A Ordem: O círculo das armas

23. O Salão Lunar

*

Virnan olhou-se no espelho, enchendo as bochechas de ar e deixando os braços caírem na lateral do corpo com ruído. Voltou-se para Lyla, que estava sentada na beirada na cama com um sorrisinho orgulhoso. De pé, ao lado dela, estava o criado que lhe trouxe uma refeição e acabou por ajudá-la a terminar de se preparar. O rapaz olhava para o chão, apertando as mãos nervosamente.

No passado, não era uma reação incomum à sua presença. Afinal, as boas e más línguas do reino tendiam a exagerar na narrativa de seus feitos e, muitas vezes, a pintavam como um monstro. Noutras, era uma heroína. Qualquer que fosse a imagem, reações como aquela eram uma constante no seu dia-a-dia.

— Pelo visto, algumas coisas nunca mudam. — Murmurou, atraindo o olhar dele. Os cabelos loiros dos Taltos agitaram-se em sua cabeça, despencando dos ombros para as costas e um ligeiro tom vermelho lhe tomou a face ao perceber que era alvo da sua contemplação, quase arrancando um riso da Castir.

Virnan lhe tomou a mão e encostou a testa nela em um gesto de humildade e gratidão. Tinha nos lábios um sorriso capaz de amolecer uma pedra. Sentiu o rapaz tremer, enquanto Lyla não escondia o deboche na face. Ele se endireitou, desmanchando-se em um sorriso acanhado, fez uma reverência e partiu, levando a tesoura que trouxera para que cortasse os cabelos e os restos da refeição.

Você não presta. — Cantarolou o spectu, interpretando seu gesto erroneamente.

Ela tinha voltado a fitar seu reflexo, passando as mãos pelos cabelos, agora, curtos. Ainda que parecesse com a Virnan do passado, jamais voltaria a ser como ela. Àquela mulher só tinha conhecido barreiras para superar e cada vez que ultrapassava uma, as outras se tornavam maiores.

Passou a mão sobre a túnica, demorando-se a perceber a maciez do tecido, que nunca lhe pareceu tão confortável quanto naquele momento. Mesmo não querendo admitir, sentia-se bem dentro daquelas roupas.

— Ser gentil e grata não faz de mim mau-caráter. — Retrucou, finalmente.

Diz a mulher que despedaçou dezenas de corações floras. — Provocou a outra.

— Me poupe de suas provocações, você não era exatamente pudica também. Desfrutou de muitos corpos e prazeres antes de ser abatida por uma estupidez crônica e cair de amores por aquele idiota do Joran. Tenho Marie e somente ela me basta.

Em meio a uma gargalhada, Lyla a abraçou por trás, assim como fez antes que ela entrasse no banho. Novamente, a sensação de unicidade as tomou. Mas o contato começava a se tornar reconfortante para ambas e os desgostos que a Castir guardava contra a meia-irmã caçula desapareciam aos poucos.

A risada dela lhe preencheu os ouvidos, afastando de vez o incômodo que retornar à antiga aparência lhe causava.

Quando a coloquei em seu caminho, jamais imaginei que pudessem se apaixonar. Você não se apegava a nada ou alguém por muito tempo.

Virnan pousou a mão sobre a dela em sua cintura. O reflexo de ambas no espelho revelava pequenas semelhanças, que passavam despercebidas a qualquer um que não soubesse do seu parentesco. Apesar da cor e formato diferente, Lyla possuía a mesma malícia que ela nos olhos, o mesmo sorriso irônico, a mesma mania de mordiscar os lábios quando estava perdida em pensamentos. Havia muito mais, era apenas uma questão de observação.

— É irônico ter vivido tanto tempo para encontrar o amor nos braços de alguém que se entregaria à morte de bom grado. — Confessou.

Talvez por isso, o que sentem seja tão forte ao ponto de conseguirem isso — ergueu a mão dela, na qual uma tatuagem semelhante a de Marie se destacava. — Em muitos aspectos, ela é diferente de você, mas no tocante a sacrifícios, ambas se entregariam à morte pelo bem de seu povo sem pensar duas vezes. Ora, foi mais ou menos isso que você fez no passado ao usar aquela pedra, e era exatamente isso que ela iria fazer naquela noite.

Virnan exalou, encontrando o olhar dela no espelho.

— E, também, foi exatamente o que você fez.

Acha que isso pode ser considerado mal de família?! — Afastou-se, dando um passo atrás, mas manteve as mãos sobre os ombros dela. Aumentou a pressão, enquanto indagava: — Alguma vez lhe contei o quanto me orgulhava de vê-la durante as cerimônias no templo?

Ela balançou a cabeça negativamente. No dia em que descobriu que eram irmãs, seu mundo, já sofrido e abalado pelo despertar recente da magia e as tragédias da guerra, tornou-se ainda mais negro.

Denna, sua mãe, serviu a família real do Sul por quase toda a vida. Como era comum aos aurivas, que prezavam pela liberdade em muitos sentidos, ela jamais teve um companheiro. Seus relacionamentos eram raros e curtos. Dificilmente falava de algum deles para a filha, mas gostava de contar sobre seu trabalho junto ao Demir. Virnan o encontrou poucas vezes ao longo dos primeiros vinte anos de sua vida, já que tinha crescido no seio da família Dashtru.

Mas apesar de jovem, não era tola, muito menos inocente ao ponto de ignorar o brilho nos olhos de Denna nessas ocasiões. E todas aquelas histórias plantaram desconfianças em sua mente.

Quando a mãe de Lyla faleceu, toda a família Dashtru, esteve presente no ritual funerário, assim como todos os servos do palácio e uma parcela da população. Quando Denna morreu, vítima da mesma doença alguns meses depois, o Demir foi à cerimônia contrariando todas as regras e limites da sociedade. Após os ritos, ele e Virnan se encontraram sozinhos diante das cinzas da pira que consumiu o corpo dela. Quando as lágrimas da guardiã secaram, as dele brotaram e ela percebeu o quanto ele tinha se segurado até aquele momento.

Naquele instante, teve certeza que Taryk, o Demir do Sul, um nobre deminara, amou Denna Dashtru, uma protetora auriva, muito mais do que a verdadeira esposa, pela qual não derramou uma lágrima. Em vez de admirá-lo por isso, a jovem o odiou.

Considerava-o um covarde, já que seu coração rebelde desprezava todos os limites que separavam o povo florinae em castas. Ao seu ver, a cor do cabelo, olhos e pele, assim como a presença ou ausência da magia, não definia as pessoas.

Mesmo assim, para honrar a memória da mãe, aceitou tomar o lugar dela como protetora no Palácio do Sul. Apenas exigiu que não fosse a dele. Então, foi apresentada a Lyla. Contudo, o Demir costumava tomá-la “emprestado” sempre que possível, aparentando certo divertimento quando expressava sua opinião sobre os mais diversos assuntos de forma ferina e, também, quando se indispunha com os outros protetores dele.

Anos depois, durante a guerra pelo trono, Virnan invadiu o salão de refeições do palácio a fim de cumprir a promessa de morte feita ao Comandante do Exército do Sul, que deixou vilas inteiras sem proteção ao recuar o exército, desprezando seus moradores por serem aurivas e, assim, permitindo um massacre. Virnan o matou diante de Taryk e seus filhos.

Ela esperou a morte como punição. Na ocasião, era o que mais desejava, e lhe entregou a espada a espera do golpe que lhe ceifaria a vida.

Em pânico, Lyla a defendeu, enquanto Érion exigiu o cumprimento da punição. Já o Demir, atirou a espada no chão e a puxou para um abraço tão apertado que quase lhe roubou o ar, enquanto confessava a aflição que sentiu pelo seu desaparecimento. E ainda abraçado a ela, disse que não suportaria perdê-la, assim como tinha perdido Denna, revelando aos três o laço de sangue.

— Tinha vontade de apontar para você e dizer para aqueles arrogantes: “Estão vendo aquela Castir? Ela é minha irmã. De coração, alma e sangue!”

Virnan balançou a cabeça algumas vezes, uma ruguinha discreta no canto da boca. Por muito tempo a evitou após descobrir a fraternidade, chegou mesmo a exigir que ela jamais voltasse a procurá-la ou tornasse a chamá-la de irmã. Mas Lyla, assim como ela, jamais apreciou que barreiras lhe fossem impostas e não permitiu que aquela situação durasse muito tempo.

A guardiã olhou para Marie, que observava o diálogo através da porta entreaberta. Tinham notado a presença dela pouco tempo depois da saída do criado, mas não interromperam a conversa. Afinal, ela tinha de saber toda a verdade.

Virnan esticou a mão, convidando-a a entrar. Lyla tinha lhe dito que contou-lhe sobre o casamento e após alguns resmungos e insultos contra a deminara, acabou por concordar que foi melhor assim. Com toda a confusão da chegada na cidade e o estado de saúde debilitado, acabaria não encontrando o momento certo para lhe falar, o que geraria um grande problema quando a noite chegasse.

Respondeu à irmã, enquanto a mestra se aproximava:

— A chamariam de rainha louca.

Lyla soltou seus ombros, afastando-se em direção a porta que Marie abandonou.

— Prefiro imaginar que teriam se engasgado com aquele orgulho estúpido e suas leis ridículas. Fariam um grande favor se morressem assim e me deixassem ser uma rainha de verdade.

— E teríamos de lidar com outra maldita guerra. — Virnan retrucou, vendo-a fechar a porta atrás de si.

Ainda havia muito para esclarecer, mas preferia ter aquela conversa diante das amigas, embora já tivesse deduzido uma boa parte do que aconteceu e do motivo da cidade ainda existir.

Marie também encarou a porta cerrada por algum tempo, remoendo o que tinha acabado de ouvir. Mas preferiu deixar isso de lado e tratar do assunto que lhe interessava no momento. Voltou-se para ela e mostrou a palma da mão, gesticulando:

Por quê?

Virnan alternou o peso entre as pernas, recriando o mesmo círculo que usou na outra noite e a protegia do dom dela. Ele brilhou no dorso da sua mão esquerda, então respondeu:

— Porque jamais deixaria Érion ter a sua alma. Porque você queria fazer a idiotice de fujir para se entregar a ele. Sobretudo, porque eu te amo e só desejo te proteger e não vou pedir perdão por isso.

Sua face queimou ao receber o tapa que ela lhe deu. Marie elevou a voz, revoltada:

— Sua “criança” estúpida e arrogante! Três mil anos de idade não a fizeram mais sábia.

Virnan engoliu em seco, diante da cólera dela. Como ocorria sempre que a via zangada, riu, como se estivesse retornando aos dias calmos na Ilha Vitta. Mereceu o tapa e não se ressentia por isso.

A raiva de Marie.

— Não comece com isso! Odeio quando você tenta apagar a minha raiva com seu riso. — Ela rosnou. — Você podia ter me dito!

— Para você se negar, acreditando que não tínhamos futuro porque seu destino era morrer naquele maldito altar?!

— Idiota! — Marie a empurrou e acabaram por cair sobre a cama.

A mestra passou a mão na face dela, abrandando o olhar e a raiva na fala.

— Eu também queria compartilhar a felicidade de estar casada com a mulher que amo! Custava me contar depois de feito?!

Virnan caiu na risada, enlaçando a cintura dela.

— Deuses! Acreditei mesmo que estivesse zangada!

— Mas eu estou! Só não quero deixar a raiva se tornar maior que a minha felicidade. — Arrancou uma nova risada da esposa. — Eu te amo, sua pequena arrogante! E se este mundo não acabar ou morrermos antes disso, pretendo puni-la pela mentira que contou.

— E como pretende fazer isso, Mestra?

— Fazendo-a tão feliz quanto você me faz.

**

— Por que não podemos entrar? — Verne rosnou para Joran, que estava parado diante da porta do salão em que as ordenadas tinham acabado de entrar acompanhadas por Lyla.

O guerreiro não demonstrava isso abertamente, mas o midiano percebia o desprezo que lhe dedicava, que todos os florinaes daquele lugar dedicavam. Algumas horas ali, foram suficientes para entender a nota de raiva que Virnan deixava transparecer na voz quando tratava Lyla pelo nome de sua casta.

Sentimos muito, Lorde Verne, mas elas precisam de um tempo às sós. Necessitam se preparar.

— Se prepararem para quê?!

— Para fazermos um círculo. — Virnan falou.

Ele se voltou para ela, que tinha acabado de entrar no corredor onde estavam, acompanhada por Marie, e captou a conversa. O lorde não escondeu a surpresa diante de seus cabelos curtos e das novas vestes. A couraça, botas e braceletes eram negros, mas a túnica por baixo da couraça era vermelha, assim como a capa jogada sobre um dos ombros, longa até a metade das coxas e sem mangas, o que deixava as tatuagens à vista, incluindo a da testa, já que também não usava a costumeira faixa. A adaga repousava em sua cintura, dentro de uma bainha nova e tão bela quanto ela.

A guardiã trazia Marie pela mão, expondo um sorriso irônico para os antigos companheiros.

Detesto admitir, mas o vermelho sempre combinou com você — Bórian falou, oferecendo uma reverência breve. Um sorriso desconfortável surgia entre os fios negros da barba dele.

A mulher ao lado dele, Voltruf, imitou seu movimento, murmurando um cumprimento em uma língua antiga ao que a guardiã respondeu da mesma forma, complementando:

— Gostaria de dizer que estou feliz em revê-los, mas não é verdade, então vamos nos poupar de um momento incômodo e carregado de falsidade. — Aumentou o sorriso e tanto Verne quanto Fenris tiveram de disfarçar um também, diante das expressões desconcertadas dos três espíritos.

Voltruf cruzou os braços, retrucando:

É mesmo uma mal-agradecida! Devíamos tê-la deixado surda em vez de criar um amuleto. — Mirou Marie, fazendo uma expressão de desdém, e continuou: — Andar na companhia dessas perfirians não a fez mudar perante nossos olhos. Sempre será uma auriva sanguinária e ordinária.

Baixou a vista para a mão esquerda dela. Joran tinha lhes contado sobre a marca de Marie e agora que via a intimidade no contato das duas e a mesma marca na mão que ela tinha deixado escorregar pelos cabelos, sentia-se ainda mais inflamada.

E, para piorar, ainda teve a ousadia de fazer um voto de união com uma. Acha que isso poderá ajudá-la a concluir um círculo de Cazz? É uma ilusão acreditar que essa gente seja capaz de oferecer algo mais que luzes coloridas a escapar dos dedos. A realidade é que estamos condenados e você é apenas uma falsa esperança.

Já chega! — Joran pediu, alterado.

Ele concordava com tudo que ela disse, era evidente, mas estava disposto a manter a paz ali. Entreabriu os lábios para pedir calma a amiga, contudo Virnan se adiantou até onde eles estavam com passadas firmes e silenciosas. Estacou diante da ex-companheira de círculo.

A guardiã da Ordem sorriu largo. Era um sorriso bonito, sem traços da costumeira ironia. Entretanto, usou palavras mordazes.

— Ao meu ver, não fizeram mais do que a sua obrigação ao preservarem a saúde da única pessoa viva que pode abrir os Portões e permitir que vocês possam atravessar para as Terras Imortais. Se o que deseja é um agradecimento, então obrigada!

Se postou mais ereta. Era quase uma cabeça mais baixa que a deminara, contudo, como sempre ocorria em discussões como aquela, a segurança com que agia tornava-a quase uma gigante diante do incômodo que sua proximidade causava nos interlocutores.

— Olhe bem para mim, deminara. Não foi escolha minha continuar vivendo até este momento, mas assim como fiz no passado, darei o meu melhor para proteger o que resta do nosso povo e este mundo, sem fazer distinções de castas. Tenho muito orgulho do meu sangue auriva e isso só aumenta cada vez que tentam usar este fato para me insultar.

Aumentou o sorriso, admirando os olhos violetas dela, que pouco a pouco fugiam dos seus.

— Essas mulheres, as quais insultou com tanto vigor, são muito mais poderosas e dignas de entrarem no Salão de Cazz do que um dia vocês sonharam ser. Fiz um juramento de protegê-las não importando o custo, pois elas são a minha família, o meu círculo, como vocês jamais foram. E não tenho receio de me abrir para elas, assim como tive de fazer o mesmo com vocês. Ainda que não soubessem sobre minha origem florinae, elas nunca me viram de outra forma que não uma mulher igual a elas. Não perderam tempo a me julgar pela cor dos olhos e pele, ou meus atos nos campos de batalha, totalmente justificáveis pela guerra que travávamos na época.

Ergueu a mão com a palma voltada para o alto e deixou que todos visualizassem as marcas nela.

— E isto não é um insulto a vocês ou tentativa de aumentar a força de um círculo. Isto é amor. É a prova de que o que sinto por essa mulher — olhou para Marie rapidamente — é tão profundo e verdadeiro que desejo estar ao lado dela até mesmo na morte e ela também se sente assim.

Os ouvidos apurados captaram o gemido de Lorde Verne ao compreender o significado daquela marca, a qual tinha notado na mão de Marie durante a refeição. Ignorou-o e baixou a mão, unindo-a com a outra atrás das costas.

— Agora, se nos dão licença, temos muito a fazer aí dentro.

Joran observou Voltruf dar um passo longo para o lado, completamente emudecida e constrangida. No passado, aquela discussão teria terminado em socos, muita magia destrutiva e um ódio cada vez maior.

— Por favor, venham conosco — Virnan convidou os midianos e adentrou no salão de braços dados com uma Marie orgulhosa, ainda que temerosa do que estava por vir.

Quando as portas se fecharam atrás deles, Bórian disse:

Não sei vocês, mas depois disso estou me sentindo um parvo preconceituoso, cego e limitado.

— Ela sempre foi assim? — Voltruf indagou, ainda demonstrando seu desconcerto.

Joran voltou para seu lugar, diante das portas. Depois da noite em que ele e Lyla a encontraram quase morta após salvar a cidade inteira, tinha decidido que jamais julgaria Virnan de novo, por qualquer que fosse o motivo. Não era obrigado a gostar dela, mas depois daquele episódio, lhe dedicava um profundo respeito e foi isso que o levou a mentir para o Concelho Ancião e convencer os outros a fazerem o mesmo.

Voltruf sorriu de lado, quando ele disse:

Você exagerou.

Precisava saber se existia mesmo esperança para nós. — Ela retrucou.

Tentando fazer ela te matar de vez?! — Bórian indagou.

Vocês parecem ter esquecido como ela era. Só precisava ter certeza de que não morri em vão e que deixei nosso povo nas mãos certas. Não me culpem por isso! — Sorriu de lado.

 

***

 

Fenris soltou um assovio.

Aquele era um salão completamente diferente de tudo que já tinha visto e ficou na dúvida se poderia mesmo ser chamado assim. Mais parecia um jardim. Plantas erguiam-se preenchendo as paredes e o teto abobadado que se abria permitindo a entrada do sol, chuva e pássaros. Caminharam por um passeio estreito até o centro dele, seguindo o som de água corrente.

Haviam estátuas ao longo do caminho e mais algumas ao fim dele, onde encontraram as ordenadas. No centro exato do salão, onde o teto se abria circular, havia uma fonte natural e notaram que o som de água corrente vinha dela, que transbordava. A água excedente era carregada por sulcos estreitos no chão e desapareciam entre as plantas.

Os bancos que circundavam a fonte, que era tão larga que mais parecia um pequeno lago, elevavam-se em três níveis, como se fossem degraus, passando a impressão de que tinham sido feitos para uma platéia.

— Esse é o tal Salão de Cazz do qual ouvimos falar o dia inteiro? — Távio indagou.

Virnan sorriu de lado.

— Não. Este é chamado de Lunar. Vocês não poderão ficar aqui quando a noite chegar, mas agradeceria se pudessem montar guarda junto com os três espíritos idiotas lá fora. É muito importante que não sejamos interrompidas.

O badir se agitou, olhando para o braço da princesa enlaçado ao dela. Uma estranha melancolia o atingia no momento, contudo afirmou:

— Considere feito.

Fantin chegou perto deles, se espreguiçando.

— Acho que você devia ter cortado os cabelos antes, Virnan. Ficou até bonitinha. — Provocou.

A guardiã pensou em retrucar, mas desistiu. Limitou-se a lhe oferecer uma piscadela em meio a um ligeiro arquear de lábios. Tamar analisou as roupas dela, sentada ao lado de Melina.

— Gosta, Mestra? — Virnan abriu os braços, exibindo-se.

— Não nego que está bem, mas confesso minha preferência pelo verde do círculo protetor — ela retrucou. — E, se me permite acrescentar, também apreciava seus cabelos longos.

Virnan riu, se aproximando dela. Curvou-se levemente, lhe fazendo um carinho no queixo.

— E eu gostava mais de Alina do que Tamar. Mas iremos nos acostumar com as mudanças!

— Certamente! — Sorriu, lhe tomando a mão e analisando a marca nela.

— Marie e eu, falaremos sobre isso mais tarde e, se for do seu interesse e de Fantin, posso ensinar as palavras. Agora, preciso pedir a ajuda de vocês em uma tarefa importante.

Sentou-se em um dos bancos. Cruzou as pernas, tão elegante quanto Lyla, de pé à sua frente.

— O que deseja de nós? — Melina indagou.

Ela inspirou devagar, mirando os rostos curiosos à sua volta. Sabia que elas não se negariam, diante das circunstâncias. Era interesse de todos que aquele problema fosse resolvido. Contudo, não deixava de se sentir apreensiva, afinal nunca concluiu um Círculo de Cazz com os antigos companheiros Castir, exatamente porque era um ritual muito íntimo. Existia uma grande possibilidade que alguma delas, ou todas, lhe oferecesse resistência.

— Preciso que me ajudem a abrir a passagem para as Terras Imortais.

 


Olá, amores!

Espero que tenham curtido o capítulo extra. 😉

Beijos!



Notas:



O que achou deste história?

12 Respostas para 23. O Salão Lunar

  1. Mas como tu ainda perde arquivos??? Please usa uma novem pra guardar. Perigoso?? Pode até ser mas o q não é?

  2. Na boa, como não amar um capítulo extra pena que seja só um ?.
    Fico sempre com gosto de quero TUDO…
    Parabéns e faça sempre mais e melhor.

    • Haha… Valeu, Elsa!
      Me esforçando cada vez mais para trazer uma aventura divertida e gostosa para vocês lerem!

      Beijos!

  3. Bom Maga, já que você quer saber se curtimos o capítulo extra, vou ser bem franca: não gostei, não. Como assim, só um extra? Cadê os outros 15 capítulos?

    • Owwww, péra, Deusa!

      Quinze capítulos?!
      Vamos com calma, Deusinha fofa… Assim tico e teco [meus queridos neurônios] entram em pane. rs…. Contente-se com um extrazinho, vá. Prometo me empenhar para escrever os capítulos o mais rápido possível. rs…

      😉 :*

  4. Como não gostar de capítulo extra, me conta?!!!
    Adorei, como sempre… Ansiosa pelo círculo agora!
    Abraços e bom fds

    • Naty,

      Obrigada pelo carinho!

      Beijão!

      ____________

      Elsa,

      [eu ri]

      Mas que bom que optou pelo capítulo antes. rs…

      Beijos!

  5. Tattah,

    Adorei o cap. surpresa.
    A reação de Marie foi sensacional…
    O cap. ficou maravilhoso…

    Sucinta pq tuas leitoras vem ler o comentários antes dos cap. e assim não estraga a surpresa.
    Sensacional, parabéns…

    • Esqueci de citar no comentário anterior… Virnan ficou mais linda ainda de cabelos curtos, amei a ilustração.

    • Kkkkk…

      Que bom que curtiu o capítulo e o desenho, mas para a minha tristeza acabei perdendo todos os meus arquivos originais dos desenhos que estava editando e deixando mais detalhados [coração mais que partido :(]

      Enfim, beijão! 😉

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