Nicole encerrou a música e devolveu o violão para o dono. No instante seguinte, estava pendurando um cigarro nos lábios, buscando uma calma que, sabia, não iria alcançar daquela maneira.
Tinha visto Aléxia se afastar em direção a escuridão e, um minuto depois, Lis fez o mesmo. Torceu para que ela retornasse logo, mas nada aconteceu. Os minutos se arrastaram, enquanto dedilhava o violão com olhar fixo na direção que elas tomaram e, a cada nota tocada, a certeza de que Aléxia estava se entregando as mentiras e beijos daquela criatura irritante se tornava maior.
Pensou em ir até lá, mas não podia lutar todas as batalhas por ela, nem declarar seus ciúmes tão abertamente, afinal, seu relacionamento era uma mentira. Dependia de Aléxia dar um basta naquela situação. Contudo, não conseguia afastar aquele sentimento traiçoeiro e ele era tão intenso que chegou a odiar a “namorada” de verdade.
— E aí, cadê a tua “namorada”? — Vivian se aproximou, rebocando Mateus que já estava ébrio.
Soprou a fumaça pelas narinas, atirando o resto do cigarro no chão para, logo em seguida, pegar outro da carteira.
— Provavelmente, se esfregando naquela noivinha idiota! — Contou o que viu, acrescentando o que ocorreu pela manhã e acompanhou o gemido de Vivian que, no entanto, tentou lhe dar esperanças:
— Precisa confiar que Alê não vai cair na conversa furada dela que, aliás, é uma bela filha da… — interrompeu-se ao notar a aproximação da mãe da amiga.
Dona Alexandra sorriu e lhes desejou boa noite antes de se retirar lançando um olhar perscrutador para os três, principalmente, para a “nora”.
— Você quer se acalmar? — Vivian pediu, lançando olhares para os lados para se certificar de que não tinha mais ninguém por perto. Estavam em baixo da jaqueira, onde a mesa vazia ainda exibia uma grande quantidade de comida e bebida intocadas.
Cada vez mais irritada, Nicole se escorou no tronco.
— Não me peça calma, Vivi! Estou tentando alcançá-la desde que essa história começou, mas se torna uma missão quase impossível quando vejo Aléxia toda derretida por aquela noivinha filha de uma… Ah, você me entendeu!
Vivian balançou a cabeça em compreensão, mas não se privou de lhe dirigir um sorriso.
— Você está morrendo de ciúmes — Mateus resumiu e emborcou metade da cerveja que segurava.
Ela suspirou.
— Achei que ia conseguir segurar a onda, mas as últimas 24h estão sendo uma tremenda batalha. E hoje foi um dia tão bom, tão especial! Fomos sinceras uma com a outra e ela me disse que estava apaixonada por mim, no passado…
Vivian deixou o queixo cair, a amiga nunca lhe contou isso.
— E me enchi de esperança. Poxa, se ela gostou uma vez, pode gostar de novo! Certo? Então, mergulhei de cabeça e a beijei.
Enxugou o suor que lhe brotava da testa.
— Que idiota fui, não é? Aposto que ela tá lá, no maior amasso, com aquela mulher.
— Não tire conclusões precipitadas.
Ignorou a amiga e continuou:
— E a idiota aqui, fazendo de um tudo para ser notada; torcendo para que ela me dê uma chance e perceba o quanto estou apaixonada e que daria qualquer coisa para que esse namoro fingido fosse de verdade — chutou o chão, arrancando um barulho incomodo do tênis que usava.
— Não acha que está sendo dramática demais?
— E não tenho motivos pra isso? Não tente me enganar, Vivi. Você também está pensando o mesmo que eu, afinal, as duas sumiram há bastante tempo. — Passou a mão nos cabelos, bagunçando-os. — Ai que saudade dos tempos em que bebia! — Lançou um olhar de cobiça para a garrafa que Mateus segurava, mas contentou-se em ir pegar uma garrafa de água na mesa.
— Cara, jamais imaginei que veria a Nico apaixonada. Apaixonada não, arriada pela Aléxia! — Mateus falou, empurrando Vivian de volta para a fogueira.
Nicole começava a afastar-se para segui-los quando Gil, o irmão “babaca” — assim pensava — de Lis, se aproximou. O rapaz lhe ofereceu uma bebida, iniciando uma conversa fiada. Dava em cima dela descaradamente.
Não lhe passou despercebido que, vez ou outra, ele tocava no nome de Aléxia e a ficha lhe caiu. Ali estava um homem que não aceitava ver duas mulheres juntas e, claramente, tinha alguma rixa com a sua “namorada”.
Em algum momento entre insistir em lhe oferecer uma bebida e afirmar que era uma mulher muito linda, ele tentou beijá-la. Felizmente, percebeu a tempo e conseguiu se afastar, mas ele estava obviamente bêbado e tornou a se aproximar. Interrompeu-se quando Aléxia surgiu entre os dois, sentando um beijo rápido na bochecha da loira e fazendo questão de ignorá-lo, arrastando-a para longe dele, indo em direção a fogueira.
— Minha heroína!
A outra interrompeu o passo e se voltou para lançar um olhar nada amigável para o cunhado do irmão.
— Sinto muito por isso. Aquele filho da mãe não entende o que a palavra “não” significa. — Envolveu sua cintura quando percebeu que Gil ainda mantinha o olhar fixo nelas. Sorriu, presunçosa, e o rapaz caminhou em direção a casa com passos duros.
— Ele te odeia — pontuou a loira.
— Ainda deve estar sentindo a dor da joelhada que lhe dei na virilha, anos atrás. Tentou me agarrar à força em uma festa.
Encararam-se por alguns segundos, até que caíram na risada. Ainda continuavam unidas, tão próximas que poderiam se tornar uma.
— Preciso de uma bebida. — Aléxia deu um passinho atrás, deixando meros dez centímetros de distância entre seus corpos, mas não a soltou. — Algo que anestesie essa tremenda dor nas costas que você me deu.
— Cuidado pra não se embriagar — deslizou a mão por suas costas, fazendo um carinho suave. — Da última vez, acabou na minha cama!
Ela revirou os olhos.
— Um pesadelo! — Soltou com esgar, então completou: — Acordei com um mulherão na cama e não conseguia me lembrar de como foi a transa!
A raiva que Nicole sentia começava a se dissolver, mas ainda rondava sua mente.
— Se não estivesse tão bêbada, lembraria que me insultou a noite inteira. — Retrucou.
— Prometo que será diferente desta vez. — Sorriu maliciosa. — Afinal, estamos dividindo o mesmo quarto e a mesma cama. Não tem erro! — Piscou.
Voltou a encostar seu corpo ao dela, completamente. E aproveitou a estatura mais baixa para grudar os lábios em seu pescoço. Primeiro, devagar e suavemente, então lhe deu um chupão, fazendo-a tremer inteira. Nicole gostava de provocá-la e se o que Vivian lhe disse fosse mesmo verdade, também poderia jogar aquele jogo e lhe dar um pouco do próprio veneno.
A “namorada” engoliu em seco. Limpou a garganta, enquanto a mão dela deslizava, carinhosa, pelas suas costas. Estava na cara que Aléxia se divertia em provocá-la e perguntou-se o que havia lhe acontecido para que investisse naquela “brincadeira” tão de repente.
Será que, finalmente, havia percebido seus reais interesses?
Era cedo para dizer. Afinal, tinham passado a tarde naquele clima amigável, recheado de insinuações que culminaram naquele beijo “de verdade”. Contudo, quando voltaram a se encontrar no jantar, Aléxia não tinha lhe dado qualquer pista do que pensava daquele beijo, além de exigir terem uma conversa séria depois que voltassem para casa.
— Você parece muito feliz. — Mudou de assunto. As pernas ligeiramente trêmulas pela proximidade e a carícia recente. — Sumiu por algum tempo. Onde esteve?
Curvou-se para ouvir melhor a resposta, que lhe foi dada sussurrada ao ouvido.
— Digamos que a noivinha e eu, resolvemos nossas diferenças de uma forma muito “satisfatória” para ambas. — Aléxia mordiscou-lhe a orelha, deslizando a ponta da língua pelo lóbulo.
Um arrepio prazeroso percorreu a coluna de Nicole que, novamente, tremeu por inteiro; tanto pela provocação, quanto pela revelação. Quando se afastou, recebeu uma piscadela marota e o estômago se revirou ao imaginá-la nos braços da outra, como vira mais cedo.
— Que bom… — trincou os dentes, a raiva nublando seus pensamentos e afastando as sensações agradáveis da carícia — pra vocês.
Aléxia nem imaginava o quão fundo a tinha apunhalado. Empertigou-se, largando sua cintura e dando um passo atrás, então buscou a carteira de cigarros no bolso do short.
— Bem, eu vou fumar um pouco e depois irei me recolher. Boa noite, “amor”.
Deu-lhe às costas sem esperar pela resposta e afastou-se com passadas largas e apressadas.
***
Nicole estava sentada em um banco bastante afastado da lateral da casa. Havia algumas árvores frutíferas ali e um laguinho cheio de peixes. Era um lugar muito bonito durante o dia e, apesar de ter dito que iria se recolher, acabou tomando o rumo de lá.
Precisava de um momento de solidão para se acalmar. Como podia estar tão emocionalmente confusa em um período tão curto? Como Aléxia conseguia desestabilizá-la daquela forma?
O modo como falou deixava claro que tinha se “acertado” com a ex. Mas e aquelas provocações e insinuações?
Respirou fundo para afastar as lágrimas que se avizinhavam. O cigarro queimava, quase no fim, ainda intocado pelos seus lábios. Por fim, o apagou na sola do tênis. Segundos depois, ouviu alguém se aproximar. Não se voltou para identificar a recém-chegada. Seu perfume a denunciava: Aléxia.
— Você está bem, “amor”? — Sentou-se ao seu lado. — Aqui está muito escuro.
Ela exalou, curvando os ombros. Como era difícil estar perto dela. Ser a sua “namorada”, como sonhava e, no entanto, estar muito longe disso.
— Gosto dessa escuridão. Me ajuda a pensar — sussurrou.
Recusava-se a fitá-la, mesmo sabendo que pouco poderia visualizar da tristeza e agonia que transparecia em sua face.
— Então, não haverá mais casamento ou você se contentou em ser a amante secreta dela? — Não conseguiu ocultar seu ressentimento.
Um minuto longo e muito incômodo se passou, enquanto os olhos de Aléxia a perscrutavam. Por fim, ela riu e chegou mais perto, quase roçando na sua pele.
— Não vai fazer aquele discurso de “você não é mulher para cozinha” ou “você merece uma mulher melhor” de novo?
Bufou, engolindo a vontade de mandá-la para o inferno.
— Estou cansada disso. Você já é bem grandinha para saber o que faz. Sinceramente, me arrependo de ter exposto minha opinião daquela forma. Aparentemente, você é do tipo que não tem vergonha na cara!
Uma gargalhada alta escapou dos lábios de Aléxia. Seus ouvidos não a tinham traído, então. Agora, percebia tudo com clareza, só não conseguia entender o “como”. Sugou um pouco de oxigênio para se recuperar do riso.
— Em outra época, você teria me magoado com esse comentário. Hoje, me diverte. — Se aproximou mais; o suficiente para que conseguisse enxergar suas feições na penumbra que as cercava. — Na verdade, “amor”, a mandei para o inferno, como você sugeriu hoje à tarde. Bem, fui um pouco mais educada que isso — liberou um risinho. Definitivamente, sentia como se um grande peso tivesse deixado seu coração.
Nicole tentou não se alegrar com a notícia e um minuto se passou, enquanto a digeria.
— Como se sente?
— Mentiria se dissesse que estou feliz. — Confessou. — Estou bem longe disso, mas, também, não estou triste. — Ergueu o olhar para o astro prateado no céu. — Acho que Vivian tinha razão. Eu a superei há muito tempo atrás, mas ela me marcou tanto que não fui capaz de reconhecer isso.
— Hoje à tarde, você disse que ainda a amava — recordou, reticente.
— E é verdade! Amo toda a beleza que ela me mostrou, as lembranças e os momentos bons que dividimos. Sempre vou amar. Mas a mulher que irá se casar com o meu irmão amanhã, não é a mesma que amei e estou feliz por, finalmente, ter reconhecido isso.
Deslizou a mão até a dela, a envolveu e puxou para o seu colo.
— Obrigada por ter me ajudado — reconheceu.
— Não fiz nada.
— Fez mais do que imagina. — Era verdade. Naquelas poucas horas que passaram juntas, Nicole lhe fez perceber coisas que se negava a reconhecer, fosse por medo ou inocência; não interessava. Cada palavra que disse, brincadeira ou não, lhe mostrou a verdade que se recusava a ver.
Manteve a mão dela na sua por mais um minuto, pensando em como aquele contato era agradável.
— E agora, o que vai fazer? — Nicole reuniu forças para perguntar, desconfortável com as sensações que aquele contato singelo lhe trazia.
Ela riu, a voz adquirindo um tom jocoso.
— Todos os meus planos são para um curto prazo. Estou comprometida pelas próximas 24h. Tenho uma namorada falsa, muito ciumenta e gata, que me prometeu uma massagem e estou pensando em cobrar a promessa.
Nicole gargalhou, nervosa, já pensando em retrucar com uma piadinha, mas ela a puxou e grudou os lábios nos seus. Invadiu sua boca com tanta impetuosidade que a assustou, mas não ousou se negar aquela alegria e a correspondeu com a mesma vontade. Aléxia beijava, mordiscava, sugava seus lábios; hora violenta, hora carinhosa.
Por minutos maravilhosos, Nicole entregou-se ao sabor dos lábios dela e as carícias que as mãos, ousadas, lhe faziam ao se insinuarem por baixo da camiseta que usava. Suspirou, entre os lábios dela, quando alcançou um de seus seios. A mão se fechou, atrevida, sobre ele.
Que sonho! Que loucura!
De repente, a empurrou. Ergueu-se, receosa de perder o controle sobre si. Ela a beijou e foi incrível, mas o que aquilo significava, de fato? Com respiração entrecortada, perguntou:
— O que você quer, Aléxia? Eu não sou brinquedo para curar sua dor de cotovelo.
Sob a luz do luar, identificou um sorrisinho cafajeste tomando conta dos lábios que a beijaram tão intensamente.
— Que bom! Porque eu não estou com dor de cotovelo. — Estava sentada no meio do banco e deslizou para a ponta. Esticou os braços e a puxou pela cintura, depositando um beijo na barriga dela. O azul dos seus olhos, brilhando prateado ao ser tocado pela luz do astro no céu.
Forçou-a a sentar em seu colo, com um sorriso malicioso; era tão diferente do que costumava ver, que a estranhou. Embora estivesse louca para saber o que aquilo tudo significava, ainda resistiu a tentação de ficar ali, sentada sobre as pernas dela, tão próxima de sua face que seu hálito lhe acariciava. Tentou escapar dela outra vez, mas Aléxia era bem forte, apesar de fisicamente menor. Envolvia sua cintura com ambas as mãos, mantendo-a nessa posição e lhe roubou outro beijo.
Ela sussurrou entre seus lábios.
— Você passou o dia se insinuando e me atormentando com suas provocações. Quero ver o quanto disso era verdade. Acabo de aceitar o seu desafio, “amor”.
Estava cansada dos joguinhos de Nicole e, agora, queria que ela provasse o desejo que cativou, pois estava louca para tocá-la daquela forma desde que a viu na cachoeira e depois daquele beijo “de verdade”, após os momentos de muita confusão sentimental, era tudo em que pensava quando a olhava.
Escorregou a mão pela cintura dela, insinuando-se debaixo de sua camiseta e a ergueu até revelar os seios, protegidos pelo sutiã que não foi uma barreira muito eficiente para impedi-la de beijá-los. Mesmo com o tecido, Nicole sentiu o calor dos lábios dela.
Aléxia mordiscou o tecido e abriu o fecho frontal, desnudando seu objeto de desejo. Grudou os lábios no mamilo rijo, sugando-o devagar e arrancando suspiros da antiga inimiga.
— Alê… — ela implorou. Mal cabia em si, por saber que era desejada por ela. Queria muito aquilo; tinha provocado isso, mas não era daquele jeito que ansiava.
Aléxia introduziu a mão livre, no short dela. Tateou a calcinha e sorriu, satisfeita, por encontrá-la úmida.
— Não faça isso. Eu não quero assim… — interrompeu a fala com um gemido ao sentir o toque mais intenso. Aléxia a massageava sobre o tecido.
— É só pedir para parar — sussurrou, os lábios grudados em um seio. Aumentou o movimento e a viu arfar, agarrada aos seus ombros.
Nicole lutou contra o próprio desejo, implorando forças a qualquer divindade que estivesse assistindo aquela “tortura”; queria fugir, desabar num choro silencioso e doloroso. Fitava a malícia no olhar da mulher que amava, que desejava com todas as forças; o coração se partindo pela terrível verdade de que aquele momento era o mais próximo que conseguiria de receber seu afeto.
Gemeu mais alto, mordiscando a própria mão.
— Peça — ela disse e aumentou a velocidade das carícias, abalando a vontade de Nicole, que deixou uma mistura de soluço e gemido lhe escaparem. — Você quer que eu pare, Nico?
Em resposta, Nicole arqueou mais a cintura, facilitando a carícia.
— Não… Por favor, não pare!
Não resistiu mais; não tinha mais forças para rejeitar o que lhe oferecia, mesmo que soubesse que seria apenas um momento de luxúria. Entregou-se, deixando gemidos cada vez mais altos escaparem, misturados ao nome dela.
Aléxia a tocava, inebriada pelo cheiro da pele dela e os sons que lhe escapavam. Seus olhares se cruzaram e, apesar da pouca luminosidade, ela soube que era verdade. Então, de repente, parou de tocá-la.
Fechou seu sutiã, baixou a camiseta e a empurrou para fora do seu colo, delicadamente. Nicole sentiu o coração se partir. Ela não poderia estar fazendo isso, mas estava. A enlouquecia, depois abandonava. Uma vingança mais que perfeita. Orgulhosa, engoliu o choro que lhe chegou e resistiu a vontade de sair correndo.
Aléxia a fitava, o rosto sombrio, quase totalmente tomado pela escuridão. Cerrou os punhos. Era verdade. Tudo o que ouviu era verdade.
Quando deixou Lis e Alberto, seguiu para a fogueira. Caminhou pelas sombras, aproximando-se da jaqueira, então ouviu toda a conversa dos amigos. Nicole havia declarado em alto e bom som que estava apaixonada por ela. De início, achou que fosse uma piada e quase gargalhou, então a conversa prosseguiu.
Manteve-se em silêncio, oculta pelo tronco da jaqueira. Digeria aquela informação com um esgar de raiva. Como Nicole podia amá-la? Só tinham se reencontrado poucos dias antes, então a realidade lhe chegou: ela a amava antes.
Nicole a amava quando estudaram juntas e, em vez de assumir isso, a machucou e humilhou de todas as formas possíveis. Quanto mais sólida aquela ideia se tornava, mais raiva sentia. Então, quando saiu de trás daquela árvore, tinha decidido se vingar dela. Nicole a queria, então a teria. A usaria e depois descartaria.
Começou aquele joguinho de sedução para feri-la, assim como se sentia. Mas aquele olhar… não estava preparada para ele, nem para aquela entrega.
Respirou fundo. No final, Nicole tinha razão, não era uma pessoa má; não era capaz de se vingar, ainda mais pisando nos sentimentos dela que, sabia, tinha acabado de magoar. Se pôs de pé, lançando um sorriso para a noite.
Que momento estranho e irônico!
Estava cansada de viver no passado, de se agarrar a antigas mágoas e dores. Lhe estendeu a mão, dizendo:
— Você tem razão. Não pode, nem deve ser assim. — A grande verdade era que também a queria e se Nicole estava disposta a se entregar de corpo e alma, como tinha afirmado naquele mesmo dia, era justo que também o fizesse. Que fosse verdadeiro, mesmo que apenas por alguns momentos. — Assim como eu não sou mulher para a “cozinha”, Nicole, você também não é mulher para uma foda rapidinha em um escurinho qualquer. Estou louca para continuar o que começamos, mas entre quatro paredes e sobre uma cama. Você quer?
Nicole a puxou para um beijo, deixando escapar uma risadinha de alívio. Por um momento, apertaram-se em um abraço singelo, então Aléxia a conduziu para o interior da residência com passos suaves e gingadinho malandro. Mal a porta do quarto foi fechada, a empurrou até a cama, lhe arrancando todas as roupas no caminho. Lhe admirou por um instante longo, percorrendo cada centímetro da pele alva que via.
Se desfez de suas roupas também, deixando Nicole extasiada com o desejo que refletia. Riu e ficou na ponta dos pés para depositar um beijo em seu queixo.
— Achou que estava me vingando? — Indagou e balançou a cabeça, divertida.
A moça suspirou.
— Pode apostar que sim.
— Estava mesmo. — Beijou-lhe o pescoço.
Distribuía beijos pelo seu colo e pescoço, as mãos acariciando os seios. Nicole ainda estava muito excitada pelos momentos no jardim e perguntou com voz rouca:
— E agora?
Aléxia mordiscou um mamilo.
— Você procurou por isso e te avisei que teria volta. — A fez inclinar-se e colou os lábios nos seus, devorando-os com um beijo devastador. — Ah, Nico, espero que esteja preparada, porque vou te devorar inteira e realizar os desejos que deixei no passado e que você trouxe à tona com suas brincadeiras.
Dessa vez, Nicole reconheceu naquele sorriso malicioso a ânsia que também a dominava. Outra vez, Aléxia percorreu, com o olhar, cada centímetro do seu corpo nu, então o fez novamente com os lábios. Beijou, sugou e brincou com os mamilos rijos, enquanto a mão buscava o sexo de Nicole, agora sem barreiras.
Sentou na cama e a fez sentar-se em seu colo, novamente. A loira arfou, sussurrando seu nome e a penetrou, imersa no prazer que via na face dela, mal podendo controlar sua própria excitação. Nicole a cavalgou devagar, mordiscando seus lábios mais forte a cada subir e descer.
Naquele momento, tudo que Aléxia queria era levá-la ao céu. Expulsou de sua mente qualquer lembrança de que aquela mulher tinha povoado seus pesadelos por anos, que guardava grandes mágoas dela; deixou tudo isso no passado. Aquela era a mulher que decidiu ver no momento em que conversaram naquela trilha. Poderia se arrepender depois, mas que esse “depois” só chegasse ao amanhecer.
Naquela noite, iria amar Nicole como jamais amou alguém. A tomaria para si e se daria a ela da mesma forma. Que entre aquelas quatro paredes só se ouvissem gemidos de prazer e pedidos de bis.
Nicole a abraçou forte, explodindo num gozo intenso. Deixou-se ficar largada nos braços dela, os olhos fechados, ondas de prazer percorrendo o corpo no mesmo ritmo da respiração entrecortada. O coração pulsando de alegria. Aléxia a deitou com cuidado e a abraçou até que se recuperasse.
Trocaram beijos suaves e carícias singelas, até que as coisas começaram a esquentar, novamente. Nicole, já recuperada, assumiu o controle. Precisava desesperadamente senti-la, prová-la, amá-la. Queria lhe dar a mesma alegria que recebeu quando encontrou o nirvana em seus braços. Lentamente, percorreu seu corpo entre beijos e afagos até encontrar o vale entre suas pernas. Deixou um gemido de prazer escapar antes de pousar seus lábios ali e sugar o clitóris rígido, desesperada e prazerosamente.
Imediatamente, Aléxia a puxou para si, bagunçando seus cabelos e pedindo mais. Nicole se deliciava com seu gosto e os suspiros de prazer que deixava escapar.
Aléxia, que já havia experimentado o prazer entre muitos lençóis, nunca se sentiu tão completa quanto no momento em que ela a penetrou com seus dedos longos e macios ao mesmo tempo em que a devorava com sua língua exigente e faminta. E não conseguiu evitar o grito, quando foi arrebatada por um gozo longo, como jamais sentiu.
Com um sorriso, a amante repousou a cabeça em seu ventre, sentindo a respiração dela se normalizar por alguns minutos, até que Aléxia a puxou para si e capturou seus lábios em um beijo terno, provando seu próprio sabor nos lábios dela.
Nicole pousou sua cabeça loira e despenteada pelo prazer no ombro dela, e se enroscou em seu corpo de tal maneira que duvidou ser possível separá-las.
Por sua vez, Aléxia não sentia qualquer necessidade de falar; não queria estragar aquele momento, nem mesmo quando percebeu as lágrimas de Nicole molhando seu ombro. Mas obrigou-se a perguntar se ela estava bem e quando não houve resposta, brincou:
— Eu te machuquei ou você é daquelas maluquinhas que chora toda vez que termina de transar?
Ela apertou-se mais ao seu corpo, abafando o riso ao enfiar o nariz no seu pescoço.
— Como adivinhou?
— Que você é uma maluquinha? — Afastou-se para fitá-la e encontrou algumas lágrimas deslizando pela face macia. Enxugou-as com as pontas dos dedos e beijou o caminho que elas fizeram, carinhosa. — Soube disso desde que você aceitou ser minha “namorada”.
Nicole a abraçou forte. Sentia que não existiam palavras que pudessem descrever seus sentimentos naquele momento. Sabia que tudo não tinha passado de um instante de luxúria, contudo precisava lhe falar sobre o amor que carregava no peito há tanto tempo.
— Alê, eu preciso te contar algo.
— Que eu não sou a primeira mulher com quem você transou? Isso pode ser chocante, mas saquei assim que você começou a… Você sabe! É muito boa nisso para ser sua primeira vez — riu.
Nicole a beliscou, de leve.
— Se eu soubesse que era só te fazer gozar para o seu humor melhorar, teria te levado para a cama antes. Nem que fosse à força!
— Tecnicamente, fui eu que te “trouxe” para a cama. — Sorriu maliciosa, já escorregando uma mão mal-intencionada para o seu ventre. — E pretendo te manter aqui pelo resto da noite, “usando e abusando” do seu corpinho, como você gosta de insinuar.
A pele de Nicole se arrepiou com a promessa e Aléxia a virou se encaixando sobre seu ventre, extasiada com o brilho no olhar dela quando começou um movimento suave de vai e vem, friccionando seus sexos. Nicole agarrou a cintura dela com força, obrigando-a a acelerar os movimentos em uma dança sensual e, ao mesmo tempo, animalesca.
Aléxia tinha certeza de que poderia mergulhar no verde daqueles olhos e se afogar no mistério que eles escondiam. Pelos céus, aquela mulher a amava! Que loucura! Mas não era tão louco quanto se encontrar naquele momento, após tantos anos de ódio e ressentimento.
Sentiu a aproximação do orgasmo assim que percebeu que o mesmo ocorria com ela. Acelerou os movimentos, deixando palavras desconexas escaparem. A sensação crescia em seu ventre, preparando-se para irromper por todo o seu corpo; se avizinhava violenta, abrindo espaço em suas entranhas até encontrar escape através de sua garganta na forma de um gemido rouco e selvagem que se misturou ao de Nicole.
Arriou sobre ela, suada e ofegante, completamente entregue a satisfação. Nicole ainda apertava suas nádegas com tanta força que, quando as soltou, a dor lhe atingiu.
— Droga, você é mesmo daquelas maluquinhas que chora quando goza — sussurrou, rindo, ao perceber que, outra vez, ela se entregava as lágrimas.
— Só choro quando estou feliz, sua boba! — Fungou, abraçando-a. Então, mergulhou nos lábios dela, preenchida por uma felicidade sem tamanho. Suas lágrimas eram de felicidade, mas também eram de tristeza por saber que, quando o dia raiasse, nada teria mudado entre elas.
Aléxia lhe fez um cafuné, recusando-se a se entregar ao sono. O corpo dava sinais de cansaço, mas ainda não estava satisfeita. Queria mais de Nicole, muito mais.
Era madrugada quando se deram por satisfeitas. Enroscaram-se nos braços uma da outra e entregaram-se ao sono dos amantes. Nicole, feliz como nunca esteve antes. Aléxia, por sua vez, não querendo pensar muito no que tinham feito; apenas curtindo o momento.
Que a consciência e as consequências do que fizeram as atingissem pela manhã, enquanto isso, iam dormir como uma só, enlaçadas entre os lençóis.
Que capítulo gostoso. Aléxia quando me mata de ódio com a tentativa de vingança, mas que bom que recobrou a consciência a tempo.
Que entrega foi essa, dessas duas…. deu ate calor…..
Autora, não nos deixa mais uma semana na espera… volta logo!!!!
pqp… que momento viu. Já anciosa esperando os próx capítulos