Eu estava bem até, me sentia bem, o que deve ser até irônico né? Afinal, como uma pessoa que está internada há quase três dias no hospital pode estar bem né? Mas eu to, posso fazer tudo, exceto sair do hospital e isso estava começando a me deixar entediada, e pensar que eu ainda devo ter umas três semanas aqui….. Mas definitivamente, a pior parte era não poder ver a minha filha a hora que eu quisesse e fazer tudo que eu gostaria de fazer com ela, mas infelizmente, agora eu precisava focar em trazer meu filho em segurança ao mundo…. Mas era difícil, não ver meu bebê todos os dias.

Meu quarto estava sempre cheio, tanto meus pais quanto meus sogros íam sempre lá, Mai também ía muito mas não ficava muito tempo pois ela tinha a Mari pra cuidar né e não dava pra levar ela lá, a Fê vivia lá também….além do Chris e Gui, era bom pois pelo menos me distraía….

Hoje no final do dia a Anahi chegou com a Sophie e a Ju, além da Fê, já me subiu um frio na espinha, toda vez que via a Ju, já pensava no pior….

– Más notícias? – já perguntei e elas riram.

– Calma amor. – Anahi veio até mim me dando um selinho e sentou ao meu lado na cama.

– Desculpa gente, é que toda vez que vocês vêm juntas assim já me dá uma sensação ruim….

– Hahaha, calma amiga. Elas só querem conversar com você, fica calma, ok?

– Ok. – respirei fundo.

– Prometo não ser uma portadora só de más notícias, Dulce….- Ju começou a falar e fiquei sem graça.

– Desculpa Ju, é que….- ela me interrompeu sorrindo.

– Tudo bem, Dulce, eu entendo. Olha, não são más notícias, né Sophie?

– Não, não são. – ela respondeu me olhando.

– O que é então? – olhei delas pra Anahi.

– Ouve amor, e calma, ok? – fiz que sim mexendo a cabeça e então as olhei.

– Bom, o que a gente veio te falar é que a audiência foi marcada.

– Sério? – olhei pra Anahi que me respondeu mexendo a cabeça- Quando? – olhei pra elas de novo.

– Segunda. – Ju.

– Já?? – olhei pra Anahi meio aflita.

– Sim, mas isso é bom Dulce. – Sophie- Quanto antes resolvermos isso, melhor. – a Anahi me olhou apertando minha mão.

– Eu sei, é só que….- respirei fundo- tenho medo de….- parei de falar porque não consegui.

– Dulce, presta atenção. – a Sophie se levantou e sentou na minha frente segurando na minha mão- eu não vou deixar. Eu e a Ju estamos fazendo de tudo pra garantir que ele sequer não veja a Giovanna. Confia na gente.

– Eu confio, Sophie, só tenho medo. Não consigo nem pensar se….- parei de falar sentindo minha voz embargar e a Anahi me abraçou.

– Ele não vai conseguir amor, eu te prometo. A Giovanna é nossa filha e ninguém vai tirar ela da gente, eu prometo pra você. – ela me olhou nos olhos ao falar e eu já sentia minhas lágrimas rolarem- Eu não vou deixar! Vou fazer o impossível pra isso não acontecer, ok? – só consegui concordar com a cabeça.

– Dulce, olha só, eu entendo que você esteja com medo, as duas….- Ju começou a falar e a olhei- Mas nós temos tudo sob controle, ele não devia nem saber da existência de vocês, ele quebrou as regras, todas as ameaças e tudo que ele fez, nós vamos fazer virar contra ele, pode ter certeza! Nós temos a lei a nosso favor, fica tranquila. Até porque não existe nada que ele possa falar contra vocês como mães dela, não tem como ele ganhar. Eu prometo à vocês que eu vou garantir que a filha de vocês ficará com vocês.

– Obrigada Ju. – falei e ela me sorriu. A Anahi continuava abraçada à mim e a ouvi suspirar.

– Vai dar tudo certo, gente….- Fê falou e eu a olhei e sorri. Estava com a voz embargada ainda pra falar.

Elas ainda ficaram mais um tempo nos explicando como seria a audiência e tal, só a Anahi poderia ir por motivos óbvios. A Ju se despediu e pedi pra Fê e pra Sophie ficarem, eu ficava muito entediada naquele hospital…..e era bom conversar com elas pra me distrair.

– Vocês querem comer alguma coisa? – perguntei.

– Não, eu to sem fome. – Fê.

– Eu também, depois comemos Dul….- Sophie falou e olhei pra Anahi que negou com a cabeça.

– Você já comeu? – Fê.

– Não, daqui a pouco eles trazem.

– E como você está se sentindo? – Sophie.

– Meio entediada hahah. – elas riram- Três semanas é muito tempo….

– Mas você está bem, parece bem….- Sophie.

– To. Só morro de saudades da Gih!

– Mas ela não está vindo aqui? – Fê.

– Vem, mas não sempre e não pode ficar muito tempo né….

– Logo passa amor….se Deus quiser, logo você estará em casa. – a olhei e sorri- E com nosso bebê junto. – ela passou a mão sobre a minha barriga.

– Espero! Não vejo a hora!

– Vai sim Dul….- Fê.

– Só to triste de ter que passar o aniversário dela num hospital.

– Mas não vamos fazer o bolinho dela aqui? – Sophie.

– Vamos! Vocês vêm né? – Anahi.

– Claro, dou uma fugida na hora do almoço.

– Dul, não pensa nisso. – a Fê falava tocando na minha mão- O que importa é que ela estará aqui com vocês, ela nem vai lembrar disso, te garanto. Será muito mais importante pra ela lembrar do carinho das mães do que de um festão.

– Exatamente. Foi o que eu disse pra ela. – Anahi me olhou- E quando você tiver em casa com o Matheus, todo mundo bem, a gente faz uma festa pra ela.

– Eu sei, não é pela festa, mas me dá peninha dela….

– Pensa nisso não Dul. Ela já até acostumou né? – Sophie.

– Sim. – a Anahi falou e riu- Tadinha, na primeira vez ela morreu de medo quando te viu deitada na cama….- eu sorri lembrando dela agarrada na Anahi com medo.

– Criança é bom que esquece tudo rápido né….- Fê.

– Verdade. – respondi e suspirei- Mas vamos falar de coisa boa? To sabendo que vocês vão viajar….

– Vamos. – Sophie falou olhando pra minha amiga e as duas sorriram- Quer dizer, ainda vamos, mas só depois.

– Depois do que? – perguntei sem entender.

– Da audiência. Não vou viajar no meio disso tudo. – Sophie.

– Sim, não teria o mínimo clima. – Fê.

– Não faz diferença uma semana a mais ou a menos, iremos na próxima semana. Porque eu não vou sossegar até colocar esse cara no lugar dele!

– Obrigada. – sorri a agradecendo do fundo da alma.

– Não tem o que agradecer. Mesmo que vocês não tivessem me pedido eu iria ajudar, não vou deixar ele tocar num fio de cabelo da Giovanna, do Matheus ou de vocês, esse cara é um doente mas ele vai ter o que merece! Ele vai se arrepender de ter mexido com vocês! Prometo. – vi a Fê a olhando orgulhosa e lhe deu um beijo na bochecha e eu estava quase chorando de emoção.

– Obrigada Sophie. – ela sorriu- Não, de verdade, eu não sei nem o que te dizer….

– Não precisa dizer nada. Vocês são como uma família pra mim e eu nunca deixaria ninguém fazer mal a essas crianças.

A Anahi levantou e fez o que eu queria fazer mas não podia por causa de todos os fios e pelo peso da barriga, a abraçou.

– Para Anahi. Vai me fazer chorar….- ela falou se separando no abraço e secando o rosto, aliás as duas. Não sei o que, mas a Anahi tinha sussurrado algo pra ela.

Quando olhei pro lado vi a Fê as olhando mas com um olhar distante, não entendi bem mas não deu pra perguntar porque logo a Anahi falou:

– Ok, chega de choradeira então hahah.

– Isso! Fora que se tem alguém pra agradecer sou eu, se não fosse vocês, eu não teria conhecido a Fer e não seria a pessoa mais feliz do mundo! – ela olhou pra minha amiga sorrindo, percebi ela corando de leve e a Sophie deu um beijo na bochecha dela.

– Ai gente, que romântico….- Anahi brincou enquanto me abraçava e me dava um beijo no rosto.

As duas nos olharam e riram mas eu percebi o mesmo olhar na Fê, mas não deu tempo de nada, pois ela falou que ía ao banheiro e já voltava. Assim que ela saiu, vi a Sophie nos olhando pois ficou estranho….

– Ela está bem? – perguntei.

– Ela diz que sim Dul, mas eu to achando a Fê estranha tem uns dias…

– Como assim estranha? – Anahi perguntou mas a Sophie apenas deu de ombros e foi a hora que ela saiu do banheiro, então o assunto morreu.

Elas ficaram mais um tempo ali mas logo se foram, restando só nós duas ali. A Anahi também estava com uma expressão diferente mas eu ainda não tinha falado nada.

Uma das enfermeiras bateu na porta avisando que nosso jantar já chegaria então quando ela saiu, a Anahi me disse que iria tomar banho, mas sem deixar que ela se afastasse muito, a segurei pelo braço.

– Tá tudo bem?

– Claro, meu amor. – ela me deu um selinho antes de sair mas eu percebi ela estranha até pelo beijo.

Ela voltou um pouco antes do jantar chegar, jantamos conversando basicamente sobre a Giovanna, ela me contando as coisas que ela fez e tal, assim que a enfermeira veio recolher nossos pratos, eu me levantei.

– Onde você vai?

– Escovar os dentes. – respondi e a vi me seguindo- Você não precisa me seguir, você sabe né? – olhei pra ela rindo, pois estava brincando. Ela sorriu de volta, estava encostada na bancada da pia.

– Eu vim escovar os dentes também….- ela me mostrou a escova na mão dela. Eu sabia que não era mentira mas não era só por isso….rs.

Estava escovando os dentes quando sinto o abraço dela por trás, ao erguer os olhos nos olhamos pelo espelho, dei um meio sorriso com a escova na boca ainda e senti as mãos dela escorregando por dentro da camisola do hospital e pousando sobre a minha barriga. Ela sorriu e me deu um beijo na nuca.

– Linda….

– Ah devo estar super linda com essa camisola de hospital e essa calçola. – nós duas rimos.

– Tá sim. – ri mais uma vez e continuei a olhando pelo espelho, quando nosso riso morreu, ela continuava me olhando.

– Vai me contar agora o que aconteceu? – ela sorriu e se soltou de mim, indo escovar os dentes. Quando acabou me deu a mão me puxando pra cama. Me virei pra ela e fiquei esperando ela falar.

– Fica calma tá? – suspirei. Não aguentava mais ouvir isso esses dias.

– O que aconteceu, Annie? – ela tocou meu rosto fazendo carinho.

– A Gabi. Ela teve uma infecção.

– Ela…- me interrompeu.

– Calma. Ela está medicada e sendo tratada, temos que esperar ela responder….

– Meu Deus….- levei a mão ao rosto querendo tanto estar com ela….por que meu Deus?

– Eles íam começar a fazer a transferência dela pra cá mas agora terão que esperar mais um pouco….- a olhei- Amor, temos que pensar positivo…. Vai dar tudo certo!

– Tá difícil….tanta coisa acontecendo….

– Sim, eu sei. Mas temos que manter o foco e a fé. Ela vai sair dessa, o Matheus vai salvar a irmã e vamos todos ficar bem, se Deus quiser….- a única coisa que eu consegui foi concordar com ela balançando a cabeça e ela me abraçou.

Fechei os olhos rezando por dias melhores….

Dois dias depois era o aniversário do meu bebê, veio todo mundo até a Mari e a Alice, seria por pouco tempo…. Eu estava muito feliz e triste ao mesmo tempo, senti falta da Gabi com a gente…. A Giovanna se divertiu e pra ela parecia uma festa mesmo, ela não entendia, eu sei, mas ainda estava me matando por dentro ela passar o dia do aniversário dela num hospital…..mas como sempre ela conseguia me alegrar e me distrair de tudo, foi o melhor dia que passei naquele hospital! Mas na hora de ir embora, ela abriu maior berreiro agarrada à mim, fiquei arrasada e a Anahi falou pra deixar ela lá, que depois ela a levava em casa, então foram todos embora ficando só nós três mesmo, ou melhor, nós quatro. Ela dormiu nos meus braços enquanto via desenho no iPad, olhei pra Anahi que nos olhava da ponta da cama, ela estava meio deitada toda torta, ela sorriu ao ver que ela dormiu, tirei o iPad da mãozinha dela e chamei a Anahi.

– Deita aqui com a gente. – ela veio e eu consegui me virar com a Giovanna a colocando em cima de mim.

– Dul, ela está pesada….

– Só um pouquinho….deita aqui. – foi o que ela fez e eu deitei a cabeça no peito dela.

Estávamos abraçadas, ela fazia carinho em mim e eu nela, do nada comecei a sentir um aperto no peito e a olhei.

– Você e ela são a coisa mais importante da minha vida, junto com o Matheus. – ela sorriu fazendo carinho no meu rosto- Me desculpa pelo que eu fiz, por ter te afastado e….

– Shh. – ela pôs o dedo na frente dos meus lábios pra que eu me calasse- Nada disso importa mais.

– Importa sim. Eu sei que você está magoada e….- mais uma vez ela me impediu de falar.

– Não vamos falar disso agora. Agora só o que importa é você ficar bem e cuidar do Matheus, tá bom? Vocês também são a coisa mais importante do mundo pra mim e é por isso que eu juro que farei até o impossível pra ninguém tirar ela da gente, ok?

– To com tanto medo, Annie….- falei olhando pra minha filha fazendo carinho nela.

– Também to Dul, mas eu juro que ninguém vai tirar ela da gente. Eu posso ir presa, morrer, mas eu prometo pra você, que ninguém vai tirar ela dos seus braços. Ok? – concordei.

– Mas eu quero você também, eu quero a minha família!

– Eu to aqui e não vou a lugar nenhum. – ela me abraçou e o abraço da Anahi era o único lugar no mundo que eu não tinha medo ou inseguranças- Nós somos as mães dela e nada no mundo mudará isso, tá bom?

– Tá. – balancei a cabeça junto ainda agarrada nos braços dela- Eu amo você.

– Eu também te amo demais, minha vida. Minhas vidas….- ela consertou e sorriu, fiz o mesmo.

– E você é o amor das nossas vidas. – a olhei ao falar e nós sorrimos, as duas com os olhos lacrimejando.

Ela me beijou. O beijo mais doce e protetor que ela já me deu na vida.

Mais tarde, ela levou a Giovanna pra casa e voltou pra lá pra dormir comigo, como em todas as outras noites.



Notas:



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3 Respostas para CAPÍTULO 30: As mães.

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