POR ÐIANA ŘOCCO
Revisão: Naty Souza
Cartografia: N. Lobo
Mapa de Âmina
>>> LVII <<<
Encontrei Irina em frente à janela, e suspeito que tenha tentado ver o que acontecia no pátio. Até hoje não sei se estava consciente da presença de seu cunhado em nossa residência. Minha preocupação era como ocultar sua presença durante o tempo em que a comitiva permanecesse em nossos domínios. Tendo ferido gravemente meu noivo, forçara a permanência dos homens de Condado Kent, pois agora cabia a meu pai oferecer os préstimos de Malvina para o reestabelecimento do príncipe.
E então viriam as bodas.
No meio disso tudo estava Irina, a Princesa de Altnasfera, servindo-me como escrava.
Ordenei que se afastasse da janela e fui prontamente atendida. Sentou-se na beira de minha cama, acuada, e não reclamei. Controlava a vontade de chorar e senti vontade de sentar a seu lado e me desesperar junto. Como poderia mantê-la a salvo? Para meu pai seria mais simples executá-la e responsabilizar os rebeldes por isso.
Então tive o lampejo de uma ideia. Era arriscado, e provavelmente uma ideia tola. Pensei em Lara, morta por me ajudar. Que direito eu tinha de envolver inocentes naquele lodaçal familiar?
Mas, que outra solução eu poderia encontrar? Conseguiria proteger Irina enquanto estivesse no Castelo. Porém, em poucas semanas eu partiria. E o que impediria meu pai de se livrar daquele estorvo diplomático?
Não tinha escolha, e não consegui pensar em nada melhor que aquilo. Recolhi uma de minhas roupas velhas no armário e mandei que Irina a vestisse. Olhou-me com eto, entretanto um berro foi o suficiente para que obedecesse. Soluçava profundamente, mas colocou as roupas e já não se parecia tanto com ela mesma.
Lá fora começou um barulho de rodas e cavalos, contudo não dei atenção. Minhas preocupações eram mais urgentes. Abri a porta e gritei por Rafa, meu pequeno escudeiro. O menino apareceu no salão principal, e ficou confuso quando o mandei subir. Não tinha permissão para entrar em meus aposentos privados.
— Posso confiar em você? — perguntei-lhe de chofre assim que entrou. O garoto tremeu, confuso, enquanto observava Irina encolhida a um canto do quarto.
— É importante, Rafa, posso confiar em você?
Inclinou levemente a cabeça, com medo demais para me confrontar. O menino tinha quase catorze anos, e era mais baixo que os meninos de sua idade.
— Preste atenção! O que preciso que você faça é importante e perigoso. Acredite, eu não lhe pediria isso se houvesse outra opção. Mas não há. Preciso que me ajude a salvar a vida dessa mulher.
O rapaz a olhou longamente, possivelmente confuso pelas roupas de Irina.
— Você nunca poderá falar sobre isso, com ninguém. Se o fizer, você e ela podem ser mortos. Compreendeu?
O garoto continuava relutante. Era um bom menino, assustado com a responsabilidade de me servir. Como todos os meninos de sua idade, sonhava em ser guerreiro, entretanto tinha uma índole delicada demais para os riscos da profissão. Talvez eu tivesse me precipitado ao confiar no garoto e agora não tinha mais volta.
— Você quer ser um guerreiro, não quer? Ele assentiu com a cabeça. E você sabe qual a missão de um guerreiro?
— Meu pai diz que soldados deveriam salvar as pessoas, porém não é isso o que fazem.
— Não estou falando de soldados e sim de heróis, Rafa. Você quer ser um herói?
Seu rosto se iluminou.
— Então faça o que estou dizendo. Leve Irina até a casa dos seus avós.
— Não!
Irina levantou-se, nervosa. Olhava-me em tom de desafio, estava disposta a me enfrentar. Talvez soubesse que a delegação de Condado Kent estava aqui, pois nesse caso retirá-la da casa principal seria uma espécie de segundo sequestro.
— Eu não vou a lugar algum. Mate-me, se quiser! Eu não vou!
— Quem irá matá-la é meu pai. É por isso que você vai. Você tem razões de sobra para me odiar, eu sei. Todavia, agora sua vida depende de mim. E você vai fazer o que eu mandar. Irá para a casa dos avós de Rafa e ficará lá até que eu mande buscá-la. Depois disso, estará livre.
— Livre?
— Sim, livre. Voltará para sua casa. E cuidarei pessoalmente para que chegue em segurança.
Ela cuspiu em mim, o que fez Rafa perder o fôlego. Não revidei nem a castiguei por isso.
— Você não tem escolha — disse, depois de limpar o rosto — Sua vida corre perigo se ficar aqui.
— Minha vida é um inferno desde que sua família me sequestrou. A morte é muito melhor do que isso.
Senti o ímpeto de consolá-la, entretanto não podia. Precisava escondê-la. E rápido!
Alguém gritou para que abrissem o portão e cascos de cavalos patearam no chão. Gritos, uma discussão, e tudo isso tornava ainda mais urgente tirar Irina da casa.
— Você consegue sair da casa sem ser visto, não é?
— Já fiz isso muitas vezes, Alteza — o garoto confessou com picardia. Sorri maliciosamente e despenteei seus cabelos.
— Leve essa teimosa com você, e volte imediatamente para cá! Ninguém pode saber. E quando meu pai começar a esbravejar, perguntando por minha escrava, você não sabe de nada. Entendeu?
Deixei-os no quarto e fui ver o que acontecia fora da casa.
A delegação de Condado Kent havia partido. Os portões estavam fechando quando parei ao lado de meu pai. Rei Aran ordenara que os convidados fossem acomodados, enquanto se organizava os preparativos para o casamento. A mera menção às bodas ofendera Sir Armand, e foi essa a discussão que ouvi. O príncipe ordenou que seus serviçais o levassem embora, apesar da gravidade de seus ferimentos.
Muitos anos depois, encontrei um homem que fazia parte daquela comitiva. Contou-me como os homens levaram seus cavalos em trote lento, seguindo pelo curso do rio, que era obviamente o caminho mais longo. A viagem poderia ter sido feita em três dias, mas completaram o percurso apenas ao fim do oitavo dia. As feridas gangrenaram no caminho. Quando atingiram o castelo em Condado Kent, o corpo de Sir Armand cheirava mal.
Foi por essa demora que tivemos sossego em Âmina nos dias seguintes. Aparentemente, Rei Aran não sentiu falta de Irina. Estava obcecado com a necessidade de me encontrar outro noivo. Todavia, a notícia de como o rompimento se dera, havia se espalhado de forma etosamente rápida, desencorajando outros pretendentes. Eu não me encaixava no perfil de mulher virtuosa, boa parideira, mãe zelosa. E, apesar da importância de meu reino e da riqueza de meu dote, nenhum governante parecia disposto a dar seu filho como fantoche de uma degenerada.
Era assim que me chamavam às minhas costas, e eu sempre soube. Filha do demo e aberração, eram outros dos tantos apelidos carinhosos. Nunca dei importância. Estava ocupada demais sendo quem eu era. E naqueles dias a fama de degenerada me ajudara a escapar do casamento. Transtornado, meu pai estupidamente concentrava sua atenção nos preparativos de um ritual de bodas, para o qual não havia noivo disponível.
Aproveitei a oportunidade para organizar o exército e rever meus planos. Era minha única chance. Qualquer falha me condenaria para sempre.
Rafa parecia mais atento e cuidadoso, desde que lhe pedi para esconder Irina. Nunca mais tocamos no assunto, como se aquele pedido jamais tivesse acontecido. Eu o mantinha próximo de mim e lhe ensinava detalhes sobre armaduras, espadas e lutas. Treinava as tropas na batalha de parede de escudos e o mantinha em posição estratégica para aprender com os soldados mais velhos. Minha intuição dizia que Rafa seria um grande soldado, apesar da baixa estatura, e eu não estava errada.
Assim a lua cresceu, até virar uma roda de luz no céu estrelado, e encolheu até desaparecer completamente. E esse era o dia.
Os melhores dias da semana são Domingo e Quarta justamente por causa de sua história. Poderia acrescentar mais um dia a lista, basta postar um capítulo extra porque Domingo está muito longe kkk
Espero que Irina perdoe Aléssia apesar de tudo.
Já tô com saudade da Alex, ela aparecerá no próximo capítulo?
“Os melhores dias da semana são Domingo e Quarta” #MORRI que coisa mais linda! Mas, poxa, se eu acrescentar mais um dia a essa lista, Aléssia acaba antes da hora rssss
Domingo tá chegando, curta essa ansiedade gostosa, de ficar aguardando o próximo capítulo. Afinal, tá acabando…
Obrigada pelo carinho, Letty, nos veremos novamente no domingo
Oi Diana
Ai que tortura mulher, esperar o próximo capítulo! Rsrs Que saudade de capítulos extras… ?
Abrs ?
Ownn… vocês são as leitoras mais fofas desse mundo! Mas ó, se eu publicar algum capítulo extra, Aléssia vai acabar ainda mais rápido Que tal ler os capítulos anteriores, pra ir matando as saudades? Logo, logo é domingo, te juro
Gratidão por todo o carinho, espero que o resto da sua semana seja maravilhoso.