– Preciso falar com você. – parei na frente dela.

– Bom, meninas, eu já vou então. – o Ucker falou e ninguém respondeu nada, então ele saiu. Não foi por mal…. Acho que ela estava surpresa.

– Dulce? – chamei porque ela não falava nada.

– Ahm. Oi.

– Quero falar com você. – repeti a olhando.

– Falar? Agora?

– Sim! Vamos ali na salinha? – pedi já me encaminhando pra lá.

– Mas agora? – ela perguntou ainda parada no mesmo lugar. Me virei ao responder.

– Sim.

Fomos pra uma das salas, não tinha muita gente mais ali.

Fui na frente e entrei na sala, encostei na mesa que tinha ali e fiquei a esperando fechar a porta. Ela fechou e depois se encaminhou pro meio da sala, não me olhava, olhava pra qualquer lado menos pra mim. Depois de um tempo, quando ela resolveu me olhar, eu a olhava de volta.

– E então? – ela finalmente falou- Aconteceu alguma coisa?

– Quero falar com você. – respondi ainda a olhando.

– Fala. – ela disse e logo desviou o olhar.

Não conseguiria falar isso a olhando nos olhos, por isso resolvi me afastar da onde eu estava e dela.

– Eu…- a olhei de relance e cocei a nuca, sempre fazia isso quando estava nervosa- quero te perguntar uma coisa. – ela me olhou- Quero saber o que você me falou no dia do show, depois na boate.

– Te falei várias coisas Anahi. – ela disse dando uns passos na minha direção.

– O que?

– Você não estava lá?! Você ouviu ué!

– Fala de novo?

Ela me olhou nos olhos antes de falar.

– Pedi pra você não ir embora, falei que você estava igual uma velha toda hora sentada por causa da sua namorada. – ela falou olhando pro lado, claramente contrariada.

– O que mais?

Ela me olhou e ficou um tempo me olhando como se fosse falar algo. Mas então desviou.

Então tem algo!!

– Só isso.

– Dulce. – a puxei pelo braço pra me olhar, ela olhou- O que mais?

– Anahi se você estava lá já ouviu. Pra que tá perguntando de novo?

– Não, eu não ouvi.

Ela ficou me olhando por um tempo, parecia estar na dúvida se acreditava ou não.

– Se não ouviu é porque não teve mais nada pra ouvir.

– Não? Tem certeza? – ela me olhou.

– Conversa de bêbado cara! Eu vou embora tá? – ela se virou pra sair- To com dor de cabeça!

– Nós duas sabemos que você não está com dor de cabeça….- virei a cabeça pra buscar seu olhar e ela me olhou, levantando a cabeça.

– Não tenho porque mentir Anahi.

– Tá bom Dulce. – dei um passo na direção dela- Me diz o que é e a gente vai embora.

– Você cismou com isso hein! – ela me olhou e pareceu se tocar de algo- Alguém te falou alguma coisa? Por que isso agora?

– Ninguém me falou nada. – desviei o olhar.

– Você não sabe mentir! – ela deu uns passos na minha direção e tocou no meu braço pra olhá-la- Não pra mim, pelo menos.

– Então somos duas né? – a olhei ao falar.

– Eu não to mentindo.

Dei uns passos na direção dela, ficando perto.

– Me fala o que é, por favor….

– Por que? Pra que?

– Se você me falou lá é porque queria que eu soubesse, eu não ouvi lá, então me diz agora.

– Talvez tenha sido melhor….- ela virou o rosto- Você não ouvir.

– Por que? Se arrependeu? – ela me olhou quando eu falei.

– Não, claro que não!

– Então me diz…

Ela negou com a cabeça e se afastou. Fui atrás e a puxei pelo braço mas ela não se virou nem me olhou.

– Você já assumiu que tem algo, por que não fala logo? – eu estava meio de lado, meio atrás dela porque ela não me olhava.

– Quem te falou? – me olhou ao falar. Eu não ia falar né….- Hein? Apesar de eu saber já a única pessoa que possa ter dito.

– Então se já sabe pra que tá perguntando?

– Ela não podia ter falado, pedi pra ela não contar! – ela ficou brava e saiu de perto de mim mais uma vez.

– Ela não me disse nada, ela achou que eu soubesse ou tivesse ouvido. Mas eu não faço ideia do que seja….

Quando olhei ela estava sentada no sofá com a cabeça escondida nas mãos, fui até lá e sentei na mesinha de frente pro sofá, mas não toquei nela.

– Por que você não quer me falar?

Ela levantou a cabeça ao falar.

– Você acha que não dói Anahi?! – ela estava com os olhos úmidos.

– O que? – perguntei calma ao contrário dela.

Ela balançou a cabeça e virou pro lado.

– Por que você não quer me contar?

– Pra que você quer saber?? – se virou pra mim quase gritando, puta.

– Por que você está falando assim comigo?! – não sei porque mas estava calma….

– Por que você faz isso hein?? Por que você fica assim toda fofa comigo e depois acaba comigo em dois segundos?! – percebi ela se segurando pra não chorar.

– Dulce, eu não faço nada disso.

– Sim, você faz!! Para de ficar me dando esperança!!

– Eu não to te dando esperança, eu só quero saber o que você falou.

– Mas eu não vou falar!!!! – ela se levantou gritando do sofá e foi pra trás de mim. Estava de costas ainda.

Respirei fundo e me levantei. Eu queria saber mas não ía brigar com ela pra isso, se ela não queria falar tudo bem….fazer o que?!

– Tá bom Dulce. Não vou mais insistir….- eu disse andando na direção dela que continuava de costas- Desculpa por isso. Bom, to indo. Tchau.

Ela não respondeu nada então fui na direção da porta, olhei antes de sair e ela continuava do mesmo jeito, então fui embora.

Entrei no meu carro e assim que sentei ouvi batidas no vidro, levei um susto mas ao olhar, era ela. Abri a janela.

– O que foi?

– Deixa eu entrar? – destranquei a porta e ela entrou.

Não olhei porque não sabia o que ela queria, mas ela não falou nada também. Aquilo estava me agoniando.

– E então Dulce? O que você quer aqui? – ela continuou olhando pra frente sem falar nada- Dulce!!

Ela suspirou e então se virou pra mim.

– Desculpa….- fiquei a olhando- por ter gritado com você lá em cima mas é que você fica me confundindo!

– Eu só te fiz uma pergunta Dul….

– Pra você pode ser só uma pergunta, pra mim não.

Agora foi minha vez de suspirar e olhar pro lado. Senti ela tocando no meu braço, então a olhei, a mão dela desceu até encontrar a minha mão, ela olhou pra baixo sorrindo e depois me olhou, ainda sorrindo.

– Eu te amo Anahi. Foi isso que eu falei lá, te falo agora e quantas vezes mais você quiser….- ela estava sorrindo e eu não sabia o que fazer ou mesmo se tinha ouvido direito.

– Oi? – perguntei depois de um tempo a olhando.

Ela sorriu e tornou a falar.

– Eu te amo. – ela tinha chegado o corpo um pouco mais pra perto do meu.

Sim, eu tinha ouvido certo! Mais uma brincadeira dela provavelmente!!

Me virei pra frente e apoiei minha mão no volante. Respirei fundo pra me acalmar.

– Annie? – ela me chamou mas não respondi- Anahi, fala comigo. – ela pediu tocando no meu braço e percebi que tentava me olhar.

– Vai embora Dulce! – falei sem nem olhá-la.

– Eu não vou embora. Vamos conversar?

Continuei olhando pra frente e ela voltou a me tocar, mas dessa vez não deixei.

– Não me toca!!! – a olhei ao falar. Eu estava morrendo de ódio e ela com a cara mais calma do mundo.

– Anahi, calma.

– Você é uma idiota sabia?!? Eu te odeio!!!

– Só por que eu disse que te amo? – ela falou com a voz calma e baixa.

– Cala a boca!!! Para de falar isso! Você não me ama!! Nunca amou!! Deve ser mais uma brincadeira sua né??

– Claro que eu te amo!! – ela se aproximou de mim, tocando no meu rosto.

– Já mandei você não me encostar!! – me desvencilhei indo pra trás.

– Tá bom, mas calma. Vamos conversar com calma? – ela pediu e toda hora me tocava, aquilo estava me irritando.

– Não tem conversa! Eu quero ir embora! Da pra você sair do meu carro?? – a olhei ao pedir. Ela não fez nada, só me olhava- Tá surda???

Eu estava revoltada com a cara de pau dela!!!

Ela demorou um pouco pra falar, ficou me olhando.

– Era pra me tratar assim que você queria que eu falasse?! Não devia ter falado porra nenhuma! – ela se encostou no banco olhando pra janela ao falar.

– Não devia mesmo! Se era pra mentir….

– Eu não estou mentindo!! – ela se virou mais que rápido pra mim ao falar, se aproximando de novo- Eu não estou mentindo Anahi!

Desviei o olhar porque eu não conseguia nem olhar pra ela.

– Olha pra mim! Me ouve Anahi. Por favor? – senti a mão dela no meu rosto e o rosto dela quase junto ao meu.

– Eu não quero te ouvir, não quero saber Dulce!! Vai embora por favor?

– Você tá vendo né?! Você tá vendo como tá me tratando né?? – a olhei.

– Foi um erro ter ouvido a Maitê, claramente! Você não vai mudar nunca!

– Realmente eu não mudei, continuo te amando como naquela época! Já você né….

Tive que rir!!!!!

– Por favor, não me ame como naquela época tá?! Porque se aquilo é amor, prefiro que você me odeie! – ela me olhou de um jeito….meio magoado, meio incrédulo, sei lá.

– Você só fala merda Anahi!

– Valeu Dulce! Agora será que você pode sair do meu carro?!

– Ok. To indo. – ela colocou a mão na maçaneta- Mas me atacar ou ficar com raiva de mim não vai mudar o fato ou o que eu sinto por você….. Mas quando você tiver mais calma, a gente conversa.

Não falei nada e ela abriu a porta e saiu, mas antes de fechar, falou.

– Eu ainda vou te mostrar que não tem um dia que não me arrependa de ter te perdido e que hoje eu sei como fui idiota de ter aberto mão da única pessoa que realmente amei. E eu espero mesmo que eu ainda tenha chance de recuperar o que eu perdi….

Não podia deixar ela ver que me atingiu.

– Pois vai morrer esperando!!

Eu falei isso e arranquei com o carro, ela ficou lá olhando.

Minhas lágrimas desciam descontroladamente do meu rosto, eu as limpava com raiva, aliás era isso que me definia agora, raiva dela, de mim, de tudo!! Esse era o único motivo das minhas lágrimas!!

Eu não sabia nem o que fazer! Estava me sentindo num sonho, sabe quando você sonha que tá se afogando mas não consegue acordar e sair? Era assim que eu me sentia.

E como tudo sempre pode piorar, eu tinha que ir pra casa da Maria porque já tinha combinado e não ia ter como fugir…. Tentei me acalmar e por a cabeça no lugar o máximo que eu pude, porque eu só queria sumir!

Cheguei na casa dela e fui direto pro quarto, ela não estava ali na sala e ao entrar no quarto percebi que ela estava tomando banho, deixei minha bolsa na cama e nesse meio tempo ela saiu do banheiro.

– Oi amor! Chegou? – ela veio até mim me dando um beijo na bochecha, porque eu estava meio de lado.

– Agora à pouco.

– Demorou né? – ela falava enquanto secava o cabelo na toalha. Eu evitava olhá-la, não conseguia.

– Pois é, demorou um pouquinho lá…

– Hum. E tá tudo bem? – ela chegou mais perto de novo, me olhando. Fiz que sim com a cabeça- Você tá bem?

– To. – respondi e então a olhei, ela me sorria- Vou tomar um banho tá? – falei me afastando.

– Tá bom. Você tá com fome amor?

– Não.

– Vou fazer alguma coisa pra mim então enquanto você toma banho.

– Ok.

Já estava entrando no banheiro quando ela me puxou pelo braço e antes que eu pudesse falar qualquer coisa ela me beijou. Foi mais um selinho longo mas eu mal correspondi, me deixei ser beijada.

Ela me soltou e foi pra cozinha fazer a comida e eu fui tomar banho. Eu tentei me acalmar no banho e parar de pensar na Dulce falando aquelas três palavras, achei que nunca mais as ouviria da sua boca…. Mas estava difícil não pensar, mesmo sem eu querer essa imagem teimava em voltar a minha mente o tempo todo!

Tínhamos jantado e agora estávamos deitadas na cama, ela via algo na televisão mas eu não conseguia me concentrar, tanto que só ouvi ela quase me gritando.

– Oi Maria.

– Tá me ouvindo não Anahi?! – ela me olhou brava.

– Desculpa, me distraí. O que foi?

– Nada, esquece. – ela desviou o olhar pra televisão- Era bobeira, só uma coisa que passou na televisão.

– Hum.

– Você tá bem Anahi? Tá meio estranha….

– Só to cansada Mah, um pouco de dor de cabeça.

– Quer remédio?

– Não. Vou deitar aqui pra ver se melhora.

– Ok.

Ela não ficou muito feliz não mas não falou nada, virei de costas pra ela e fechei os olhos. Eu só não queria conversar, só queria ficar sozinha.

Uma meia-hora depois sinto ela me abraçando por trás, eu não estava dormindo. Só tentava entender o que a Dulce pretendia com aquilo tudo e porque ainda mexia desse jeito comigo….

– Dormiu? – a ouvi sussurrar no meu ouvido, me deu uns beijos no ombro. Eu não quis responder, fingi que estava dormindo- Amor? – ela insistiu. Me apertava pela cintura, eu sabia bem o que ela queria, mas eu não ia conseguir de jeito nenhum!

Eu continuei “dormindo” e ela parou, ainda bem! Só que eu não ia conseguir ficar fingindo pra sempre né, então acabei abrindo os olhos um tempo depois e a vi me olhando.

– Que foi?

– Nada. – ela sorriu- Estava te olhando.

– Dormir?

– Uhum. – ela sorriu ao falar.

Fiquei sem saber o que falar.

– Melhorou um pouco?

– Mais ou menos.

– Hum. Vem cá. – ela se aproximou de mim e me abraçou- Saudades de você….- ela sussurrou enquanto beijava meu pescoço.

Não respondi nada e ela me beijou, correspondi ao beijo do que ela começou a acelerar e aprofundá-lo, quando senti ela estava sobre mim. Não deu nem tempo de eu falar nada.

Senti os beijos dela no meu pescoço enquanto a mão estava embaixo da minha blusa já. Eu deixei, vai que assim eu esquecia né? Tentei por um tempo mas não adiantou, eu não estava conseguindo, então pedi pra ela parar.

– Que foi? – me olhou. Ela estava em cima de mim.

– Eu não to bem Mah, melhor parar, não to conseguindo.

– Por que?!

– To com dor de cabeça. Eu te falei!

– É sério isso?! – me olhava incrédula e acho que meio puta. Fiz que sim com a cabeça e ela saiu de cima de mim suspirando.

– Não tenho culpa de estar com dor de cabeça Maria! – falei a olhado, ela estava de barriga pra cima e olhava o teto.

– Ok. Mas já é a segunda vez né? – me olhou ao falar- Seguidas!

– Não controlo minhas dores Maria!

– Ok.

Não a olhei, ela não falou mais nada, só saiu pra ir ao banheiro. Afundei a cabeça no travesseiro assim que ela saiu, eu só queria matar a Dulce!! Só isso!!

Resolvemos dormir….. Bom, eu não dormi tão cedo, fiquei revirando aquela conversa na cabeça e foi impossível não lembrar de anos atrás…..



Notas:



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