Amores de Sofia

19. POSSIBILIDADES ESTRELADAS

Simone almoçou com uma grande amiga, uma professora universitária que dividiu a cama algumas vezes.

Hoje, Martinha estava casada, muito bem casada, e a amizade tinha permanecido. Marta dizia que Simone não era de ninguém, ou ninguém ainda tinha conseguido  prender Simone, no entanto o seu tempo do amor chegaria, assim como chega para todos.

E foi naquele almoço que Martinha anunciou essa possível chegada, quando viu Simone sorrindo para a tela do celular.

Martinha observou silenciosamente a empolgação de Simone, sorriu e quando a amiga percebeu, soltou a clássica frase: “Não é o que você está pensando!”

– Não estou pensando, estou vendo, você não precisa me dizer nada, Simone, seu sorriso me fala tudo.

– Apenas li uma mensagem, na verdade, uma resposta que eu estava esperando.

– Essa mulher deve valer muito a pena mesmo, queria que soubesse que estou torcendo por vocês duas e, por favor, me chame para o casamento.

Simone mudou o rumo da conversa, os almoços com Martinha sempre eram muito agradáveis, elas conversavam sobre tudo, além de falarem sobre a família da amiga, não havia assunto proibido e a empresária sabia que se, por ventura, ocorresse alguma possibilidade de se envolver com Flora, ela seria uma mão amiga, mas, no momento, tudo era muito novo e havia o medo, medo demais, Simone já tinha aprendido com Ida, era uma mulher que detestava errar duas vezes, Flora Holanda era uma mulher que valia a pena, porém arriscar-se era algo que ela raramente fazia.

Na sobremesa, Marta começou a desfiar as contas de conselhos, aqueles que sempre apareciam quando ela sabia que Simone estava se envolvendo. Tenha calma, não faça comparações, cada pessoa é única e tem seu valor, abre-alas para o seu coração, esteja disposta a amar, amar é maravilhoso.

Simone já havia decorado, já sabia de cór todos os conselhos, sempre ria e não interrompia a amiga, achava doce e sabia que Martinha a amava.

-Marta Soares, não atropele as coisas, tudo no seu tempo, mais uma vez obrigada pelo almoço, me diverti horrores, beijos na sua esposa sortuda e no seu filho , diga que a dinda dele está com saudades e que no final de semana próximo eu irei recompensá-lo. Dessa vez, deixo a conta para você, não quero me atrasar.

Simone se despediu e saiu em direção ao endereço de Flora, durante o caminho, pensou, pensou muito se valeria a pena o caminho que estava trilhando, resolveu deixar o caminho se fazer por si só, já tinha aprendido, se não podia determinar o caminho, que o caminho determinasse sua vida.

Flora morava no Itaim, um bairro nobre da capital paulista, o prédio vintage era uma tendência nova na arquitetura de SP, um modelo de construção mais verde, prédios menores em quantidade de andares, mas mais caros, com uma varanda verde por toda a extensão dos dez andares, pelo endereço compartilhado, Flora morava na cobertura, não esperava menos da sua advogada poderosa, ao chegar, enviou a mensagem avisando que estava à espera.

“Dra. Flora, sua motorista já chegou à sua residência.”

“Simone, por favor, se vamos passar o final de semana juntas, retire o doutora, você gostaria de subir? Estou finalizando algumas coisas, desculpe o atraso, é algum incômodo?”

Simone sorriu, gostava de provocar Flora, receber o convite para subir não estava nos planos, como pensou, deixar o caminho e apenas segui-lo.

“Não há problema, nada de pressa a partir de hoje.”

Simone foi autorizada a subir, realmente o prédio era maravilhoso, o código de acesso do elevador foi liberado por Flora e o elevador parou já praticamente dentro do apartamento da advogada.

Simone perguntou se podia entrar, ouviu um claro ao fundo e adentrou o ambiente.

Flora Holanda surgiu um minuto depois com uma Kaftan de linho longa, um coque no cabelo e uma sandália rasteira cheia de pedrarias extremamente chique, tão chique que Simone reconheceu de longe a logo de uma famosa maison francesa.

– Oi !

Simone piscou rápido, voltou a si alguns segundos depois e respondeu.

– Oi.

– Estava só mandando uma petição urgente, vou finalizar a mala e vamos, tudo bem? Você quer alguma coisa? Um café?

– Não, obrigada, acabei de almoçar.

– O almoço com a amiga, eu lembro. Fique à vontade, só preciso de 15 minutos.

Simone se autocondenou, não podia criar tantas expectativas, a história de Ida e Flora era grande demais, em todos os aspectos, se jogar no meio era perigoso.

O apartamento era lindíssimo, chique e simples ao mesmo tempo, havia um ar blazé francês, Simone também reconheceu as obras de arte, o bom gosto e a solidão, apesar do mural de fotos, os filhos, a neta, algumas viagens, mas não havia fotos de Ida.

Flora demorou exatamente 15 minutos, estava linda, uma bolsa, uma mala de mão e um chapéu Panamá azul, tom sobre tom, com o vestido que estava usando, sem o coque, com cabelos soltos, uma maquiagem bem leve, ela estava fresca, bem europeia, altiva e cheirosa. O coração de Simone deu uma acelerada.

– Pronta?

– Prontíssima! Marina disse que tenho que ter cuidado, senão voltarei com uns quilos a mais, já sei que existe um bolo maravilhoso, estou ansiosa para prová-lo.

– Não temos só o bolo delicioso da Bené, temos o melhor café, uma manteiga feita na fazenda de especiarias que não comercializamos, mas servimos no café, nosso pão fresco, bem temos inúmeras coisas para você apreciar, mas não pense nisso , pense em descansar e aproveitar.

– Quanto tempo até a fazenda?

– Devemos pegar um pouco de trânsito na saída da cidade, então no máximo duas horas.

– Atrasei você, né?

– Não atrasou, nós temos tempo, a feira que iremos só começa sábado no final da tarde, dará tempo você conhecer parte da fazenda e entender minhas ideias de patentes, quer dizer, quero saber se são possíveis de patentear.

– Eu pensei que você tinha me convidado para fazer turismo, não para trabalhar, Simone, veja como são as coisas e as pessoas.

– Não seja assim, Doutora, é apenas uma consulta amigável, tenho certeza que a senhora não fará oposição e não se incomodará.

– Simone, você é uma aproveitadora.

– A Doutora não viu nada ainda.

Flora olhou para Simone enquanto dirigia seu carro poderoso, uma Land Rover Defender, precisava olhar com mais calma para lembrar de como ela era uma bela mulher, além do mais, uma mulher inteligente, ambiciosa e lésbica, esse looping de informações não parava de dançar no cérebro da advogada.

A viagem foi leve, tranquila, a fazenda não era tão longe, optaram por não parar durante o percurso, Bené já as esperava com a mesa posta, fora essa a mensagem que recebera mais cedo.

Pouco antes da chegada, Flora resolveu perguntar sobre Ida:

– Todas as pessoas da fazenda a conheciam?

– Grande parte delas sim, Ida acompanhou o crescimento da Fazenda, apoiou meu irmão, fechou negócio conosco, nos deu um crédito, isso abriu portas, nos ajudou no profissionalismo, Ida nos deu a chave do sucesso, enfiamos na fechadura e abrimos, somos todos gratos a ela.

– Então, todos sabem de mim?

– Não todos, mas meu irmão e Bené sim, não se preocupe e me desculpe, eu tive que contar a versão original, eles estão prontos para abraçá-la, você será muito bem recebida e amada, minha família nordestina tem esse defeito ou essa qualidade, ama todo mundo e ama mais quem merece, o que é o seu caso.

A chegada à fazenda não demorou, a entrada era linda, retomava elementos do Nordeste, mais especificamente do Ceará, na região do Cariri, a mesma região que dava o nome a fazenda, tudo parecia muito organizado, logo na entrada, Simone começou algumas explicações sobre a extensão da fazenda, como foram comprando pequenos pedaços de terra e como fizeram parcerias com os donos ou com as pessoas que foram chegando, hoje, a Fazenda Cariri era referência em alguns serviços e Simone sabia que quanto mais profissional ela quisesse se tornar, mais pessoas especializadas teria que ter em sua equipe.

Flora ficou encantada, deslumbrou-se quando viu o cubo de vidro e os chalés de madeira, parecia uma pequena vila europeia.

– Nossa, que coisa mais linda esse café?

– Gostou? Trouxemos uma arquiteta de São Paulo e explicamos a nossa ideia, ela adorou e nosso café virou um cubo de vidro amadeirado conhecidíssimo na região e, modéstia à parte, temos o melhor café da região, o melhor bolo, o melhor pão e a melhor manteiga.

– Como eu nunca ouvi falar dessa Fazenda antes?

– Os chalés são recentes, eles têm cerca de um ano, geralmente, sempre ficam ocupados devido às feiras da região, então, não foi necessário fazer propaganda, porque nunca temos muitas vagas disponíveis. E o café, bem o café foi um presente de Ciço para Bené, que é uma grande barista e uma doceira de mão cheia, eles são muito diferentes, foi um amor atípico, a família dela era contra, mas ela teimou e casou, hoje, tudo está mais ou menos bem, com a prosperidade da fazenda, a família dela teve que engolir nossa família, hoje todos vivem relativamente em paz, fama e dinheiro conseguem quase tudo, Doutora, quase tudo.

– Eu entendo perfeitamente o que está me dizendo.

– Eu sei que entende.

– Mandei preparar o melhor chalé, como já passa das seis da tarde, disse a Bené que jantaríamos no café, caso você não se importe, acredito que deva estar com fome e cansada.

– Obrigada, não me importo, na verdade, nem almocei hoje, será ótimo.

As duas desceram e já foram direto para o café, Bené as esperava daquele jeitinho aconchegante que só ela tinha.

– Doutora Flora, é um prazer conhecê-la, seja muito bem vida a nossa fazenda e ao café.

– Muito obrigada, Bené, estou muito feliz por estar aqui, tudo é muito bonito, estou ansiosa para provar suas delícias, meus filhos não falam de outra coisa.

– Seus filhos são maravilhosos, assim como Ella, uma menininha muito bonita, educada e cheia de amor.

– Ella é uma sobrevivente, carrega consigo uma história de superação desde o nascimento. Eu quero agradecer a você pela recepção que teve como meus filhos, muito obrigada.

– Eles são maravilhosos, assim como a mãe. A mesa já está pronta e o jantar está quase saindo, porque não sentam, o café está cheio hoje por causa da feira, vou deixar vocês à vontade e quero deixar um convite para amanhã a senhora almoçar conosco na casa grande.

– Muito obrigada pelo carinho, convite aceito. Por favor, Bené, nada de senhora e de doutora, somente Flora.

A mesa posta era um primor, tudo muito bem arrumado, muito limpo, Simone fez a gentileza e puxou a cadeira para que Flora sentasse, ela olhou a paisagem repleta de orvalho, com o sol se despedindo, Simone gostava de olhar a reação das pessoas da cidade quando elas sentiam o impacto do campo.

– Bem vinda ao meu mundo, Doutora!

– Seu mundo é lindo, Simone, obrigada por ter me trazido, eu estava precisando.

– Posso pedir um vinho? Temos uma pequena adega, você gostaria de escolher? Bené fez um risoto de camarão com limão siciliano e de sobremesa temos o bolo de chocolate com coco e uns biscoitos de café que são produzidos aqui, tudo bem esse cardápio?

– Tudo excelente, tudo maravilhoso, eu confio em você para a escolha do vinho, me surpreenda.

Simone optou por champanhe francesa, não quis arriscar e quis fazer bonito, bem bonito, Flora, por sua vez, adorou o cuidado, adorou as gentilezas, adorou tudo, e isso era perigoso, perigoso demais.

– Uma champanhe, Simone?

– Não quis ousar, Doutora, sei muito bem que deve conhecer vinho demais e arriscar neste momento não vai bem, preferi agir na zona segura.

Flora amou tudo, praticamente foi amada pela comida, por Simone, por Bené, pelo lugar, sentiu uma paz como há muito tempo não sentia, acalmou o coração, desceu as amarras que ainda teimavam em ficar e sentiu o vento afagar o corpo e a alma, talvez, Dom tivesse razão, estava na hora de seguir, Ida não voltaria e a conversa com Sofia tirou um peso de toneladas, havia ainda no peito um amor que latejava, mas havia um coração também mais sereno, talvez o caminho fosse esse, uma coisa de cada vez.

Depois do término do jantar, já era mais de oito da noite, a garrafa de champanhe estava vazia, o jantar tinha sido maravilho e , no final, Bené pediu licença para perguntar se tudo estava certo.

– Bené, meus filhos estavam certos, sua comida é algo de outro mundo e esse bolo aqui, deveria ser proibido de tão maravilhoso. Muito obrigada!

– Estamos feliz que tenha aceitado nos acessorar juridicamente, Ciço só retorna à nossa Fazenda amanhã, por isso pede desculpas por não estar aqui, mas também está muito feliz em ter você aqui na nossa casa.

– Muito obrigada, por tudo mesmo, eu agradeço a comida, a recepção, a compreensão e o amor. Simone tem razão, por aqui só há amor.

– Eu sempre tenho razão, Doutora, já disso isso, você só precisa acreditar e aceitar.

As mulheres sorriram, o café já estava fechado, havia uma música baixinha ambiente e , logo após, uma pessoa que estava uniformizada com uma roupa com a logo da fazenda disse:

– D. Simone, o chalé está pronto como solicitou, a senhora deseja algo mais?

– Muito obrigada, Mercedes, está tudo certo, eu agradeço.

Simone pediu para a funcionária acompanhar Flora até o chalé, ainda precisava terminar algumas coisas da feira e conversar com seu gerente.
– Doutora, minha funcionária levará a senhora até o chalé, se precisar de alguma coisa é só interfonar para a portaria, funcionamos 24 horas. Também tem meu número, qualquer coisa é só ligar que venho. Descanse, teremos um final de semana intenso.
– Obrigada, estou realmente cansada, amanhã que horas tomaremos café?
– Estou gostando bastante do nós que a doutora está usando. Pode ser até às 9, temos que ver algumas coisas na fazenda, depois almoçamos e vamos para a feira.
– Quase desistindo de pedir a você para parar de me chamar de doutora, mas estou achando que você faz para me provocar. Tudo bem, estou quase aceitando, combinado, se precisar de alguma coisa é eu puder ajudar, também estou à disposição. Obrigada mais uma vez por tudo.
Flora abraçou Simone e deu um beijinho na mão, muito carinhoso e doce. Também abraçou Bené e agradeceu a ela pela comida.
– Ela é um mulherão, Simone.
– E também um problemão, Bené.
– Acho que esse problema vale a pena, e esse beijo que recebeu deixou você toda boba, nem adianta disfarçar que conheço você tão bem que nada do que me disser vai desdizer o que disse.
– Eu sei que ela vale a pena, mas não quero sofrer.
– Simone, se a gente não arrisca nada na vida, a gente não recebe o que realmente vale a pena, eu acredito que a Doutora Flora, como você mesma chama, é o seu amor que há tempos anda perdido, acho que Ida ficaria feliz em ver que ela será bem cuidada. Arrisque, cunhada querida, outra coisa, as dores de amor ferem a alma, mas nos fortalecem também. Invista um pouco mais e insista, esse mulherão precisa de uma dona, ou seja, de um outro mulherão, assim como você.  O que quero dizer é que as duas terão uma baita sorte se permitirem a chegada do amor, para ele, nossas portas precisam estar sempre abertas. Eu amo você! Vá em frente e se nada der certo, temos garrafas de champanhe para serem abertas e, caso elas não resolvam, têm as garrafas de cachaça do Ciço.
– Você é muito romântica, Bené, meu irmão tem sorte.

– Ainda vou fazer o bolo do seu casamento, vou usar meus dotes de patisserie para casar uma quase francesa também. Vá resolver as suas coisas que vou antecipar algumas coisas do café.

Simone saiu pensativa, com o peito batendo descompassadamente, aquele beijinho carinhoso a fez mudar mais uma vez de caminho.

Checou as pendências administrativas com o gerente operacional da fazenda, César era jovem e tão vanguardista quanto ela, se a Fazenda Cariri chegou até agora onde chegou, além de todos e de Ciço, César era um grande contribuinte.

O relógio já marcava quase 23 horas, Simone dirigia o carrinho de golf da fazenda, percebeu que as luzes do chalé de Flora estavam apagadas, já devia estar dormindo, decidiu seguir para a casa grande e descansar, os dias tinham sido intensos e o cansaço também já estava habitando seu corpo.

Flora despertou perto das oito da manhã, tinha dormido muito bem, com os pensamentos danados e cheios de possibilidades, havia deixado parte da cortina do quarto aberta para vislumbrar o dia em uma fazenda daquele porte e assim o fez.

O horizonte despontava ao fundo, lentamente, Flora descortinou o vidro que ainda estava coberto e olhou o que lhe esperava, já havia movimento no café, o cubo mágico do sabor de vidro já estava aberto, uns 4 carros haviam estacionados e viu Bené chegando ao local feliz e conversando com Simone, que, mesmo à distância, estava linda.

O banho não foi tão rápido, afinal Flora não estava atrasada, nada de pressa. Colocou uma calça capri, um tênis branco clássico e uma blusa listrada, olhou o tempo e achou que não esfriaria tanto. No rosto, um clássico Ray Ban da década de 70, no corpo, o melhor cheiro possível para atrair uma outra mulher.

Prontíssima para o café da manhã que já imaginava ser mais que delicioso, fechou a porta do chalé e sentiu o aroma do campo, o orvalho, o sol, a brisa, conforme se aproximava pelo caminho de pedras, os sabores do café de Bené invadiram sua mente e seu estômago. O sino dos ventos tocou, Flora entrou e Simone sentiu.

– Bom dia, Doutora Flora, dormiu bem?

– Bom dia, Bené, sua cunhada insiste nesse tratamento, mas já percebi que faz isso para me provocar, queria dizer que estou ansiosa pelo café. Bom dia para você também, Simone.

– Flora, bom dia minha querida, Simone só implica com pessoas que ela gosta bastante, pode se sentar já pedi nosso menu do café completo para vocês duas.

O Café foi maravilhoso, Flora achava que voltaria não com três, mas com uns cinco quilos a mais, tudo era delicioso. Após as quase duas horas da refeição matinal, o carrinho de golf foi trazido por César e os três sairam para mostrar a Flora as ideias que tinham e se era possível.

A Fazenda tinha um potencial gigantesco, Simone tinha uma visão esplêndida de negócios, assim como Dom dissera, ela e César formavam uma dupla perfeita, as percepções sobre patentes estavam quase todas corretas, mas também poderiam ser facilidades com um registro da própria fazenda. Tudo foi explicado de forma bem didática, o que era necessário naquele momento, Simone ficou bastante satisfeita e quando percebeu já passava de uma da tarde, dispensou César e foi em direção à casa principal para o almoço.

– Obrigada pela assessoria, Doutora, fico feliz que nossas empresas tenham se encontrado.

– Simone, você não tem jeito, né? Temos um grande potencial aqui e vou estudar mais a fundo tudo que me disse e tudo aquilo que quer e dependendo do que eu encontre nas legislações, também quero propor um negócio, uma parceria, mas isso será depois. Gostaria de perguntar, qual o valor da diária do chalé e do meu consumo no café, nós não falamos nada sobre isso, não quero que pense que estou me aproveitando.

– Eu convidei você, Flora, você não será cobrada por nada, é um prazer ter você aqui e quero aproveitar e deixar o convite aberto para que você volte sempre que quiser, será sempre muito bem vinda.

– Obrigada, você é uma mulher incrível!

Ciço esperava a irmã na varanda despachando algumas pendências, estava arrumado, coisas de Bené, e o cheiro do cupim maturado no forno invadia o ambiente, Flora teve a mão beijada, a recepção foi digna de uma super estrela e tudo correu muitíssimo bem, não demoraram tanto quanto Bené e Ciço gostariam, porque precisavam pegar a estrada, a feira em São Roque já devia estar começando e Simone não queria que Flora se fatigasse, optaram por apenas pegar as coisas e seguirem viagem, o relógio já marcava mais de 4 da tarde.

São Roque era uma cidade que vivia em torno do vinho, inclusive havia uma rota de vinho para os turistas, e a feira de negócios da cidade atraia gente de todas as regiões do estado e de Minas Gerais.

Produtores de geleias, pães, frutas, manteiga, queijos, artesanato, produtos em couros, além da gastronomia refinada.

Simone tinha reservado um chalé duplo, todo madeirado dentro da principal vinícola da cidade, que ficava lotada e tinha a noite do vinho, que era maravilhosa.

Flora deslumbrou-se com todo o ambiente, a companhia de Simone era maravilhosa, ela era leve, engraça, sagaz e inteligente, bastante conhecida no local, logo um senhor se aproximou das duas para recepcioná-las.

– Simone, que prazer ter você aqui, seja bem-vinda.

– Humberto, obrigada. Esta é a Flora, uma amiga.

– Flora, muito prazer, seja bem-vinda, espero que goste da nossa festa e da nossa feira, por aqui, todos são muito receptivos e gostam de receber gente nova.

O chalé era tamanho família, quarto duplo, duas suítes na verdade, uma pequena sala e uma lareira,Simone já esperava flora muito bem vestida e agasalhada, Flora saiu logo depois, toda de preto, usava uma calça de alfaiataria, com uma blusa de linha preta, um blazer de linho cru sobre o braço e uma bota com um salto bem baixo, chique, elegante, altiva, nobre e cheirosa.

Simone bambeou, quase estica a mão para pegar a de Flora instintivamente, mas recolheu e colocou no bolso da jaqueta, Flora percebeu, mas disfarçou.

A vinícola estava cheia e muito animada, havia uma imensa fogueira, as mesas de madeiras eram longas com bancos também longos, a música era típica da Itália, algumas pessoas dançavam, o jantar estava previsto para 20h, tudo estava delicioso, há tempos, Flora não se divertia tanto.

Percebeu uma mulher conversando com Simone, conversando e olhando para Flora, provavelmente, uma paquera de Simone, preferiu ficar no seu canto e decidiu terminar a sobremesa e ir para o chalé.

Despediu-se de Humberto, agradeceu o carinho e foi para o chalé, não podia exigir nada de Flora, mas pelo menos ela deveria ter sido mais educada e não tê-la deixado sozinha, enfim, dormiria, era melhor.

Ao chegar ao chalé, foi até a pequena adega, ficou na dúvida se abriria uma nova garrafa de vinho, preferiu não abrir, pegou uma água com gás e entrou na sua suíte, tomou banho e vestiu o roupão, quando ouviu batidas na porta.

– Oi, porque não me chamou para irmos embora, Flora?

– Sou adulta, Simone, você não precisa ficar de minha babá, também não queria atrapalhar você e a sua noite.

– Você não atrapalha, já disse isso, trouxe você aqui, faço questão de acompanhar você.

– Simone, está tudo bem, eu estava cansada e resolvi vir logo, não é nada demais.

Simone olhou para Flora, estava linda, com o roupão, rosto lavado e não resistiu, o impulso foi mais forte que a razão, a puxou pela cintura e a beijou, um beijo lento, com gosto de vinho e menta, as línguas se tocaram e dançaram, e dançariam a noite inteira, quebrando barreiras das duas mulheres divinas que optaram por arriscar-se além do medo.



Notas:



O que achou deste história?

7 Respostas para 19. POSSIBILIDADES ESTRELADAS

  1. acabei de chegar por aqui, estou apaixonada pela história! li todos os capítulos em algumas horas… por favor não demore.. ❤️

    • Oi Gabi, obrigada pela leitura.
      Fico muito feliz que tenha gostado da história, até o final da semana envio o capítulo 20 para a publicação.

      • que notícia maravilhosa para começar a semana!!! fico no aguardo!! ❤️

  2. Olá Mia

    Eu estava me perguntando se você criou a Fazenda Cariri, baseada em alguma que tenha ido, ou se foi criada pela sua imaginação. Pela sua descrição, essa fazendo é tudo de bom, a paisagem, arquitetura a comida, essa nem se fala, me dá agua na boca, conforme vou lendo.
    Flora e Simone, são realmente mulheres incríveis, Bené já sentiu o clima no ar entre as duas, arisco a dizer que Ida, por amar ambas, cada uma de um jeito, amiga e mulher, iria sim gostar de saber que estão juntas, cuidando uma da outra.
    Esse passeio por São Roque, cidade que vivia em torno do vinho (mais uma imaginação?), promete, ainda mais depois desse beijo, “as línguas se tocaram e dançaram”, aiaiaiai……
    Muito sentimento envolvido, em toda a história, e nos personagens….
    Não canso de repetir que a história está linda….
    Ansiedade aos limites, aguardando a continuação, parabéns.

    • Oi Branca, obrigada pelo carinho e pela leitura.
      A Fazenda Cariri foi criada por mim mesma, baseada numa outra que fui, nessa fazenda que visitei havia um café, eles tinha um bolo de café com chocolate e outras delícias. A Fazenda Cariri é bem especial mesmo.
      Em relação à Flora e à Simone, temos a primeira faísca, vamos ver se a fogueira sobrevive com o que vem pela frente.
      São Roque é uma cidade próxima a São Paulo, a fazenda Cariri fica próxima, ela é conhecida por fazer parte da rota do vinho mesmo, essa informação é verdadeira, há vários passeios na região. Vale a visita.
      Que bom que gosta da história, eu agradeço a leitura.

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