POR ÐIANA ŘOCCO
Revisão: Carolina Bivard, Isie Lobo
Cartografia: N. Lobo
Mapa de Âmina
>>> LV <<<
Chegamos pouco depois do horário de almoço. Ordenei que cercassem a casa e não permitissem qualquer aproximação enquanto eu estivesse lá. Quando a segurança estava estabelecida, bati na porta.
Não há dúvidas que Matilde não esperava minha visita. Certamente sabia de meu retorno e, como os demais, acreditava que eu havia me aliado a meu pai. Apesar do aprimorado autocontrole, seu rosto mostrou surpresa e medo. E não facilitei as coisas para ela.
Olhei-a com desdém e dei um passo em direção a porta mas, para meu eto, a meretriz barrou minha passagem. Com escárnio, sacudi uma sacola de dinheiro a sua frente. Isso não mudou sua atitude.
— Meu pai agora lhe paga para ter exclusividade sobre seus serviços?
Falei entre dentes, baixo, para que apenas ela ouvisse, mas Matilde entendeu a ameaça e, a contragosto, me deixou passar.
Receber-me em uma cama devia ser o sonho de qualquer espião. Mas quem sabe o que se passa na cabeça das mulheres? Talvez Matilde pensasse que eu queria vingança. Minha intenção era muito diversa, contudo.
Eu me preparara para aquele encontro durante semanas. Mesmo assim, senti meu coração acelerar ao ouvir seus passos dentro da casa, e precisei de força para evitar as lágrimas quando o rosto de Matilde apareceu na porta. Agora eu deslizava pelo batente, do mesmo modo que fizera tantas vezes em anos anteriores. A casa tinha o mesmo cheiro floral e as paredes ocres fizeram meu coração saltar doloridamente. O vento passou forte pela janela do quarto e a cortina se agitou. A mesma cortina que Matilde fechava sempre que eu entrava em sua casa.
Quão diversos eram aqueles dias desse momento que vivíamos agora! A cortesã manteve-se de costas sem adivinhar o quanto eu controlava meus sentimentos. Assim que fechei a porta, deixou que o vestido deslizasse até o chão. Senti a boca seca ao ver suas costas nuas.
Alexandra. A antiga amizade entre as duas. O passado de Matilde. O ressentimento de Alex ao saber de meu envolvimento com sua amiga. De tudo isso eu me lembrei.
— É com esse descaso que você recebe a nobreza do reino?
Não sei como consegui aquele tom de voz tão frio. Matilde olhou-me de soslaio, impaciente, e com a cabeça indiquei a janela do quarto. Minha primeira amante fez uma mesura de desculpas e correu para reparar a falta, vedando a janela. Parei na porta do quarto e senti falta de ar ao ver a cama onde aprendera a arte do amor. Mas havia questões mais importantes a tratar, por isso recuei até a sala e fiz um sinal para que ela me seguisse.
— Teria muitas coisas a lhe dizer, Matilde, se as circunstâncias me permitissem. Tenho que lhe pedir desculpas pela maneira como a tratei, da última vez em que nos vimos — falei baixo, sendo sincera, finalmente.
— Se foi isso o que a trouxe aqui, Princesa, saiba que não há com o que se incomodar. Pode se retirar. Ou usufruir dos serviços pelos quais pagou.
Eu merecia aquele descaso. Além do que, a situação não estava nem um pouco a meu favor. Por que ela deveria confiar em mim? Tinha muitos relatos e provas que lhe diziam exatamente o contrário.
— Não, na verdade não foi isso. Preciso que mande um recado meu a Alexandra.
Seu rosto, acostumado à mentira, não demonstrou nenhum sinal de reconhecimento.
— Não conheço nenhuma Alexandra, Alteza.
— Diga a essa Alexandra, que você não conhece, que eu estou lúcida, embora minha atitude não demonstre isso. Sei que existem outros espiões no Castelo, e sei muito bem que tipo de informação estão dando aos rebeldes. Mas quero que entendam que não tenho alternativa. Fui forçada por meu pai a fazer o Pacto com a Pedra. Mas algo não saiu como o Rei esperava… e… bem, eu mantenho o controle sobre meus pensamentos.
Matilde ouviu em silêncio. Parecia uma parede ou uma porta. Não admira que fosse a principal informante de Mestre Renan.
Eu é que perdi a compostura.
Embora procurasse manter o controle, havia coisas demais em curso. E um maremoto de lembranças e sentimentos me invadia. Uma lágrima escorreu contra minha vontade. Mirei as tábuas do chão como se fossem as coisas mais bonitas desse mundo.
— Você se lembra de Lara, minha aia?
Ergui o rosto para que a cortesã visse minha dor. A pergunta causou a primeira reação em Matilde. Provavelmente já sabia o que eu estava prestes a contar. Acenou positivamente, então continuei:
— Meu pai a decapitou na minha frente. Foi assim que me aprisionaram. Ele a usou como escudo e, quando entreguei minha espada, ele a matou e fez o sangue jorrar sobre a Pedra Sagrada.
Pedi aos céus que me dessem força para contar. Tudo aquilo precisava ser dito, e rápido. Nosso encontro não poderia parecer mais do que uma trepada ocasional no meio da tarde. As lágrimas cegavam-me.
— O desespero me imobilizou — continuei — e meu pai me arrastou até a Pedra, segurou minha mão presa à rocha enquanto me obrigava a proferir o juramento. Não é nada honroso, mas sou obrigada a admitir que não conseguia fazer nada além de chorar.
Minha garganta arranhava, seca, e eu falava com dificuldade. Fui obrigada a pedir um copo de água para Matilde, e ela não me recusou.
Agradeci pela água e retomei o fôlego:
— Vi muitas coisas naqueles instantes em que era obrigada a me submeter à Pedra. Não vou lhe dizer tudo, porque nem sequer me lembro. Mas vi minha mãe e ela falava comigo. Falava sobre uma benção que impede a Pedra de me comandar.
Tinha esperanças de que isso desse confiança a Matilde, mas ela não esboçou nenhuma reação, de forma que não sei o efeito dessas palavras sobre a cortesã mais famosa de Âmina.
— Lembro de ver um homem saindo da Pedra e caminhando para duas pessoas que estavam no Bosque Sagrado do castelo. Eram um homem e uma mulher, ambos ruivos como eu. O homem usava minhas roupas de guerra e a mulher trajava minha túnica cerimonial. E o homem da Pedra tentava conquistá-los. Fazia a cada um propostas de fama, fortuna, poder. Mas quando um deles cedia, o outro atacava o homem. E assim ele não conseguiu controle sobre nenhum deles.
Ficamos em silêncio por alguns torturantes minutos. Apesar do rumo da conversa, Matilde continuava nua à minha frente. Controlei a vontade de tomá-la em meus braços e reviver nosso passado. Pensar em Alex enchia-me de remorso. Será que Matilde sabia do meu relacionamento com sua melhor amiga?
— Acordei em minha cama na casa principal — continuei meu relato — ardendo em febre. Meu quarto estava vigiado por soldados e ninguém entrava ou saia sem permissão de meu pai. O Rei estava à minha cabeceira, aguardando que acordasse. Julgam que ele cuidava de minha saúde, eu penso que estava ansioso para ver o resultado.
Tomei mais um gole de água e continuei:
— Levei alguns dias para perceber que estava livre. Nos primeiros momentos, sentia-me fraca e derrotada. Não tive ânimo para discutir ou lutar e isso acabou sendo positivo. Porque quando percebi o que estava acontecendo, pude assumir o controle da situação.
Creio que a essa altura Matilde já havia percebido o que eu tinha a dizer. Mas parecia um vaso decorando a sala – nada daquilo lhe dizia respeito.
— Confesso minha burrice ao assumir que levei dias para entender as imagens de meus sonhos. Mas são completamente claras. As palavras de minha mãe também: possuo uma benção que me salva do controle da Pedra…
Matilde continuou calada, mas algo faiscou em seus olhos e, talvez por isso, tenha repentinamente decidido se vestir e entrou no quarto.
Terminei o copo de água e continuei com a garganta seca. Tomei a liberdade de caminhar até a cozinha e me servi de mais um pouco de água. Matilde me esperava na sala.
— Perdoe pela invasão, mas tenho muita sede — comentei, mostrando-lhe o copo. Ela não respondeu. Olhava-me com severidade, mas havia uma tênue esperança no jeito como me encarava. Creio que estava com medo de acreditar que eu não estava do lado de meu pai, afinal.
— Quando percebi que a Pedra não me controlava, entendi que precisava convencer meu pai do contrário. Era isso o que ele esperava para saber se me poupava ou me matava. Meu pai tem muitos filhos bastardos, você deve saber melhor do que eu. E o mais velho já está no Castelo. Não sei se já foi apresentado à Pedra, ou mesmo se fez o juramento, mas sei que meu pai não hesitará em declará-lo seu herdeiro, se isso for necessário.
— Você conheceu seu irmão? — era a primeira vez que me dava o direito ao diálogo.
— Oficialmente, não. Mas já o vi nos arredores da Casa Principal, e não é difícil saber quem é seu pai.
Ela concordou com a cabeça. Tudo o que eu dizia fazia sentido para ela. Mas havia um problema: se eu tivesse me unido a meu pai, agora ele saberia que ela era uma traidora. E minha presença ali podia ser uma armadilha. O erro nesse raciocínio é que meu pai não se daria ao trabalho de montar uma armadilha: mandaria torturá-la e depois mataria da forma mais cruel que encontrasse.
— Seu pai a ama — disse secamente.
— Meu pai é um homem atormentado que não possui domínio sobre a própria consciência.
— Acredita mesmo que ele poderia matá-la?
— Ele não. Mas a Pedra que o domina, sim.
Matilde retomou o controle de si e não deixava transparecer qualquer sentimento. Suas perguntas poderiam ser mais espionagem do que interesse em mim. Tudo o que eu queria era que Alex soubesse o que estava me acontecendo, por isso continuei falando.
— A Pedra domina a mente de seu hospedeiro. É isso o Pacto da Pedra. Ela possui consciência, mas não possui um corpo, por isso oferece poder e riqueza a quem lhe cede a própria mente. Firmou um pacto de sangue com meus antepassados, e desde então vive sob a pele dos Amaranto. Passa de pai para filho como uma herança maldita. Mas eu sou o fim de seu caminho porque, embora meu pai tenha me obrigado ao Pacto, a Pedra não consegue encontrar espaço em minha consciência.
— Você parece muito confiante quanto a isso, não é?
— Demorei um pouco para conquistar essa confiança. Ela veio depois que entendi as imagens que vejo em sonho, desde a noite do pacto.
Matilde olhava-me de sua caverna, isenta de qualquer reação.
— Lembra-se do que lhe disse que vi na hora do Pacto?
— Um homem e uma mulher, ambos ruivos como você, o homem com sua armadura, a mulher com sua túnica cerimonial.
Concordei com um gesto de cabeça.
— A Pedra pode controlar um homem ou uma mulher. Mas você não é nem um, nem outro. É isso, não é?
— Não, é o contrário: eu sou ambos.
Nesse instante os olhos de Matilde brilharam em compreensão.
— A Pedra pode controlar uma pessoa, mas é como se eu fosse duas, por dentro — falou com assombro —Ela está tentando encontrar uma forma de envolver ambos, mas ainda não conseguiu.
— E enquanto tenta, eu escapo. Antes podia senti-la dominando meu corpo, arrastando minha alma para pântanos. Agora apenas a vejo lutando para obter controle sobre as duas almas que habitam meu corpo. Não há espaço para a Pedra. Já somos muitos aqui dentro.
Pela primeira vez, nesse nosso encontro, havia alegria e esperança em Matilde. Apertou o próprio peito como se temesse perder o coração descompassado.
— Mas há uma coisa que me preocupa — eu disse, tirando-a do estado de alegria quase plena.
— O quê?
— Por que a Pedra ainda não contou a meu pai que não controla minha mente?
A meretriz pareceu não entender o que eu dizia.
— Durante meu período de fuga, meu pai conseguia me localizar porque a Pedra lhe mostrava o que eu fazia. Por que não faz o mesmo agora?
Matilde pensou por alguns instantes.
— Qual a diferença entre a Marca e o Pacto?
Não mencionei a Marca, e me etei que Matilde soubesse de sua existência.
— Não sei ao certo — admiti.
— Você tem a Marca e fez o Pacto. Não consegue comparar um e outro?
Toquei instintivamente a Marca em meu braço. Não a sentia desde o dia do Pacto.
— A Marca é uma espécie de porta de entrada — falei, enquanto organizava meus próprios pensamentos. — Através dela, a Pedra tentava me controlar. Não, não controlar exatamente… tentava me trazer de volta e me obrigar a realizar o Pacto.
— Por que o Pacto é assim tão importante para Ela? Se a Marca é, como você diz, uma porta de entrada, por que quer tanto que se firme o Pacto? Por que a Marca não basta?
Era uma boa pergunta. E senti vontade de beijar Matilde ao encontrar a resposta:
— Porque a Marca é imposta! O Pacto é uma submissão da vontade. Só com a abertura da vontade é que a Pedra pode, de fato, habitar o corpo de seu hospedeiro! É isso!
— Habitar…
— Você acha que…
— Estive com seu pai há dois dias. Pela primeira vez o vi angustiado. Falou apenas sobre duas coisas: a alegria de tê-la de volta, e a solidão de não sentir mais a companhia da Pedra.
— Meu pai não sente mais a Pedra?
— Uma alma não pode habitar dois corpos. Pode influenciar vários, mas só pode habitar em um.
— E agora está presa dentro de mim… e não pode me controlar!
Senti vontade de berrar de alegria, de tomar Matilde em meus braços e dançar pela casa. Pela primeira vez eu via uma possibilidade de vitória. Talvez pudesse, enfim, livrar meu pai da maldição.
— Mas isso é apenas um palpite, Alê. Juntando as coisas que você e ele me disseram. Mas, se for verdade, então há uma chance de vitória.
— E de salvar meu pai — completei imediatamente, ainda sorrindo por ouvi-la pronunciar meu nome, com tanta docilidade, pela primeira vez em anos.
Matilde suspirou, quase incrédula.
— Você gostaria disso, não é? Tenho medo de que acalente essa esperança e sofra muito ao final.
Pela primeira vez nos olhamos com ternura.
— Ainda há um coração aí dentro? — ela disse — Achei que tivesse sido substituído por uma pedra.
— Se depender de mim, jamais será — falei com franqueza. — Mas meu comportamento não é condizente com o que sinto. Sei que você tem ouvido coisas horríveis a meu respeito.
— As piores possíveis, na verdade.
— Não me orgulho disso. Mas meu pai me vigia a cada passo, analisa cada uma das minhas atitudes. E não sei o que aconteceria se percebesse que estou livre. Além disso, não sabia que a Pedra não o habita mais… Talvez agora haja uma esperança de…
Matilde não deixou que eu terminasse meu raciocínio.
— A Pedra não o habita, mas ainda o domina. O coração de seu pai está seco. Mesmo o amor que por você não parece tão forte.
— Então é exatamente como lhe digo, não tenho alternativas — arrematei com um suspiro — Você entende o que tenho feito, Matilde?
Ela concordou com a cabeça.
— Você se saiu muito bem na tarefa de convencer as pessoas de que há uma nova Aléssia. Os criados da Casa Principal, que antes eram capazes de morrer por você, agora a desprezam ou odeiam.
— Não sinto alegria nisso. Tenho levado dor a muitas pessoas. Mas preciso pensar além.
Matilde concordou mais uma vez, e aproveitei a oportunidade para encerrar minha missão ali. Já estava me demorando além do que pretendia.
— Preciso que Alexandra saiba de tudo isso, Matilde. Posso contar com sua ajuda?
Ela sorriu com simplicidade.
— Ela saberia de tudo isso, mesmo que você não quisesse, Alê. Transmito tudo o que sei.
— Eles já sabem de meu pai? Sobre não sentir a Pedra?
— Sabem. Alex me disse inúmeras vezes que você iria me procurar para pedir ajuda, mas com tudo o que eu ouvia a seu respeito, não acreditava mais nisso. Agora estou feliz em dar o braço a torcer. Os rebeldes vão comemorar as notícias que enviarei.
— Preciso que você diga uma coisa a mais a eles, Matilde.
— O que desejar, Alteza.
Ri, porque dessa vez sua vênia era uma chacota, ela sabia que eu odiava quando me chamava assim.
— Diga-lhes que eu estou no comando do Exército Real. Na próxima Lua Negra vou tirar o exército do castelo. Vou comandar meus homens para ataques em três povoados distintos: Furta-lhe a Volta, Desterro e Entre Montes. Não vou comandar o exército o tempo todo. Depois de dividir as companhias, retornarei com um pequeno grupo de porta-estandartes. Preciso que façam o seguinte: esvaziem os povoados, para que o exército não encontre ninguém quando lá chegar. Depois marchem até Parada Segura e me esperem. Voltaremos conduzindo os estandartes do Exército Real e vamos entrar pelo portão principal. Quando perceberem o que está acontecendo, será tarde demais — o Castelo de Três Círculos terá sido invadido pela primeira vez em nossa história!
Matilde não conseguia esconder sua satisfação,
— Você confia mesmo em mim, não é, Aléssia?
— Se não confiasse, agora estaria morta.
Ela riu e concordou. Então ficamos em silêncio e parecia não haver mais nada a ser dito. Ou melhor, havia tanta coisa por dizer que era melhor nos calarmos. Assim, fiz um gesto em direção à porta e comecei a me despedir, mas para minha surpresa Matilde me conteve.
— Vai sair assim, com esse ar de quem veio tomar o chá da tarde comigo?
Abraçou-me pela cintura e puxou meu corpo para mais perto do seu. Minha pele se arrepiou no mesmo instante. Os braços de Matilde eram meu porto seguro e, céus, como teria sido bom descansar neles naquele momento! Mas agora havia Alex entre nós. Seu rosto transtornado ao descobrir meu envolvimento com sua melhor amiga me assaltou. Matilde, ignorando essas coisas, apenas me queria em sua cama, e para lá me puxou.
— Além do que você pagou pelos meus serviços, nada mais justo do que usufruí-los, não é?
Suas mãos sempre foram hábeis em encontrar minha pele por debaixo dos panos. Juro que tentei resistir, mas dei por mim já sobre seu corpo na cama onde tantas vezes vivemos nosso prazer. Senti seus dedos subirem por minhas costas e por alguns instantes o mundo era perfeito. Eu não tinha problema algum além de esquecer Amaryllis e amar Matilde. Mas a verdade era mais complicada, tinha nome e sobrenome: Alexandra O’Liath.
— Preciso ir embora, desculpe-me, Matilde.
Soltei seus braços a pulso e tentei colocar-me de pé, mas a cortesã era mesmo profissional em suas habilidades e novamente enredou-me.
— Você não é mais aquela menina leve e ávida por aventuras não é? Disse num tom que era triste, mas não tinha nenhuma reprovação.
— O tempo passa. Aconteceu tanta coisa depois…
Seus lábios alcançaram os meus, e senti seus seios roçarem meu peito. Alex jamais me perdoaria aquela traição, eu sabia. Isso simplesmente não podia acontecer.
— Não. Desculpe, Matilde, mas não posso mais.
— Do que você tem medo? Você não acha… Ah, Alê, sei meu lugar. Nunca vou lhe exigir nada, meu amor…
Abraçou-me forte e afagou meus cabelos, enquanto sussurrava com nervosismo:
— Eu te amo, Alê, eu te amo!
Senti as lágrimas rolarem no seu rosto colado em minha pele. A voz vinha cortada, sufocada, sofrida, como uma caixa de segredos que se rompesse e liberasse aos quatro ventos aquilo que antes se esforçara para manter guardado.
Apertei-a forte contra meu peito e naquele momento doeu-me não poder lhe dizer o mesmo. Sim, eu a amava, e como! Mas não como ela queria. E naquele fim de tarde mormacento, não encontrei palavras para confessar. Nem tive coragem de lhe dizer de meu relacionamento com sua melhor amiga. Ainda hoje me culpo por meu silêncio. Quantas vezes já roguei aos céus que me dessem uma nova chance, que me dessem a oportunidade de dizer a Matilde quão intensamente a amei!
Mas amava também Alex, e não ousava viver sem ela. O que teria acontecido se, naquela tarde, eu tivesse contado a Matilde de meu amor por Alexandra dos Olhos Cinzentos?
Meus pensamentos caem em silêncio e vazio sempre que me pergunto isso. Mas o que importa uma mera hipótese? Naquela tarde, naquele instante, não tive coragem. Soltei as mãos de Matilde de meu corpo, recolhi minha capa do chão do quarto e saí apressada.
Os soldados me viram surgindo na porta com as roupas desarrumadas e o cabelo embaralhado. Não foi proposital, mas foi perfeito. Montei Amora e esporeei levemente sua barriga, levando-a para longe da casa. Matilde não veio se despedir, e eu disse a mim mesma que tudo estaria esclarecido dias depois.
Agora estávamos em guerra.
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Matilde?
Tive impressão que algo ruim vai acontecer com Matilde?
Odeio a Alexandra! ????
Beijos? até domingo..
Bom dia Jamile
Sim, Matilde! E vou aproveitar pra confessar meu amor por ela. Matilde é uma das minhas personagens prediletas em Aléssia. É uma pena que o coração da princesa tenha encontrado um outro rumo. Com Alexandra se colocando entre elas, creio que Aléssia não terá coragem de manter Matilde como sua amante Mas… vejamos o que os próximos capítulos nos trarão, não é?
Obrigada pelo carinho, até domingo
Oi Diana
Muita coisa pra assimilar nesse capítulo. Matilde demorou para acreditar no que Alê tava contando. Poxa que situação da princesa sem poder contar pra Matilde que agora está com a Alex. Triste por ela. Mas uma notícia boa é que a pedra apesar de ainda dominar o rei não pode mais se comunicar com ele, né?
Esperando anciosamente pela continuação!
Abrs ?
Oi Lins, como vai?
Estamos nos aproximando do fim de nossa aventura, e Aléssia parece muito diferente do que era no início. Não é de se admirar que Matilde tenha estranhado, não é? Afinal, poderia muito bem ser uma armadilha. Mas acho que o doloroso dessa semana é os sentimentos contidos, de parte a parte. No fim Matilde consegue explodir e confessar seu amor por Aléssia, mas a princesa teve juízo dessa vez, e não ousou fazer nada que pudesse magoar Alex. A Olhos Cinzentos se colocou definitivamente entre as duas, ainda não tenha tido essa intenção em momento algum. O destino nos prega peças, não é?
Gratidão pelo comentário, adoro te encontrar por aqui