*
A noite tinha chegado havia algum tempo quando assentaram acampamento. Prepararam e compartilharam a refeição sem palavras, recolhidos aos seus próprios pensamentos. Ninguém parecia estar disposto a conversar, muito menos discutir. Contudo, Fenris não conseguia mais segurar a curiosidade e puxou uma conversa fiada, agachando-se ao lado de Lorde Verne, que dedicava algum tempo a polir a espada.
O nobre limitou-se a responder monossilabicamente: sim, não, talvez. Por fim, o rapaz atacou:
— Sei que sou apenas um soldado e algumas coisas não são da minha alçada, mas até algumas horas atrás, você desejava retornar para a fronteira de Axen.
Verne parou de polir a espada, erguendo a vista para ele. Fenris não era apenas um soldado, como gostava de dizer. Ainda que distantes, eram parentes, e sempre o considerou um amigo, mesmo que não tivesse o hábito de demonstrar isso.
— Posso estar passando dos limites, mas quando deixamos Midiane éramos dez e agora… Enfim, tínhamos a missão de levar a princesa para a Cidade dos Eleitos, mas pelo o que entendi da conversa que presenciei mais cedo, os planos mudaram. O que não entendo é o motivo de você ter concordado tão facilmente. Agora segue as ordens da Guardiã Virnan sem questionar.
— Está com medo?
Ele se empertigou, a face sombria graças a pouca luz que atingia o local onde conversavam.
— Não é esse o caso. Lhe fiz um juramento. Vou segui-lo aonde for, lutarei suas batalhas e o protegerei. Vivo pela espada e certamente morrerei por ela. O que estou lhe pedindo é para não me deixar no “escuro” quanto às suas decisões. O que ela disse para que mudasse de ideia?
Verne semicerrou os olhos, recordando a conversa que teve com Virnan longe dos ouvidos dos companheiros. No fundo, ainda duvidava de suas palavras, mas o desejo de que fossem verdade imperava e, enquanto ela fizesse por merecer aquela confiança, a seguiria. Não apenas pelo bem de Marie, mas pelo bem de todos os povos daquele mundo.
— Ela me ofereceu uma alternativa, uma possibilidade de pôr um fim nisso tudo. Disse que podemos matar o Cavaleiro e salvar Analyn.
— Como?
— Refazendo o círculo de armas em que ele foi aprisionado.
**
Marie brincava com a ponta da trança, enquanto Melina fazia o mesmo com o medalhão em seu pescoço. A guardiã não estava à vista, assim como Verne, que tinha adentrado na floresta acompanhado por Fenris e Távio, alegando que iriam fazer uma ronda.
A grã-mestra aproveitou a ausência deles para conversar com a sobrinha. Liberou sua magia, gerando um arquear de sobrancelhas dela.
— Quase consigo enxergar as dúvidas que rondam sua mente — disse em tom de brincadeira.
Marie suspirou, ainda calada. Obrigou-se a abandonar suas divagações e lhe prestar atenção.
— É tão ruim ter esperança? — A tia perguntou.
— Esperança é o alimento dos desesperados e há muito tempo não sei o que é isso. O que eu tenho é medo por ela e por vocês.
Soprou o ar, afastando uma mecha de cabelos que lhe caía sobre a face. Isso arrancou um riso de Melina, pois lhe pareceu muito infantil.
— Não entendo o porquê dessa insistência em nos levar até Flyn, nem como ela conseguiu convencer Verne.
— Ambas sabemos que Virnan sabe usar bem as palavras, tanto para ofender e causar discórdia, quanto para expor seu ponto de vista e convencer àqueles que se opõem a ele. Certamente, Lorde Verne não teve a menor chance, assim como não teria se travassem combate. Não está curiosa para saber se é verdade o que nos disse? — Cerrou os olhos ligeiramente.
— E quem de nós não está? — Admitiu. — Mas de que isso nos servirá? Eu tenho um papel a cumprir e quanto mais me afasto do caminho dele, piores podem ser as consequências.
Seus olhos se prenderam no céu estrelado, carregados de uma tristeza que a tia jamais tinha notado. Compreendia bem o peso da responsabilidade de entregar sua vida pelo bem de outros, mas estava claro que aquele desalento não era pelo fim que se aproximava, mas pelo futuro que não poderia viver ao lado da mulher que amava, pela vida que apenas tinha sonhado ter.
Não tinham ideia do que Virnan planejava. Como de hábito, ela não se aprofundou no assunto da magia espiritual que acreditava compartilhar com elas. Apressou-se a pedir uma conversa particular com Lorde Verne e saiu com ele, regressando uma hora depois com a decisão tomada. Todas estavam tão surpresas com as revelações que nem ousaram pensar em se manifestarem contra.
Durante sua ausência, as ordenadas discutiram sobre a veracidade do que dizia, mas isso não importava realmente. O que desejavam saber era o que aquilo significava no tocante a Marie. Estava claro pelo modo de agir da guardiã, que a presença desse poder nas companheiras lhe oferecia uma possibilidade de mudar o futuro da princesa. Não fosse assim, Lorde Verne não estaria agindo tão pacificamente, nem teria concordado em mudar o destino da viagem.
Mas Marie não queria se agarrar àquela promessa, não podia se permitir sonhar com a vida após tantos anos tendo a morte como perspectiva. Além disso, as consequências para escapar àquele destino não lhe saíam da cabeça. Qual ou quais reinos o Cavaleiro destruiria em retaliação? Assim como aconteceu na época de Melina, haveria outra guerra? Quantos pagariam pela vida que se negou a entregar?
Todas essas perguntas e muitas outras lhe rondavam a mente, afastando a alegria que sentia sempre que Virnan estava por perto, lhe tocava ou roubava um beijo quando os outros não estavam olhando. Às vezes, a ex-pupila parecia uma criança traquina, noutras, Marie se sentia velha demais diante daquela vitalidade; o que era irônico considerando a real diferença entre suas idades. Estar ao lado dela até o fim de seus dias, na velhice, era um sonho que se negava a ter.
Distraída, deixou o olhar vagar pelo lugar até prender-se nas outras companheiras. Elas compartilhavam um silêncio carregado de carinho, enquanto preparavam as esteiras para dormir. A tia a acompanhou, um sorriso enrugando a face.
— Elas querem a minha aprovação. Estão…
— Apaixonadas — atalhou, demonstrando que estava a par do que se passava e arqueou os lábios. — Alina…
Interrompeu-se e limpou a garganta, corrigindo-se. Um pouco antes de montarem acampamento, a mestra lhes comunicou o desejo de ser tratada pelo seu verdadeiro nome.
— Desculpe, vai demorar para me acostumar. Esse nome me remete a criada que me acompanhou até a Ordem, mas Alina jamais foi essa mulher. É um pouco confuso. De todo modo, retornando ao que dizia, Tamar me confessou sua paixão por Fantin alguns anos atrás. Admito que, assim como ela, acreditava ser algo inalcançável diante do histórico romântico de Fantin. Fiquei muito feliz em descobrir que estava enganada.
Melina sorriu largo, escondendo o gesto ao pôr a mão diante da face.
— Devo concordar. Fantin é uma boa mulher, mas sempre fez péssimas escolhas amorosas. Quando me falou que deseja se tornar consorte de Tamar, tive vontade de rir acreditando se tratar de uma piada. No entanto, nunca a vi tão serena e decidida. Mais parecia outra pessoa.
De fato, desde a noite anterior e quase morte definitiva de Tamar, Fantin estava agindo diferente. Até seu modo de falar tinha perdido um pouco da brusquidão costumeira.
— Ambas merecem essa felicidade. — Não conteve uma nota de inveja na voz. — Nada me disseram a respeito das recentes decisões, mas palavras não são necessárias neste caso.
— É. Basta olhá-las para perceber. — Melina concordou.
A sobrinha se endireitou, retornando a atenção para ela. Reparava nos traços cansados do rosto ainda belo apesar da idade. Aquela viagem a estava castigando, mas ela nada dizia e nem iria.
— Assim como é perceptível que a sua presença nesta viagem não deveria existir.
Surpresa, Melina retrucou:
— Só porque estou velha, não quer dizer que não seja útil. Creio ter demonstrado isso várias vezes nos últimos dias.
A má interpretação do que disse inflamou os ânimos de Marie, cujo o humor tinha oscilado bastante ao longo do dia. Estava feliz por, finalmente, ter admitido seus sentimentos à Virnan e por ela ter recuperado seus dons; triste por saber que o tempo ao seu lado e da tia estava se esgotando; cansada de tentar parecer forte o tempo todo. No entanto, reconhecia que não foi clara ao se expressar.
— Ora, não ponha palavras em minha boca! Conheço bem suas capacidades. Mas a senhora é a Grã-mestra da Ordem, seu dever é estar no comando dela.
— Por que isso agora?
— É o que sempre pensei. — Admitiu, fazendo um gesto vago.
— E por que nunca disse nada?
Ela curvou os ombros, apática.
— Porque também sou egoísta e queria aproveitar um pouco mais da sua companhia. A verdade é que ainda não estava pronta para me despedir da senhora, jamais estarei.
A tia baixou a vista, emocionada.
— Minha mãe partiu cedo demais para que possa me lembrar bem dela. Mas você, — sorriu — passei vinte anos ao seu lado. Você não me deu à luz e só a conheci depois de adulta, mas ao seu lado cresci. A chamo de tia, mas há muito tempo lhe dedico carinho e amor de filha.
Os olhos da idosa marejaram e preparou-se para responder, mas ela continuou sem lhe permitir a palavra:
— Não quero lhe perder também, ainda mais em uma ação que sabemos ser inútil. — Abandonou o riso. — Acha que nunca percebi suas intenções? Posso ter ficado quieta pelo desejo de ter mais algum tempo com você, mas seus objetivos nunca me escaparam. Não havia necessidade de que viesse conosco, mesmo com o laço que nos une.
Melina enxugou uma lágrima que lhe escapou e arqueou um dos cantos da boca.
— Não pode me culpar por querer lhe proteger. É o que qualquer mãe faria, certo? — Fungou, afastando outras lágrimas que se avizinhavam. — Você é a filha que nunca tive a felicidade de ter, apesar de ter tentado bastante.
Alisou o bracelete prateado no braço e Marie pousou a vista nele, que era símbolo da sua união com Mestre Andrus. O tio veio a falecer poucos anos depois da sua chegada à Ordem, mas Melina jamais se desfez do objeto e muitas foram as vezes em que a flagrou fitando-o em meio às lágrimas, quando acreditava estar sozinha.
Afastou a lembrança do homem de olhar calmo e gestos cuidadosos, sempre disposto a oferecer um sorriso. Fez uma leve careta, empertigando-se.
— Mesmo que vocês não queiram aceitar, este é o meu destino, o meu fardo. Você não pode tomá-lo para si!
Melina soltou o bracelete, retornando a vista para ela.
— Eu não posso deixá-la morrer sem nada fazer.
— E acha que se ele a elegeu uma vez, poderia aceitar seu sacrifício de novo e me liberar? Sabe que isso não vai acontecer.
Era um fato, mas a Grã-mestra tinha outros planos além de se entregar ao destino do qual escapou uma vez.
— Posso tentar — disse, disposta a fazer o que tinha planejado, caso os planos de Virnan, quaisquer que fossem, dessem errado.
As mãos de Marie escorregaram por seus ombros, quando se aproximou e a abraçou. Por mais que existissem palavras que pudessem descrever seus sentimentos, ainda assim, elas não alcançariam a real intensidade deles.
— Eu te amo, mas não vou permitir que tome o meu lugar. Então, esqueça essa ideia estúpida. Apenas fique ao meu lado até o fim. — Afastou-se, depositando um beijo na testa dela, então caminhou em direção a Fantin e Tamar.
A Grã-mestra apertou o medalhão, novamente. Lágrimas correram frouxas por sua face, reforçando sua decisão de assumir o lugar dela no sacrifício. Não era uma ideia recente. Planejou isso por muito tempo e a medida que os anos passavam, seus planos e certezas tornavam-se mais sólidos.
— Ah, então era isso!
Ela fungou, erguendo o olhar para a copa da árvore sob a qual se abrigava. Nas sombras, um galho balançou e segundos depois Virnan estava de pé à sua frente. Os cabelos estavam em desalinho e olheiras profundas se formaram em sua face ao longo do dia. Não escapou a ninguém que a sua saúde estava debilitada, mas como tinha afirmado, o retorno da magia auxiliou na cura dos seus ferimentos e, naquele momento, eles não passavam de arranhões em fase de cicatrização.
— Não imaginava que fosse do tipo bisbilhoteira — resmungou a Grã-mestra.
A moça sorriu, apenas pelo hábito de fazê-lo constantemente. Ergueu a mão, mostrando um cacho de frutas vermelhas, retirou uma e lhe entregou, tomando assento no mesmo lugar que Marie ocupou. Mordeu uma das frutas, demonstrando grande prazer.
— São chamadas de mados. Experimente. Só nascem nestas terras.
— Parece uma maçã — observou, enxugando o pranto. Deu uma mordida, notando que a consistência era diferente de qualquer outra fruta que provou na vida. O mesmo poderia ser dito do sabor.
Virnan esticou as pernas.
— Não era minha intenção bisbilhotar, mas já que estava por perto, — apontou para cima, com um dar de ombros — não me privei disso. Foi uma conversa bastante esclarecedora.
A velha mastigou devagar, aguardando que se explicasse, o que ela fez após um longo momento de silêncio contemplativo. Parecia distraída, como se os pensamentos insistissem em vagar para longe. Contudo, a voz soou firme e os olhos se fixaram nela espelhando a costumeira malícia.
— No início da viagem, também observei as mesmas coisas que Marie. Compreendia que a eleita era sua sobrinha e necessitava se despedir, mas algo me chamava a atenção e causava desconfiança.
— O que seria?
Ela sorriu. Outra vez, sem realmente querer fazê-lo.
— Faz sentido querer se entregar ao Cavaleiro no lugar dela, diante do seu histórico com ele, mas Marie está certa em acreditar que não dará certo e que as duas acabarão por morrer. Mas você já tinha pensado nisso, certo? Por isso, está usando esse medalhão.
Melina escorregou a mão para o objeto, deixando os restos da fruta caírem no chão.
— Esse medalhão, ainda que para olhos desatentos seja igual ao que usa no seu dia-a-dia, se trata de outro. — Virnan continuou, mordendo outra fruta, sem esconder o prazer que o ato lhe dava. Afinal, milênios tinham se passado desde que sentiu aquele sabor. — Essa é a pedra original. A mesma que fica guardada em uma sala secreta, cujo único acesso está em sua biblioteca particular, enquanto o resto da Ordem acredita que ela se encontra no Salão dos Mestres, assim como Loyer imaginava.
— Você é mesmo uma mulher surpreendente. — Admitiu, sorrindo. — E ainda diz que não é bisbilhoteira.
Virnan gargalhou, atraindo a atenção de Marie e as outras mestras.
— Devo devolver o elogio, — descansou o queixo na mão — afinal, tivemos a mesma ideia.
A Grã-mestra arqueou uma sobrancelha, demonstrando confusão. Apressou-se a explicar:
— Quando cheguei à Ilha Vitta, não passava de uma pessoa muito doente e com quase nenhuma magia. Recorda?
Ela assentiu.
— A senhora desfilava pelo castelo com aquele medalhão no pescoço. Ele nunca me chamou a atenção, mas quando participei da cerimônia de iniciação e fiz meu juramento, mesmo com aquela magia pobre, percebi a mudança. Reparei que só usava o original em cerimônias especiais e não tardou para descobrir onde o escondia.
Lhe entregou outra fruta, notando que tinha apreciado a primeira.
— Se esforçou para descobrir onde o guardava. Devo supor que desejava roubá-lo? — Melina indagou, mastigando devagar.
— Supõe corretamente.
Algum tempo se passou enquanto comiam em silêncio. Melina analisava o que tinha dito, sem esconder a preocupação que a tomava. Por outro lado, Virnan parecia relaxada, apesar do semblante abatido.
— O verdadeiro poder desta pedra, só é revelado para aqueles que alcançam o círculo da sabedoria. Para todos os círculos anteriores, este medalhão é apenas mais um símbolo que afirma a minha posição como Grã-mestra. — Alisou a pedra. — Quando o comandante entrou no Salão dos Mestres à procura dele, notei que você sabia o que ele significava, mas diante de tudo que tinha visto naquela noite e as dúvidas que suas atitudes levantaram, preferi não tecer comentários.
— Foi sábio. Não queria ter de mentir para a senhora, nem machucá-la se insistisse em saber mais. Diga-me, sabe o que ele é de verdade?
Melina balançou a cabeça, confirmando. Tomou um alento, refletindo se deveria continuar a resposta, mas um gesto de Virnan a incentivou.
Limpou a garganta, dizendo:
— É uma chave.
Uma brisa fria soprou, trazendo o cheiro da fumaça que se elevava da fogueira.
— E você sabe o que ela abre?
A líder ordenada fez novo silêncio, o sabor doce da fruta que havia acabado de comer dando espaço ao amargor do que estava prestes a dizer.
— Apocalipse. Morte. Destruição. O fim deste mundo. — Observou-a brincar com as frutas que restavam no cacho. Por fim, ela o deixou de lado e depositou no chão. — Mais cedo, você disse a Lorde Verne que era a “Primeira Ordem”.
Um sorriso largo visitou os lábios da outra. Um gesto sem calor, que estava se repetindo muito naquela conversa, causando estranheza na idosa.
— Eu nasci em uma casta onde se tornar um protetor era quase uma obrigação. Me tornei uma Castir, cuja função é a mesma e milênios depois ainda a desempenho, embora seja de uma forma diferente. Quanto mais penso nisso, mais certeza tenho de que Lyla nos uniu.
— Por quê?
Virnan estalou os lábios, brincando com uma mecha de seus cabelos. Estava certa de que a Grã-mestra, apesar de possuir o medalhão e saber o que era, não tinha compreensão do real poder da pedra que o adornava.
— A Primeira Ordem é a Ordem Castir, a qual pertenci. Uma das coisas que ela defendia é a pedra em seu medalhão.
— Então, você ia roubá-la para protegê-la. — Supôs.
— Claro que não! — Sorriu. — Como lhe disse, Melina, tivemos a mesma ideia. Como minha magia estava aprisionada, essa foi a solução que encontrei. Assim como você, iria usá-la para matar aquele farsante que se intitula Cavaleiro Vermelho. Eram esses seus planos, certo?
Se pôs de pé, esticando-se.
— Até aqui, ela passou despercebida pelos nossos perseguidores. Mas agora que Érion sabe que estou viva, virá à minha procura. Ele deseja Marie; certamente, seu dom é muito atraente. Quanto à mim, ele deseja vingança. Mas se conseguir pôr as mãos nessa pedra, nossos problemas irão aumentar de uma maneira assombrosa.
Uma vertigem tomou Melina ao imaginar o que poderia acontecer. Levou um instante para se recuperar, então perguntou:
— O que você fez para ele?
— Como disse antes, Grã-mestra, tenho muitos pecados sobre meus ombros, mas na concepção de Érion, o pior deles foi ter nascido. — Suspirou e reprimiu um gemido. Continuava a reviver a morte de Tamar, mas a intensidade das dores tinham diminuído desde que Fantin a confrontou. — De agora em diante, mantenha essa pedra escondida. Embora pareça vazio, não estamos sozinhos neste reino.
***
Lyla observava a noite sobre um galho no topo da árvore sob a qual Virnan repousava. A Castir finalmente tinha se rendido ao cansaço e dormia profundamente ao lado de Marie que, por sua vez, estava desperta. Ela passava as mãos nos cabelos da amante, entristecida.
Metros adiante, Fenris caminhou até Fantin com o intuito de acordá-la para tomar seu lugar na vigília, contudo Marie o impediu, gesticulando que não conseguia dormir e assumiria a tarefa. A princesa esperou por quase uma hora, então encaminhou-se para os cavalos, lançando olhares furtivos para os amigos, principalmente Virnan. Dentre todos, era ela a mais provável de despertar.
Começou a selar seu cavalo, mas uma voz ligeiramente familiar lhe causou um sobressalto.
— Vai a algum lugar, Alteza?
Voltou-se para se deparar com o vazio.
— Aqui em cima — a voz disse baixinho, sem ocultar o riso.
Ergueu a cabeça para ver Lyla sentada em um galho, balançando as pernas com ar quase infantil. Algo naquela imagem a recordou Virnan. O spectu tomou a forma de pássaro e voou até o chão, retornando a forma humana.
Desconcertada, mas decidida, Marie continuou a selar o cavalo.
— É uma péssima ideia — disse o spectu com um sorriso sem dentes.
Ela andou em volta do cavalo até parar do lado oposto ao de Marie e começou a acariciar o animal. Sorriu mais largo.
— Faz muito tempo desde que apreciei a sensação de tocar algo. Curiosamente, não me lembro de sentir falta disso.
Ergueu o olhar para a princesa.
— Não entendo os “sinais”, mas você pode “falar” comigo. Já estou morta mesmo e o que sou agora é a forma pura da minha alma mágica ligada a de Virnan. Posso ser ferida e até sangrar — riu com um dar de ombros —, não é maravilhoso?! Entretanto, somente outro espírito pode fazê-lo. Outro e, claro, Virnan, se ela quiser.
A mestra encerrou sua tarefa ao prender um pequeno saco de viagem com alimento e água. Tomou as rédeas e pôs o pé no estribo.
— Eu posso acordá-la com um pensamento. — Lyla avisou com um sorriso malvado. — Ela a ama, mas saber que pretendia fugir no meio da noite será um golpe duro e só vai piorar o mau-humor que a acompanha desde que encontrou Zarif.
Indignada, Marie perguntou baixinho:
— O que é que você quer?! — Sentiu um grande alívio ao perceber que nada de mais aconteceu e adquiriu uma postura mais confiante por poder se expressar sem o risco de machucá-la.
A deminara cruzou as mãos nas costas.
— O mesmo que você. Quero que ela tenha paz. — Lançou um olhar para o acampamento.
Os ombros de Marie arrearam por um instante.
— É claro que eu também pretendo expiar meus pecados ao fazer isso.
— Você não entende.
— O que não entendo, Alteza? Que você carrega sobre os ombros o destino do seu reino? Que teme pela vida de Virnan e suas amigas e por isso está fugindo no meio da noite para se entregar ao Cavaleiro?! — Abriu os braços. — Entendo muito mais do que possa imaginar. Na verdade, já estive em sua posição. Não quanto a essa coisa de sacrifício, mas em relação a todo o resto. Pelos Portões de Cazz, eu morri por isso!
Tornou a sorrir, causando um arrepio em Marie. Agora que estavam conversando, percebia o quão parecida com Virnan ela era. Não no sentido físico, mas na forma de falar e se expressar com o corpo.
— Quer que a felicite por isso? — Indagou.
A outra riu mais abertamente.
— De modo algum, Alteza. Todos temos nossos fardos, mas o seu não precisa ser tão pesado.
Ambas olharam para a árvore atrás da qual Virnan dormia.
— Mesmo que ela tenha recuperado a magia ao se unir a você, mesmo que seja tão poderosa quanto imagino, ainda pode morrer. Todas podem morrer! E não suporto a ideia de que isso possa acontecer por minha culpa. Se eu for, ele terá o que quer e serão mais cinquenta anos de paz.
Lyla passou a mão nos cabelos, fazendo o movimento parecer quase felino.
— Você é bem cabeça-dura. Agora, compreendo o que ela viu em você. Sempre se sentiu atraída por pessoas desafiadoras. — Suspirou. — Já que é assim, me acompanhe. Quero te mostrar algo que pode fazê-la mudar de ideia.
— Nada fará.
— Apenas me acompanhe. Vamos caminhar um pouco. Ainda não estou completamente inteirada das capacidades de um spectu, então não posso carregá-la.
Desconfiada, Marie não se moveu.
— Prefere que eu a acorde, Alteza?
— Pare de me chamar assim! Meu nome é Marie. Me trate assim ou, se preferir, Mestra. Mas pare de me chamar de “alteza” com esse ar de deboche. Céus! Você consegue ser ainda mais irritante do que Virnan quando deseja.
A outra riu baixinho aumentando seu desconforto, enquanto a seguia.
** **
Uma hora tinha se passado desde que deixaram o acampamento. A distância percorrida não era tão longa e Lyla ainda conseguia manter contato com Virnan, caso precisassem se comunicar. Andavam lado a lado apesar da mata fechada.
— Você a faz feliz — Lyla disse, interrompendo os passos por um momento e recebeu dela um olhar inquisitivo.
Recomeçou a andar, explicando:
— Apesar de ter crescido em uma época em que isso poderia ser descrito como comum, o que na verdade não era, desconhecia a profundidade da união Castir. Virnan me falava algumas coisas, mas jamais consegui captar a sua essência. Depois do nosso pacto, compreendo. A sinto como se fosse eu. Tenho acesso as emoções dela e ela as minhas. Podemos nos comunicar, apesar de distantes. E quando necessita de ajuda, o laço que nos une me atrai para ela, como aconteceu no lago. — Suspirou, arqueando uma sobrancelha. — Creio que há muito mais, mas ainda estou me habituando. Enfim, o que dizia é que quando ela está com você, é como se o resto do mundo deixasse de existir.
A fitou com um sorriso suave.
— Quando está com você, ela não é confusa, não tem raiva nem tristeza. Ao seu lado, ela só tem amor. E é algo tão intenso, que nem consigo descrever direito. Enquanto viva, jamais encontrei alguém que tenha me tocado assim e admito que lamento isso. No entanto, tive a oportunidade de vivenciar outros tipos de amor e eles moldaram meu caminho e me acompanharam na morte.
Marie parou ao lado dela, desconcertada, mas emocionada por conhecer os sentimentos de Virnan de outra forma. O que ela sentia não lhe era segredo, mas a maneira com que Lyla os descreveu a preencheu de uma carinhosa alegria.
— Por que não seguiu para as Terras Imortais? — Perguntou de repente.
Lyla se demorou a responder, como se estivesse escolhendo a melhor explicação. Por fim, deu de ombros e disse:
— Ainda tinha muito a fazer neste mundo.
Marie não ocultou a decepção com a resposta, porém insistiu em outra pergunta.
— Por que ela pensa que você nos uniu na Ordem?
A deminara estacou diante de uma moita, demorou-se a fitá-la. Lentamente, um sorriso lhe chegou aos lábios. Afinal, tinha tentado esconder aquela informação de Virnan quando suas mentes se uniram por alguns instantes durante o pacto. Mas estava certa de que logo a compreensão lhe chegaria, só não imaginava que seria tão rápido.
Deu-lhe às costas.
— Me responda. Como você poderia fazer isso e por qual motivo?
— Se quer mesmo saber o como, pergunte a ela sobre os meus dons. Quanto ao motivo, saberão quando chegarem à Flyn.
— Isso não é resposta. Céus, parece que vocês floras apreciam falar as coisas pela metade! É muito irritante! E para onde estamos indo, afinal?
— Na verdade, já chegamos. — Ela afastou um galho do arbusto e Marie se encontrou diante das ruínas do que, com certeza, havia sido uma imponente construção no passado.
— Que lugar é este?
— O Palácio do Sul. Minha casa e a de Virnan antes que se tornasse uma Castir.
— Por que me trouxe aqui?
— Para que visse com seus próprios olhos o que o meu irmão fez ao seu lar. Aqui ele massacrou amigos, parentes e o povo que deveria proteger. Ele não irá parar depois de você, Marie. Se estou certa, e estou, você é a última peça que ele necessita para concluir seu desejo.
** * **
Ainda que não estivesse presente quando o massacre do Palácio do Sul aconteceu, Marie conseguia sentir a atmosfera de desespero que o lugar emanava e compreendia o silêncio e semblante triste que tinha tomado Virnan ao longo do caminho.
Retornavam por uma trilha diferente, imersas em um silêncio acolhedor. Apesar da escuridão na floresta, uma luz suave se apresentava adiante e Marie se perguntou o que poderia estar gerando ela, afinal, ainda era madrugada. De repente, viram-se diante de um campo aberto e a beleza dele cresceu nos seus olhos. Estava completamente florido e as flores emanavam um suave brilho azulado.
— O que são elas?
— Estrelas da noite. Era assim que meu povo as chamava. É um sinal de boa sorte. Florescem alguns dias antes da lua cheia, mas nunca vi tantas assim.
Ouviram um bocejo alto e depois a voz de Virnan.
— Vocês demoraram — ela estava recostada a uma árvore, com os braços cruzados.
Espírito fofoqueiro. Marie gesticulou, arrancando uma risada de Virnan, que chegou mais perto.
— Desta vez, ela não tem culpa. Tenho bons ouvidos, lembra? Se não queriam que percebesse algo, deveriam ter conversado mais longe do acampamento. — Fez um gesto de cabeça para Lyla. — Obrigada por cuidar bem dela.
— O fiz com a minha “vida”, Castir! — Sorriu, malandra.
— Engraçadinha!
O spectu se empertigou, lhe oferecendo uma reverência profunda. Fez o mesmo para Marie, então tomou a forma animal e desapareceu no céu negro. As duas ordenadas se olharam por um longo tempo, compartilhando um silêncio constrangedor, por parte da Mestra. Por fim, Virnan andou até o meio do campo, retirando a capa que usava e jogando-a no chão. Sentou-se e a convidou para fazer o mesmo com um gesto suave.
Algum tempo se passou, enquanto contemplavam a beleza do lugar. Como Lyla disse, aquelas flores eram um sinal de boa sorte e, mesmo diante de tantas incertezas, a guardiã alegrou-se. Traçou um gesto no ar e falou:
— Protectiare.
Um círculo se espalhou no chão, ergueu-se dele e encolheu em volta dela até desaparecer e reaparecer pequeno e brilhante no pescoço, como se fosse uma tatuagem de luz.
— Enquanto o círculo brilhar, você pode falar sem medo de me machucar. — Informou, satisfeita pelo retorno da magia lhe permitir conversar com ela normalmente.
Ainda aborrecida por seus planos terem sido descobertos pelas duas floras, Marie permaneceu em silêncio por um tempo. Aos poucos, a beleza do lugar e a sensação agradável de estar ao lado de Virnan sem receios de falar algo que pudesse lhe ferir, a fez relaxar e confessou seus medos e desgostos.
— Não quero ter esperanças, nem sonhos se não há um futuro para eles.
A guardiã se voltou para ela, observando a expressão infeliz no rosto que tanto amava. Em um movimento rápido e silencioso, sentou sobre as pernas dela e a envolveu em um abraço apertado, dizendo:
— Ah, Marie! Você não entende. É você quem me dá esperanças e sonhos. — Afastou-se um pouco para mirá-la. Deslizou a mão pela face úmida pelas lágrimas que se desprendiam. — Meu passado com Lyla é carregado de dissabores. Tenho muito do que me ressentir em relação a ela, mas neste momento, lhe sou muito grata por ter nos colocado no mesmo caminho.
Por um instante, Marie abandonou a dor que a tomava e deu espaço para a curiosidade.
— Qual é o dom dela?
A guardiã alargou o sorriso, recordando um passado distante. Poucas pessoas conheceram a verdade sobre a magia de Lyla, que temia a possibilidade de ser obrigada a usá-la contra sua vontade e à favor de pessoas inescrupulosas.
— É tão raro quanto o seu e o meu. — Enfiou a mão nos cabelos dela, brincando com a trança, desfazendo-a devagar. — E assim como eu, nunca apreciou tê-lo. Ela possui magia temporal.
Os olhos da mestra se abriram um pouco mais. Nunca conheceu alguém com um dom semelhante e se ela podia fazer o que imaginava, fazia sentido as certezas de Virnan, que não precisou ouvir a pergunta para saber o que se passava em sua mente.
— Ainda não conversei com ela sobre isso. Na verdade, não conversamos sobre quase nada. Não consigo ficar em sua presença por muito tempo sem me deixar dominar pela raiva. Lyla sempre soube como me afetar. É certo afirmar que temos temperamentos parecidos e um dia dividimos, além da amizade, os mesmos anseios. — Fez uma pausa, fugindo do olhar dela por um instante. — Sim, acredito que é por causa dela que vivi tanto tempo, entretanto isso não explica quase nada.
Suspirou, encostando a testa na dela, carinhosa. Marie a trouxe para mais perto, assentando as mãos em sua cintura e beijou-a no queixo.
— Então, devo agradecê-la por colocá-la em meu caminho e me permitir conhecer um amor de verdade, mesmo que por pouco tempo e não da maneira desejada. — Arqueou os lábios. — Não quero que se machuque, Virnan. Já estou condenada, mas você tem outra chance de viver da maneira que melhor lhe aprouver.
A guardiã lhe sorriu.
— Pelos portões de Cazz, como amo ouvir a sua voz, Alteza!
Divertiu-se com o jeito zangado com que ela a fitou por causa do tratamento e, também, por se dar conta de quanto tempo tinha se passado desde que usou aquela expressão pela última vez.
— Este mundo, o que quer que venha a acontecer com ele, deixará de ter qualquer importância para mim sem você. Não me culpe por ser egoísta. Amei poucas pessoas em minha vida longa, mas nenhum desses amores foi como o que sinto por você. Não me importa se precisarei transformar tudo em cinzas, mas não permitirei que Érion a machuque ou às nossas amigas.
Beijou-lhe devagar, então inspirou fundo.
— Ela a levou até o Palácio do Sul, não foi?
A mestra confirmou com um balançar de cabeça.
— Gostaria que o tivesse conhecido no passado. Teria uma ideia de sua beleza e da vida que o habitava. — Soou triste. — Meus olhos viram muita destruição e miséria, mas nada me doeu tanto quanto vê-lo em chamas. O engraçado é que só me dei conta do quanto amava aquele lugar quando isso aconteceu.
Limpou a garganta.
— Compreendo seu medo. É justo que o tenha, assim como eu tenho. Contudo, não me entregarei a esse sentimento ingrato, porque ele e as incertezas que o acompanham deixaram de ter poder sobre mim no dia em que a conheci. — Sorriu.
Passou uma mão sobre o peito.
— Eles ainda estão aqui, porque é bom não esquecer como são. Quando esquecemos como é ter medo, deixamos de valorizar a vida; a nossa e a de outros. Lute ao meu lado, Marie. Vamos colocar um fim nessa história juntas.
— Não suporto a ideia de que você e elas possam se ferir e perderem as vidas por minha causa. Não consigo parar de pensar nas consequências para o meu reino e outros. — Admitiu, enfiando o nariz no pescoço dela para que não visse a aproximação das lágrimas.
— Ah, minha linda e amada princesa, nunca foi somente por você. “Esta viagem” pode ter começado assim, mas a verdadeira luta sempre foi por um mundo e começou muitos séculos atrás.
A mestra afastou-se o pouco que os braços dela, em volta do seu corpo, permitiram. Demonstrou sua confusão ao arquear as sobrancelhas.
— A verdade está em Flyn. — Virnan garantiu, deixando claro que não iria se aprofundar no assunto.
Lyla tinha garantido a Marie que o Cavaleiro não iria parar depois dela e que, provavelmente, não haveria mais cinquenta anos até o próximo sacrifício. Se era verdade, algo precisava ser feito para impedi-lo e era essa ideia que Virnan lhe pedia para abraçar.
— Se sabe que temos a mesma magia que você, por que quer nos levar até Flyn? O que há lá?
— Esperança; uma chance de que você e eu possamos ter um futuro e de que não hajam mais sacrifícios. — Os olhos verdes brilharam sob a fraca luz que as flores emanavam, revelando a força do desejo de que o que dizia se tornasse realidade.
Então, sem forças para resistir mais, Marie deixou que aquela esperança também lhe tomasse o peito. Assim sendo, mergulhou com sede nos lábios que a convidavam para prová-los. Entre um beijo e outro, Virnan a despiu, enquanto sussurrava palavras estranhas e quando quis saber o que significava, disse que as repetisse.
Desconfiada, Marie o fez e a encarou com a testa franzida, esperando ver um novo círculo a se formar, mas nada aconteceu.
— O que acabei de falar?
Ela sorriu, travessa.
— Que me ama, basicamente. E que aceita ser minha prometida sob a chama de Hidraz. — Mordiscou-lhe o pescoço, escorregando uma mão até um de seus seios.
Marie a afastou.
— Céus! Até em um momento como este, você brinca! Me enganou para ouvir o que queria!
Virnan riu baixinho, entretida em lhe acariciar a pele e aspirar seu perfume, deixando marcas nela com seus lábios.
— Mais ou menos. Se não fosse o seu desejo, não teria acontecido. — Lhe tomou a mão e ergueu a palma para que ela visse as marcas que se formaram nela. — Vê?
— O que é isso? — Mirou o conjunto de três círculos que se uniam através da linha de um quarto círculo.
— Uma promessa. Você só conseguiria falar se realmente fosse o desejo do seu coração. Na verdade, apenas me confirmou o que me disse na outra noite, usando palavras muito significativas para o meu povo.
— Trapaceira! Um “eu te amo” não lhe bastava?
A guardiã jogou a cabeça para trás, rindo solto. Depois lhe beijou com cuidado, deslizando a mão pelas costas dela e, sem cerimônia, retirou a própria blusa. Marie amou aquele riso, assim como amava o brilho provocativo em seus olhos. De fato, amava tudo nela, mesmo os defeitos.
Admirou as novas tatuagens em seu corpo, tracejando as linhas com as pontas dos dedos.
— São lindas. Você é linda! — Sorriu pela alegria de senti-la junto a si e poder expressar seus pensamentos sem receio das consequências. — Que seja! Lutaremos juntas e, se for preciso, morreremos juntas! Pois eu te amo e, a partir deste momento, não permitirei que nada nem ninguém, nem mesmo os meus medos, nos afaste. Juro isso em qualquer língua que queira ouvir.
Pousou os lábios na pele sedosa, esquecida das suas tristezas e das decisões que quase a levaram para longe dela. A queria tanto que até doía e deixou que ela brincasse com seu desejo, percorrendo sua pele entre beijos vorazes e toques suaves, lhe arrancando suspiros, gemidos, palavras desconexas e inúmeras declarações de amor.
*** ***
O dia estava claro quando retornaram ao acampamento em meio à sorrisos cúmplices. Fingiram não notar o desagrado no olhar de Lorde Verne, nem o risinho debochado de Fantin, então se apressaram a preparem a partida.
Na forma animal, Lyla observava a movimentação e sussurrou para Virnan, em tom de zombaria:
— Por toda a tempestade de emoções que senti, sua noite foi maravilhosa! Quase saí por aí dando piruetas no ar. Imagino como Zarif ficava quando era o seu spectu. Ele devia andar com um sorriso no rosto o tempo todo.
— Continue fazendo piada, deminara, e não reclame quando eu a mandar calar. Acha que não notei que nos espiou por algum tempo?! — Virnan sussurrou de volta, já sobre a montaria, e lançou um olhar para o galho em que tinha pousado.
O pássaro Lyla chilreou em provocação. De fato, permaneceu um tempo no local, mas quando percebeu o que estava prestes a acontecer, retornou ao acampamento.
— Ela não faz ideia do que você a fez dizer, não é? Isso não foi muito justo, Castir.
Virnan incentivou o cavalo a galopar, respondendo:
— Este mundo não é justo e se ela não quisesse isso, as marcas não teriam surgido.
Hmm… Final interessante, tô sentindo que Marie vai acabar tendo um sentimento de traição, seja lá o real significado daquela tatuagem
Kkkkk Por mais q eu não goste da Lyla, confesso que achei engraçado o comentário dela, Zarif devia ficar bem alegrinho, TB xD
Como sempre mais um capitulo maravilhoso ,arrasou na ilustração ,esperando o próximo capitulo com extrema ansiedade kkkk
Obrigada, linda!
Beijos e até lá!
Caríssima Tattah, Maga das Palavras:
é impressionante como sua escrita consegue fazer com que eu me odeie! Por que diabos fui ler a história, antes que estivesse completa no site? Eu estava indo tão bem, meu deus! Aguentei tanto tempo! Por que fui fraquejar, senhor, por quê?
EU ME ODEIO!
Agora tenho que esperar os próximos capítulos, e sofrer horrivelmente enquanto você não termina essa história. Você é cruel, Maga, muito cruel!
Ownnn, minha deusa favorita!
Sou cruel, não! Bem, talvez um pouquinho! 😀 Mesmo assim, você me adora, lá, lá, lá! Kkkk…
‘Xá’ desse drama divino! A paciência é uma virtude, vamos trabalhá-la! 😎
Beijos e abraços carinhosos! 😉
Tattah, sua linda! Adorando os rumos que as coisas estão tomando!
Na expectativa pelos próximos!
Haha, que bom, Naty! Te prepara que o negócio vai esquentar! Rs…
Beijão!
This is Perfect. Gata continua que sua história está amazing, sem palavras. Amando e muito.
Oi, TalineV!
Thanks! Agradeço o carinho e prometo retribuir com muitas emoções! :*
Beijão!
Sensacional, nem sei se estou me repetindo a cada semana, mas este é o pensamento q tenho ao terminar cada cap.
Saber o q aconteceu com a cidade delas, e q agora existe uma possibilidade de Marie não morrer em sacrifício já nos dá um alento.
Odiando ter q esperar e amando qdo chega o dia de ler o cap.
BOM D+++
Kkkk… Sinto muito pela espera, lindona, mas não deixa de ser gostoso, né? 😀
Se continuar achando sensacional, pode se repetir o quanto quiser! 😉
Beijão!