POR ÐIANA ŘOCCO
Revisão: Carolina Bivard, Isie Lobo
Cartografia: N. Lobo
Mapa de Âmina
>>> XLV <<<
Amora foi conduzida para um entremeado de árvores onde outros cavaleiros nos aguardavam. Eu conseguira soltar uma de minhas mãos, e estava prestes a livrar a outra, quando senti uma pancada na cabeça. Ainda percebi três cavaleiros nos cercando, depois não vi mais nada.
Acordei à noite ao lado de uma fogueira. Mas me obrigaram a beber um líquido amargo e tudo escureceu novamente. Em outra ocasião, me encontrei deitada sobre o dorso de um cavalo. Estávamos ainda na Floresta Escura e vi dois soldados próximos. Um deles conduzia Amora amarrada à sua sela, e deu um alerta ao me ver acordada. A viagem foi interrompida e, mais uma vez, forçaram o líquido asqueroso em minha garganta. Numa terceira ocasião chovia muito e não havia nenhum fogo por perto. Os homens comiam ruidosamente e meu estomago se contorcia de fome, mas não me mexi. Não queria ser drogada novamente.
— Tem certeza que não é pra dar comida pra ela?
— O Rei quer que esteja fraca.
— É só uma mulher, meu Deus, por que tanta precaução?
— Essa peste usa a espada com uma ligeireza que dá medo. Já treinei com ela algumas vezes.
A última frase foi dita por uma terceira voz, mas não a reconheci. Já havia treinado com muitos soldados e não era possível me lembrar de todos.
— E que beleza é essa lâmina, hein? Adoraria ficar com ela!
Foi o primeiro homem que falou, e descobri que estava com Brenda. Pode parecer estranho, mas senti uma pontada de ciúmes.
— Essa é a Princesa, e não um saque. Experimente pegar um só grão dos pertences dela pra ver o que te acontece.
Era a voz do segundo homem agora, e percebi certo temor em seu modo de falar.
— Princesa que nada! É inimiga agora.
— Só um tolo como você pra acreditar nisso, Percival. Isso é briguinha de família. Daqui a pouco acaba e nós é que estamos ferrados. Esse saco de batatas aí vai ser Rainha. E com certeza irá atrás do idiota que lhe roubou a espada.
Houve uma gargalhada geral e notei que outros homens estavam por ali.
— Sorte sua que tá apagada. Se te ouve chamá-la de saco de batatas…
O comentário foi de um quarto homem e provocou mais risos.
— Até que ela não de se jogar fora, hein? E dormindo assim dá até vontade de fazer uma loucura.
— Esse é o Lourenço, pega qualquer uma. Essa aí é feia como uma cadela, e ainda por luxo gosta da mesma coisa que a gente.
A chuva apertou e começou a gotejar forte na minha testa. Estava no chão, de barriga pra cima, e a água se acumulava em algumas folhas, ameaçando entrar em meu nariz. Não me mexi, no entanto, e concentrei a atenção nos insultos com a esperança de que aquela conversa fiada me dissesse algo útil.
— É grandalhona, é verdade, mas não é feia. Essas roupas de homem é que tiram o tesão da gente, mas se o Rei me pedisse, eu era capaz de fazer o sacrifício de casar com ela.
Os risos agora foram mais fortes e persistentes.
— Eu também faria o sacrifício de ser Rei, Hermes, mesmo que tivesse que foder essa puta todos os dias.
— Só até tirar dela um filho, respondeu alguém no meio das gargalhadas insistentes, depois podia até mandar a pervertida pra debaixo da terra que ninguém ligaria a mínima.
Com a conversa se alastrando, percebi que a tropa era grande. Pensei em Alex, preocupada. Não falavam em outros reféns e, todavia, aqueles soldados só podiam ser os mesmos que nos emboscaram na estrada. Temi pela vida de minha mulher, o que aumentou minha dor de estômago.
— Há quanto tempo ela tá apagada?
— Tomou a última dose já tem umas doze horas…
— Não deveria ter acordado?
— Você tá é doido, isso derruba até um urso por dias!
— E a vaca precisou de três doses pra apagar de vez.
— Essa é fia do demo, como o pai… e mais forte que muito homem por aí.
— Por si só isso já é coisa do capeta.
— E dizem que a briga com o pai foi por rabo de saia. Política que nada!
— Se é que dá pra chamar aquela Alexandra de rabo de saia, não é?
— Já ouvi essa conversa também de que a Princesa e essa rebelde do caralho se amasiaram, mas será que é verdade?
— Eu vi com os meus próprios olhos! Estavam no maior namorico quando saltei na sela dessa bestinha aí.
— É verdade. Duas otárias. Se afastaram da tropa pra namorar.
— O que prova que caralho e inteligência andam juntos.
O comentário provocou nova gargalhada. Meu coração acelerou. O que teria acontecido a Alex?
A poça em meu rosto agora era mais profunda e a água dificultava minha respiração. Mas nenhum deles parecia se preocupar comigo.
— Tomem tento, homens. Essa é a futura Rainha, escutem o que estou dizendo. O pai vai domá-la num instante, e daqui a pouco não sobra nada desse amor de adolescente. Ela vai casar e ter filhos como manda a tradição. E nós todos teremos que obedecê-la.
— É, só que agora ela tá aqui, a nossos pés, feito uma porção de bosta.
Inspirei um pouco mais forte do que devia, e a água entrou por uma das narinas provocando tosse. Os risos pararam abruptamente, e um homem me pegou pelos cabelos. Mantive-me imóvel.
— Por pouco não temos uma Rainha afogada.
— Estaremos mortos se acontecer algo com ela. Coloquem na sela do cavalo e vamos partir. Já demoramos demais. E apaguem todos os rastros, não podemos deixar pistas pra’queles vermes.
Senti um arrepio na espinha ao reconhecer a voz de Drusus, chefe da guarda pessoal de meu pai. Conhecia-o desde pequena e nunca imaginei que um dia viria a temê-lo.
Dois homens me pegaram pelas extremidades e me atiraram sobre um dos cavalos.
— O chefe tá ficando fracote ou sempre foi cauteloso desse jeito?
Os homens sussurravam enquanto me prendiam ao dorso do animal.
— Ele tá com medinho da outra…
— E até que ela é brava… pobre Adriesto, que Deus o tenha.
— Acha mesmo que ela está atrás de nós?
— O chefe diz que os rebeldes vão fazer de tudo pra ter a Princesa de volta, então…
— Parem de conversa fiada e terminem logo com isso. Soltem um pouco essas cordas, querem arrancar sangue da filha do Rei?
As mãos de Drusus tatearam meu corpo verificando a tensão das amarras. Depois os homens se afastaram em silêncio e todo o acampamento se agitou nos preparativos da partida. Não prestei atenção em nada por alguns instantes. Tudo o que me importava é que Alexandra estava bem e, com certeza, viria atrás de mim.
Os homens que acompanhavam Drusus, no entanto, não eram os melhores soldados da companhia. Resmungavam às costas do chefe e eram displicentes ao cumprir suas ordens. Não gostavam do líder e, obviamente, não pertenciam à Guarda Real. Porque uma equipe tão inepta tinha sido destacada para me capturar é que era um mistério.
De qualquer forma, nossa partida foi tumultuada e o homem que me conduzia a cavalo não era hábil o bastante para controlar a montaria entre tantas árvores. Aproveitei essa falta de atenção para marcar algumas árvores com chutes. Não era uma tarefa difícil já que as árvores estavam sempre muito perto de nós, e a montaria chacoalhava horrores. Tudo o que precisava fazer era tomar impulso para que meus pés resvalassem em algo e assim fui machucando troncos e quebrando galhos sem que ninguém percebesse.
Foi exatamente esse balanço que causou chagas em meus braços. As cordas que me prendiam à montaria, mesmo sendo revisadas por Drusus, estavam apertadas demais e feriam minha pele na altura dos tríceps. Começaram a queimar e pouco depois percebi sangue escorrendo pelo antebraço.
— Eu não disse que era pra terem cuidado com as cordas? Olhem o sangue escorrendo!
Dois soldados a meu lado xingaram baixinho e toda a companhia parou.
— IMBECIS! Rei Aran recomendou que ela lhe fosse entregue sem nenhum arranhão.
Desamarram-me. Com um imperceptível movimento dos pés desequilibrei meu corpo e escorri pelo dorso do animal. Quando o soldado se deu conta eu já estava no chão. O descuido lhe rendeu um soco e outro homem veio substituí-lo.
— Cambada de idiotas! Vou mandar enforcar todos vocês assim que acabar essa revolta.
Houve um instante de silêncio e me angustiei querendo saber o que acontecia.
— Amarrem-na em minha montaria — berrou Drusus, e dois homens me carregaram por alguns metros. Largaram-me de qualquer jeito no chão, entretanto, e percebi que sufocaram um risinho. O comandante estava atento e um chicote estalou muito perto de mim. Os dois homens pularam e um deles gritou de dor. Um terceiro soldado, no entanto, tomou as dores de seus colegas.
— Esses desgraçados desses Amaranto nos sugam há gerações!
A voz surgiu por entre as árvores e se aproximou enquanto falava.
— Rei Amaranto lhes paga um soldo extraordinário. Onde mais ganhariam tanta prata?
Houve um curto silêncio que parecia indicar a vitória de Drusus. Ouvi passos antes da voz do soldado ressurgir mais perto do que antes.
— Não há prata para o povo de Amina. Meu pai era moleiro em Furta-lhe A Volta, mas a pouca prata que conseguia era confiscada pelo Rei.
— E essa é a prata que hoje você recebe, soldado. Portanto, seu pai está vingado, se isso é o que lhe preocupa. Agora ajoelhe-se e renove seus votos para com o Rei antes de seguirmos. Ou será que gostaria de se juntar a esses malditos revolucionários?
— Não estou questionando a autoridade do Rei. Devo a ele até as roupas que visto, sei bem. Mas isso não o torna um santo, não é? O que estou dizendo é que você não pode chicotear esses homens por se sentirem tentados a maltratar um pouco esses filhos do demo. Ninguém aqui vai arrancar pedaço da sua princesinha, mas algumas escoriações não vão matá-la.
— E o que eu estou dizendo é que ela vai chegar intacta ao pai, e que qualquer um que queira lhe fazer mal irá se ver comigo.
— Está mesmo interessado em subir, não é? Quer aproveitar que a revolução está quase nos muros do Castelo e crescer aos olhos do Rei. O que você ganha com isso, maldito?
— Vou dar sua carne aos lobos se não fechar essa boca agora mesmo.
— Experimente fazer isso, desgraçado.
O som de aço arrastando sobre couro foi quase imperceptível, em seguida as lâminas se chocavam. Foi uma luta rápida e acabou com um soluço, não com um grito. O som do corpo caindo foi abafado por folhagens.
— Mais alguém tem algo a dizer?
Ninguém tinha mais nenhuma opinião. De modo que Drusus ordenou que lhe entregassem todos os pertences do soldado morto. Ouvi sua espada sibilar algumas vezes com um baque surdo. Um soldado vomitou perto dos meus pés e, provavelmente por isso, recebeu a ordem de espalhar pelo mato os pedaços do corpo esquartejado. Depois me prenderam ao dorso do cavalo, finalmente, e partimos num silêncio sepulcral..
#deixesuaopinião
Nossa!!! Eita que quando Alex conseguir resgatar Alê, ela vai tá com sangue nos olhos!!! rsrsrs
Abrs o/
Só espero que Alex chegue logo, Lins… Aléssia está em sérios apuros!
Minha mulher, Aléssia?? Que decepção? com tantas que passou na sua vida, foi escolher logo Alex???
Não me entenda mal, Diana!! Alex é uma personagem fantástica e acrescenta muito na história. Agora, como mulher de Aléssia???
Amei o capítulo, curiosidade já ta me matando. Beijos?
“Minha mulher, Aléssia?? Que decepção?”
Entendemos sua dor. Você não está sozinha, Jamile, tem muita gente torcendo contra esse amor (até porque tem aquelas que sonham em conquistar o coração de Alex, não é? rssss e confesso que também estou nessa fila kkkk)
Não perca as esperanças, ainda tem muita água pra passar por debaixo dessa ponte
Beijos, se cuida, obrigada pelos comentários.
Pelo visto, ela vai ser entregue ao rei, ele vai prendê-la, provavelmente torturá-la nem que seja pscicologicamente para que toque na Pedra, Alex vai demorar pra achá-la, talvez alguém de dentro do castelo a ajude a fugir.
Se eu fosse ela, matava cada um desses homens assim que tivesse oportunidade.
Torturá-la? Você acha que o rei é capaz de torturar a própria filha? Será que Rei Aran é assim tão mau? #medo Vamos torcer para que a Princesa escape ilesa e sem tocar na Pedra!
Quanto a matar todo mundo, acho que Aléssia até tá com uma vontadezinha de fazer isso, mas é meio difícil matar alguém quando você está dopada. Agora, se eles derem uma brecha…….
Obrigada por seus comentários, Letty. Vamos ficar na torcida. Beijão pr’ocê
Caramba… Conseguiram pegar a Aléssia?? Será que Alex vai conseguir resgatá-la antes que a entreguem para o rei?! Ansiosa pelo próximo capítulo ! Amo essa história, beijos autora.???
E nós (eu, Aléssia, Alex, Diana e companhia) amamos seus comentários!
Pois é, Rei Aran não sossegou até capturar a filha. Bom, os soldados ainda precisam entregá-la ao pai, né? Vamos ver o que vai acontecer. Afinal, há um exército rebelde solto por aí. Que o domingo chegue o quanto antes (mas que o sábado demore bastante pra passar… rssss)
Um beijo carinho, Anes