Aléssia

Capítulo VI

POR ƉIANA ŘOCCO

Revisão: Carolina Bivard, Isie Lobo
Cartografia: N. Lobo
Mapa de Âmina

>>> VI <<<

Cheguei a meus aposentos pouco depois do raiar do dia, com os músculos exaustos e a cabeça confusa. Pedi a Lara que me preparasse um banho e, alegando um mal-estar, faltei em meus compromissos diários. Tal atitude seria impossível na presença de meu pai. Decidi aproveitar um privilégio que sua inesperada ausência me dava.

Precisei de alguma artimanha para escapar dos cuidados das criadas que queriam, a todo custo, chamar Malvina para me examinar. Consegui convencê-las de que meu mal era cansaço e preocupação com a ausência do Rei. O que não era exatamente mentira, embora as palavras fossem tênues para expressar quão preocupada eu realmente estava.

No meio da tarde resolvi arejar minha cabeça em um passeio no bosque, coisa que há meses não fazia. Qual não foi meu eto ao encontrar Amaryllis sozinha na pequena clareira que, na infância, nos servia de esconderijo? Estava linda em um vestido de brocado, sentada entre flores, o cabelo esvoaçando ao vento. Seu semblante era bastante carregado e isso me preocupou. Apesar de tudo o que havia ocorrido recentemente conosco, eu tinha enorme carinho por ela e não lhe desejava mal algum. Justo ao contrário – faria de tudo para poupá-la das dores da vida, se isso estivesse a meu alcance.

Apesar de desejar confortá-la, hesitei em me aproximar daquela que, um dia, foi minha maior amiga. Recuei alguns poucos passos, mas um galho seco quebrou a meus pés e o barulho lhe advertiu de minha presença. Imediatamente Amaryllis ficou em pé olhando-me assustada. Era realmente triste ver duas pessoas que se gostavam estranhando-se daquele jeito. Então, enchi-me de coragem e me aproximei.

— Desculpe, não queria incomodá-la. Não fazia a menor ideia de que você estava aqui e quando a vi não quis perturbá-la, já estava indo embora.

— Você não me perturba, Aléssia, não sei de onde tirou essa ideia. As responsabilidades da vida adulta nos afastaram um pouco, mas creio que nossa amizade ainda seja a mesma, não é? Eu, pelo menos, lhe quero enorme bem, e não imagino motivo algum para que você me queira mal.

Sorri feliz, o coração em êxtase. Já tinha perdido a esperança de um dia ouvir palavras gentis vindas da boca de Amaryllis.

— Eu lhe tenho um carinho enorme, Ma, e tenha certeza de que nada irá mudar isso. Nunca.

— Fico feliz em ouvir isso, Aléssia. Ultimamente andava me perguntando se tudo o que vivemos na infância foi apenas coisa de crianças.

Seu sorriso continuava sincero e lindo como sempre fora, mas hoje estava embotado pela mesma tristeza que escorria de seus olhos. Senti vontade de abraçá-la, ampará-la, dizer-lhe que minha proteção seria eternamente sua. Mas tudo o que fiz foi me aproximar mais alguns passos. Agora estávamos perto o suficiente para que eu sentisse o cheiro de sua pele, trazido pelo vento que brincava entre as árvores. Seu aroma continuava inebriante como o vinho. Precisei de força de vontade para não perder a lucidez. Ao que tudo indicava, eu ainda a amava com todas as minhas forças, o que me causava certa confusão, já que também nutria sentimentos profundos por Matilde.

Sentia-me estranhamente tímida em sua presença e lutava contra esse sentimento. Minha amiga precisava de minha ajuda. Separamos-nos por um comportamento inadequado de minha parte, cabia a mim restaurar o mal que havia feito e reconquistar sua confiança. Argumentei secretamente comigo, enquanto contemplava as folhas secas que murchavam a meus pés e, por fim, criei coragem para erguer meus olhos e falar-lhe com franqueza, conforme ordenava meu coração.

— Espero que não se aborreça com minha indiscrição, Amaryllis, mas seus olhos transbordam tanta preocupação… Posso lhe ajudar em alguma coisa?

Seu olhar ficou mais tenso e ela olhou as coisas em volta, evitando me encarar. Sua voz deixou transparecer que algo sério acontecia.

— Obrigada, Alê. É bom saber que você se importa e, sinceramente, eu adoraria que você pudesse me ajudar. Mas infelizmente não pode. Acho que ninguém pode.

Abaixou a cabeça numa expressão de angústia que feriu meu peito. Deixei de lado minhas reservas e a abracei, o perfume de seus cabelos me colocando em um mar de emoções muito agitadas.

— Tente ao menos me dizer o que está acontecendo. Ainda que eu não possa fazer nada, posso ouvir.

Agradeceu minha preocupação com um beijo em minha bochecha e depois se afastou alguns passos. A pergunta que eu temia fazer saiu sozinha de meus lábios.

— Foi o Douglas?

Amaryllis me olhou por um instante e seu olhar tinha tanta dor que perdi o controle.

— Me diz o que aquele bastardo fez que eu mato ele agora mesmo, Ma!

— Calma, Alê! O Douglas não fez nada! Imagine, justo ele que é sempre tão perfeito comigo!

Suas palavras não me convenceram. Por certo ela tentava evitar que eu aplicasse a Douglas seu merecido castigo. Pensei em desembainhar a espada e ir atrás do fedelho naquele exato minuto mas, por sorte, minha prudência falou mais alto e eu quis ter certeza antes de ferir um inocente.

— O que está acontecendo então, Amaryllis? Desculpe minha insistência, mas não é possível que eu não possa lhe ajudar de alguma forma.

Seus cabelos loiros ondularam quando ela abaixou o rosto e ficou bons minutos olhando o chão. Eu estava ficando cada vez mais nervosa com a situação.

— Desse jeito você vai me dar certeza de que o Douglas lhe fez algo. Por que defendê-lo se ele te faz mal, Má?

Seus olhos brilhavam de raiva quando me encarou de novo.

— Deixe de ter raiva do Douglas, Alê! Isso já afastou a gente por muito tempo, será que não está na hora de você crescer? Douglas e eu nos amamos e ele só me faz o bem. Pare de desconfiar dele. Você se comporta como se não existisse mais nada na minha vida além dele!

— Não tenho culpa se essa é a sensação que você me dá.

Ficamos longos minutos em um silêncio constrangedor. De fato, minha amizade com Amaryllis estava perdida para sempre. Já estava me preparando para sair quando sua voz ressurgiu, num fio trêmulo e quase inaudível.

— O que você sabe da viagem do seu pai, Alê?

— Por que você me pergunta isso agora? O que os assuntos administrativos do reino têm a ver com nossa conversa?

— Tudo.

Sua resposta foi firme, olhando diretamente no meu olho.

— Você sabe de alguma coisa, Alê? É importante.

Aquela conversa me fez lembrar o encontro de Mestre Renan com o soldado da guarda de meu pai. Um pensamento que eu vinha mantendo distante, desde então, se tornou claro na minha cabeça: será que Amaryllis estava envolvida com a conspiração também? Sua pergunta agora me deu uma enorme dor no coração. Não era possível que a mulher que eu amava com todas as minhas forças estivesse tramando contra meu pai e, consequentemente, contra mim. Gostaria de agir naturalmente e não deixar que Amaryllis percebesse minhas dúvidas, mas meus olhos tomaram uma súbita expressão séria, que eu não pude evitar.

— Se soubesse não me falaria, não é?

Sua voz soou melancólica, como eu jamais ouvira. Meu coração quase se dilacerou e acho que teria dito algo se eu soubesse de alguma coisa. Estava começando a entender porque meu pai ainda me escondia assuntos de segurança nacional. Não saber foi minha proteção naquele momento, e eu pude lhe responder com toda a verdade:

— Não sei de nada, Amaryllis. Tanto meu pai quanto seus conselheiros insistem em me tratar como uma criança despreparada. Meu pai investe tanto em minha educação e, no entanto, tudo o que sei é teórico. Quando criança eu tinha acesso constante ao gabinete e ao salão de reunião, mas depois que comecei a ter idade suficiente para entender as coisas, minha presença só é permitida quando o assunto não é confidencial. Em outras palavras, só estou presente quando não existe nada importante para ser discutido. Então ficam naquele joguinho tolo de pedir a palavra e exercitar o protocolo, mas as questões nacionais, de fato, são tratadas bem longe de mim. O que me aborrece profundamente. Afinal, como esperam que eu esteja apta a administrar o reino se não posso acompanhar o que acontece aqui?

— Mas seu pai não lhe disse nada sobre a viagem?

— Absolutamente nada.

Ela me olhou com um ar desconfiado e acabou completando:

— Não é possível. O que ele disse sobre a viagem?

Não precisei me esforçar para demonstrar raiva e desapontamento, pois eram exatamente essas as emoções que aquele assunto me causava:

— Acredite se quiser, Amaryllis, mas fui a última pessoa a saber desta viagem. Apenas quando o procurei para o jantar é que me informaram que ele havia partido.

Pareceu desconcertada com a notícia. Por certo imaginava que meu envolvimento com as coisas administrativas era maior e que meu relacionamento com meu pai era mais intenso.

— É realmente estranho, Aléssia. Não foi isso o que me disseram.

Agora foi minha vez de ficar desconcertada. Como assim, não foi o que disseram?

— Como assim? Quem disse? O que foi que lhe disseram, Amaryllis?

— Que o ataque foi ideia sua.

Ataque?

Por um instante duvidei da minha sanidade mental. Ou da dela. De qualquer maneira, o assunto adquirira importância absoluta para mim. Forcei Amaryllis a sentar: a conversa ia ser longa.

— Do que raios você está falando, Amaryllis di Veneris?

Minha amiga me encarou com seriedade e, pela primeira vez, me dei conta do quanto seu rosto hoje era adulto, austero. Tentei localizar alguns vestígios da menina que brincava comigo pelos campos em nossa infância, mas essa parecia morta ou irremediavelmente perdida.

— Tem certeza absoluta que você não sabe, Alê?

— Vai me explicar do que você está falando ou não vai?

— Não é possível que você seja tão estúpida!

Ser ofendida pela mulher que você ama não é a experiência mais agradável do mundo. Estivesse eu conversando com um dos meus colegas e teria respondido com um soco. Mas em se tratando de Amaryllis simplesmente não encontrei nenhuma resposta além de um olhar revoltado. Fechei meus punhos para conter a vontade de agredi-la. Mais do que isso não me ocorreu fazer.

— Obrigada pelo comentário. Mas agora pare de fugir do assunto e conte logo essa história, nos mínimos detalhes.

— Alê! As coisas acontecem na sua casa e você não percebe nada? Não ouve comentários à sua volta? Não sabe do que se passa no reino? Como é possível? Você vive num mundo de fantasia que seu pai criou pra você! Que gostasse de viver nele quando era pequena, tudo bem, mas se recusar a sair depois de ser adulta, isso é cúmulo do absurdo, não acha?

— Suas palavras estão me magoando. E não creio que eu mereça esse tratamento, ainda mais vindo de você, a quem sempre tratei tão bem.

— Não é minha intenção lhe magoar. Mas acho que já está na hora de alguém lhe contar como é a vida real, não é, Princesa?

Falou Princesa com tanto sarcasmo que, se seu intento era me provocar alguma dúvida, tinha conseguido isso com louvor. Pois que pela primeira vez na vida me perguntei se Amaryllis era mesmo minha amiga. Assim como se Mestre Renan de fato merecia meu respeito e admiração. Recuei um pouco meu corpo e recostei numa árvore. Um pouco como maneira de demonstrar que estava tranquila e dominava a situação, mas na verdade eu estava desabando e precisava de apoio.

— Vamos lá, então. Conte-me como é a vida real.

Meu tom não foi menos sarcástico do que o dela. Pela primeira vez na vida estávamos realmente em pé de guerra. Será que Douglas tinha algo a ver com aquilo? Desde nossa briga nos estábulos ele havia abandonado os exercícios de cavalaria e se dedicava, quase exclusivamente, aos negócios de sua família. Embora tivéssemos sido amigos na juventude, eu sabia poucas coisas a respeito dele. De certa forma Amaryllis estava certa, e me doía um bocado ter que concordar. Mas eu vivia trancafiada em meu próprio mundo e importava-me bem pouco com as coisas que aconteciam fora dele.

Talvez eu tenha transparecido uma segurança excessiva, o que Amaryllis não esperava. Ou, quem sabe, aparentei certo descaso pelo que ela tinha a me dizer. Mas o fato é que minha interlocutora pareceu fraquejar. Abaixou os olhos e achei que estava indecisa se devia ou não continuar. Não parecia a mulher quase arrogante que, há menos de um minuto, me desafiava abertamente.

— A culpa nem é exatamente sua. Nunca entendi essa tradição idiota, que mantém os futuros monarcas trancafiados no reino, até se tornar membro do Conselho. Mas, de qualquer forma, você é membro há dois anos e nunca se importou em cruzar esses portões. O que você conhece é esse mundo florido e arborizado. Nunca viu as pessoas famintas que vivem fora daqui. Não faz ideia de como seja a vida dos velhos, sem o conforto de um lar. Dos filhos, sem o carinho de seus pais. Dos amantes, após a morte injusta da pessoa que amavam.

Ela parou me olhando por um longo tempo. Provavelmente aguardava alguma reação de minha parte. Mas tudo o que fiz foi continuar a olhá-la de modo incisivo, aguardando o que mais ela tinha para me dizer.

— E nem é preciso ir longe para conhecer essas coisas. Na verdade, nem precisa sair do castelo para começar a perceber como são as coisas na realidade. Já experimentou visitar o Círculo Militar? Já viu em que condições vive a tropa que protege você e seu pai? Ou… pior e mais perto: já se perguntou como é a vida no Círculo Intermediário, Alê? Já quis saber como vivem esses desgraçados espremidos entre dois muros? Esses pobres coitados que não possuem o privilégio de pertencer nem ao Exército, nem à nobreza?

Suas palavras talvez me causassem algum efeito se eu não conhecesse o Círculo Intermediário. Eu sabia exatamente do que ela estava falando e ainda não tinha me recuperado do choque de descobrir aquele pequeno pedaço de realidade. E naquela época eu nem imaginava que as coisas podiam ser piores. Os moradores do Círculo Intermediário eram privilegiados em relação aos campesinos e moradores das vilas distantes do castelo.

Meu silêncio, provavelmente, reforçava sua certeza de que eu era estúpida ou insensível. Quando me interpelou novamente sua voz era de profunda impaciência. Quase raiva.

— Nunca se preocupou em conhecer essas coisas, Alteza? Nunca quis saber a verdade sobre o povo que você, um dia, haverá de governar?

— Guarde sua ironia e seu rancor para outro momento. Você fala como se fosse muito diferente de mim, Amaryllis. Como eu, foi criada dentro desse castelo. E se saiu daqui alguma vez, o fez já adulta, pois na infância, até onde eu saiba, você também nunca cruzou o muro.

— Não me compare a você, Aléssia Valentina!

Seu tom de voz se alterou e ela ficou em pé quase que num salto. Levantei também, os punhos cerrados, um desejo de briga, uma raiva profunda. Olhava-a nos olhos e me sentia mais rejeitada do que nunca. Eu, a futura Rainha de Âmina, a pessoa que qualquer súdito daria a vida para conhecer e que ela, Amaryllis, se dava ao luxo de desprezar veementemente.

— Sente-se insultada de ser comparada à futura Rainha de Âmina?

— Sinto-me insultada de ser comparada a qualquer um de sua laia!

Cheguei a erguer o braço para desferir um tapa em seu rosto. O tapa que, se tivesse acontecido, selaria para sempre a inimizade entre duas pessoas que haviam se amado a vida toda, praticamente.

— Vá em frente, Aléssia. Prossiga, prove que estou certa.

Seu queixo erguido num gesto de desafio que, vindo dela, me era totalmente desconhecido, mostrava-me que minha companheira de infância estava, definitivamente, disposta a tudo. Mas por que raios essa mudança de atitude? Por que essa postura agora de franco desafio? Abaixei a mão e me aproximei até ter meu rosto praticamente colado ao dela. Guarda aberta, se ela quisesse que me esbofeteasse. Eu não desceria a esse nível, não cederia toscamente à sua provocação. E tratei de recolocar a conversa no rumo que realmente me interessava:

— Já chega de encenação, Amaryllis. Diga logo que ataque foi esse cuja ordem você imaginou que tivesse sido minha. Você pode até não acreditar, mas tenho andado a juntar informações do reino e, sim, ao contrário do que você imagina, estou muito interessada em saber o que acontece além desses muros.

— Se está tão interessada por que nunca saiu daqui?

— Quem lhe disse que nunca saí?

Por um segundo, seus olhos transpareceram algo muito semelhante à dúvida. Olhou-me com certa inquietude antes de se pronunciar.

— Não tente me impressionar, Aléssia. Sua presença além-muro teria causado tal reboliço, que seria impossível esconder o fato.

— Não me subestime. Mais: não subestime o trabalho de seu pai. Sou melhor preparada do que você imagina.

O silêncio de Amaryllis me pareceu tão longo que achei, mesmo, que a qualquer momento ela fosse se virar e me deixar falando sozinha. Do meu ponto de vista, o que ela fazia era tentar encontrar uma saída para não citar o tal ataque. Se é que isso tinha realmente existido. E, se existiu, não teria, por um acaso, relação com a conversa estranha que ouvi do pai dela? E que sentido faria julgar que algum ataque contra nosso reino poderia ser ordenado por mim?

Ou não se tratava de um ataque contra nosso reino?

Já havia perdido as esperanças quando ela, após aquilo que deve ter sido um longo, longuíssimo julgamento, explicou suas palavras.

— Se é tão bem preparada quanto diz então é bem provável que tenha sido, sim, a mentora do ataque ao Monte Vermelho.

Segurei a vontade de explodir em riso diante dela. Quem, em sã consciência, atacaria a montanha? E por qual motivo, já que o lugar era desabitado.

— Não faz o menor sentido.

— Por que não, Alê?

— Por que alguém atacaria a montanha?

Amaryllis me olhou ainda mais intrigada e parecia lutar contra ideias contraditórias.

— Ou você é mesmo muito estúpida ou está tentando me convencer que é. Estou de olho em você, Aléssia Valentina. Eu já escolhi meu lado nessa guerra e é bom que você saiba, desde já, que não estou nas fileiras do seu exército.

Seus passos duros quebraram o silêncio, assustaram os pássaros, enquanto ela se afastava na direção do portão oeste. Parou um pouco adiante e, me olhando com desprezo, berrou algo que talvez lhe soasse como ofensa:

— Meu pai é um estúpido por confiar em você, Aléssia. Mas eu não me importo de ter que lutar contra ele também. Já está na hora de sua família perder os privilégios que mantém às custas do povo!



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