No horário marcado, as equipes se encontravam no restaurante do resort. Estavam comportadas, espalhadas pelas mesas, conversando descontraídas. Era uma grata surpresa para as chefes de equipe. O aroma de comida recendia suavemente pelo lugar. Viram os rechauds de inox sendo aquecidos, encaixados nos balcões de comida.
— Quem está cozinhando?
— Kaia e Janis, da nossa equipe, e Baeta e Jada, da equipe da chefe Isadora.
Tudo funcionava perfeitamente, desde os freezers de bebidas até as máquinas de lanches. As agentes bebiam cerveja, sucos, energéticos e até mesmo whisky.
A cena parecia de férias, o que preocupou as chefes. Elas se entreolharam, desgostando do que viam.. Não porque as subordinadas não pudessem desfrutar das benesses que eram proporcionadas, mas porque parecia que a Agência estava “comprando” as agentes com o conforto daquela missão.
— Temos que nos preocupar com a comodidade delas?
— Podemos verificar agorinha mesmo, Helena. — Isadora encheu os pulmões de ar e falou rispidamente. — O que está acontecendo aqui? Estão de férias, por acaso?!
Todas as agentes, sem exceção, levantaram-se das cadeiras e se colocaram de prontidão. Até as quatro cozinheiras vieram da cozinha e se apresentaram.
— Responde sua pergunta, Helena?
Isadora sussurrou disfarçadamente para a sua parceira.
— Sim.
Helena respondeu igualmente num tom baixo e disfarçado.
— Ótimo que estão de prontidão, porque precisaremos, nos próximos dias, da atenção máxima de vocês. Relaxem agora. Podem voltar para suas bebidas… — Isadora se voltou para as cozinheiras: — Podem voltar para a cozinha, antes que a comida queime. Não começaremos a reunião sem vocês presentes, ok?
As agentes que cozinhavam fizeram um aceno e retornaram para a cozinha e as que estavam de pé, voltaram a se sentar, conversando entre elas naturalmente. Não era incomum que chefes de equipe fizessem aquele tipo de convocação. Era uma prática treinada para que os membros das equipes ficassem sempre em alerta.
— O que quer beber?
Isadora perguntou, se encaminhando para a estante de bebidas atrás do balcão das comidas.
— Já que podemos, whisky duplo e com gelo. E não me venha com whisky 12 anos. Já que podemos ter, no mínimo, 18 anos.
Isadora ficou satisfeita com a escolha e pegou dois copos no aparador e uma garrafa de whisky single malt 18 anos na prateleira. Colocou gelo nos copos e levou a garrafa consigo até a mesa em que Helena se sentou. Verteu o conteúdo do líquido âmbar em dois copos e esperou que Helena pegasse o seu. Levantou a sua bebida em um brinde.
— Que esta seja a melhor e não a última missão.
Proferiu as palavras de brinde de sua equipe.
— Que nossos companheiros de vida não fiquem viúvos.
Tilintaram os copos e beberam um gole. Isadora se sentou de frente para Helena.
— Que porra de brinde é esse, Helena?
— Um que festeja se a gente não morre. — Gargalhou.
— Que engraçadinha, você. O brinde da minha equipe também.
— Mas não é tão divertido como o da minha.
Mostrando os dentes num sorriso, enquanto colocava os lábios na borda do copo, Helena deu uma golada em seu whisky. Isadora balançou a cabeça, bebendo também, na tentativa de suprimir o próprio sorriso. Estava fácil esquecer do passado, contudo se perguntava até quando a paz duraria entre elas.
— Soube que você será a nova chefe sênior da Agência. — Helena comentou.
— Que eu saiba, você como agente sênior votou na escolha.
— Na verdade, fui eu quem indicou você.
— Ficou cansada de ser a única agente sênior mulher, Helena?
— Mais ou menos isso… Esses chefes cuzões, quando são escolhidos, acham que podem tudo. Estou cansada de ter que provar o tempo inteiro que sou inteligente, que tenho direito de fala e que a minha opinião é válida.
— É, já andei escutando que, na maioria das vezes, você foi voto vencido nas reuniões.
Outro gole da bebida foi sorvido pela chefe sênior, antes de rebater.
— Escutou também que, na maioria das vezes, não sigo o que eles determinam como protocolo? Só faço quando não oferece risco a minha vida e a da equipe.
— É justo. Faço isso o tempo inteiro. Não sei como ainda não me dispensaram.
— Porque você, como eu, produz para eles. É simples assim.
Mais outro gole foi bebido por elas e Isadora franziu a testa. No rosto, havia um ar de tristeza incontido.
— Soube o que aconteceu com a equipe de Vladimir?
— Sim. O que quer saber, Isa? Que ele e a equipe foram dizimados esperando autorização para entrar na toca do alvo? Foi exatamente isso que aconteceu. Demoraram demais para dar a autorização e a equipe foi descoberta.
— Ele era um cara bom. Não concordava com o tipo de contrato que assinava com a Agência. Ele topava entrar em casas particulares para sequestrar o alvo. Mas era um cara correto e gostava dele.
— Ele seguia todas as regras e isso o matou, Isa. Por isso, acho uma temeridade limitar determinadas decisões das equipes. Nosso trabalho depende do que vemos in loco para tomada de decisões.
— As chefes não querem nada com a gente! O que será que tá pegando?…
Jackie bradou, levantando sua garrafa de cerveja, chamando a atenção de Helena e Isadora. Todas as agentes se viraram para a mesa delas, batendo suas garrafas e copos na mesa. Isadora estava de costas para o restante da equipe e cerrou fortemente os olhos em uma careta.
— Da próxima vez, eu fico de costas. — Helena resmungou.
— Da próxima vez, a gente se senta com elas.
— Justo. — Helena respondeu aos sussurros, antes de elevar a voz para responder a sua agente. — O que tá pegando é o cheiro! Parece que você não tomou banho desde a última missão, Jackie! Por isso não me sentei perto de você.
A gargalhada soou no restaurante, e Jacqueline foi chacoteada por todas as agentes.
— Vamos lá, Helena. Vamos nos sentar com elas e relaxar um pouco.
Elas se juntaram às suas equipes e decidiram que seria melhor unir as mesas para que as equipes se integrassem. Fizeram um arranjo em que as duas chefes permanecessem sentadas lado a lado. Queriam mostrar para as agentes que elas trabalhariam juntas e desfazer o clima de rivalidade que havia entre elas.
A Agência Alpha Dìon sempre estimulou a competição entre equipes. Acreditavam ser a melhor forma de obter resultados cada vez melhores nas missões. Helena achava uma abordagem retrógrada e perigosa, todavia, quando levantou a questão entre os chefes sêniores, foi voto vencido.
Foi estranho a divisão da mesa. As agentes não se misturaram. Quem era da equipe de Isadora, sentou-se do lado em que ela estava. Quem era da equipe de Helena fez o mesmo. Ou seja, as chefes sentaram no meio da grande mesa e cada equipe se reuniu próximas às suas companheiras, dividindo-se em duas equipes.
Helena e Isadora previram que teriam grande trabalho em integrá-las. Se entreolharam, concordando silentes que precisariam atuar para que aquela missão desse certo. Isadora colocou mais uma dose de whisky no copo da chefe-parceira e outra no seu. Puxou ar enchendo os pulmões, tentando acalmar seus ânimos.
— Comece você. — Helena sussurrou. — Minha equipe tem que saber que concordo com a abordagem que faremos.
— Se eu começar, suas garotas podem questionar.
— As suas também. Teremos que “dançar” juntas para que dê certo. Comece e eu falo algo, indicando que eu concordo com a abordagem.
Isadora entendeu a perspectiva da colega de missão e imediatamente iniciou uma conversa com a especialista em TI da equipe de Helena.
— Datrea, — chamou a atenção da moça — Helena me contou que é especialista em TI. Hoje ainda, precisaremos reestabelecer o local de controle da missão. Nós duas estudamos os mapas que nos deram e queremos mudar a central para outro espaço.
— Isadora me falou que você, — olhou diretamente para Margot da equipe de Isadora — é a especialista em TI da equipe de vocês. É verdade?
Margot ficou confusa com a pergunta feita diretamente para ela. Fitou a sua chefe, num pedido mudo de auxílio, no que foi imediatamente anuído por Isadora, com um simples acenar de cabeça.
— É verdade.
Margot respondeu, ainda reticente.
— Decidimos que vocês duas trabalharão juntas nesse empreendimento. Se quisermos que essa missão dê certo, teremos que dividir as equipes para trabalharem parelhas nas suas respectivas especialidades. Todas compreendem isso?
— Vocês trabalharão parelhas?
Anne, da equipe de Isadora, questionou. Comia, displicentemente, sementes de pistache de um pacotinho que havia pegado em uma máquina de snacks no canto do restaurante.
— Já estamos trabalhando desse modo, Anne. Ninguém aqui é idiota. Por que acha que nos sentamos deste jeito à mesa?
A fala de Isadora fez com que as equipes se sentissem mais à vontade. Cada qual olhou para a sua chefe, e receberam anuência de ambas.
— Gostei disso! — Urze, da equipe de Isadora, exclamou. — Gostei da loirinha ali. Apontou com a cabeça para uma agente do outro lado da mesa. — Espero que ela seja boa na porradaria. Assim pode ficar como minha parceira.
— A minha porradaria é morte certa, querida. Tenho uma pontaria como ninguém. Quer que eu acerte em seu coração?
Lavínia, ou Liv como as companheiras a chamavam, fez um gesto de pontaria com os dedos e mão, mostrando que era uma atiradora de elite.
O barulho dos copos e garrafas batendo na mesa chamaram atenção até das cozinheiras, que vieram correndo da cozinha para saber o que estava acontecendo.
— Estão deixando a gente de fora?
— Não é nada, Jada. Só implicância da Urze. — A voz de Isadora se elevou acima da gritaria das agentes. — Como está o preparativo da comida?
— Terminamos, chefe.
— Então chame as outras. Queremos conversar com vocês antes do jantar.
A agente se retirou e quando retornou estava acompanhada das outras garotas. Sentaram-se nas cadeiras livres. Isadora virou-se para Helena.
— Quer começar?
— Fique à vontade.
— Ok.
Isadora se voltou para as equipes e as agentes se calaram. Eram disciplinadas e pareciam ter aceitado o arranjo. Seria um desafio trabalharem em conjunto, pois seria necessário compreender a maneira de trabalho de cada integrante da equipe oposta.
— Até a semana que vem teremos que colocar este resort nos parâmetros de segurança que farão nosso trabalho mais fácil e preciso.
— Todas teremos desafios a ultrapassar para nos organizarmos. Não é fácil trabalhar com quem não conhecemos, mas uma coisa é certa, se em uma semana não confiarmos nas agentes que estarão ao nosso lado, é um passo para o fracasso.
Helena e Isadora se revezavam na fala. Parecia que haviam combinado tudo antes. A harmonia entre elas era perfeita.
— Queremos duas agentes para organizar as equipes que farão as refeições até o pessoal do resort chegar. Faremos três refeições diárias: café da manhã, almoço e jantar.
— Todas entraremos no revezamento, incluindo a mim e Isadora. Acredito que equipes de quatro, como montaram hoje, é o suficiente e não perderemos tempo com isso. Seriam refeições práticas e rápidas para executar.
— Eu posso ajudar a montar as equipes. — Baeta levantou a mão, se oferecendo. — Conheço nosso grupo e posso colocar sempre alguém que sabe cozinhar com outra que só auxiliará.
— E eu posso falar por nossa equipe nesse quesito.
Kaia se prontificou pela equipe de Helena.
— Ótimo. — Helena aprovou, satisfeita. — O próximo quesito, e isso queremos para hoje mesmo, é a sala de controle. Estamos trabalhando analogicamente com base em plantas e mapas dados a nós. Queremos estabelecer um local melhor para a sala de controle e vigilância.
— Não sabemos quem montou essa sala, ou o que está ligado a ela, e vimos que o lugar não é o melhor para um local tão importante. Ela está próxima a um dos elevadores, colada na encosta.
— Que idiotas! — Datrea exclamou.
— Por isso, queremos que você e Margot escolham as melhores agentes para trabalharem com vocês nessas alterações. — Isadora virou-se para Baeta e Kaia. — Elas devem fazer parte da última equipe da cozinha, pois deverão levar dois dias para a mudança.
As agentes anuíram.
— Terceiro quesito: Melhores locais de vigília. — Helena se virou para Isadora. — Quem de sua equipe seria a melhor para fazer parceria com Lavínia?
— Allie.
A agente da equipe Leopardo levantou a mão, numa forma de apresentação.
— Você e Lavínia mapearão os melhores locais no complexo para montar bases de observação. Tudo bem para você?
— Tudo bem, chefe Helena.
— Quarto quesito: Nome da equipe. Não usaremos mais nossos nomes originais. Seremos uma só equipe. — Isadora afirmou com segurança. — Seremos a equipe Hiena. Não podemos ter discrepâncias na hora de chamar pelos transmissores. A nossa segurança é tudo. Se estamos juntas, teremos que responder juntas para a nossa salvaguarda.
As agentes se entreolharam, não só as da equipe de Isadora. Todas sem exceção observavam a reação umas das outras, pensando sobre o nome. Era uma quebra de identidade, entretanto, pareceram gostar da resolução. Compreendiam que precisariam se integrar para se protegerem. A ruptura dos padrões da Agência estimulou as mais anárquicas.
— Adorei!
Veridian, a especialista em artes marciais da equipe de Helena, se pronunciou eufórica, levando o restante das agentes a concordarem efusivas.
— Sabia que seria você, Vird…
— Eu o quê, chefe?
— A gostar da ideia. — Helena riu. — Você sempre contesta tudo vindo da Agência.
— Ih, já vi que essa é cabeçuda…
— Como é seu nome mesmo? Urze, não é? Se acostuma, porque não ficará com a loirinha atiradora. Se é especialista em artes marciais, ficará com a preta aqui.
Veridian, ou só Vird como era chamada, encarou Urze, desafiando a sua futura companheira de missão. Urze pendeu a cabeça de lado para fitar a agente da equipe de Helena.
— Vamos cair dentro, amiga. — Urze fez um gesto de paz, elevando as duas mãos como se tivesse se rendido. — Amo uma boa porradaria, mas sou da paz. Pena que ninguém me entende.
A expressão do rosto da agente da equipe de Isadora era quase um galanteio. As garotas da sua equipe bateram na mesa com as mãos, e assobiavam, brincando com a situação.
— Merda.
Isadora resmungou para si, mas Helena estava atenta e escutou sua reclamação.
— O que foi?
Helena interpelou Isadora, confusa.
— O que foi é que Urze é foda. Ela gostou da sua agente. Isso é um problema. Vai infernizá-la.
— Ah, tranquilo. Vird sabe se cuidar.
Uma hora e meia mais tarde estavam jantando. As duas chefes conseguiram colocar os parâmetros iniciais da missão. Mais tarde, Datrea e Margot estavam avaliando a sala de controle original, para saberem como mudariam de local e o que precisariam para fazer as modificações.
Escolheram um novo lugar para se instalarem. Assim que ligaram o sistema, conseguiram o detalhamento de toda a área. Descobriram, entalhado na rocha da enseada, um depósito de materiais, todavia estava selado e protegido por um sistema de segurança. Elas se empenharam, durante a maior parte da noite, em tentarem invadir o local sem serem detectadas.
Na manhã seguinte, na hora do café matutino, o planejamento de realocação da sala de controle estava pronto. Mostraram o esquema de transição para as duas chefes e elas o aprovaram, designando outras agentes para auxiliarem na tarefa.
— Precisamos falar com vocês.
Helena não elevou a cabeça de sua tarefa, que era colocar um recheio na panqueca que pegou para comer. Os ingredientes estavam dispostos na mesa e em rechauds nos balcões do restaurante. Ela seguia o fluxo da fila para compor seu desjejum.
— Descobriram algo importante?
— Muito importante, chefe.
— Certo.
Biiiiii, tudo bem? Como vc está com essa onda de calor, chegou aí ou só na capital??
Caramba, adorei o capítulo! O que será que descobriram? Ansiosaaaaaa
Esperando ansiosa por acao!! Vamos que vamos!!!
Bem, demorarei um pouco demais a ler e comentar, finalmente irei visitar minha família. 2019 foi a última vez, mas tentarei ler…de qualquer forma, sabe que lerei , tarde, mas lerei!!
Fiquem bem, cuidem-se muito!! Beijao
PS:Feliz que posso comentar ! 🙂
Oi, Lailicha!
Que bom que visitará a sua família! Então estará aqui no Brasil? Quando virá?
Pode deixar que a ação chega e quando chegar… rs
Um bom domingo para você, Lailicha e fico feliz que esteja conseguindo posta!
Beijão pra tu!
Oie, Bi!!!
Já tô aqui na Bahia! Fui pra SP antes e tem una dias que cheguei a Salvador. Agora tô na ilha…
Desculpe a demora!!
Vou dever um pouco mais até poder ler tudo!!
Sim, posso postar!! Aleluiaa !!
Até breve!!
Beijão
Amando cada capítulo ❤️
Oi, Gilssara!
Que bom que está gostando tanto. Hoje entrou mais um e pretendo postar outro ainda essa semana.
Um beijão pra você e bom domingo!