A partir daquele dia Marisa passou a prestar atenção em tudo sobre Andréa: onde ela ia, que horas ela voltava, com quem saia, com quem falava ao telefone, com quem batia papo no WhatsApp, para quem mandava e-mail…. Tudo! Marisa vigiava cada passo de Andréa sem ela saber, esperava a esposa sair de manhã e corria ao computador para abrir o seu e-mail, olhar suas conversas, fuçava o seu Facebook, Instagram, Twitter. Marisa estava simplesmente paranoica, louca de desconfiança.
A mulher não conseguia mais viver em paz, parou de se preocupar com a faxina, parou de fazer almoço e jantar, passou a servir comida pronta que ela apenas esquentava no micro-ondas e começou a deixar as roupas acumularem em pilhas e pilhas antes de lavá-las ou passá-las. Marisa estava transtornada, completamente obcecada em vigiar Andréa, não havia espaço nem lugar para mais nada na sua vida.
As filhas, já com 19 e 22 anos começaram a perceber a mudança na mãe e a ressentiram. Giovana, que estava terminando a faculdade de administração, fez contato com professores americanos e conseguiu uma bolsa de estudos para um MBA na Columbia e só avisou a mãe quando faltava um mês para a viagem.
A ida de Giovana aos Estados Unidos foi muito dolorosa para toda a família que tinha sido sempre muito próxima, mas Marisa não se permitiu a dor, a obsessão com Andréa era maior do que tudo naquela época.
Uma noite, enquanto Marisa esperava Andréa chegar do trabalho, a mulher decidiu entrar uma vez mais no e-mail e redes sociais da esposa quando de repente viu uma foto no Facebook, uma que não tinha visto antes, era uma foto em que um colega de trabalho tinha marcado Andréa, nessa fotografia apareciam várias pessoas num happy hour, Andréa e vários colegas estavam marcados, do lado de Andréa, uma mulher jovem, loira, muito bonita aparecia com uma pequena tag embaixo na qual se lia “Lívia Marques”. O coração de Marisa acelerou, olhou a foto com atenção e reparou que Andréa e Lívia apareciam lado a lado naquela fotografia, Lívia abraçando Andréa com o braço direito, a mão por cima do ombro direito de Andréa e o braço e mão esquerdos da sua esposa estavam para debaixo da mesa num ângulo que lhe sugeria que a mão estava encima da coxa da moça. Ela não estava imaginando coisas, a fotografia era clara, clara demais para ser ignorada.
Marisa gravou a fotografia no seu celular, pensou em confrontar Andréa com ela, mas sabia que Andréa teria a desculpa perfeita, a explicação certa, tudo muito bem pensado e calmamente proferido, tudo ensaiado, planejado, tudo mentira.
Marisa imediatamente começou a procurar no Google: Detetive Particular em Brasília. Ela achou diversos websites com todo tipo de informações até que viu:
Agência de Detetives Mauro Schmidt. O Sr. Schmidt tem formação tática, cursos de detetive particular, na área de segurança e outros. Especializou-se na área de infidelidade conjugal.
Marisa pegou o telefone e discou o número que aparecia no website, foi quase imediatamente atendida por uma voz masculina:
— Agencia Mauro Schmidt.
— Oi… Boa tarde… Você fala com Marisa, eu… Eu estou precisando de uns serviços de investigação, estou precisando de algumas informações e..
— Você pode vir conversar conosco amanhã de manhã? Esses assuntos é melhor tratá-los pessoalmente, senhora Marisa.
— Posso sim, que horas ficaria melhor?
— A esperaremos entre as nove e o meio dia, senhora.
Pronto, estava marcado, ela iria se encontrar com o detetive, lhe explicaria tudo e esperaria por alguma prova de que estava equivocada.
No dia seguinte, Marisa saiu cedo, enxergou o prédio que procurava de longe e achou rapidamente a entrada para o estacionamento. Caminhou com passos firmes e confiantes até a recepção do prédio e se identificou. Entrou no elevador e apertou o número 11, era engraçado, o 11 sempre tinha sido o número de sorte de Marisa, ela tinha um pressentimento bom sobre este detetive.
Ela saiu do elevador, virou à esquerda e viu no final do corredor as letras douradas:
Agência de Detetives Mauro Schmidt
A mulher entrou e caminhou confiante até a recepcionista:
— Sou Marisa Vargas e marquei um encontro…
— Sim senhora, o Sr. Schmidt está esperando na sua sala, vou anunciar a sua chegada. — Disse a recepcionista com um sorriso e sem deixar Marisa terminar a sua frase.
Marisa entrou na sala, tudo era marrom naquele lugar, tons de marrom e bege, nada colorido. Estendeu a mão para cumprimentar o homem do outro lado da grande mesa de madeira:
— Marisa Vargas, senhor. Prazer.
— Prazer, senhora. Em que posso lhe ser útil?
Marisa tirou cuidadosamente da bolsa a foto que tinha gravado e impresso na noite anterior, nela apareciam Andréa e Lívia Marques.
— Esta é a minha mulher. — Disse Marisa apontando para Andréa na foto. —A loira é uma colega de trabalho. Quero que descubra o que está havendo entre as duas. —
Mauro Schmidt assentiu com a cabeça e logo lhe mostrou o tipo de equipamento que utilizava nas suas atividades. Pequenas câmeras, microfones e uma ficha na qual Marisa deveria anotar todos os dados que conseguisse lembrar sobre Andréa, incluindo as suas rotinas diárias, os locais que mais frequentava, etc , deveria também assinar um cheque de entrada e pronto, era só isso, o detetive a procuraria quando tivesse alguma resposta ou mais informações.
Marisa caminhou confiante até o seu carro, se sentiu tranquila pela primeira vez em dias, finalmente poderia descansar sabendo o que realmente estava acontecendo.
Duas semanas depois, Andréa estava saindo de casa quando avistou um carro diferente na rua, ela percebeu um homem dentro dele e, como ela conhecia todos os moradores do lugar, sentiu que deveria reparar na placa do carro, o homem parecia estar vigiando alguma casa com a intenção de assaltá-la.
Andréa passou o dia muito ocupada com o trabalho, porém decidiu que iria almoçar num lugar diferente naquele dia, na hora em que estava passando pelos carros do estacionamento para ir ao seu, a coisa mais estranha aconteceu: O mesmo carro que tinha visto na sua rua estava estacionado a poucos metros do seu. Andréa pegou o telefone e desta vez fotografou a placa do veículo.
Subiu no seu carro e foi almoçar, porém quando estava saindo do estacionamento, Andréa percebeu um carro vindo lentamente atrás do seu, não era possível… Era o mesmo carro! Andréa teve a estranha sensação de estar sendo seguida.
Seria um sequestrador? Um ladrão? Alguém esperando um momento de descuido da sua parte? O medo tomou conta dela.
Quando voltou à sua sala, Andréa pegou o telefone:
— Beth? É você? — Disse Andréa, visivelmente alterada. —Amiga preciso muito de uma ajuda sua, me perdoa por te incomodar com uma coisa dessas mas tem um carro me seguindo, a coisa mais estranha… Não consigo nem pensar numa explicação para isso, só me passa pela cabeça que possa ser um sequestrador. —
Do outro lado do telefone, Beth interrompeu o relato, mas Andréa respondeu rapidamente:
— Não, meu bem, não manda viatura não, está tranquilo, só quero um favorzinho. Eu tirei foto da placa do carro, só olha para mim aí se não é carro roubado… sei lá, de quem é o carro, quem é esse cara, sabe? —
Depois de desligar, Andréa ligou o computador e começou a escrever:
Amiga, aqui vai a foto da placa em anexo. Vê o que você pode fazer aí por mim.
Ah! Por tudo o que é mais sagrado, não conta nada para a Marisa, ela vai surtar se ficar sabendo… vou até apagar este e-mail para ela nem ver.
Obrigada, Bethinha, um beijo!
Algum tempo depois o telefone de Andréa tocou, era Beth para contar que tinha descoberto algumas coisas bastante interessantes sobre o carro em questão.
Andréa chegou em casa possessa naquele dia. Entrou e já foi falando:
— Marisa, pode-se saber por que tem um detetive particular me seguindo?
— Detetive? Do que você está falando? — Disse Marisa, totalmente sem jeito.
— Detetive especializado em infidelidade conjugal, Marisa! Me explica esse negócio que eu não estou entendendo. Você quer me perguntar alguma coisa, pergunta, mas não me faz passar uma vergonha dessas, poxa! O que o povo do trabalho vai dizer se verem esse cara tirando foto de mim, me seguindo para toda parte, você ficou maluca?
— Tá, ok… Vamos conversar. Senta aí. — Disse Marisa, com a voz quebrada, sentindo o gosto das lágrimas na garganta. —Eu contratei o detetive sim, Andréa.
— Caraca, Ma! Que bosta, por que você fez isso?
— Porque eu não consigo mais dormir, Déia, não consigo mais pensar em nada, não consigo mais cuidar da casa, não consigo mais ter paz na vida, não consigo mais viver assim…
— Mas do que você está falando, amor? O que é isso tudo, não estou entendendo! Por quê toda vez que a gente está bem você precisa ficar procurando desculpa para a gente brigar? Por que você não consegue viver em paz? Por que tem sempre que procurar um drama, uma tragédia… A gente vive numa peça de teatro, porra!
— Andréa, eu não procuro briga! — Disse Marisa já aos prantos. — Eu não saio procurando, é você que me dá motivos para duvidar e eu não consigo mais viver com a dúvida, estou morrendo cada dia um pouquinho, não aguentou mais…. Você está tendo um caso com essa Lívia do trabalho, eu sei que você está tendo um caso com ela e você não abre o jogo… — Ela não conseguiu terminar a frase, a voz deu lugar ao pranto e a mulher não pode continuar falando.
— Que diabos, Ma! Eu tendo um caso? Sério, vai se tratar, procura um psicólogo, quem não aguenta mais agora sou eu. — Respondeu Andréa virando as costas à Marisa e ligando a TV.
Os dias que se seguiram a esse foram os piores da vida do casal. Marisa se sentia envergonhada, diminuída, estava se achando a pessoa mais burra do planeta e Andréa se recusava a abandonar a postura de “pessoa ofendida à qual se deve pedir desculpas”. Ambas não estavam quase trocando palavras, a conversa diária se resumia a “bom dia”, “boa noite”, “tem almoço na cozinha”, “você pagou a conta de telefone?” e coisas do tipo.
Marisa desfez o negócio com o detetive, deu mais um cheque e pediu para parar as suas investigações, o homem disse que ainda não tinha encontrado nada, mas Marisa insistiu em que não continuara procurando.
O aniversário de Marisa chegou e a comemoração foi sair as duas acompanhadas de Luíza para uma pizzaria, ambas mulheres comeram, beberam e voltaram para casa ainda quase sem se falar. No caminho de volta Luíza soltou:
— Mãe, Déia, eu queria contar pra vocês… Lembram do book que fiz no curso de modelos? Pois é, meu professor mostrou ele para uns amigos dele em São Paulo quando foi pra fashion week e me arrumou um agente que diz que quer muito me conhecer. Acho que vou pra São Paulo na semana que vem…
— Mas e a faculdade, Luíza? — Interrompeu Andréa.
— Pois é, eu estou querendo trancar. — Disse a garota.
— Mas você vai pra São Paulo só pra conversar? Pra ver como é essa história, não é filha? — Falou Marisa, preocupada.
—É mãe, é só pra ver como é, aí se eles quiserem mesmo que eu trabalhe com eles, eu volto e vejo com vocês aqui. Meu professor falou para eles que eu já desfilo aqui há algum tempo, que já fiz campanha publicitária, o cara ficou bem interessado, mãe. — Disse Luíza empolgada.
— Não sei não, Luíza, depois a gente conversa. — Falou Andréa, encerrando o assunto.
Pouco depois disso Luíza, conseguiu o contrato com a agência, trancou a faculdade de teatro e começou a viajar muito para São Paulo, Buenos Aires, Tóquio… As viagens eram cada vez mais frequentes.
Marisa ficou feliz com o contrato da filha, sabia que a carreira de modelo era o que a filha sempre tinha querido, porém a separação de Luíza lhe parecia muito mais dolorosa do que tinha sido se separar da Giovana, que era a filha de caráter mais forte e que tinha sido sempre a mais problemática.
O afastamento de Andréa e da filha estavam cobrando o seu preço, Marisa parecia cada vez mais deprimida, parou de vez de cuidar da casa e até de si mesma. Os cabelos brancos já não lhe incomodavam, nunca mais os tingiu, as roupas pararam de lhe servir e foi preciso trocá-las por numerações maiores… Nada mais parecia ter importância para Marisa, nem mesmo tomar banho lhe parecia essencial mais e as paredes da casa vazia eram testemunhas todas as tardes do choro que ela abafava o resto do dia.
Naquela Quinta-feira o choro de Marisa se intensificava à medida que as horas iam passando, visivelmente abatida a mulher soluçava como uma criança deitada no sofá da sala quando um telefone tocou.
Ela se aproximou do aparelho quando percebeu que não era o seu, era o de Andréa, ela tinha esquecido o aparelho em casa, deixou tocar até a ligação cair, o nome no visor: Lívia.
Pouco depois um barulhinho vindo do aparelho anunciava uma nova mensagem, Marisa não resistiu, ela abriu a pequena cartinha que aparecia no cantinho inferior esquerdo:
Estou te esperando, a porta está aberta. Entra e fecha.
Marisa não conseguiu parar, os acontecimentos a seguir fugiram completamente à sua vontade, ela simplesmente agiu sem pensar, sem perceber, como se uma força tivesse tomado conta do seu corpo ela pegou as chaves do carro e foi até o edifício em que Andréa trabalhava.
Marisa avisou o porteiro:
— Terceiro andar, não precisa interfonar, a Andréa está me esperando.
O porteiro já conhecia Marisa de muitos anos, sabia quem era e sabia muito bem que não havia mesmo motivo para interfonar anunciando a sua chegada, então apenas se limitou a abrir a porta. Marisa entrou no elevador, apertou o 3 e esperou. Abriu a porta da sala, cumprimentou a recepcionista e disse, já caminhando em direção à sala de Andréa:
— A Andréa está me esperando.
— Dona Marisa — Falou rapidamente a recepcionista. — A dona Andréa está na sala da Lívia, fica para o outro lado.
— Ah! Obrigada. — Respondeu Marisa se apressando em direção ao outro corredor antes de que a recepcionista falasse alguma coisa.
Quando chegou no final do corredor encontrou o que procurava:
Lívia Marques
Contabilidade
Num arrebato de loucura, Marisa abriu a porta da sala de uma vez, sem bater e se deparou com uma cena que nem nos seus piores delírios teria imaginado:
Sentada encima de um balcão alto com as pernas abertas estava uma mulher loira de uns 25 anos, bonita, bem maquiada com os olhos fechados e a cabeça para atrás. A mulher vestia uma blusa branca bem justa que estava com os botões abertos deixando à mostra um sutiã também branco de renda, a saia preta curta estava enrolada na altura da cintura e a calcinha da moça estava no chão. Sentada numa cadeira de frente para o balcão, com a cabeça entre as pernas da moça estava Andréa, vestida com o mesmo terninho grafite com o que tinha saído de manhã de casa.
Na hora em que a porta abriu a moça levantou a cabeça, abriu os olhos e viu Marisa encarando-as de pé no portal, a moça gritou.
Andréa se virou e viu Marisa:
— Marisa? Meu Deus, mas o que está fazendo aqui?
— Vendo você me colocar um baita chifre, né Andréa, é isso o que estou fazendo, sua puta vagabunda.
— Você ficou maluca? Não pode ir entrando numa sala assim desse jeito, ficou louca?
— E você não pode ir entrando no meio das pernas de qualquer vadiazinha assim, se esqueceu de que é casada? — Gritou Marisa e caiu no choro. — Não se atreva a voltar lá em casa, não se atreva a falar comigo de novo, não se atreva a me olhar ou me tocar novamente! — Continuou antes de dar as costas e sair correndo do lugar deixando a porta toda aberta.
Nem mesmo Marisa sabia dizer como tinha voltado para casa naquele dia, mas voltou, foi ao quarto, encheu uma mala grande com as roupas de Andréa, a deixou na sala e se trancou no quarto.
Andréa juntou coragem para voltar a casa durante todo o restante do dia, ela sabia que tinha estragado tudo, tinha consciência disso, mas precisava se explicar, precisava falar com Marisa e, embora soubesse que ela jamais lhe daria ouvidos, quando caiu a noite Andréa decidiu voltar para casa.
Naquela noite Andréa dormiu no quarto de Luíza, que estava viajando, e no dia seguinte esperou Marisa acordar e sair do quarto para a cozinha para ir atrás dela e tentar conversar:
— Marisa, a gente precisa conversar. — Disse Andréa timidamente.
— Não tenho nada para falar com você. — Respondeu Marisa.
— Tem sim, eu preciso te explicar…
— Não há nada que explicar, Andréa, acabou, não temos nada mais para conversar, você precisa pegar suas coisas e sair daqui. — Gritou Marisa sem permitir que ela terminasse de falar.
— Marisa, me ouve, depois de me ouvir se quiser você me manda embora, eu vou, mas me ouve primeiro, deixa eu tentar te explicar.
— O que você vai me explicar? Que eu levo dois anos sofrendo e me torturando como uma idiota aqui tentando descobrir se você está me traindo e quando contei isso para você me chamou de louca, disse que precisava me tratar para agora me vir com essa? Depois de eu ter aberto meu coração para você sobre a minha desconfiança, depois de você ter garantido para mim, me olhando nos olhos, que nada estava acontecendo… Depois de quase vinte anos, Andréa, você me sai com essa? Que idade tem essa menina, Andréa? É mais nova do que a Giovana?
— Marisa, eu errei, eu sei, mas eu não menti para você, eu não tinha nada com ela, nunca tive, mas você está tão distante, tão diferente, você mudou, a gente nem se beija mais há só deus sabe quanto tempo, estamos vivendo como irmãs dentro da mesma casa, eu não aguento isso, Ma! Aí você me fez perceber que a Lívia estava interessada em mim, foi por sua causa que eu comecei a reparar nela, você com esses ciúmes absurdos, com a sua paranoia, Marisa! Eu nunca tinha nem olhado para essa menina antes…
— Sua canalha, mentirosa, cara de pau, como se atreve a querer jogar a culpa da sua falta de caráter em mim? — Berrou Marisa sem deixar Andréa terminar novamente.
— Marisa, eu te amo. Você é o amor da minha vida, você é a minha vida, você… a nossa família… vocês são tudo o que eu tenho, por favor, Marisa, eu não estou tendo um caso, foi só hoje que isso aconteceu, não sei o que deu em mim, Ma! A gente leva quase um ano sem transar, Marisa, por favor… — Suplicou Andréa já aos prantos enquanto levava as mãos à cabeça em desespero.
— Que amor é esse, Andréa? Que amor é esse que engana, que me deixa louca de desespero sem saber o que estava acontecendo com a gente, que me chama de louca per eu desconfiar de uma coisa que era verdade o tempo todo, que amor é esse que mente olhando nos meus olhos, Andréa? — Perguntou Marisa com lágrimas nos olhos.
— Eu não sei, Ma, você acredita no que quiser, mas eu te amo, eu sinto a tua falta, sinto falta do que a gente tinha, sinto falta de quando a gente ia ao cinema, saia para um jantarzinho romântico, passava a noite num motel qualquer só para variar… Eu sinto a tua falta, Ma! Você é minha vida, meu tudo, não sei viver sem você. — Disse Andréa, agarrando o braço de Marisa e beijando os seus lábios.
O beijo pegou Marisa de surpresa, não estava esperando por ele, por alguns segundos quis fechar os olhos e se perder naqueles braços, naqueles lábios tão familiares que lhe pareciam ser um os seus próprios. Por alguns segundos Marisa esqueceu por que estavam ali, o motivo da briga, esqueceu das mentiras, da traição e por um instante pensou mesmo em deixar tudo para lá e voltar à vida que tanto amava. Porém, rapidamente, a imagem de Andréa lambendo Lívia no escritório lhe veio à cabeça, esses lábios que agora a beijavam, há menos de 15 horas atrás tinham estado entre as pernas daquela vadiazinha, quase sem pensar Marisa empurrou Andréa fazendo-a cair sentada numa cadeira:
— Nunca mais se atreva a me tocar com essas mãos imundas nem muito menos se atreva a encostar essa boca em mim. Você está muito enganada se pensa que vai vir aqui, me beijar e eu vou esquecer tudo…. Que tipo de otária você acha que eu sou? — Gritou Marisa antes de correr em direção ao quarto, mas antes de que pudesse trancar a porta, Andréa a pegou novamente pelo braço, a puxou para perto de si e, vindo por trás, a beijou no pescoço, próximo da orelha.
Marisa sentiu seu corpo amolecer, não tinha forças para resistir essa mulher, ela amava Andréa loucamente, muito mais do que ela mesma tinha imaginado que a amava, e parte de si queria apenas se entregar. Quando Andréa a abraçou por trás e apertou o corpo contra o seu, Marisa sentiu aquele calor, aquele perfume nos seus cabelos, a maciez dos seus lábios úmidos encostando na sua pele, deslizando no seu pescoço e a sua respiração cada vez mais agitada, e suas pernas e braços simplesmente não lhe obedeceram mais, Marisa ficou ali, impotente, e toda a raiva e o ódio que a consumia desde o dia anterior simplesmente sumiu, naquele momento não conseguia mais lembrar o motivo pelo qual tinham brigado.
Ao perceber que Marisa tinha parado de resistir, Andréa deslizou as suas mãos pela barriga e os seios de Marisa apertando-a delicadamente. E, sem dizer uma palavra —pois bem sabia que só de ouvir sua voz Marisa poderia acordar do trance em que se encontrava no momento— foi abaixando a mão devagar até alcançar a calcinha, que abaixou lentamente enquanto acariciava Marisa entre as pernas. Bem devagar, foi levando a esposa até a cama, onde a fez deitar e lhe fez o amor delicadamente, mas com uma paixão que Marisa não sentia de Andréa há anos. A transa foi tão intensa, que ambas dormiram abraçadas depois de terminar.
Marisa acordou somente no começo da noite, Andréa já estava acordada, tinha tomado banho, estava bem arrumada e perfumada, e tinha a mesa da sala de jantar toda arrumada com uma toalha vermelha, vinho, taças de cristal, pratos, tudo arrumado bonitinho. Na cozinha já tinha prontos dois crepes de camarão e dois de chocolate. Assim que Marisa saiu do quarto, Andréa a pegou pela mão e a levou até a mesa, colocou o CD Dummy de Portishead bem baixinho e disse: — Janta comigo só mais uma vez. Me deixa te olhar nos olhos mais uma vez. Dorme na mesma cama comigo só mais uma vez. Se amanhã você ainda achar que não me ama mais, que não vale a pena lutar pelo nosso casamento mais, eu vou embora, prometo que vou embora para bem longe e te deixo em paz.
Es excelente !!!