Andréa e Marisa acordaram abraçadas naquela manhã. Alguma coisa parecia diferente, Andréa sentia que tinha em fim aberto o seu coração para Marisa, não haviam mais mentiras, não existia nada mais para esconder e finalmente entendia que a vida a dois implicava muito mais do que trabalhar e sustentar uma casa. Ela tinha em fim entendido que a sua mulher não era aquela roca, aquela fortaleza que ela sempre tinha achado que era, Marisa era uma mulher sensível e delicada que precisava de atenção, de cuidados também. Andréa sentia que tinham toda uma vida nova para viver a partir daquele momento. A tormenta tinha em fim passado e agora era só curtir a calmaria, a esperança encheu o seu coração naquela manhã.
— Fica mais um pouquinho na cama, meu amor. Vou fazer café para nós. — Disse Andréa levantando.
— E que milagre é esse? Você vai para a cozinha de novo? Achei que isso só acontecia uma vez por ano. — Respondeu Marisa, sarcástica.
— Prometo que a partir de agora isso vai virar rotina. — Me espera aí na cama que eu já venho com o café. — Disse Andréa.
— Desculpa, mas eu preciso levantar e tomar banho. Tenho academia e aula hoje. — Disse Marisa levantando também.
— Mas precisa mesmo ir, amor? Eu ia faltar ao trabalho hoje, ficar aqui com você curtindo um pouquinho. — Respondeu Andréa, manhosa.
— Preciso, você pode faltar ao seu trabalho quando quiser, a empresa é sua. Eu preciso cuidar da minha vida, meu corpo, minha saúde e meu futuro. Se não estudar, não vou conseguir passar na faculdade e eu não quero continuar vivendo desse jeito, sem estudar nem trabalhar. — Respondeu Marisa, séria enquanto ia para o banheiro.
— Está bem. — Disse Andréa indo em direção a Marisa e abraçando-a por trás. — Adoro ver você assim tão séria, tão profissional.
Andréa fez o café para as duas, ambas sentaram na mesa da cozinha e comeram. Depois de um beijo nos lábios, cada uma pegou um carro e saiu para enfrentar o seu dia.
Marisa voltou a casa ao meio dia, trocou de roupas e sentou no sofá olhando para a TV desligada. Algo não parecia certo, tristeza e nostalgia inundaram a sua alma.
Todo dia após o almoço Marisa recebia Lívia em casa, todos os dias as duas preparavam alguma coisa para o jantar, mas agora fazia mais de uma semana que Lívia tinha ido embora e não tinha mais voltado para a casa das duas. Marisa ficou esperando que ela ligasse, que desse notícias, mas esperou em vão, a garota tinha simplesmente sumido.
Marisa estava ainda pensando nisso na sala quando ouviu o portão abrir, era Andréa, tinha almoçado na rua e voltado cedo para casa. Andréa entrou falando de uma reunião que tinha sido cancelada e dizendo que precisava trabalhar um pouco em casa, mandar alguns e-mails, mas que não voltaria para o trabalho naquele dia.
— Andréa, tem visto a Lívia lá no trabalho? — Disse Marisa do nada.
— Não, ela deixou uma carta informando que não vai mais voltar, pediu as contas dela desistindo do aviso prévio. — Respondeu Andréa, distraída.
— Mas que covardia a sua, Andréa, você vai aceitar que a menina saia desse jeito? Além de prejudicar a vida pessoal dela agora vai lhe prejudicar a vida profissional? — Perguntou Marisa, indignada.
— O que você quer que eu faça? Foi ela quem quis assim, eu não a mandei embora da empresa. — Disse Andréa.
Marisa foi até a cozinha chateada com Andréa, às vezes não entendia como a esposa conseguia ser tão fria e egoísta. Ela começou a preparar o jantar, mas de repente percebeu que a cozinha parecia estranhamente vazia e sem graça sem Lívia por lá. Andréa estava na sala na frente do computador, a vida estava lentamente retornando à antiga rotina em que Marisa cuidava da casa e Andréa cuidava da empresa, Marisa de repente ficou pensativa e triste. Até quando iria durar este segundo namoro com a esposa? Até quando resistiria Andréa antes de encontrar mais uma aventura, mais uma forma de sair dessa rotina mortal que as dominava e que não pareciam ser capazes de vencer.
A verdade era que, desde que as meninas tinham ido embora, a vida de Marisa era um tédio, a casa estava silenciosa, vazia e parecia enorme, Luiza já quase não voltava para Brasília, passava mais tempo viajando e em São Paulo do que em casa. Marisa estava surpresa em reconhecer isto, mas Lívia tinha sido uma boa companhia nas passadas semanas, ao menos assim ela tinha com quer conversar, tinha alguém para lhe fazer companhia na cozinha, tinha alguém a quem contar as histórias das viagens, podia ensinar as receitas de cozinha que tinha aprendido ao longo de uma vida, tinha alguém com quem ver as fotos antigas, a moça até gostava das mesmas músicas que ela, o que era uma delícia, pois Andréa só queria saber de ouvir sertanejo, que Marisa detestava. É… Lívia era mesmo uma boa companhia e, por mais que fosse difícil de admitir, ela tinha se afeiçoado, estava preocupada com ela, sabia muito bem que ela deveria estar sofrendo e não, isso não fazia Marisa feliz.
A mulher foi até o quarto, pegou o telefone e discou o número de Lívia:
— Oi, Lívia. É Marisa aqui. Tudo bem com você? — Perguntou Marisa.
— Vai ficar. — Respondeu uma voz desanimada do outro lado da linha.
— Eu queria saber como você está, fiquei sabendo que decidiu sair da empresa, você não mandou mais notícias. Fiquei preocupada com você. — Disse Marisa, com a mesma sinceridade de sempre.
— Você se preocupando comigo? Não entendo isso. Por que você iria se preocupar comigo? Você me odeia, está me ligando porque quer me ver sofrendo de perto é isso? — Respondeu a moça.
— Eu não odeio você? Por que odiaria? Nada do que aconteceu foi culpa sua. — Marisa disse as palavras sem traços de ironia, sem sarcasmo, era mesmo a verdade em que ela acreditava.
— Você deveria me odiar, sofreu por minha causa, deveria estar comemorando a sua vitória, você ganhou. — Disse Lívia, parecendo genuinamente aflita.
— Não é verdade isso. Você não me fez sofrer, quem tinha um compromisso comigo e me devia lealdade e fidelidade era a Andréa, não você. Ninguém ganhou nesta história, todas perdemos e não te odeio, você está enganada, fiquei mesmo preocupada com você. Eu gosto de você, mesmo que você não entenda isso e não acredite. Queria somente saber se você está bem. Estava na cozinha fazendo o jantar e pensei em que uma torta de limão acompanharia muito bem a comida de hoje, você queria aprender a fazer… não quer vir aqui aprender? — Disse Marisa pausadamente.
— Eu não tenho nada para fazer na sua casa, a Andréa não me quer aí, não sou cachorro para precisar voltar com o rabo entre as pernas para perto de quem está me chutando e enxotando de perto. — Respondeu Lívia num tom triste.
— Talvez ela não queira você aqui, mas eu quero. Esta casa é minha também e sou eu quem está te convidando a vir. — Respondeu Marisa com simplicidade.
Pouco tempo depois, para o espanto de Andréa, Lívia tocou a campainha. Marisa abriu o portão e a convidou a entrar. Lívia cumprimentou Andréa de longe e foi direto para a cozinha com Marisa. Andréa não sabia o que dizer, não fazia ideia do que estava acontecendo nem por que Lívia estava ali, teve medo de ir até a cozinha e iniciar novamente uma discussão, não aguentava mais discussões, tudo o que ela queria era viver em paz, deixar esse episódio para atrás e continuar a vida como sempre, como antes. Pelo visto, Marisa não estava mesmo disposta a fazer isso.
Naquela noite, Lívia jantou com elas, Lívia e Marisa pareciam estar cheias de assunto, Andréa estava calada, o seu pensamento estava longe, tentou não interferir na conversa das duas.
Após o jantar, Marisa elogiou a torta de limão que tinha feito junto a Lívia, disse que estava perfeita e pediu que ela voltasse no dia seguinte, disse que teria uma surpresa para ela. No final da noite, a moça parecia mais animada, seu olhar não estava tão triste quanto na hora em que tinha chegado e concordou em voltar no próximo dia.
— Ótimo. — Disse Andréa. — Vou voltar um pouco mais cedo do trabalho amanhã também, assim a gente tem tempo de aproveitar um pouco mais antes do jantar. Agora vocês me desculpem, vou dormir, estou morrendo de sono.
Naquele dia Marisa não tinha aula, era um sábado. Foi para a academia cedo, tomou um banho, trocou de roupa, se arrumou toda e foi fazer compras para a surpresa que queria fazer para Lívia.
Já de volta em casa, depois do almoço, recebeu Lívia, ambas foram para a cozinha preparar o jantar, quando estava tudo pronto Marisa disse:
— Hoje vamos harmonizar o jantar com vinho, Lívia. Entende alguma coisa de vinhos?
— Não. — Respondeu a moça timidamente. — Eu não bebo.
— Ahhh mas vai precisar aprender. Não é possível apreciar um bom jantar sem um vinho. A Andréa também não bebia vinho quando eu a conheci, mas agora não vive sem, sabia?
— Nunca bebeu vinho quando estava comigo. — Respondeu Lívia sem entender a necessidade desse comentário.
— Não, imagino que não…. Ela deveria estar entretida com a boca em outras coisas… — Respondeu Marisa, mais pensativa do que irônica. — Mas hoje você vai começar a aprender como beber e harmonizar vinhos, sou uma ótima professora, foi comigo que a Andréa aprendeu tudo sobre vinhos. Ela aprendeu rápido, você vai aprender mais rápido ainda.
— Eu não gosto de vinho. — Disse Lívia, seca.
— Não gosta porque ainda não bebeu o vinho certo acompanhando o prato certo. — Respondeu Marisa sem prestar atenção à cara de pouco interesse de Lívia. — Hoje nós fizemos lasanha bolonhesa, precisamos então de um vinho de corpo mais leve, taninos delicados, mas sem exageros, algo que combine com a carne que colocamos na lasanha. Um bom exemplo seria um Carménère, ele é um bom vinho para você começar. — Continuou Marisa pegando um Don Luis chileno e um abridor de garrafas. — Lívia, pega uma faca e retira o rótulo deste vinho totalmente. Cuidado para não cortar a rolha enquanto fizer isso. — Completou ela enquanto entregava a garrafa e o abridor para Lívia.
—Ótimo. —Disse Marisa quando Lívia terminou de retirar o duro lacre da garrafa. — Agora coloca o abridor encima e começa a torcer. Cuidado para não atravessar a rolha toda, não queremos que caiam pedacinhos de cortiça no nosso vinho. Também cuidado para não enfiar muito pouco ou a rolha pode quebrar ao retirá-la.
Lívia retirou a rolha sem dificuldade.
— Ok. — Disse Marisa enquanto colocava um gole de vinho na taça balançando um pouco o líquido nela. — Cheira o vinho. — Disse a mulher enquanto aproximava a taça do rosto de Lívia. — Está sentindo o cheiro de frutas vermelhas? Tem uns toques de ervas e especiarias também e um fundinho de chocolate, mas o aroma predominante é sem dúvida o de frutas vermelhas.
— Senti um pouco. — Disse Lívia, ainda séria.
— Coloca um pouquinho na boca, mas sem beber ele rápido, deixa um pouco na sua boca. — Disse Marisa, enquanto mordia de leve o lábio inferior e levantava a sobrancelha esquerda.
Lívia obedeceu.
— Deixa o vinho encher a tua boca, no começo você vai sentir um gostinho meio travoso, mas aos poucos vai vir um doce. Está sentindo?
Lívia balançou a cabeça positivamente.
— Passa a Língua pelo vinho, deixa ele entrar por cima, abaixo, nos lados da tua língua, deixa ele encher a tua boca. Quando tiver sentido todo o gosto, você pode beber o gole, não deixe esquentar demais na boca. —
Lívia engoliu devagar se sentindo tonta e embriagada antes mesmo de ter terminado de beber o primeiro gole.
Marisa encarou a moça enquanto engolia o vinho, uma gotinha lhe escorreu pelo canto da boca, Marisa imediatamente, como por um reflexo, levou a sua mão até o rosto de Lívia e a enxugou. — Gostou?
Lívia balançou a cabeça novamente.
Naquele dia, como prometido, Andréa chegou cedo do trabalho trazendo flores para Marisa. Mal cumprimentou Lívia ao entrar, mas as três mulheres sentaram à mesa, comeram, beberam e conversaram normalmente. Uma garrafa de vinho foi pouco, então Marisa abriu mais uma garrafa, desta vez um nacional, Carménère também, mas um Aurora varietal produzido no sul.
Depois de quase duas horas de jantar, Lívia levantou e fez menção a que iria embora, disse estar com sono. Marisa a impediu de levantar delicadamente colocando a sua mão na coxa da moça e disse:
— Eu quero que você fique.
Lentamente, Marisa subiu a sua mão pela coxa de Lívia levando com ela a barra da saia. Lívia olhou assustada e tentou tirar a mão de Marisa, mas Marisa levantou, sentou no colo de Lívia com as pernas abertas, uma de cada lado da cadeira, segurou os longos cabelos loiros com a mão direita levantando delicadamente a cabeça da moça e a beijou forçando a sua língua por entre os vermelhos lábios na moça.
Lívia se assustou e tentou se levantar, mas Marisa fingiu não perceber e continuou beijando-a enquanto Andréa observava estarrecida. Com a mão esquerda, Marisa abriu um botão da blusa de Lívia e lhe puxou um dos seios por cima do sutiã, levou sua boca para perto dele e lhe lambeu o mamilo de baixo para cima com a ponta da língua.
Andréa levantou da cadeira:
— O que você pensa que está fazendo, Marisa? Você passou dos limites!
— Senta e fica quieta, Déia. — Respondeu Marisa firmemente. — Lívia, eu quero que você fique com a gente hoje. — Disse Marisa ainda com a mão no seio da garota olhando-a nos olhos.
Lívia não respondeu. Jamais, nem nos seus mais loucos sonhos Lívia tinha pensado numa cena dessas, ela nunca teria imaginado que Marisa era capaz disso. As paredes da sala pareciam girar ao seu redor, ela estava completamente tonta, não sabia se do vinho o da situação toda.
— Marisa, para! A Lívia está passando mal. Você não precisa fazer isso. — Suplicou Andréa.
Marisa aproximou os lábios do ouvido da moça e sussurrou:
— Fica com a gente hoje, dorme aqui, vai valer a pena. Prometo que vai ser só diversão, nada de drama, só prazer. Você vai ter eu e ela ao mesmo tempo, o que acha?
Andréa não ouviu as palavras de Marisa, mas viu a pele de Lívia se arrepiar. Não conseguia entender isso, esse era exatamente o tipo de coisa que Marisa nunca faria, jamais! Não a sua Marisa, aquela mulher tímida, inibida tão cheia de pudores e recatos. Marisa estava absolutamente irreconhecível aos olhos de Andréa.
Marisa se levantou, pegou na mão de Lívia e sem soltá-la foi até Andréa beijando-a na boca. Colocou a mão de Andréa na de Lívia, as deixou de mãos dadas de longe, pegou na outra mão de Andréa e a puxou para o quarto como numa ciranda, as três de mãos dadas.
Já no quarto, Marisa se despiu, ficou completamente nua, ambas mulheres a encarando incrédulas do que estavam assistindo, Marisa foi até Lívia e disse:
— Você é tão linda! Você tem noção do quanto você é bonita?
Marisa pegou nos cabelos de Lívia, ficou na ponta dos pés e lhe beijou o pescoço enquanto lhe segurava a cabeça com uma mão. Aos pouquinhos ela foi conduzindo Lívia para a cama que ela tinha arrumado toda com os seus melhores lençóis de cetim, sentou com ela aos pés da cama ainda beijando-a e acariciando-lhe a cabeça. Marisa se levantou e pegou Andréa pela mão, delicadamente tirou a sua roupa e a deixou completamente nua. Andréa não se mexeu, estava atônita. Marissa lhe disse ao ouvido:
— Relaxa e aproveita, hoje eu vou realizar todos os seus desejos, todas as suas fantasias.
Marisa conduziu Andréa para perto da cama, até Lívia, pegando a mão de Andréa e levando-a até a blusa da moça. Enquanto as mãos de Andréa abriam ágeis os botões da blusa de Lívia, Marisa subiu na cama e veio por trás dela lhe segurar o cabelo em alto com os dedos enquanto lhe beijava o pescoço e atrás da orelha.
A respiração de Lívia aos poucos foi se agitando e a urgência do chamado do corpo a fez querer arrancar as roupas de qualquer jeito. Os dedos de Andréa percorrendo a pele dela, brincando com os seus seios, enquanto Marisa lhe pressionava o seu corpo nas costas e percorria a sua cintura com as mãos.
À medida que o calor e o desejo aumentavam, as mãos, línguas e lábios se misturavam deliciosamente sobre as peles das três. Coxas, joelhos, tornozelos, mãos, cotovelos…. Não era mais possível identificar onde começava um corpo e terminava o outro, todos os membros e fendas estavam maravilhosamente misturados num emaranhado de cabelos e dedos. As mãos de uma no sexo da outra, das outras, dois sexos juntos, os três unidos em secreções, suor e calor. Olhos se abriam, se fechavam, gemidos de desejo e de prazer formavam um coral de jubilo e de gozo. E como num sonho do qual não se acordava mais, as três mulheres foram dormir quando o sol já despontava naquela bela manhã de domingo.
Andréa acordou como se acorda de um sonho. Eram onze horas da manhã e Lívia e Marisa ainda dormiam placidamente na cama que haviam compartilhado.
— Meu deus, que loucura. — Pensou Andréa enquanto a água morna do chuveiro lhe escorria pelo rosto.
Pedacinhos de lembranças lhe vinham à mente: o jantar, a bebida, Lívia montada no seu rosto se esfregando na sua língua enquanto Marisa lhe lambia entre as pernas. Tudo parecia confuso demais, louco demais, bom demais para ser verdade.
Ao sair do banheiro, Andréa checou mais uma vez: Lívia e Marisa continuavam dormindo lá, definitivamente não tinha sido um sonho.