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Conchinhas mágicas
Agatha estava inquieta demais para ficar em casa trabalhando, por isso saiu e foi caminhar pela praia. O mar a sua frente estava calmo, ao contrário das emoções dentro dela. Acreditou que a brisa marítima afastaria toda aquela agitação, ergueu o rosto e deixou que o vento úmido lhe acariciasse, provavelmente, depois daquela caminhada acabaria reencontrando a paz e o sossego que para ela era tão vital.
Em outras circunstancias, ela teria ido para casa da prima ou ligado e sugerido uma noite regada a vinho e conversas em sua casa. Mas, Lucas ainda estava em lua de mel e Alana estaria aconchega nos braços de Eva, se não estivesse, deveria. Ainda mais naquele estagio da gravidez, repouso era algo fundamental. Nada de bebidas e conversas até o dia raiar. Mas, também não vamos nos enganar, a morena nunca se importou em estar só, por incansáveis vezes, declarou em alto e bom tom o quanto amava a solidão, aprendeu a enxergar a doçura daqueles momentos. Ela também amava a praia, o barulho das ondas nas pedras e de como o mar era imprevisível.
– Também já posso dizer que gosto daquele riso de criança inocente e sapeca! __ desceu da formação rochosa, caminhou mais um pouco, ainda estava inquieta. Subiu em um tronco abandonado perto o bastante da água, para que a umidade lhe resfriasse o rosto e a água molhasse as pernas. Fitou o horizonte, e o sol se despedia majestoso, imergindo nas águas do mar que naquele momento tinha cores diversas. – Não… não é apenas pela criança, embora aquele garoto tenha conseguido me encantar de forma inexplicável, preciso ter ao menos a decência de ser sincera comigo, essa agitação toda é por ela. Como que a Maysa não me reconheceu? Como ela pode estar tão linda? E como assim se tornou, ao que deu para perceber, a melhor mãe do mundo? Ela parecia flutuar sobre aquela cerca, o cheiro das flores se misturava ao dela, e o que foi aquela voz rouca? Eu tive vertigem, precisei me segurar internamente. O que está acontecendo comigo? Desde quando passei a deixar-me levar por emoções frívolas? Isso só pode ser pegadinha dos deuses, não tinham nada melhor para fazer e então resolveram sortear meu nome e me pregar peças. Sério que vocês tinham que trazê-la de volta? __ a morena conversava com o mar. – Isso não é justo, Cronos (deus grego do tempo e do destino dos homens). Fica aí só brincando de xadrez com a vida da gente, né? __ acabou rindo de si mesma, de nada adiantaria brigar com os deuses ou pedir respostas que só viriam quando fosse a hora certa, deixou o olhar se perder na vastidão do mar até ter seus pensamentos despertados pela voz que gritava seu nome.
E lá estava Daniel correndo em sua direção, seguido pelo cão. E logo depois vinha Maysa, caminhando sem pressa, mantendo uma distância razoável do filho. Estava dando espaço necessário para que o menino fizesse suas próprias descobertas, porém, perto o suficiente para se caso ele precisasse dela. Não seria uma mentira afirmar que a loira sentiu uma certa pontinha de ciúmes ao notar o quanto o filho já estava fascinado por outra pessoa. A loira sempre foi ciumenta, principalmente com aqueles que ela amava, e não gostava da ideia de ver o filho sendo roubado dela. Ainda que fosse só um pouquinho.
Agatha foi ao encontro da criança e de forma natural, como se aquilo fosse um ato comum entre eles, pegou Daniel e o elevou pelo ar, rodopiando e parando com um abraço.
– Olá novamente, meu pequeno explorador de mundos! Que maravilha lhe rever. __ seu sorriso era solto e feliz.
– Eu senti saudade de você.
– Jura? Sabe, eu estava pensando em você. __ mas, foi para Maysa que os olhos de Agatha desviaram por alguns segundos. A loira ainda se aproximava a passos lentos. – Por acaso você e o Tapioca estão procurando conchinhas mágicas? __ Daniel arregalou os olhos em curiosidade.
– Sério que aqui tem isso?
– Sim.
– E o que elas fazem?
– Realizam um desejo.
– Como eu encontro?
– Basta você procurar com o coração.
– Mamãe, você ouviu isso?! Aqui tem conchinhas mágicas, eu quero uma! Vem Tapioca.
– Eu escutei, não vai para longe e não fique muito próximo da água. __ Maysa estava próxima o suficiente para ouvir o que foi dito e também para perceber o olhar da morena para ela, mas fingiu não notar que estava sendo observada em silêncio.
Agatha via o menino correndo em busca das tais conchinhas mágicas, enquanto a mãe lhe ditada as recomendações. A loira parecia mais relaxada, os cabelos estavam soltos e tinha um sorriso nos lábios. Agatha esteve tão entretida com Daniel, que mal percebeu a aproximação de Maysa, se tivesse notado, teria dado um jeito de evitar aquele contato, pois daquela forma seria impossível colocar os pensamentos em ordem. Como conseguiria ter alguma racionalidade, pensava ela, com aqueles olhos brilhando daquela forma? Eram um convite a se perder, e a morena estava perdida e engoliu a seco quando o par de esmeraldas que eram os objetos de sua admiração caíram sobre ela.
– Desculpe-nos, interrompemos o seu passeio. __ Maysa disfarçou o arrepio que sentiu lhe tombar o corpo.
– Não! É… não mesmo. __ Agatha deseja que não houvesse dúvidas de que não lhe interromperam. Sabia que o mais certo era ela ir embora, mas sentia-se hipnotizada.
Então ela relaxou. Agatha apenas relaxou, permitindo-se ficar e sustentar o olhar, ela sabia que não era a única a estar presa dentro daquele momento. E assim permaneceria, se não fosse pela lembrança de algo que há muito não pairava em sua mente. Mas, àquela recordação veio como uma força devastadora; o beijo que ganhara e retribuía, as sensações e as consequências daquela noite fática. Sentiu uma fisgada de dor.
– Você está bem? __ a loira percebeu que algo havia saído do contexto.
– Uhum, como disse, vocês não atrapalharam. Eu estava apenas admirando o mar antes de voltar para casa. Está esfriando. __ Daniel correu para Agatha, abraçando-a pelas pernas.
– Agatha, não achei as conchinhas. Você quer me ajudar a encontra-las?
– Outro dia, certo? _ quando a sua mãe não estiver com esse ciúme estampado na face, me analisando com esse olhar de mãe que protege a cria com todas as forças. Se bem que esse olhar, não sei se me dá medo ou tesã… pelos deuses, Agatha! – Agora eu preciso mesmo ir, meu amor. Boa noite, meu pequeno explorador de mundos! Boa noite, Maysa.
A loira apenas fez um leve aceno com a cabeça e ficou observando Agatha se afastar.
– Talvez você não sentiria tanto frio, se usasse algo que lhe cobrisse um pouco mais as pernas… e que belo par de pernas bronzeadas e torneadas. __ pensou alto demais.
– Torno… o que, mamãe? O que foi isso que você disse?
– Hã? Nada, filhote. Vamos para casa?
– Mas, eu quero achar as conchinhas mágicas. Quero uma!
– Outro dia, por hoje já chega de tantas aventuras. Vamos ver quem chega primeiro em casa? 1, 2, 3 e… valendo!
Créditos músicas:
Oito anos, Adriana Partimpim (https://youtu.be/lw-1-oWhfT0)
Tá muito bom, tomara que a Maysa seja gentil com a Agatha, e a mesma não faça nenhuma burrada…
AHHHHH, eu não consigo descrever o que eu sinto lendo essa obra de arteeee.
Sinceramente você escreve muuuitooo bem!!!!
E acima de tudo, você consegue passar emoções aos leitores, parabéns Afrodite!!!!
Sua história é incrível e eu a amo ❤❤
(Carinha vermelha aqui com esses elogios)
Ow Cidinha, só tenho a agradecer pelo carinho que tens comigo e por abrir as portinhas do teu coração e acolher essa história. Mais uma vez, obrigada.
Beijinhos.