— Dessa vez eu passo, Loren. Já ouvi falar de vários sentidos, mas esse nunca.
Renee falou interessada. Kira voltou a sentar ao lado da agente.
— Essa foi a percepção sensorial que sua tataravó desenvolveu. Para falar a verdade, ela não desenvolveu. Já o tinha, ali, presente em sua vida e era algo tão natural que, quando começaram os testes com ela, não respondeu da mesma forma que os demais. Simplesmente, aguçou mais o que já era aflorado e tememos que assim seja com você, Kira.
— Por que?
— Bem, primeiro vamos dizer quais são os nossos sentidos. Eu sou uma telepata e Renee, uma empata. Existem vários outros, mas basicamente, eu conseguiria “ler” você e Renee, “senti-la”. Esse é o significado desses nossos dons. Muitas vezes, eu não consegui te “ler” e nem ler quem estava lhe acompanhando, como no caso da nossa captura pela Távola, lá em Minas Gerais. O mesmo ocorria com Renee. Ela não conseguia te sentir plenamente, em determinados momentos. Isto porque, você é uma “mesmer” nata. Significa, que você impõe sua vontade às outras pessoas.
— Como?
Renee estava atônita e Loren riu. Sabia que a amiga ficaria desorientada.
— A Kira, assim como a sua tataravó, tem esse sentido aflorado e naturalmente, sem perceber, o utiliza. É um dom incomum, mas normalmente quem tem, aflora naturalmente. Pense nas pessoas que são líderes natos e arrebanham multidões. A sorte é que existem alguns do bem. Apenas, nunca tivemos algum aqui, a não ser a Kira, — apontou para a doutora — sua tataravó. Por esse motivo, o programa ”Torre Fulminada”, falhou com você. Sua vontade sempre prevaleceu. Travava lutas internas em reação ao que as nano neuroenzimas comandavam.
— Deus! – Exclamou, Kira.
Kira e Renee estavam chocadas com as revelações. Loren deu um tempo para que assimilassem o que havia falado.
— E agora?
A pergunta da doutora, veio para tirar Renee de seus pensamentos.
— Bom. Agora vamos para a última etapa de nossa conversa. O que quer fazer, Kira?
— Como, o que quero fazer?
— Essa foi nossa mais difícil decisão. Deixar você a cargo das diretrizes que culminarão com o nosso destino. Tínhamos duas possibilidades. A primeira era “apagar” sua mente novamente e devolvê-la para o mundo. Era a mais segura das alternativas, pois não nos preocuparíamos na possibilidade de sermos revelados. No entanto, seria a pior delas, pois passaríamos por cima de tudo pelo qual lutamos, e pelo que, a Organização acredita e foi instituída. A segunda, era deixa-la saber de toda história e arriscarmos você optar por ficar e ingressar na Organização, ou ir embora, confiantes que nunca nos revelaria. Preferimos nos arriscar. Agora esperamos a sua decisão.
— Loren, eu nunca revelaria vocês! Ajudaram-me, quando eu não tinha mais qualquer consciência de quem era. Apenas não sei o que pensar, sobre o que fazer agora.
Os ombros de Loren relaxaram. Seu semblante amenizou e sorriu.
— Tome o tempo que precisar, Kira. Quero que saiba que tem um espaço para você conosco. Se decidir ficar, terá à sua disposição, meios que consiga controlar seu sentido e terá apoio. Haverá deveres também. Terá que trabalhar; como paleontóloga, agente ou o que escolher, mas terá que trabalhar para contribuir como qualquer cidadão da Organização. Também passará por uma espécie de curso. Na verdade, não é exatamente um curso, mas terá que ser acompanhada por alguém que contará toda a nossa história, o que fazemos e da forma como vivemos. É mais uma adaptação cultural. Como qualquer sociedade, criamos a nossa cultura ao longo dos anos. Para que conheça, também, as engrenagens de nosso sistema.
— Obrigada, Loren e saiba que no início, te achava irritante. – Kira sorriu. – Tô falando isso para zerar minha conta. – Riu novamente. – Tinha ciúmes de você com Renee.
Renee a olhou espantada, porém envaidecida e Loren, gargalhou ao ouvi-la revelar seus sentimentos.
A mentora teve certeza, naquele momento, que haviam feito o correto.
— Pois deixe que eu a tranquilize, além de amar meu marido, Renee seria uma das poucas pessoas que olharia. Ela era uma “galinha”, que só ela.
— Ei. Não queima meu filme, sacana!
Riram novamente sobre os protestos de Renee.
— Não vou me preocupar, afinal, sou uma mesmer, não é mesmo?
— Para com isso. – Renee apontou para Kira. — Não tô gostando dessa conversa. Nada de colocar sua vontade sobre mim, falou? Não é assim que a gente age aqui. Tem regras. Não é assim que a coisa acontece.
Renee assumira um ar preocupado, falando atropeladamente. Kira e Loren se entreolharam, gargalhando logo em seguida.
Loren levantou-se para sair e se aproximou de Renee.
— Não estressa. Não poderia ter arrumado uma companheira melhor.
Olhou para Kira e deu-lhe um sincero sorriso, piscando um olho. Voltou-se para Renee, dando um beijo em seu rosto antes de se retirar.
— Estou feliz por vocês. Se cuidem.
Quando Loren saiu, as duas se aproximaram e se abraçaram, não sabendo bem, por onde começariam. Tinham que pensar e conversar sobre tudo que ouviram.
— A coisa com você não poderia ser mais fácil?
Perguntou Renee provocadora.
— Não teria tanta emoção. Teria, agente Renee?
— O que está querendo insinuar? Que eu adoro adrenalina e por isso me apaixonei por você?
Kira deu um beijo rápido nos lábios de Renee. Encarou-a.
— Não. Que você ama coisas difíceis e eu sou seu desafio.
Kira sorriu de lado, reparando nas expressões da agente.
— Mmmm… acho que o que falou é mais ou menos assim: se eu quiser fazer amor com você agora, você vai fazer teatrinho, escondendo seu desejo para eu te conquistar e te levar para cama. Não é má ideia…
— Sua “sem vergonha”! – Empurrou o ombro da agente, em indignação. — Pois vou me fazer de fácil e, se quiser, vai ter que me amar assim mesmo.
Ainda estavam abraçadas e Renee riu de sua namorada.
— Mmmm… Se não tem jeito, — “deu de ombros” – pode rolar dessa forma. Tenho certeza que vai ser gostoso.
Capturou os lábios da outra, com vontade. Zeus veio ao encontro das duas, empurrando sua cabeça na perna de Renee. Ela, a custo, desvencilhou-se dos deliciosos lábios, olhando para baixo. Zeus tinha em sua boca uma bola cor de rosa pink. As duas riram.
— Mas é um boiola, esse cachorro.
— Não fala assim dele! – Kira batia, mais uma vez, em seu braço.
— Ih! Até Zeus tá com mais moral que eu, é? Pois saiba que, para mim, ser boiola é elogio, falou? Vai se acostumando. – olhou para o cão novamente. — Vamos leva-lo ao parque para ele brincar. Há muito tempo que não saio com ele. Deve estar doido.
— Ninguém vinha aqui para sair com ele?
— Werneck vinha, mas eu quero brincar com ele. – Olhou Kira encabulada.
Kira riu, pensando o quanto teriam coisas a descobrir e compartilhar de suas vidas e personalidades reais.
— Vamos. Você também tem que me mostrar como é a cidade realmente. Eu amaria ver uma floresta como a Amazônia. Como vocês fizeram com a população indígena? Havia muitos agentes de saúde e muitos enviados. O que fizeram?
Renee ria das inúmeras perguntas e da curiosidade de sua namorada. Pegou uma corda com alguns nós na cesta de brinquedos de Zeus e o cão, antevendo que sairiam, pela sua dona ter pego o brinquedo, correu para a porta. Renee entrelaçou sua mão a de Kira, caminhando em direção a saída.
— Quando pensaram em supostamente explodirem a Amazônia, quiseram se proteger também da curiosidade de comunidades próximas e mais conectadas com o resto do mundo. Mapearam as áreas populacionais e executaram o plano, só na parte da floresta profunda, onde existia a mínima possibilidade de pessoas comuns estarem em incursões. Mesmo assim, o próprio governo mandou que evacuassem as áreas em torno, pois a radiação se alastraria. Eles fizeram esse serviço para nós. Como sempre, pouco se “lixaram” para a população nativa.
— É. Manaus e toda a parte leste não fazem parte dessa, suposta, área de radiação. Mas, e os nativos?
— Damos suporte a eles, mas tentamos fazer de uma forma, a não interferir no seu modo de vida e cultura. Explicamos a eles, que estavam isolados por uma área de radiação e que só nós, que permanecemos aqui, conseguíamos chegar. Como não conseguiram mais contato pelos recursos de comunicação que tinham, com o tempo, tomaram como verdadeiro.
Caminhavam em direção ao parque, seguidas por Zeus, enquanto Renee esclarecia as dúvidas de Kira. A doutora ficou pensativa durante um tempo.
— Quero conhecer.
— O que?
— A floresta. Deve ser linda, e depois, vou ter que conhecer a cidade, afinal, como posso ser parte de algo, se não conheço a metade?
Renee retardou o passo. Olhou Kira e sorriu.
— Você é rápida. Já se decidiu?
O riso de Kira chegou aos ouvidos da agente, acariciando seu íntimo. Voltaram a caminhar lado a lado.
— Renee, o que acha que eu faria saindo daqui e retornando a um mundo que não existe mais para mim? Tudo que eu fazia na “Defesa”, é o que a Organização realiza de uma forma menos invasiva. Não existe mais “Defesa”, meus pais já morreram e eu seria descoberta em pouco tempo se retornasse. Acho que posso contribuir mais estando aqui, e ainda, ter um pouco de paz, que não fazia mais parte da minha vida há muito tempo. De quebra, vou ter uma grande agente para me auxiliar na adaptação.
Sorriu encabulada, olhando para o chão e Renee sentiu seu peito preencher com um calor acalentador. Apertou mais sua mão na da doutora.
****
— Kira, o pessoal já está chegando.
Renee bateu na porta da doutora, entrando logo em seguida. Viu Kira, enrolada em uma toalha e de cabelo feito, olhando algumas roupas em cima da cama, que havia comprado à tarde.
— Eu não sei o que vou usar, Re.
A agente gargalhou diante da indecisão da outra.
— Kira, é só um jantar e com meus amigos mais íntimos. Não é uma recepção para quinhentas pessoas. Se tiverem sete amigos meus, é muito.
— Eu sei. Mas alguns não devem gostar muito de mim.
Renee abraçou Kira por trás e apoiou seu queixo em seu ombro.
— Todos sabem quem é você e foram eles que nos ajudaram. Vão gostar de você, tenho certeza.
Segurou o queixo da doutora e virou seu rosto para beijar seus lábios.
— Deixa eu te ajudar.
Desvencilhou-se do corpo de Kira, olhando para a cama.
— Vista esse aqui. É um preto básico, tubinho, e deixa suas costas sensualmente expostas, sem exageros.
Kira sorriu, beijando rapidamente seus lábios.
— Minha heroína. – Falou jocosa. – Estava pensando nele, mas fiquei na dúvida. Vai lá que já, já, saio.
— Não demora.
Beijaram-se novamente e Renee a deixou para que terminasse de se arrumar. Chegou a sala e, mais uma vez, a campainha tocou. Dirigiu-se a porta ainda olhando a sala, vendo Irina, Werneck, Anne, Loren, seu marido Milan, e Kenneth, mais conhecido por Kira pelo nome de Roger, conversarem animados. Abriu a porta e Ruth se apresentava acompanhada de uma garota de feições nipônicas.
— Oi, Renee! Seja bem-vinda a cidade, novamente.
Aproximou-se, dando um beijo em seu rosto.
— Pois é. Depois que cheguei, você foi a única que eu não encontrei ainda.
Ruth se afastou e parecia ligeiramente encabulada.
— Essa aqui é Aya Nobu. Ela se mudou para cá enquanto você estava fora e é analista de sistemas. Foi ela quem me ajudou a baixar os arquivos da Távola e da agência inglesa.
Renee estendeu a mão para a pequena garota com sorriso franco.
— Muito prazer.
Falou Renee, desconfiando que não era toda a história que Ruth contava. Ela estava encabulada e olhava a menina com um jeito diferente.
— O prazer é meu. Aliás, é ótimo conhecer uma pessoa que foi atrás de sua felicidade, sem ao menos saber se daria certo. Amei ter ajudado você e Kira.
A garota era risonha naturalmente. Uma alegria simples e contagiante emanava dela e Renee desconfiava que se dariam muito bem.
— Entrem, por favor e fiquem à vontade.
Quando passaram pela porta, Renee sussurrou próximo ao ouvido de Ruth.
— Gostei dela. Boa escolha, Ruth.
A morena alta olhou sorrindo para Renee e balançou a cabeça. Sabia que não ficaria imune as brincadeiras da agente.
Assim que foram se ambientando com os outros, Kira chegou a sala um pouco apreensiva. Pousou o olhar em Renee. Ela lhe sorriu, fazendo um gesto para que se aproximasse. Loren também sorriu e foi a seu encontro para que a doutora se sentisse mais à vontade.
— Está linda, Kira. Deixe que eu apresente meu marido. Esse aqui é o Milan.
— Muito prazer. Você deve ser um homem calmo. Essa mulher é a pessoa mais mandona que conheci até hoje.
Kira tirou riso de todos, mas Loren não saiu da pose.
— Isso porque você e Renee ainda estão na fase de enamoradas. Espera só ela colocar as garras de fora.
Novos risos ecoaram no ar.
— Deixa de ser fofoqueira; só está falando isso porque não me “enquadrou” no primeiro ano que eu cheguei aqui. Fala a verdade, eu te irritava.
Mesmo diante das brincadeiras, Milan, já acostumado com as implicâncias, estendeu a mão para Kira.
— Que nada, Loren lá em casa só fala uma coisa; Milan, a banheira está pronta? Se estiver, minha noite está ganha.
— Se começar de muita graça, amanhã não tem jantar. – Falou Loren.
— Já calei.
Retrucou o marido, encolhendo os ombros e braços para falsamente se redimir da brincadeira.
— Agora que todo mundo chegou, podemos atacar a mesa de frios? – Perguntou Irina.
— Gente, as vezes acho que minha esposa tem “solitária”. Nossa, Irina, parece que não comemos em casa.
As gargalhadas voltaram a preencher o ambiente. As pessoas foram se espalhando e começaram a conversar. Quando na mesa de jantar, Irina olhou para Kira e perguntou:
— E agora, Kira? Acha que vai se adaptar à nossa sociedade?
A pergunta foi feita diretamente e um silêncio se instalou na mesa. Kira baixou seus talheres e olhou-a diretamente, mas sem irritação. Sabia que levaria algum tempo para que as pessoas se acostumassem com ela e confiassem.
— Irina, eu podia estar perdida. Desorientada, mesmo. Você foi uma das pessoas que descobriu sobre meu passado, não? Diga-me você. Hoje, sem aquelas nano neuroenzimas na cabeça e com meu passado anterior, acha que consigo me acostumar?
Irina a olhou e depois de alguns segundos, abriu um pequeno sorriso.
— Se não se acostumar, de vítima, você vai passar a ser uma idiota. Como acho que não é… sim você se acostuma.
— Irina, não sei porque gosto de você e sou sua amiga. Você é sutil como um elefante! – Disse Renee.
O restante do jantar transcorreu tranquilamente e Kira começava a sentir o que há muito tempo não tinha em sua vida. Estava em casa novamente.
— Obrigada, meninas.
Renee e Kira se despediam de Ruth e Aya. A analista de sistemas havia contado que Aya fora designada para a sua equipe, enquanto tentavam invadir o servidor da “Tavola”. Dali saíram para jantar e o relacionamento aconteceu gradativamente.
— Espero que tenham gostado.
— Muito. Foi ótimo!
As duas analistas saíram e só restava Loren e Milan.
— Vou pegar o carro enquanto conversam.
Milan se despediu e foi em direção à rua.
— Kira, está preparada para começar semana que vem o treinamento para controlar sua habilidade sensorial? Agora que decidiu ficar, terá que controlar, pois há regras para isso. No treinamento também aprenderá a perceber quando está em contato e a direcionar esse contato.
— Claro, Loren. Se não começar a controlar, vou ser acusada por Re de induzi-la a fazer amor comigo todo dia.
— Por mim, não tem problemas se me induzir só nesse ponto.
Mexeu com a namorada, causando risos nas outras duas.
— Pois eu devo dizer, Kira, que, pelo que conheço Renee, não precisa de indução para isso.
— Para! Eu não quero saber da vida amorosa pretérita dela, ok? Sou ciumenta até não poder mais.
Voltaram a rir e Renee a abraçou.
— Pois saiba, que eu não tenho essa “vida amorosa” toda, que a Loren está falando. Ela mexeu com você e você caiu direitinho na armação dela.
— Bom, já vou indo. Terá um tempo até decidir o que quer fazer profissionalmente, Kira. Se quiser, poderá ver alguma casa para alugar e o núcleo bancará, enquanto ainda não estiver trabalhando e se bancando sozinha.
— Eu ficarei aqui com a Re, Loren. Não se preocupe. Conversamos e achamos que vale a pena tentarmos morar juntas.
Kira olhou amorosamente para Renee, que lhe presenteou com um enorme sorriso. Se despediram e quando Loren foi embora, fecharam a porta e permaneceram abraçadas se olhando.
— E aí? – Perguntou a agente, dando-lhe um pequeno beijo nos lábios.
— É. Vida nova, ou melhor, a minha vida de volta. O frio na barriga ainda vem de vez em quando, mas estou feliz. O difícil mesmo é olhar para trás e lembrar de tudo que fiz…
— Shiiii. – Renee colocou dois dedos sobre os lábios de Kira. – Você não fez nada. Fizeram com você.
A agente segurou a nuca da doutora, trazendo-a para um beijo manso que foi ganhando folego, arrepiando Kira.
— Às vezes, acho que estou num sonho, principalmente quando você faz amor comigo.
Deixou-se levar pelos carinhos que a amante proporcionava. Renee a conduzia através do corredor, caminhando entre beijos suaves. Chegaram na porta do quarto que foi aberta sem se separarem. Entraram e pararam apenas quando as pernas tocaram a borda da cama.
— Tira a roupa para mim…
Pediu Renee, deixando o corpo de Kira livre e se sentando para vê-la por inteiro.
Kira se afastou ligeiramente e segurou o fecho do zíper atrás das costas descendo-o. Olhava sua amante nos olhos e a cor de mel, quase foi engolida pela pupila dilatada. Deixou que o vestido resvalasse pelo seu corpo suavemente até o chão. O sutiã e a calcinha negros, deixaram Renee com o ar suspenso. Aquele corpo a levava sempre, na mais alta escala de excitação. Kira chutou levemente o vestido para o lado e se aproximou de sua amada, passando os braços pelos seus ombros, debruçando, deixando que a visão de Renee se restringisse a seus seios. Levou seus lábios até os ouvidos da agente.
— O resto você vai ter que tirar.
Renee beijou sôfrega, a copa dos seios que saíam da taça do sutiã. Levou suas mãos às costas da outra, desabotoando rapidamente a peça indesejada. Resvalou pelos ombros, agoniada pela perda do contato de seus lábios sobre aquela pele quente e sedutora. Os seios se mostraram altivos e os mamilos rígidos. Não se torturou. Levou seus lábios até seu objeto de desejo, segurando delicadamente entre os dentes e logo em seguida, sugando a aréola desejosa do calor de sua boca.
— Issss! Mais forte, Re. Faz mais forte…
Renee sugou com força. Levou a outra mão ao seio órfão e segurou o bico túrgido, apertando-o entre os dedos, extraindo mais um gemido rouco daquela que tirava a sua sanidade. Resvalou as mãos até a cintura e a trouxe para cima de seu corpo, deitando na cama.
— Vem para o meio da cama, vem.
Sussurrou rouca.
— Deixa sentir seu peso. Quero você toda sobre mim.
Kira não raciocinava mais, sob as mãos sabedoras de seus desejos. Sob a voz que embalava sua libido e sua alma.
— Me pega, vai. – Apertou seus lábios entre os dentes, na expectativa do próximo toque. — Você não sabe como me deixa…
As palavras ficaram travadas, pela ação da calcinha arrancada com violência. Renee, mais uma vez, não conseguia dissociar seus sentimentos dos de Kira. Sua excitação, se somava a da outra. Tentou com todas as forças bloquear, mais uma vez, seu dom que emanava com facilidade, quando fazia amor com Kira. Inútil o esforço. Não compreendia como isso ocorria, mas não se incomodava mais. Tinha certeza que, com ela, nunca conseguiria esse feito. Suas emoções e sentimentos corriam desbocados que, seguramente, quando Kira atingisse o ápice, gozaria junto. Estava na borda. Segurou-a e elevou seu corpo, saindo de baixo para coloca-la sobre a cama. Kira foi atirada de bruços. A agente se ajoelhou entra as pernas da doutora e a segurou pelo quadril, tracionando e encostando em sua pelve.
Apoiada nos cotovelos, Kira a olhou sobre os ombros, com olhos diminutos, na espera de sua ação, que parecia uma eternidade para acontecer. Estava molhada, excitada, enlouquecida para ser tomada com vontade. E sentiu.
Foi penetrada firme. Arfou. Fechou seus olhos, sentindo os dedos resvalarem para fora. Sentiu-se vazia. Abriu os olhos e sentiu um desejo ardente, quando viu seu grande amor, sugando o liquido que recolhera de si, seus dedos completamente imersos em sua boca. Os olhos fechados de Renee, saboreando seu gosto, fizeram Kira urrar em seu desejo.
— Uhummm! Bota, Re. Quero gozar…
Sentiu-se preenchida novamente. O movimento vigoroso dos dedos dentro de si a levaram para longe da razão. Sentia seu corpo tremer e seu ventre contrair em agitação. Um calor arrastava seu peito para fora de seus pensamentos, fazendo-a levitar nas emoções.
— Kira, eu te amo!
As duas desabaram.
Kira ainda era segura pelos braços carinhosos da agente, que beijava suas costas delicadamente. O peso de Renee sobre suas costas, não lhe causava desconforto, e sim, mais excitação. Deixou de se perguntar há algum tempo, como ela não conseguia se saciar, enquanto não fazia aquela mulher ficar saciada, mal sabendo o que provocava na agente.
Virou-se com calma. Renee concedeu espaço suficiente para ver a doutora de frente sob seu corpo. Queria aqueles lábios saborosos junto aos seus. Beijou-a desbravando o sabor de sua boca. Sentiu Kira puxar sua blusa para retirá-la. Ajudou-a na torturante tarefa de se livrar das barreiras, que impediam seu corpo sentir a pele tão almejada. Estavam tão unidas que o calor de uma se confundia com o da outra. Transaram suas pernas e o bailado sensual da pelve de Kira, estreitou o contato de seus sexos, fazendo o ardente desejo crescer vertiginosamente. Impetuosa, a doutora ergueu seu corpo trocando de posição com a agente. Olhou-a nos olhos com intensidade.
— Quero seu gosto todo para mim…
Beijou a boca, o pescoço, desceu para o peito arfante, depositando beijos amorosos, sentindo a pele se arrepiar sob seus lábios. Inebriava-se com o tremor causado por seus toques. Resvalou a língua pelos mamilos, sentindo seu próprio corpo estremecer com tamanho desejo. Baixou ao ventre convidativo. Derramou amor por onde sua boca passava.
— Amor, não me tortura. Vai… me faz gozar…..
Ouviu o choro de amor, fazendo seu ventre contrair. Sua resistência caiu e resvalou sua boca de encontro aquela área pulsante que derramava o amor por ela. O gosto… ah! E que gosto! Qual chuva de verão, abraçando o calor do véu de seu sentimento. O líquido transbordava por sua língua cheia da felicidade, traduzida na intensidade do seu amor e de sua necessidade. Necessidade de sentir, como sentia o bulbo intumescido, conectando ao seu próprio num desejo profuso. Derramava seu próprio líquido.
Amor. Amor era o que lhe vinha à mente, quando sentiu as barreiras de Renee ruírem. Nada mais importava. “Ela gozou para mim.” – Pensou. — “Eu a amei. Eu a amo.” – Constatou.
****
— Que merda, Kira! Por que foi soltar aquela linha de gás?
As duas corriam por uma encosta enlameada para tentar chegar ao rio e a sua lancha. Era a única chance de escaparem daquela mansão cercada de luxo.
— Como você queria sair dali? Os caras já estavam desconfiados, Re. Se estivessem atrás da gente e disparassem, como aconteceu, era a única forma de sairmos!
— Sim, explodindo tudo e levantar suspeitas sobre nós. Cara, quando a gente voltar, só pego missão com você, depois que passar um tempinho com a Loren. É a única que pode te colocar nos eixos. Eu desisto, Kira!
Fim.
Incomparável, como sempre!