A Ordem: O círculo das armas

43. Lâminas de Ar

— Teimosa — Melina falou sorrindo.

Os olhos estavam fitos na falange de soldados que emergia da floresta.

— Lorde Verne vai comer meu fígado — o comandante Guil afirmou, mas também não conseguiu esconder a satisfação, apesar da preocupação que o tomava.

Ao longo dos últimos dias, começou a enxergar a princesa Emya com outros olhos. Até então, acreditava que ela era apenas uma mulher delicada e uma mãe e filha dedicada, cuja beleza poderia ser comparada a de uma flor. Agora, estava certo de que a princesa era tão impressionante quanto a mulher ao seu lado e àquela no campo à frente, cujo sangue compartilhava. Afinal, as flores também tinham espinhos.

O pássaro Lyla pousou ao lado da Grã-mestra e transmitiu um recado apressado.

— Acha que irá funcionar? — Melina indagou para ela.

— Não conheço precedentes. Castirs e castanes eram proibidos de tomarem partido nas guerras de seus respectivos reinos de origem. Seu dever era o de proteger os Portões e o todo das Sombras. Mas, já que estamos no meio de um problema, também sem precedentes, não custa nada tentar. Creio que lhe exigirá demasiado, mas estou certa de que você pode fazê-lo sem problemas.

Melina aumentou a pressão da mão que segurava o arco. Era fantástico o poder que possuía, mas estava certa de que não havia atingido seu verdadeiro potencial. Talvez as conjecturas, às quais se entregava, estivessem estampadas em sua face, pois Lyla abandonou a pele animal para lhe falar como mulher:

— Deixe que ela a guie. — Falou, reparando no desconforto da grã-mestra. — Minha experiência com elas, se resume à de Virnan e as coisas que Joran me contava. As tucsianas são mais que armas. Ao reconhecerem a magia do castir e unirem-se à ela, tornam-se uma extensão do seu corpo e mente. Qualquer mago pode empunhar uma tucsiana, mas somente alguém com magia espiritual e que a própria arma tenha aprovado, será capaz de extrair o seu verdadeiro poder. Ela irá mostrar o caminho. Quando estiverem acostumadas, uma à outra, alcançar os limites dela será espontâneo. Você nem precisará se concentrar para que atenda às suas vontades.

Deu de ombros, retornando à forma animal. Estava claro que, apesar de ter se ligado à tucsiana, Melina resistia à ela, graças a transformação pela qual passou. Não podia culpá-la, se sentiria da mesma forma, caso estivesse no lugar dela. Contudo, tinha fé na sabedoria e equilíbrio emocional da grã-mestra. Melina só precisava de um tempo para absorver a nova realidade do seu corpo e as possibilidades que o futuro lhe reservava.

Alçou vôo e bateu as asas longas um par de vezes, antes de pousar ao lado de Tamar e explicar o novo plano para as duas mestras.

— Você aguenta? — Tamar indagou à Marie, acendendo uma círculo luminoso na pele, assim como Virnan lhe ensinou dias antes.

— Eu dou conta — a amiga respondeu.

— Bórian irá ajudar, também. Mas acho que você terá de fazer a maior parte do trabalho, ele está chegando ao limite — Lyla informou, então voltou a bater as asas e cruzou mais algumas centenas de metros até a entrada da floresta.

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A princesa Emya fitava o nevoeiro que ocultava a luta entre a cunhada e as Sombras. Clarões de magia e os sons da destruição era tudo que conseguia distinguir e, por um breve momento, perguntou-se o que estava fazendo ali.

Ao seu lado, Petro enviou o sinal mágico para Virnan. Enquanto aguardavam a resposta, se houvesse uma, ela perguntou ao guardião:

— Acha que o que estamos fazendo é burrice? — Era apenas curiosidade, pois acreditava, piamente, que tomou a decisão correta.

Mestre Lian varreu o chão com o olhar negro como carvão. Os cabelos encharcados grudavam-se a testa, revelando as orelhas grandes e que os fios começavam a ralear no alto da cabeça. Foi ele a responder, tomado pela emoção:

— Talvez. Mas estupidez maior seria partirmos sem tentar fazer algo para ajudar.

Naquele momento, ele revolvia as palavras solenes que a grã-mestra lhe dirigiu, quando se opôs firmemente à tortura que acreditava que Virnan realizaria em Lorde Axen. Nas poucas horas que se passaram, desde então, sua percepção da situação se alterou drasticamente e começava a absorver o significado das ações de Melina e da guardiã. Talvez se arrependesse daquelas palavras e pensamentos, mas se havia mesmo um mundo em jogo, não podia continuar se atendo apenas aos preceitos da Ordem.

A resposta da guardiã se apresentou na forma de uma suave luz verde, sucedida por luzes azuis, oriundas das companheiras ordenadas. O comandante Diel começou a distribuir ordens entre as fileiras e a posicioná-las, mas Lyla interrompeu a ação quando pousou diante de Emya.

— Sinto muito, não podia simplesmente partir — Emya justificou, presa dos olhos violetas de Lyla.

O spectu lhe sorriu de uma forma que a lembrou da cunhada. Estava ferido. Incontáveis arranhões lhe cobriam a pele e o desgaste se apresentava na forma como deixou os ombros se curvarem, ainda que levemente. Se ela havia ficado daquela maneira, mantendo distância do solo, a princesa não queria nem imaginar a situação da cunhada. Felizmente, sabia que a irmã estava bem, já que conseguia avistá-la daquele ponto.

— Não foi uma ideia tão ruim, alteza. A admiração que a minha irmã lhe dedica acaba de aumentar consideravelmente. Admito que a minha também. — Fez um gesto com a mão e uma flecha em chamas cruzou o céu e fincou-se em uma árvore próxima. Ela a pegou, pedindo tochas ao comandante.

— Estão encharcadas. Nem mesmo o melhor óleo irá fazê-las acender. — Mesmo assim, ele lhe deu o que pediu.

Lyla encostou a chama em uma tocha. O fogo se espalhou, acendendo-a sem dificuldades.

— Compartilhe o fogo entre os arqueiros. Avise para tomarem cuidado com ele ou irão virar cinzas. E não estou brincando. — Encarou o homem, rigorosa. —  Não é uma chama comum.

Ele lançou um olhar desconfiado para a tocha e outro para a princesa, que meneou a cabeça, incentivando-o a obedecer. Ainda reticente, o comandante entregou o archote para um tenente e o soldado se afastou, espalhando a chama entre os homens. Não cabia a ele questionar, quando nem mesmo o Comandante Guil, ousava fazê-lo.

— Senhora, o que há de tão precioso nesse fogo? — O guardião Jovan perguntou, respeitoso.

O espírito o agraciou com um sorriso cansado e explicou:

— Esta é chama que a magia espiritual da Grã-mestra produz. É capaz de matar os inimigos que estamos combatendo. Isso nunca foi tentado, pois jamais nos encontramos em uma situação semelhante, mas acreditamos que enquanto ela o mantiver queimando, as flechas comuns do exército poderão abater as Sombras também ou, pelo menos, ferí-las com gravidade.

A esperança cresceu dentro de Emya e ela também se apossou de um arco. Era uma arma com a qual tinha bastante intimidade e manejava com destreza. Algo que fazia como forma de relaxamento e que poucas pessoas conheciam.

Na realidade, os herdeiros do trono eram instruídos no uso de armas e defesa pessoal, desde a infância. Entretanto, por fazerem esse tipo de treinamento longe de olhos curiosos e estarem sempre aos cuidados de guardas pessoais, eram tomados como indefesos. Razão pela qual não foram poucos os olhares curiosos que Emya recebeu dos soldados em volta. Tirando aqueles que a escoltaram até Valesol, os demais acreditavam que a espada que a princesa carregava na cintura, era apenas uma forma de fazê-la parecer mais austera e capaz diante do exército e daqueles nobres estrangeiros, acostumados aos conflitos.

— Se o que planejamos funcionar, é provável que não haja retaliações. Contudo, esteja preparado para recebê-las. — Lyla continuou a orientar o comandante. — Aproveite a presença dos guardiões da Ordem e a magia farta que possuem. Recomendo posicioná-los entre as fileiras de forma a formarem uma corrente de proteção.

Fez uma pena longa e vermelha crescer em uma das mãos e entregou ao homem.

— Meio que tenho um estoque ilimitado delas. O problema é que desaparecem em pouco tempo, então avise aos lanceiros que, se penas como esta caírem do céu, devem atá-las nas pontas das lanças. Assim que as usarem, recomendo que regressem para a segurança da proteção.

Se voltou para Emya, criando novo círculo brilhoso na pele dela. O que lhe permitiu ver o estranho homem que a acompanhava. Ishitar cruzou os braços musculosos e mostrou os dentes pontiagudos. Os olhos multicoloridos se apertaram levemente.

Embora seu aspecto assustasse, Emya sorriu de volta. Ainda que não o tivesse visto antes, reconhecia naquelas feições a forma do espírito que a defendeu do assassino enviado por Lorde Axen.

— A missão dele é cuidar de você e dar uma ajudinha com as flechas — Lyla informou, assistindo Emya oferecer uma reverência curta para o espírito.

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Sob a proteção de Voltruf e Bórian, Virnan expandiu sua aura mágica, integrando-se ao ar. Foi um instante breve e ela logo encerrou a exploração do local, após identificar a localização de todas as Sombras.

Com respiração entrecortada, contou aos companheiros:

— Esses desgraçados estão nos flanqueando, enquanto realizam aquela transformação abominável. Há três deles na direção da fortaleza.

— Obviamente, planejam nos pegar desprevenidos, se fugirmos para lá. — Bórian adivinhou o plano, recebendo um inclinar de cabeça positivo dela.

— O resto está vindo até nós — Virnan concluiu, apontando as direções exatas.

— Então, só temos que cuidar desses três no caminho — Voltruf pontuou, analisando o cansaço nas feições da castir. — Você não parece bem.

— Estou tão bem quanto você, Deminara. — Ela riu, irônica.

A atitude não afastou a preocupação do semblante do espírito, então deixou-se curvar os ombros e liberar o ar longamente. Fez um gesto vago.

— Se tivessse passado pelo que vivi nas últimas semanas, em especial nos últimos três dias, também não estaria com a melhor das aparências e disposição física. — As tatuagens brilharam mais fortes, endossando a verdade. Começava a retirar magia delas para se sustentar na luta. — Fiquei um bom tempo sem magia e, de repente, estou no meio de um combate contra dezenas de sombras e nem estou me dedicando inteiramente a isso.

De fato, alternava a concentração entre a luta e a criação da última ferramenta necessária para o sucesso do plano traçado.

— Estou bem perto dos meus limites. — Admitiu.

— Se não fossem sombras jovens, a esta altura, não seríamos mais que poeira — Bórian bateu as mãos nas roupas, como se estivesse mesmo a retirar poeira delas. Em verdade, só havia sangue.

Virnan apontou para o alto, exalando forte. Endireitou-se.

— Precisamos ir logo com isso, as lâminas estão prontas e não sei quanto tempo conseguirei mantê-las conjuradas. Consomem muito da minha magia.

Os dois espíritos compreendiam bem o que se passava. Embora fizessem piada para provocá-la, como no passado, ouviram sobre os obstáculos pelos quais ela e os companheiros passaram para alcançar Flyn. Como tinha afirmado em outro momento, estava longe de se encontrar com a magia plena. Afinal, naquela manhã mesmo, estivera bem próxima da morte pelo veneno de uma sombra. Era admirável que tivesse conseguido lutar até aquele momento.

Todavia, ambos sabiam que o motivo que fez de Virnan uma das castir mais poderosas de seu tempo, era o fato de ser uma mestra do manibut. A arte marcial auriva exigia uma grande preparação física e, durante o combate contra as Sombras, Virnan dava preferência a usá-la, recorrendo à magia apenas quando estritamente necessário. Desta forma, mesmo que não estivesse com a magia plena, ainda era uma guerreira impetuosa.

Pequenas rugas se formaram em volta dos olhos de Voltruf, quando ela sorriu e tomou a frente de Virnan. Falou sobre o ombro:

— Parece que a idade está mesmo lhe pesando. Preserve suas forças, pequena “anciã”. Bórian e eu cuidaremos desses três. — Mal terminou de falar, começou a correr na direção que ela tinha indicado.

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Marie olhou para as machadinhas. Estivera protelando o uso delas por medo do poder com o qual ainda não estava familiarizada. Entretanto, chegara o momento de descobrir do que eram capazes. Apertou-as firme e, novamente, sentiu como se pudesse ouvi-las. A magia delas percorria-lhe o corpo suavemente e as orientações de Bórian lhe retornaram à mente.

Um pequeno círculo surgiu aos seus pés. Com movimentos suaves, insinuou atirá-las. Entretanto, elas continuaram em suas mãos. Dezenas de metros adiante, além do campo que criaram, a terra se dividiu, flanqueando o terreno. Enormes blocos de terra se desprenderam, formando um “corredor”.

Assustada e, ao mesmo tempo, extasiada com o que acabara de fazer, Marie sorriu. Voltou-se para o alto da muralha e assistiu um círculo surgir diante da tia. A flecha que Melina atirou, parecia comum até cruzar o centro do círculo e incendiar-se. Ela se fincou no chão, ao fim do “corredor” que a sobrinha criou. As chamas se espalharam, bloqueando a passagem naquele ponto.

Era o sinal que as tropas midianas esperavam para iniciarem o ataque.

A posição em que Melina se encontrava, junto com os arqueiros remanescentes da fortaleza, permitia uma boa visão e acesso ao lado esquerdo do “corredor”. Desta forma, podiam alvejar qualquer inimigo que se evadisse por ali. Enquanto isso, as tropas de Emya bloqueariam o lado direito, além de reforçar o ataque ao centro do corredor. Desta forma, só restava uma rota de fuga para os inimigos.

Centenas de flechas cruzaram o ar, enquanto Virnan e os dois espíritos castir saíam da armadilha que montaram. Voltruf e Bórian dividiram-se, correndo pelas laterais do campo, enquanto Virnan seguiu adiante.

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Sentado em um galho, Zarif balançou as pernas, como uma criança a se divertir.

— Aposto que o mestre vai ficar furioso! — Falou, então gargalhou para o vento.

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Emya acendeu outra flecha, atenta aos estranhos seres que saíram da neblina e seguiam em direção à floresta. Um deles atirou uma forte quantidade de magia nas tropas. O escudo dos ordenados arrefeceu a fúria do ataque, contudo ele penetrou na barreira. Uma dezena de homens, foi arremessada no ar e caíram sem vida, ou quase. A princesa teria sido um deles se o espírito Ishtar, não tivesse aumentado a força do ar que a envolvia.

Diante do ataque, parte dos arqueiros próximos se mobilizou para derrubar aquela Sombra e, assim que as flechas o tocaram, as chamas o envolveram e, literalmente, o consumiram até as cinzas.

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Melina atirou outra flecha flamejante no fim do corredor que Marie criou. O alcance do fogo aumentou, adentrando no espaço diminuto. Ela apoiou-se na amurada, concentrando-se em manter as chamas acesas. Era uma tarefa difícil. Chegava mesmo a ser um pouco dolorida. As pernas bambearam e a respiração tornou-se mais pesada.

Uma mão lhe envolveu a cintura, ajudando-a a manter-se de pé.

— Só mais um pouco — disse o comandante Guil, ciente de que não tinha mais nada que pudesse fazer para ajudar. Ao lado dele, Anton e Miqueias atiravam flechas sem cessar.

Gritos de agonia se elevavam dentre a neblina e fumaça. Feriam os ouvidos de Melina, mas ela continuou alimentando as chamas, deixando o fogo crescer e jorrar para fora de si, tão furioso quanto a tempestade.

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Assim que as Sombras irromperam dentro do campo neutro, a magia delas foi drasticamente reduzida, contudo, ainda a possuíam em abundância. Virnan os aguardava no centro da armadilha mortal, com um sorriso maquiavélico adornando o rosto.

O campo era neutro, mas bem diferente daquele que a guardiã ajudou a criar para pôr fim a uma guerra que estava dizimando seu povo. A neutralidade do campo de três milênios atrás, era completamente ativada assim que se pisava nele, mas por falta de tempo e, obviamente, experiência das duas mestras ordenadas, aquele não agia dessa forma.

Os espíritos castir e as ordenadas se posicionaram em volta dele, criando uma corrente de magia e ativando o efeito completo de neutralidade do terreno. Marie e Bória fizeram a terra se elevar por um metro, enquanto Voltruf e Tamar reforçaram o muro que eles criaram, gerando centenas de lanças de gelo afiado nas paredes rochosas.

As criaturas, todas em sua abominável forma, investiram contra a castir. Ela ergueu as mãos acima da cabeça e dezenas de pequenos redemoinhos formados por fios luminosos desceram do céu.

Assim como tinha feito para escapar dos tremores de terra criados por Marie, Virnan aumentou a resistência do ar sob seus pés e não pisava no campo. Desta forma, continuava tendo acesso completo à magia e, com movimentos fluídos, ela espalhou a morte pelo terreno.

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— Ela está… dançando?! — O comandante Guil perguntou, sem conseguir desviar o olhar do que acontecia.

As sombras percorriam o terreno, na tentativa de alcançá-la. Contudo, sempre que chegavam perto demais eram despedaçados. Os pequenos redemoinhos de vento se expandiam e estreitavam-se como lâminas, desmembrando tudo em seu caminho.

— Isso é manibut — Anton explicou, ao lado dele. — Nunca imaginei que pudesse ser aliado à magia. É uma arte desenvolvida para que não-mágicos sejam capazes de lutar contra magos; exatamente por isso me custa acreditar que os dois possam se complementar dessa forma.

— Nunca vi movimentos tão leves — Jeil comentou, encantado. Ainda que a cena que testemunhava não possuísse beleza alguma.

Melina comprimiu os lábios, lutando contra a vontade de fechar os olhos para a carnificina. Aqueles homens sequer imaginavam que foi o manibut que ajudou Virnan a controlar a magia recém-desperta nos campos de batalha do passado. Sem a disciplina e a filosofia do manibut, ela teria se tornado um perigo para si mesma e aqueles que a cercavam. Até mesmo quando ingressou na Ordem Castir, os mestres não sabiam bem como lidar com tamanho poder conectado a um elemento que raramente despertava entre eles.

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Virnan juntou as mãos e as lâminas de vento se uniram, circundando-a.

As sombras já não tentavam atacá-la. Em vez disso, buscavam uma maneira de fugir daquele lugar de morte. No entanto, a corrente de magia que os espíritos castir e as ordenadas mantinham erguida, os prendia ali. Sem magia, nem mesmo a força física descomunal era capaz de romper o círculo.

Os olhos dela percorreram o sangue que maculava o solo, até encontrar os poucos sobreviventes do massacre. Ela abriu os braços e as lâminas se expandiram por toda a extensão do terreno, exterminando-os. A guardiã girou sobre os calcanhares se certificando de que não restou ninguém. Permaneceu imóvel por um longo momento, investigando cada corpo ao alcance dos olhos e só baixou os braços quando se deu por satisfeita.

As lâminas de vento desapareceram e os companheiros encerraram o círculo.

Virnan caiu de joelhos, enojada com todo o sangue que lhe banhava e crente de que tinha perdido parte da sua humanidade, novamente. Lyla pousou ao lado dela, ciente de que a neutralidade do terreno já não existia. Ainda que o rosto da irmã estivesse impassível, o laço que as unia dizia o contrário. Todo aquele sangue a recordava do passado nos campos de guerra em Flyn e, também, das centenas de mortes que reviveu ao longos dos séculos, presa na câmara sob as ruínas de Sulitar.

O silêncio quedou entre os presentes, interrompido apenas pelo som da tempestade, que aos poucos se acalmava. A neblina começou a se dissipar, restando apenas a fumaça que também perdia força, à medida que o fogo de Melina se extinguia. Os primeiros soldados começaram a sair da floresta e marcharam lenta e preocupadamente em direção ao campo.

Virnan encarou as mãos trêmulas e ensanguentadas pelo o que lhe pareceu uma eternidade. Era como se o tempo não tivesse passado, como se ainda estivesse em Flyn, nos campos de morte em Sulitar.

Ergueu a face e percebeu a aproximação de Marie. A preocupação que tomava o semblante dela, a fez despertar do devaneio ao qual se entregou. Obrigou-se a ficar de pé, ainda que acreditasse não ter mais forças para isso. Prestativa, Lyla a ajudou.

Alguns passos a separavam da esposa, poucos metros para encontrar a calmaria nos braços dela. Só de pensar nisso, Virnan começou a relaxar. Contudo, o alívio que insinuava-se em seu peito a abandonou para plantar o desespero, quando uma das Sombras, que acreditava estar morta, se ergueu à passagem de Marie.

Tamar seguia alguns metros atrás da mestra e preparou-se para agir. Esticou o chicote, mas antes que pudesse usá-lo algo grande e pesado caiu sobre a sombra. Asas longas em tons vermelhos e negros se fecharam, enquanto Marie percorreu os passos que a separavam da esposa, tropegamente.

— Duas vezes no espaço de um dia, Zarif. Admita que está com saudades. — Virnan forçou um sorriso.

O dragão soltou uma lufada de ar quente pelas narinas e exibiu os dentes pontiagudos.

Você tem a péssima mania de estar desgastada quando nos encontramos. Desta forma, fica difícil cumprir a promessa que lhe fiz. — Transmutou para a forma humana, enquanto falava. — Foi uma luta interessante. Você nunca cansa de me surpreender.

Andou até ela com um sorriso escarninho.

— Meu mestre pediu para levá-la até ele. Está ansioso para consumir sua alma. Então, prefere ir inteira ou em pedaços? — Mostrou as garras longas.

Virnan sorriu de volta e ergueu a mão até a dele. A envolveu com força e a trouxe para junto de si, pousando-a sobre o coração.

— Nenhuma das duas alternativas. Mas se me forçar a escolher, terá de ser em pedaços. — Apertou mais o punho dele, sem desviar o olhar das íris vermelhas. — Isso, claro, se você realmente desejar me ferir.



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para 43. Lâminas de Ar

  1. Que luta! Adorei o extermínio das sombras! Sensacional o capítulo, Tattah.
    Nos vemos no próximo. Valeu!
    Ah, ilustração massa dos espíritos, hein!?

  2. Não vou cansar de dizer nunca que vc está arrasando! Capítulo excelente, o final então!

    Bjão

  3. Tattah,

    Não quero acabar com a surpresa das gurias q leem os comentários antes do cap. então só digo: ficou sensacional, a aparição de personagem querido por Virnan e a cena da luta o capitulo ficou maravilhoso, tu é mestre nisso…
    Amei…

    • kkkkkkkkkk… Impossível não rir! Se não estragou a surpresa, pelo menos, atiçou a curiosidade. rs…

      Beijos!

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