Na manhã seguinte, Renee já havia colocado a mesa para o café, mas percebeu que Helen não se levantara. Foi até o quarto para saber se a doutora estava bem. Bateu à porta, mas Helen não respondeu. Resolveu abrir a porta.
Helen se encontrava inconsciente com sudorese abundante e queimando em febre. Resolveu ligar para Anne e perguntar se poderia mandar um médico da clinica para vê-la.
— Acordei e ela não se levantou; quando vim vê-la, ela estava desse mesmo jeito que você está vendo agora.
— Melhor removê-la para a clínica. Lá, eu tenho maiores condições de investigar o que está acontecendo e tratá-la.
— Tem noção da gravidade? Será que ela ingeriu algo para provocar isso?
— Não posso avaliar ainda e apesar da Organização tomar precauções com vacinas para a chegada da doutora, não descarto a possibilidade de algo pré-existente.
— Então, cuide da remoção que eu devo ir ao núcleo.
Não queria transparecer, porém Renee estava apreensiva com a situação.
— Estou sentindo uma preocupação, além do que é normal para você. O que está acontecendo, Re? Ela mexeu tanto assim com você?
— Claro que não!! Por que está dizendo isso?
Renee ficou sem chão com a afirmação da amiga e companheira de trabalho. Além de médica, Anne também era agente e altamente perceptiva. O que estaria transmitindo para a amiga, com tamanha clareza?
— Apenas não gosto dessa situação, afinal ela é nossa responsabilidade e posso não ser médica, mas tenho conhecimentos suficientes de socorros urgentes, para saber que não é nenhuma gripe qualquer.
Conversavam no corredor, enquanto Anne pedia uma ambulância para remover Helen.
— Além do mais, ontem praticamente a intimei a se decidir pelo que optar. Ficar aqui ou ir embora com as mãos vazias para seus “patrões”. Acho que ficou muito claro para ela, que não ficaria mais zanzando por aqui. Queria dar um ultimato para saber a sua reação. Depois disso, contei que Roger havia morrido em um ataque terrorista na universidade; ela me pareceu chocada com o ocorrido. No início, achei que fosse porque ele seria a ultima oportunidade que teria para seguir em frente, mas depois, ela ficou tão fragilizada com a notícia, que dava para sondá-la do meu próprio quarto. Ficou realmente abalada e por pior espiã que ela fosse, não seria normal para alguém infiltrado.
— Então, acha que ela não é uma agente?
— Não…Não é isso. Com certeza, ela é uma agente. Disto eu sei, mas não estou conseguindo compreendê-la…
— De qualquer forma, temos que tratar dela, antes que se vá ou outra coisa que for decidido.
A ambulância chegou e Helen foi levada para a clínica. Renee se dirigiu ao núcleo, porém estava com a cabeça atordoada com a situação. Não queria que Loren notasse sua apreensão e nem seus sentimentos. Precisava se fechar, embora com Loren, fosse muito difícil. A amiga, além de conhecê-la muito bem, era uma exímia telepata, tinha o dom muito mais aflorado e canalizado do que a própria Renee em seu dom.
Renee sabia que ela não entraria em contato com a sua mente se não fosse autorizada. Fazia parte da ética entre os membros da Organização, mas muitas vezes, a percepção era quase descuidada e ocorrendo sem querer. Como ela estaria forçando “uma barra” para não transparecer seus sentimentos, talvez isso despertasse a atenção de Loren. “Não… não farei nada. Apenas vou tentar esvaziar minha mente disto.”
Chegando ao núcleo, Renee foi direto à sala de Loren.
— Estava te esperando.
— Sabe o que houve?
— Sim, falei com Anne, ela me informou.
— Ela te contou o que aconteceu?
— Não. Apenas me falou que estava indo à sua casa, pois você a havia chamado. Disse que a doutora tinha passado mal durante a noite.
— Mais ou menos isso. Segui o nosso plano e, ontem à noite, contei a Helen que Roger havia morrido. Ela passou boa parte da noite pensando, angustiada na notícia. Entrei em contato e ela não estava preocupada com a sua missão, parecia realmente chocada com a notícia. Isso está me deixando muito intrigada.
— Não se engane, Re, ela é uma agente. Não vai deixar de simular uma preocupação exagerada. Talvez, só esteja ganhando tempo.
— Pensava assim também, mas não sabe do que somos capazes, não tem conhecimento de nossas habilidades e, sendo assim, não iria simular dentro de seu próprio quarto, sentimentos de angustia e tristeza.
— Talvez você tenha razão, mas quero que ela seja tratada e esteja fora da Organização o mais depressa possível. Ela vai sair daqui sem nada nas mãos e sem ter como voltar para sua missão. Eles certamente se encarregarão de “limpá-la” para nós.
A afirmativa de Loren chocou Renee mais do que ela gostaria e, nesse momento, Loren olhou para a amiga com curiosidade.
— O que há, Re? Senti que você ficou contrafeita com o que eu falei. Não concorda com essa solução? É simples e mais eficaz. Ainda estamos tentando rastrear suas origens. Ela é da agência inglesa sim, mas como foi parar lá, não sabemos. Apenas conseguimos investigar que ela fazia parte de um programa chamado “Torre fulminada”.
— Torre fulminada? Estranho, já ouvi esse nome antes…
— Talvez seja por você gostar de ler sobre costumes antigos, religiões e ocultismo.
O rosto de Renee se iluminou.
— Sim! A torre fulminada não é uma carta de tarô? As pessoas antigamente utilizavam estas cartas para previsões.
— Isso mesmo. Pedi a Ruth para pesquisar o que significava esta carta nos arquivos digitais da biblioteca.
— Não precisa, ou melhor, precisa sim para maior aprofundamento, mas eu sei o que significa. Pelo menos superficialmente. O sentido básico dela é transformação, mas a partir da destruição. Pode ser a nível físico ou uma conotação de rompimento de conceitos, para mudar ou transformar a vida. Sempre ligado a uma mudança muito forte, ou muito marcante e radical.
Loren sorriu. Sabia que se falasse a Renee, ela traria algo à luz.
— Até que a sua fixação por “coisas velhas” serve para alguma coisa.
Loren mexeu com a pupila, fazendo-a se irritar.
— Loren, por favor, isso não é hora para piada!
A mentora estranhou a reação da agente, pois mesmo em situações muito adversas, sempre sustentou seu humor. Estreitou seu olhar em observação a mulher que estava sentada a sua frente. O tamborilar sutil dos dedos sobre a mesa, indicou o nervosismo e a ansiedade de sua amiga. Loren sabia que Renee poderia estar sob a mais alta pressão e mesmo assim sorriria como se caminhasse tranquilamente em um parque arborizado, tamanho o controle da agente. Algo estava acontecendo.
— O que há, Renne? Tem algo que preciso saber e não está me contando?
Renee não sabia, neste momento, como fazer para despistar Loren.
“Mas o que estou fazendo, estou tentando enganar um dos membros do conselho e ainda por cima, minha amiga e mentora!!”
Renee se recompôs e resolveu contar tudo à amiga. Talvez ela pudesse entender melhor, do que Renee a si própria, e assim, ajudá-la.
— Tenho algo a dizer e talvez você me ajude com isso.
Falou, deixando os ombros caírem em derrota.
— Pois não! Pode falar.
Loren tinha um jeito peculiar de escutar as pessoas. Recostou-se na cadeira e levantou, levemente, a sobrancelha direita. Ouvia tudo sem emitir som ou alguma opinião sobre o assunto, até que Renne tivesse cessado seu relato. Apoiou um dos cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre a mão.
— Sabe no que pode implicar isso que acaba de contar, Re?
— É claro que sei, ou melhor, eu não sei. Por isso quero a sua opinião. Quero que me ajude a recuperar minha objetividade e deixar para lá esta insanidade. Talvez seja melhor eu ser substituída nessa missão ou…
Loren interrompeu-a abruptamente.
— “Realmente” aconteceu alguma coisa nesse teu coração. — Falou pausadamente e divertida. — Não estou reconhecendo minha própria cria e custo a acreditar que você está me pedindo para sair de uma missão. Não sei se acho isso engraçado ou se começo a me preocupar com você!
— Qual é, Loren, vai ficar me gozando ou vai me dar uma direção?
— Você está falando sério, Re?!!
— E você acha que eu “tô” brincando?! Acha que estou contando a você como me sinto, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, por quê?
Loren parecia não estar acreditando e, ao mesmo tempo, estava estarrecida com a constatação da veracidade nas palavras de Renee. Ficou sem palavras. Tentou assimilar o que ouvira e depois perguntou.
— Renee, você já se estimulou com outras garotas em suas missões antes. É normal quando a adrenalina corre. Não acha que pode ser pela situação dela estar aqui?
— Loren, se eu achasse isso já estaria me reciclando e definitivamente não é o caso. Ela mexe muito mais comigo do que eu gostaria e além do mais, não consigo sentir nela uma ameaça verdadeira, apesar de todas as provas contra ela. Sinto como se ela estivesse acuada. Aí você vai me dizer que ela é muito boa agente e blá blá blá. Sei de tudo isso, mas não consigo ver, nem sentir isso nela. O que eu faço?
— Você disse que, desde o início, ela tem sentimentos contraditórios?!
— Sim. É como se ela estivesse em conflito todo o tempo. Não sabendo o que pensar, como agir… Tentando constantemente se reavaliar. Ora se entrega e se sente maravilhada com o que vê, ora sente uma ira desmedida.
— Entendo. Existem muitos fios soltos ainda. Ok! Vamos ver o que Ruth e o pessoal de sistemas, conseguem com as informações que estamos tentando levantar sobre ela e esse programa.
Loren se compadeceu da amiga. Via em seus olhos pesar por toda a situação e em seu semblante, uma mescla de suplica e desespero.
— Calma, Re, vamos resolver isso, dê um tempo para o pessoal conseguir mais informações. Talvez não precisemos de ações tão radicais, como te afastar da missão. Enquanto isso, vá até a clinica, para ter novas notícias e acalmar seu coração.
A última parte da frase de Loren foi jocosa, Renee sabia que a amiga se divertia às suas custas. Ficou irritada. Como ela podia achar uma coisa desta tão engraçada, numa hora como aquela?!
Saiu enfurecida. Tinha exposto sua alma e o que tinha revelado parecia ser a coisa mais estúpida que existia na terra. Não entendia como anos de treinamento estavam sendo jogados no ralo. Estava perdendo sua racionalidade, objetividade, competência e todas as boas qualidades que uma agente de campo deveria ter. O interesse maior estava sendo por ela, jogado para escanteio, por uma sensação pueril de paixão adolescente. Não conseguia pensar em algo coerente com relação aquela mulher.
Precisava de um tempo para poder pensar. Ligaria para Anne para saber como Helen estava e se enclausuraria por aquele dia.
Fez a ligação, soube que Helen continuava febril e os médicos fariam mais exames. Helen não sairia da clínica antes do dia seguinte. Foi para casa.
Zeus estava deitado sobre o sofá com cara de pidão, os olhos baixos e o focinho apoiado sobre as patas cruzadas.
— Vem cá, menino, só você para me fazer rir agora.
Sentou no sofá e Zeus se aproximou, colocando a cabeça sobre seu colo.
Em seus pensamentos, sabia que a melhor opção que se apresentava, era deixar que Helen se fosse. Mas este modo de fazer as coisas se encaixar em seus lugares, a incomodava. Sabia que não estava sendo objetiva, mas por quê? Não nutriria uma paixão avassaladora em tão pouco tempo, não é mesmo? Ou nutriria? Embora a doutora realmente a “incomodasse” sexualmente, não era dada a este tipo de furor sexual, pelo menos, não quando não queria.
Fazia seus “deveres de casa” direitinho, meditando, exercitando seu autocontrole, reciclando e reorientando suas metas. Então, por quê?
Havia algo fora do lugar em si, lhe alimentando fantasias sexuais, descompensando seu organismo e estimulando desejos “indesejáveis”. Um click lhe estalou.
— Vou ligar para Anne. Preciso fazer um escaneamento cerebral e outros exames neurológicos.
Ligou e pediu a Anne para marcar exames naquela tarde mesmo. Queria que “escrutinadores” sondassem seu subconsciente. Os “escrutinadores” tinham o dom de entrar na mente e enxergar se algo estivesse desequilibrado, através de fluxos energéticos, fosse a nível fisiológico ou psíquico.
Foi tomar um banho, mas ainda sentia o perfume daquela mulher em sua casa.
Loren ligou para Renee, avisando que passaria em sua casa à tardinha. Renee assentiu, mas desconfiava que não gostaria da conversa.
Recebeu um telefonema de Anne, dizendo que Loren havia falado com ela e pediu que não fizesse a intervenção com os “agentes escrutinadores”.
— E por que teve que falar com ela, Anne?
— Porque me preocupo com você e não foi um pedido de exame sanguíneo qualquer. Vamos combinar que não é comum um pedido destes né, Re?! E depois estamos em alerta. Você conhece os procedimentos.
Renee bufou.
— Ok. Era uma coisa pessoal, mas tudo bem. Entendo.
Despediu-se e foi descansar. Algumas horas depois escutou uma batida na porta e abriu com o rosto contrariado.
— Não adianta ficar com essa cara, Re. Você pediu minha ajuda e vou ajudar, mas fazer uma sondagem cerebral, não era a solução para você. Onde estava com a cabeça para solicitar um exame deste? Anne me ligou apavorada, achando que algo havia acontecido a você na sua ultima missão!
Renee baixou a cabeça.
— Desculpa. Estou perdida, Loren.
— Acho que você não está se entendendo mesmo.
Loren falou suspirando e abanando a cabeça.
— Por que diz isso?
— Vamos entrar e conversar.
Renee entrou em casa taciturna. Foi logo falando rispidamente para a amiga…
— Se veio me ajudar tudo bem, mas não vou permitir que você fique tratando o assunto com ironia, ou me sacaneando, só para se divertir às minhas custas.
— Calma, Re! Você agora está me assustando com as suas reações. Vim falar sério com você, não achei que tivesse ficado zangada comigo com as brincadeiras que fiz lá no núcleo. Pelo menos, não era para isso. Tudo isso está te desestabilizando e nunca te vi assim antes! Nem quando você chegou aqui sem treinamento nenhum.
Renee desabou no sofá, como se desejasse que toda a sua energia se esvaísse através dele. Ela mesma, não estava acreditando no que acontecia consigo. Estava em agonia, só por saber que Helen estava internada, sem motivo aparente para tal enfermidade.
Fechou os olhos por alguns segundos, tentando apagar os últimos dias e esperando que ao abri-los, tudo fosse varrido.
— Re, talvez haja uma solução, mas não sei se você vai gostar muito dela. Você está muito exasperada. Talvez o que você sinta em relação à doutora, seja algo mais profundo e que nós não estamos conseguindo enxergar, por nosso senso de praticidade e de autodefesa.
— Como assim? Não estou conseguindo alcançar o que você quer dizer.
— Bem, se você entrou em contato com ela e não consegue perscrutar nada de “anormal”, nenhuma sensação contrária aos nossos conceitos, bem… talvez seja uma pessoa integra, mas reagindo como um produto do meio em que viveu.
— Que seja, mas ela não deixa de ser uma agente infiltrada… uma ameaça!
— Sim, mas escute o que vou lhe dizer. Quando a Helen melhorar, vamos mandá-la de volta, aí as coisas vão esquentar muito para o lado dela. É ai que você entra. Talvez possamos ainda trazê-la para o nosso lado.
— Espere aí, você tá me dizendo que o “Circulo da Irmandade” permitiria que eu resgatasse a doutora e a trouxesse de volta, para torná-la agente da Organização?
— Mais ou menos, mas não é tão simples assim. Você vai ajudá-la a escapar dos amiguinhos dela, caso eles queiram dar cabo da doutora, porém sem que ela saiba quem é você. A seguirá para aonde quer que ela vá, sem se permitir ser descoberta e a observará durante o tempo que for necessário, para sondar suas atitudes. Você só poderá voltar com ela, se tiver certeza que ela é digna de integrar a Organização e por vontade dela própria. Caso contrário, teremos que vigiá-la indefinidamente, sem interferirmos no que se delineará em sua vida. Pense bem, porque neste meio tempo em que estiver lá fora com ela, praticamente você estará por conta própria, somente com alguns auxílios extras, em termos de dinheiro, e, agentes locais conhecidos que você possa entrar em contato, mas sem contatos diretos com a Organização. Não podemos nos arriscar. É uma decisão sua.
O rosto de Renee estava inquisitivo e iluminado, enquanto o de Loren crispado e sóbrio.
— Você não gostou muito da alternativa, não é, Loren?
— Fui eu quem deu a sugestão. Mas foi por você, pelo que você está passando. Conheço você há muito tempo, para saber que você não é nenhuma leviana desvairada, mas não gosto da possibilidade de te perder. Você não é só uma agente, você faz parte da Organização, além de ser a minha amiga e essa não seria uma missão comum. Você está envolvida emocionalmente, o que pode nublar suas percepções diante das coisas, te levando a tomar medidas imprudentes. Eu estaria aqui sem poder te auxiliar. Essa é a parte que eu não gosto dessa história toda.
— E por que está me ajudando?
Loren riu pelo que diria a seguir e sabia da reação de sua pupila.
— Porque você não sabe ainda, mas está apaixonada. E o que é o pior, eu nunca havia percebido que você nunca sentiu isso por ninguém, nem na sua adolescência. Se tivesse acontecido anteriormente, suas reações seriam bem diferentes. E, a propósito, não estou mexendo com você. Não precisa fazer cara de quem quer me matar. Eu estou falando o que acho.
Renee olhou para Loren, consternada. Sabia que a amiga estava com o coração apertado, torcendo para que ela não aceitasse realizar o que havia proposto, mas sua mentora a conhecia bem, para saber que ela aceitaria. Abraçou-a ternamente e sentiu uma onda de amor e desespero contido na amiga. Não tentava bloquear seu dom, pois este era um raro momento de afeto entre ela e sua mentora. Beijou sua testa com doçura.
— Obrigada, Loren, sei que vai ser pedreira e sei dos perigos. Não posso aplacar sua angustia, mas quero que você saiba que vou fazer tudo para voltar inteira.
Renee mantinha Loren aninhada em seus braços e esta deixou que toda sua postura altiva e centrada desvanecesse de vez.
— Pode levar anos para você voltar…
— Mas eu vou estar sempre pensando em vocês… na Organização e em voltar.
Loren desvencilhou do abraço da amiga e pupila, se recompondo e voltando à sua postura centrada.
— Só tem um problema nisso. Ainda não sabemos o que é o programa “Torre fulminada” e estamos só especulando que ela fuja e seus amigos a persigam.
— Acha que ela pode voltar para a agência inglesa?
— Não sei, mas em missões como a que ela entrou…
Loren encolheu os ombros, demonstrando dúvidas e continuou a explanar sua opinião.
— Você sabe melhor do que eu, que só mandam para essas missões sem prazo de validade, agentes que “eles” querem se livrar.
— Eu sei. É como uma missão suicida. Eles não nos conhecem, ou sabem como é o nosso comportamento, então não sabem como reagiríamos se a descobríssemos. Poderíamos simplesmente mata-la. Ela ficou lotada muito tempo na universidade esperando uma oportunidade de contato. Típico agente que colocam “na geladeira”.
— Exatamente. Ou ela os irritou discordando de questões internas, ou ela sabe coisas da agência, que eles não gostariam que ela soubesse. Para dar esse tipo de missão para ela, não a apreciavam muito. Ela retornar para a agência inglesa é ruim para nós. Neste caso, você se retiraria por conta de seu envolvimento e mandaríamos outros agentes continuarem a missão. E não discuta isto. Sabe que é o procedimento. Mas caso ela fuja deles, você a acompanha. Esse é o trato.
Renee meneou a cabeça em aceitação.
–O que Ruth descobriu até agora?
— Nada além do que você já sabe, mas ela está tentando entrar nos arquivos da agência inglesa. Falou que os “firewalls” da agência estão muito melhores do que a última vez que invadiu.
— Mas ela é “uma hacker” convicta. Vai conseguir.
As duas sorriram, sabendo que, quando Ruth tinha um desafio de verdade, não parava até conseguir.
Renee foi dormir satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos. Poderia passar muito tempo até poder retornar, mas no intimo, achava que valeria a pena. Quantas vezes havia conduzido missões, só no intuito de minimizar danos?! Muitas. Mas, nestas missões, não importava se uma vida inocente fosse salva ou um milhão de vidas. Eram vidas e valiam a pena ser salvas. Mas agora, estaria em campo para tentar salvar uma única, mas que valeria a pela sua própria. Era o que sentia em seu coração.
…………………
Na clínica, Helen acordava desorientada depois de várias horas de febre. Com a visão turva, conseguiu focalizar uma mulher que mexia nos equipamentos que estavam ligados a ela.
— O que aconteceu?
A voz saía fraca e pastosa.
— Não se agite. Você teve muita febre e está na clínica para tratamento. Fizemos alguns exames, mas nada conclusivo que a levasse a este estado. Descanse que, provavelmente, amanhã estará melhor e, com todos os resultados dos exames, teremos uma ideia melhor do que a acometeu.
A mulher lhe sorriu e saiu do quarto. Helen estava confusa. Não se lembrava do que acontecera. Apenas lembrava-se do momento em que conversou com Renee e ela lhe falou da morte de Roger. Ah! A morte de Roger… Mais um prego cravado em sua consciência para lhe atormentar a alma. A porta se abriu. Viu Renee entrar e lhe sorrir. Era como um alento que banhava seu coração angustiado e devolveu o sorriso à outra. Estava fragilizada e a presença desta mulher lhe fazia bem. Mais que isso. Revolvia suas entranhas em excitação. O que essa mulher tinha que mexia tanto com ela?
— Está melhor?
A voz pronunciada carinhosamente e em tom baixo tranquilizou-a.
— Sim. Deve ser uma gripe forte.
— Ou emocional. Não fui sensível a seus sentimentos, quando lhe dei a notícia sobre Roger de forma tão direta. Desculpe-me.
— Notícias assim, normalmente, não têm forma boa de falar.
Renee se aproximou e pegou sua mão.
— Vejo que já tiraram todos os aparelhos que a monitoravam.
Helen nem havia percebido. Olhou para si e viu que estava sem nada a conectando aos aparelhos hospitalares. Estranhou, pois vira a enfermeira mexer neles.
— É. Será que saio amanhã?
— Provável.
Renee começou a acariciar o rosto de Helen com a ponta dos dedos. Abaixou e beijou sua testa. Helen cerrou os olhos, sentindo toda ternura contida naquele gesto. Antes que a outra se afastasse, segurou sua nuca e a trouxe para um beijo. Queria experimentar novamente aquele gosto que havia recusado um dia antes em seu quarto. Sentiu-se acuada naquele dia, diante daquela linda mulher que a instigava.
O beijo começou suave e antes de findado, sentiu Renee sorrir entre os lábios.
— Vejo que não tem mais medo de me tocar ou de se aproximar de mim.
— Renee, cale a boca e pare com as ironias. “Me beija”!
Falou imperativa, mas roucamente, puxando a agente da Organização sobre si. A agente não resistiu, deixando-se levar. Os beijos e as carícias prosseguiram por alguns minutos. Quando deram por si, seus corpos começaram a se mover num ritmo lento, acendendo uma chama no ventre de ambas. Renee passeou sua mão na coxa de sua amante, levantando o avental hospitalar e pousou sobre o sexo úmido de Helen.
— Você está deliciosa…
As duas gemeram quando a agente resvalou seus dedos sobre as dobras molhadas. Friccionou o bulbo túrgido e deslizou para dentro da entrada quente da espiã.
— Ah, Renee! Entra toda em mim…
A voz entrecortada dava sinais da grande excitação que Helen experimentava. A agente da Organização tomada pelo desejo, introduziu um de seus dedos. Não conseguia raciocinar claramente sobre o que fazia, mas num momento em que sua consciência lhe atormentou, protestou.
— Helen, não.
— … Shiiii. Não pensa e mexe lá dentro, vai! Mexe gostoso em mim…
Um gemido forte brotou da garganta de Renee e sua resistência caiu. Introduziu mais um dedo, tocando o ponto aveludado na parte anterior do canal da espiã, levando-a ao êxtase.
O vai e vem dos dedos faziam a doutora desconectar, por tantas sensações que seu corpo experimentava, que caiu em um arrebatado torpor. Um calor subiu através de seu ventre, tomando todo seu corpo e seus olhos cerraram, quando um fluxo de grande força, fez seu corpo contrair involuntariamente.
Renee sentiu o líquido banhar seus dígitos, tragando-a para um maravilhoso estado de euforia e felicidade. O arfar das respirações eram ouvidas no quarto, facilitado pelo silêncio da noite. Os corpos serenavam no relaxamento languido pelo desejo saciado.
Os ouvidos atentos de Renee captaram ruídos se aproximando da porta e levantou-se em um movimento rápido, mas não havia mais como reagir. Homens vestidos em ternos e empunhando armas, entraram rendendo-as. Em reação a grande surpresa, Renee se lançou novamente sobre o corpo da doutora para protegê-la e estampidos ferozes retumbaram no ar. O vermelho-escuro banhou o ambiente.
…………………………
— Reneeeee!
— Helennnn!
A agente da Organização gritava, levantando em sua cama, banhada em suor, no mesmo momento em que a febril espiã acordava agitada por um sonho bom, que se tornou um pesadelo, no quarto da clínica.
A enfermeira de turno entrou no quarto correndo, para verificar a paciente. Encontrou-a assustada, com os olhos arregalados e arfando. O equipo de soro havia sido arrancado e no braço, escorria sangue. Entendeu que no estado febril, a paciente havia tido um pesadelo.
— Calma, doutora Helen, foi só um sonho. A senhora está sendo cuidada e está segura.
— Onde está Renee? – Inquiriu de forma torpe.
— Renee? A antropóloga? Ela não esteve aqui hoje. Quer que amanhã eu a chame?
— Não… não precisa. Estou bem.
……………..
— O que foi isso?
Renee se perguntava, apoiada na cabeceira de sua cama, enquanto tentava se acalmar. Havia sido um belo sonho que se transformou em um terror.
— Foi tão intenso e tão real… Deus! O que está acontecendo?!