim, dessa forma, você não está indo para a inquisição.
O homem de quase dois metros subiu em silêncio, pensando no quanto teria que mexer internamente para mudar a promessa que havia feito há anos, mas, dado o momento, as coisas precisariam mudar.

— Carlão, eu imagino que você também deve ter sofrido horrores, mas, se uma coisa todos nós podemos aprender com isso, é que guardar certas coisas impede que vivamos. Você imaginou o que uma conversa com minha tia teria poupado de sofrimento? Ela teria pegado um avião na mesma hora e pegaria Flora para ela, poderia inclusive estar aqui, entre a gente. Eu não estou dizendo que você tem culpa sobre tudo que aconteceu, mas, às vezes, é preciso ter coragem, eu sei que você foi fiel à Flora, que havia um propósito , mas depois do término desse período de ditadura , por que você não falou com minha tia?

— Fiquei com medo, eu tinha falado com a Flora após o término deste período, mas ela disse que Ida ainda corria riscos, que tudo deveria estar como estava, que eu deveria vigiar, observar, guardar e proteger, foram essas as palavras que ela utilizou e eu nunca vou esquecer, sua tia ainda corria perigo, ainda existia vigia, e eu acredito que isso tudo tenha partido do pai de Flora, somente quando ele morreu foi que a doutora pediu o divórcio e retornou ao Brasil, quando isso aconteceu, minha missão foi dada como concluída. Em vários momentos, sua tia não permitiu que Flora se aproximasse, ela tentou diversas vezes manter contato, ter uma conversa, contar tudo, mas nada deu jeito, quando a doença veio, Flora foi diversas vezes ao apartamento dela, mas sua mãe deixou claro para todos os porteiros que a subida dela era proibida, erramos todos, ou não, eu, sinceramente, não imagino o que poderia ter acontecido se Ida soubesse de toda a verdade.

— Quem estava por trás da ameaça?

— O pai da Dra. Flora conhecia muita gente das forças armadas e mantinha contrato com os governos ditatoriais, eles já eram ricos, mas, na década de 70, a fortuna aumentou muito mais, sei que neste período a ameaça veio dele, eu nunca soube o que realmente ele disse, mas, quando fui chamado, ela já estava sendo seguida. Naquela noite, eu acompanhei a Dra até o apartamento de sua tia, fomos seguidos até o final e depois disso tudo, mesmo com ela partindo e casando, Ida era vigiada 24 horas por dia, havia uma alegação de subversão, muito alunos na USP começaram a sumir, a desaparecer, aqueles que estavam envolvidos no movimento contra a ditadura. Sua tia e Flora, assim como os meninos que fizeram a ponte entre mim e a Dra., agiam por trás, eles tinham dinheiro e contribuíam assim, ajudando a tirar do país quem estava em risco, era quase uma organização secreta, depois, eles ficaram conhecidos como o “Zoológico da USP”.

— Zoológico da Usp? Não entendi!?

— Era uma alusão ao Zoológico de Varsóvia, durante a 2ª. Guerra Mundial, o zoo foi destruído pelos nazistas e acabou virando uma fazenda que criava porcos para abastecer os soldados alemães, a comida para alimentar os porcos era retirada do Gueto de Varsóvia, o polonês , que era dono do zoo, ia até o gueto para pegar os restos, ele começou a trazer judeus escondidos no resto de comida. Havia um túnel subterrâneo no zoo que abrigava os felinos de grande porte na época do inverno, os judeus eram transportados por esses túneis até conseguirem sair e, com documentos falsos, conseguiam escapar. Isso tudo acontecia bem debaixo do exército alemão, cada judeu que escapava desenhava uma estrela pelas paredes do túnel. Esses alunos da USP faziam isso, tiravam estudantes perseguidos ou que já haviam sidos torturados pelo regime, tudo isso por debaixo dos panos, nunca se soube exatamente quem eles eram, eu tive a oportunidade de conhecer dois.

— Quem eram esses dois?

— Raul e Ida.

— Minha tia era uma mulher incrível mesmo, maravilhosa.

— Eles deram nó em pingo d’água como se diz e salvaram muitos estudantes, eu acredito que Flora também estava envolvida, mesmo de longe, ela e Raul eram como irmãos, inclusive sua tia conheceu Raul por meio de Flora, e foi ele que me levou até ela.

— Essa história toda é triste demais, Carlão, tudo isso foi muito puxado para a minha tia, eu, sinceramente, não sei qual será a reação de Marina e como ela vai lidar com tudo , eu tenho medo, aliás, faz tempo que não sei o que é não ter medo.

— Não podemos mais mudar o passado, mas podemos pensar num futuro melhor, sem medo e cheio de amor, de compreensão, de afeto e de perdão, tenha medo, mas não se prive. Obrigado por me ouvir, me entender e me aceitar.

— Carlão, eu amo você, amo sua família, amo minha afilhada, também quero ser feliz, viver em paz, nós precisamos disso. Eu estou apaixonada pela Marina, apaixonada mesmo, eu a pedi em namoro hoje e ela aceitou, minha francesinha ficou tão feliz e eu também.

— Nós também amamos você, Sofia, Marina se apaixonou por você desde o primeiro dia, quando ela vinha não tirava os olhos de você, essa felicidade de vocês é merecida, estou muito feliz.

— Obrigada, eu também, ainda preciso conversar com meus pais, imagino o impacto, vamos trabalhar que, pelo barulho, o bar vai ficar lotado hoje mais cedo, estou esperando duas amigas, Iolanda e Maria, eu pedi que uma mesa para seis pessoas fosse reservada, Marina também chamou Dom, por favor cheque a mesa, pegue a do canto, perto da sinuca, o nome das meninas já está com a Hostess e quando elas chegaram, não as faça esperar na fila, da mesma forma com Dom e Marina, avise aos meninos que controlam a fila, vou falar com minha chefe que ainda deve estar com raiva pelo bolo que parti antes da hora de propósito e se conheço bem, um outro bolo já deve está no forno.

Carlão morreu de rir, somente Sofia tinha coragem de fazer isso com os bolos quentes, todos na cozinham vibravam com a fúria gerada por causa de uma fatia de bolo que mesmo depois de cortado, ninguém ousava encostar a mão.

Antes de ir para o salão, Sofia passou na cozinha e o cheiro de bolo invadia o ambiente, quando entrou sorrateiramente ouviu as reclamações em francês da chefe, todos tinham um sorriso no canto da boca, enquanto as reclamações invadiam o ambiente, Sofia esperava em silêncio até que sua presença fosse notada, o que demorou uns 3 minutos.

— Não é porque você é a dona que pode partir meus bolos, Sofia, eu já falei isso mil vezes, você precisa me respeitar!!!!

— Mas eu respeito você, cherie, respeito tanto sua comida que não consigo me controlar.
Sofia a abraçou delicadamente, agradeceu baixinho pelo excelente trabalho e pela chefe maravilhosa que tinha, as armas caíram, Sofia saiu sorrindo agarrada em mais um pedaço de bolo.
Sexta era um dia incomum, Ida sempre dizia que os melhores encontros e os melhores papos aconteciam às sextas, porque a maioria não trabalhava sábado, então as pessoas se permitiam, e o Aquarela estava daquela forma: um monte de pessoas se permitindo. Foi para a parte de trás do balcão, conversou com seu barman e sua barwomen, dois premiados da capital Paulista, estavam impecáveis como sempre e lindos, Sofia adorava a máquina de chope, naquela sexta, nas torneiras do Aquarela havia um Valkyria Larger 5,0% e um Juyce Ipa com infusão de Carvalho americano, o primeiro era o preferido da dona, as torneiras secariam. A dona fez as honras da casa e tirou seu primeiro Valkyria.
Iolanda e Maria já estavam na fila de entrada do Aquarela, tinham marcado com Sofia às 19h, mas pelo andar da carruagem nem sabiam se conseguiriam entrar, enviaram uma mensagem.
“Sofia, boa noite, estamos na fila para entrar no seu bar, que é concorrido demais, rsrsrsrsrs, vamos atrasar um pouco.”
“ Meninas, não era nem para estarem na fila, o nome de vocês está na entrada, por favor, procurem a hostess.”
Saíram da fila e foram até a entrada e se anunciaram, Carlão ouviu da entrada do bar e já foi em direção às duas.

— Senhoras, por favor, entrem, me chamo Carlão, sou o chefe da segurança, por favor me acompanhem, a mesa já esta reservada, Sofia está esperando vocês duas, sejam bem-vindas.

— Por favor, nada de senhora, me senti uma idosa, obrigada pelo atendimento VIP. A comanda, nós pegamos lá dentro mesmo? Vimos que existe um cadastro.

— Não se preocupem, hoje é por conta da Dona, o bar está liberado como forma de agradecimento e de afeto, Sofia me contou o que vocês fizeram por ela no domingo, gostaria de dizer que o conselho de vocês foi bastante útil.

As meninas adoraram a recepção, o bar era lindo, uma alergia maravilhosa, uma banda de blues tocava, um som rasgado, cru, Iolanda adorou. A mesa era excelente, Sofia acenou e pediu cinco minutos, mandou mensagem para Marina: “Meu bem, as meninas chegaram, você vai demorar? Que horas você marcou com o Dom? Marina sorriu ao ver a mensagem, respondeu imediatamente: “Dom já está aqui, estamos tentando um uber, mas pelo horário vai demorar um pouco.” “Carlão está indo pegar vocês, ele chega em dez minutos.”
Sofia enviou a mensagem para Carlão que prontamente passou o posto para Jimy e pegou a land rover blindada de Sofia, a Pegasus ficava próxima ao bar, mas havia alguns retornos, isso deixava o percurso mais longo, muitas pessoas já saíam da Paulista a pé, mas Dom tinha protocolos de segurança diferentes e andar a pé para ele com duas mulheres da sua vida não era um momento atrativo.
Carlão chegou ao prédio imponente da Pegasus e os três já estavam esperando, Carlão os recebeu com um sorriso e foi apresentado a Dom e a Priscila, enquanto Marina recebeu um abraço e uma fala baixa dizendo da felicidade do namoro das duas.
Dom foi na frente com Carlão, enquanto Priscila combinava com Marina a ida dela à escola de Ella para a apresentação.

Você é o segurança da Sofia ou somente do bar?

— Na realidade, fui contratado por uma pessoa para ser segurança da tia da Sofia, Ida.
Neste momento, a ficha de Dom caiu e o rapaz elegante e educado ficou olhando aquele homem nos olhos dizendo a ele que sabia de toda a história e que agradecia por tudo que ele havia feito pela mãe. Dom era sensível e os olhos encheram num silêncio amoroso, cheio de afeto por aquele homem grande, Carlão acenou a cabeça em silêncio dizendo que tinha entendido a mensagem, o carro partiu, Dom olhou pela janela, uma grande tempestade estava por vir, um segredo nefasto iria ser colocado à mesa, restaria saber quem permaneceria sentado nela, já que o que seria servido causava asco e ânsia de vômito.
Entraram pela parte de trás do bar, entrada exclusiva e Sofia já estava esperando pelos três, já puxou Marina para um beijo e falou com Dom e Priscila, conduziu todos à mesa de Iolanda e Maria.
As devidas apresentações foram feitas, uma mesa cheia de amor e inteligência, Sofia providenciou atendimento VIP e sugeriu alguns drinks e elogiou a sua chefe, a noite transformou de forma agradável, em alguns momentos, Sofia precisou se ausentar para resolver algumas coisas, mas rapidamente voltava, combinaram outros momentos e uma ida a Fazenda Cariri, neste momento, todos ficaram surpresas, já que Maria revelou que o projeto do Café Bené era dela, um dos filhos de Ciro era seu amigo pessoal e o convite partiu dele.
O final de semana transcorreu cheio de afeto, no domingo, Marina precisou voltar para casa, havia trabalhos acumulados e Sofia precisava dar satisfação aos pais.
Segunda chegou atarefada para todos, mas, num dos escritórios de advogacia mais respeitados do país, um novo contrato chegava e trazia uma exposição de grande porte que iria percorrer a América do Sul e a Latina, era um contrato grande, Flora deveria estar na reunião, mas Dom assegurou a mãe que não precisava voltar que ele resolveria tudo.
A equipe francesa chegou pontualmente, era mais uma oportunidade singular, a exposição estava quase toda alinhada, as datas previstas e asseguradas pelos museus, alguns artistas viajariam juntamente com a equipe, algumas peças eram instalações móveis, era um contrato dentro de um contrato, o staff de produção era duplicado, tudo foi passado e repassado pelo escritório, mas havia uma informação que não agradou ao jovem advogado e não viu outra alternativa a não ser ligar para a mãe.
A noite de Flora e Simone tinha sido memorável, as duas mulheres se amaram sem ressalvas, o despertar de Simone foi quieto e medroso, havia cruzado uma linha que era perigosa, olhou para o lado e viu sua advogada de bruços na cama completamente nua, sentiu o arrepio na mesma hora. Ficou olhando a pintura francesa sem mover um músculo, sentiu o cheiro do amor embolado nos lençóis, na alma e no corpo, levantou-se devagar, fez uma ligação pedindo uma concessão e um café no quarto, já era meio dia, precisavam voltar para a Fazenda Cariri e jamais deixaria sua advogada sem comer.
Tomou um banho, o café demoraria uns 40 minutos, colocou o roupão que Flora havia usado na noite anterior e foi despertá-la com beijo na nuca.

— Meu bem, já é quase uma da tarde, pedi um café para a gente, você deve estar faminta. Flora sorriu com a delicadeza, com a generosidade, com o cuidado e com o meu bem.
Simone era uma galanteadora, sabia muito bem o que fazia, como fazia, Flora estava adorando tudo aquilo e realmente estava faminta se virou e olhou aquela mulher limpa, forte, poderosa, imponente e que a tinha feito gozar umas 15 vezes, optou por agarrá-la e beijá-la, foi correspondida imediatamente e a mão de Flora escorregou por dentro do roupão pegando o seio firme de Simone a deixando excitada.

— Bom dia! Flora disse se desgrudaram da boca de Simone que já estava mole.

— Adorei o meu bom dia, já pedi nosso café, você está bem?

— Além da fome, estou maravilhosa, obrigada por tudo, por tudo mesmo, você é maravilhosa.
Simone sorriu, agradeceu e disse que tinham uma reunião na Cariri.

— Simone, não acredito nisso, você está usando meus serviços sem nem me consultar. Flora não acreditava na cara de pau que Simone tinha quando se tratava de negócios.

— Nada disso, nossa reunião é com veterinária dos nossos cavalos, sou apenas eficiente, vamos.
Flora saiu sorrindo e tomou um bom banho, enquanto sua sócia e quase alguma coisa que ela não conseguia nomear falava insistentemente ao telefone, arrumou-se e quando já estava quase desmaiando o café foi posto à mesa, comeram tudo, arrumaram as coisas, passaram na recepção para agradecer a hospedagem e partiram para a Fazenda Cariri.
Quando chegaram, a veterinária já esperava no café, Bené já havia ligado, pegaram um pouco de transitonavolta, mas tudo deu certo. Fizeram as devidas apresentações e, durante a reunião, o telefone de Flora tocou insistentemente, era Dom. Simone viu que poderia ser importante e sinalizou que tudo estava bem, era só pronomes.

— Oi, meu filho, aconteceu alguma coisa?

— Oi, mãe, tudo bem por aí?

— Tudo maravilhoso!

— Mãe, tive a reunião com a equipe da exposição, é um contrato robusto, teremos muito trabalho e, provavelmente, tenhamos que contratar mais gente, mas há um detalhe nisso tudo, uma das principais artistas itinerantes é Lis Marie.
Flora ficou muda.



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