Dulce tinha saído meio cedo porque Mai a ligou dizendo que estava sozinha em casa e não conseguia falar com o marido, ela estava se sentindo meio mal e pediu pra a acompanhar até o médico. Por sorte, não foi nada demais, só alarme falso, ainda tinham três meses até Mariana nascer.
Saiu de lá na hora do almoço e avisou a Anahi que passaria no hospital pra ver Gabi, a esposa disse que estava presa no estúdio e não sabia se conseguiria ir lá hoje. Dulce chegou animada lá pois ultimamente estava melhor, mas tomou um choque ao ver Gabi tão abatida. Encontrou dona Yolanda saindo do banheiro com uma cara muito abatida.
– Tá tudo bem? – perguntou a dona Yolanda que suspirou olhando pra cama onde Gabi estava, ela meio dormia. Antes dela responder, ouviram um chorinho e a Gabi a chamando.
– Oi meu amor, a tia está aqui.
– Tá doendo tia.
– Calma, meu amor vai passar…. Olha quem está aqui. – ela apontou pra Dulce, saindo um pouco da frente pra que a menina pudesse a ver. Ela deu um sorriso, fraquinho mas sorriu.
– Oi linda. Vim te ver, como você está? – Dulce falava sussurrando baixo, porque ela parecia tão franquinha…. Deu um beijo na cabecinha dela, antes de sentar na cama. Tocou na mãozinha dela fazendo carinho.
– Estou enjoada. Está doendo também, tia.
– Doendo aonde meu amor? – ela olhou preocupada para menina. Quem explicou foi dona Yolanda.
– Ela acabou de sair de uma sessão de quimioterapia. – Dulce olhou pra menina com pesar. Fez carinho no rosto dela antes de falar.
– Vai passar tá meu amor…. Eu vim ficar com você, posso? – a menina abriu um enorme sorriso.
– Pode.
Dulce então, sentou ao lado dela na cama lado do seu travesseiro, ficando de lado e a abraçando.
– Sabe quem te mandou um beijo e disse que estava com saudades?
– Quem? – ela perguntou animada.
– A Giovanna.
– A Ana Paula também? – ela perguntou animada olhando pra Dulce que sorriu, olhou de relance pra dona Yolanda que também sorria. Então ela voltou olhar pra Gabi, e ainda sorrindo respondeu.
– Eu não falei com Ana Paula, mas com certeza ela teria mandado…- Gabi sorriu feliz- Você gostou de brincar com elas?
– Sim, gostei muito delas!
– Que bom meu amor, elas também gostaram muito de você! – a menina sorriu.
– Eu posso ver elas de novo?
– Claro, a gente marca outro dia pra vocês brincarem tá? – mais uma vez Gabi sorriu feliz e Dulce a abraçou ao falar e a menina apoiou a cabeça no ombro dela recebendo os carinhos na cabeça. Olhou pra dona Yolanda que sorria pras duas.
– Você vai ficar aqui? – ela perguntou baixinho.
– Vou sim. Você quer que eu fique?
– Quero. – ela respondeu e se ajeitou na cama deitando com a cabeça no colo de Dulce e passando a mãozinha pra a abraçar. Dona Yolanda olhava a cena realmente feliz, queria que a menina tivesse algumas horas de alívio depois daquela quimioterapia que ela passou.
Elas ficaram um tempo ali assim, Dulce percebeu que a menina pegou no sono mas não desgrudou dela, até falou pra dona Yolanda que se ela quisesse ir comer algo ou fazer algo que poderia ir que ela ficava com Gabi. A senhora agradeceu e disse que comeria algo na cafeteria, não demoraria muito.
Estava tudo bem, mas Gabi acordou e logo depois começou a se sentir mal, perguntou pela tia e Dulce disse que ela tinha ido almoçar mas que ela já voltava, perguntou se ela queria que a chamassem mas Gabi disse que não precisava. O enjoo não melhorou e ela pediu pra vomitar.
Quando dona Yolanda chegou, ela viu Gabi vomitando ela meio que se desesperou correndo até a cama.
– Ai meu Deus, eu não devia ter saído. Calma Gabi….- passava a mão na testa da menina- desculpa dona Dulce.
– Está tudo bem, ela está bem né Gabi? – falou com a menina que tinha encostado no travesseiro meio pálida pelo vômito, Dulce passava um paninho molhado na boca dela e na testa. A menina balançou a cabeça fazendo um “sim”. Dona Yolanda olhou pra Dulce que deu um meio sorriso pra ela.
Quando ela estava se sentindo um pouco melhor, pediu pra por no desenho que ela gostava, dona Yolanda já sabia, então ligou a televisão colocando no canal. Dulce aproveitou que ela ficou distraída com o desenho e puxou dona Yolanda num cantinho pra conversar com ela.
– Dona Yolanda, o Velasco não vem aqui?
– Talvez ele venha mais tarde, mas pode ficar tranquila, a senhora já fez muito, se quiser ir, tudo bem, eu fico com ela.
Dulce sorriu pra senhora antes de falar.
– Primeiro, não precisa me chamar de senhora, só Dulce está bom. – a senhora riu meneando com a cabeça- Mas não foi por isso que eu perguntei, eu só queria saber mesmo…. eu achei que ele ficasse aqui com ela, principalmente hoje ela tendo feito a sessão de quimioterapia. Ela fica tão fraquinha né….
– Ele vem, às vezes. – dona Yolanda logo desviou o olhar, Dulce achou estranho.
– Entendi. É que às vezes vejo ele tão desesperado, correndo atrás de alternativas pra salvar ela e às vezes como hoje, não vir, achei estranho. – ela a olhou ao falar mas dona Yolanda nada disse- A senhora gosta dele?
– Do doutor? Sim, ele é uma boa pessoa.
– Bom pai? – ela perguntou e dona Yolanda demorou um pouco a responder.
– Ah, ele é homem né, tem as suas questões mas a menina ama ele. – foi o que ela se limitou a responder e Dulce estranhou mais ainda! Mas seu celular tocou.
– Já venho. É minha mãe. – a senhora meneou com a cabeça e Dulce foi lá fora atender.
Quando voltou dona Yolanda estava sentada com Gabi na cama, ela se aproximou das duas sorrindo.
– Você já tem que ir, tia?
– Não meu amor, era minha mãe, já falei com ela.
– Tá. – ela abaixou um pouco a cabeça.
– E como você está? Melhorzinha?
– Um pouco. – Dulce sorriu.
Um tempo depois, Dulce estava sentada na cama com ela, televisão continuava ligada, Gabi se distraía com a televisão e dona Yolanda lia uma revista sentada na cadeira. Dulce então foi surpreendida com a pergunta de Gabi.
– Tia, quando a gente morre vamos pro céu? – Dulce a olhou muito surpresa, ficou sem saber o que falar. A menina continuou- A tia Yolanda falou que minha mãe virou uma estrela no céu, né tia? – Dulce e Yolanda se olharam, as duas pegas de surpresa.
– É, meu amor. Sua mãe virou uma estrelinha que está sempre cuidando de você.
– Eu também vou virar? – ela olhou pra Dulce ao perguntar.
– Um dia….nós todas vamos. Mas não precisa se preocupar com isso agora, vai demorar muito ainda.
– Eu não. – ela abaixou a cabeça ao falar e a balançou.
– Você não o que? – Dulce perguntou e a menina ainda estava de cabeça baixa, olhou pra dona Yolanda que estava aflita também.
– Eu sei que vou virar estrelinha logo. Será que minha mamãe vai me achar? Eu não lembro dela direito tia Yolanda.
– Sua mãe sempre vai te achar meu amor. – dona Yolanda estava com lágrimas já- Mas que história é essa? Você não vai virar estrelinha nenhuma, não agora.
– Eu sei que vou virar logo. – mais uma vez ela abaixou a cabeça.
– Claro que não meu amor! – Dulce falou rápido meio desesperada, abraçou ela- Você vai ficar bem logo, tá? – ela ouviu a menina chorando nos seus braços- Ei, Gabi, para com isso. – ela pegou o rosto de Gabi e falou a olhando nos olhos- Você não vai, você vai ficar boa e a gente vai fazer varios passeios na praia, né dona Yolanda? – olhou pra senhora que também chorava.
– É claro que vamos Gabi. Você ainda vai brincar muito, eu vou ver você se formar. Lembra que me disse que quer ser médica quando crescer? – a menina fez que sim com a cabeça- Então…
– Mas eu sei que eu to doente.
– Sim, você está. Mas você vai ficar boa logo. – Dulce a abraçou.
– Eu sei que não vou. – a menina se soltou do abraço- Eu ouvi meu papai dizendo que eu estou muito doente.
As duas se entre olharam.
– Seu pai? Quando ele disse isso? – Yolanda.
– Ouvi ele falando no telefone.
– Mas ele não estava falando de você. – Dulce disse com vontade de matar Velasco!
– Estava falando de quem? – ela a olhou. A menina era esperta.
– Devia estar falando do tio dele. Lembra que eu disse que ele está muito doente, meu amor? E ele está velhinho já…
– Com certeza era dele. – Dulce disse reforçando o que dona Yolanda disse torcendo pra Gabi acreditar.
– Pensei que era de mim….- ela abaixou a cabeça ao falar e as duas se olharam morrendo de dó da menina.
– Não é meu amor, com certeza não era. – Dulce a abraçou novamente e dessa vez ela não chorou mas estava triste. Dulce tentava segurar as lágrimas em vão. Estava com o coração em frangalhos.
Aos poucos, Gabi foi se acalmando e mais tarde ela pegou no sono novamente.
Um tempo depois…..
– Ela está dormindo? – era Anahi que abriu a porta devagar.
– Acabou de dormir…- Dulce falou ainda deitada atrás da menina e fazendo carinho nela. Anahi sorriu pra ela e foi até a mulher lhe dando um beijo demorado no rosto.
– Ela estava cansada, tadinha…. Essas sessões de quimioterapia deixam ela muito mal….- Yolanda estava com a cara arrasada, assim como Dulce…- Ainda bem que a dona Dulce estava aqui….ajudou bastante ela.
– Sem o dona Yolanda, já te disse isso. – ela deu um sorriso ao fim da frase pra senhora que a olhou ternamente- Faço com muito carinho….- Anahi sorriu olhando a mulher mas esta não viu, olhava pra menina.
Nisso, a porta se abriu. Era Velasco, ele se aproximou e ao perceber que a menina dormia, falou baixo.
– Ela está dormindo?
– Sim. – Dulce respondeu.
– Como foi a quimio? – olhou pra Yolanda.
– Como sempre, doutor. – ela respondeu e elas estranharam a cerimônia dela com ele.
– Onde você estava, Velasco? – Dulce falou séria e dura olhando pra ele, tapou os ouvidos da menina pra que ela não acordasse. Ele a olhou mas não respondeu, aliás ninguém falou nada- Sua filha passou por uma quimioterapia e tenho certeza que ela adoraria que você estivesse ao seu lado.
– Mas a dona Yolanda estava aqui, não estava? – olhou pra mulher que confirmou.
– E ela trata a sua filha com muito amor, não tenho dúvidas disso, mas você é o pai dela! – Dulce percebeu no olhar dele como ele ficou puto mas se controlou- Não consigo entender o que pode ser mais importante que sua filha numa hora dessas.
– Dul….- Anahi tentou intervir pois percebeu como a mulher estava alterada.
Dulce nem a olhou, continuava com os olhos fixos nele, que continuava mudo, só a olhava. Ela suspirou e se levantou da cama.
– Enfim, eu preciso ir. Tenho que ver a minha filha. – o olhou ao falar e depois desviou pra Yolanda- Da um beijo nela quando ela acordar?
– Claro, dou sim. – ela tinha um sorriso terno no rosto e lágrimas nos olhos também. Dulce a abraçou se despedindo dela e em seguida Anahi fez o mesmo.
– Tchau. – o olhou antes de sair que não respondeu, ficou a olhando se afastar, olhou pra Yolanda e então saiu do quarto atrás delas.
– Dulce. – ele chamou, então ela parou e o olhou- Obrigado por ter ficado com ela. – esta apenas balançou a cabeça- Você também Anahi.
– Eu acabei de chegar, a Dulce que ficou com ela a tarde quase toda. – ele então desviou o olhar pra Dulce.
– Precisamos ir, vamos Annie?
– Vamos. – elas estavam se afastando quando ele torna a falar.
– Espera. Vocês pensaram no que conversamos?
– Nós precisamos de um tempo Velasco, já te disse isso. – Dulce.
– A Gabi talvez não tenha esse tempo todo. – Dulce o olhou puta! Como se ele tivesse usando a menina pra a chantagear, até parece que se importa tanto, ela pensou.
– Eu sei Velasco! Mas temos que pensar, até porque uma gravidez dura 9 meses. Não vai ser amanhã.
– Eu sei.
– A gente vai pensar e te da uma resposta, ok? – Anahi interviu, ela percebeu que a mulher não estava bem hoje.
– Ok. Espero a resposta de vocês.
Dulce apenas balançou a cabeça e se virou pra mulher.
– Vamos? – ela confirmou com a cabeça e Dulce a puxou pela mão se afastando dele.
Foram pro elevador e Anahi percebeu que ela controlava as lágrimas, estava com a cara péssima.
– Você está de carro? – Dulce se virou pra ela pra perguntar, Anahi quis perguntar se ela estava bem mas tinha muita gente no elevador pra isso, então apenas a respondeu.
– To.
Assim que o elevador chegou, elas saíram indo na direção do carro de Anahi que quando viu que não tinha quase ninguém mais por perto, a puxou pelo braço pra ela parar.
– Você está bem amor? – Dulce a olhou já fraquejando. Apenas balançou a cabeça dizendo que não e se encostou no carro, Anahi viu que ela ía chorar e a abraçou.
Foi aí que ela desmoronou…. Anahi a deixou chorar, não precisava perguntar o que era, ela sabia. Gabi estava muito abatida.
– A gente precisa fazer alguma coisa…- ela sussurrou entre o choro mas um pouco mais calma.
– Eu sei, a gente vai fazer. Calma amor.
– Eu to me sentindo uma egoista, sabia? – olhou pra mulher ao falar.
– Por que?
– Porque é horrível isso que ela está passando amor, ela está sofrendo… E eu…- ela suspirou- a gente pode acabar com isso né? – Anahi suspirou.
– Dul….- Anahi deu um passo na direção dela, fez carinho em seu rosto- a gente ficou de conversar e pensar em tudo, calma….
– Pensar em que Anahi? Ela está morrendo.
– Não, não está. Não fala isso.
Dulce suspirou e abaixou a cabeça.
– É um filho meu amor, não é apenas alguém pra salvar a Gabi, se é que vamos conseguir, nem certeza nós temos. A gente tem que pensar em tudo, e depois que ele ou ela doar a medula, e aí?
– Vcê não quer? Outro filho?
– Não disse isso, eu não sei. A gente não parou pra conversar sobre isso….
– Eu sei. – ela voltou a abaixar a cabeça e cobrir o rosto com as mãos- Não sei o que fazer….
– Calma. – Anahi a abraçou novamente- Vamos pra casa, ficar com a Giovanna….relaxar um pouco e pensar? – Dulce fez que sim com a cabeça ainda no abraço. Anahi deu um beijo no rosto dela antes de se separarem e irem em direção ao seu carro.
Naquele dia Dulce pediu e Anahi concordou, Giovanna dormiu com elas na cama.
Anahi dormiu com o que Dulce falou na cabeça, não conseguia esquecer ela contando como Gabi chorou dizendo que achava que ia morrer logo, que ouviu isso do pai. Não sabia como Velasco conseguia ser tão insensível às vezes e outras tão desesperado para salvar filha.
Elas precisavam fazer algo, tinham que resolver e dar uma resposta à ele, mais que à ele, precisavam resolver pela Gabi.