A Magia do Amor

34. Estado de poesia

34

Estado de poesia

 

“O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.”

| Carlos Drummond de Andrade in, Amar se aprende amando. |

 

 

– Agatha, eu sinto muito.

– Não acabou aí, Maysa. Eu consegui me reerguer com a ajuda da minha família. Fiz meus cursos, recuperei meus dons e o mais importante, acetei quem eu sou.

– Isso é bom, não é?

– Sim, mas… depois de passar por todo aquele tormento, alguns anos mais tarde eu acabei reencontrando o Roberto. Ele estava muito debilitado e eu não fui capaz de deixa-lo a própria sorte, então o ajudei. Eu fui uma fraca! Todos aqueles dias cuidando dele, me fez pensar que talvez ele tivesse mudado, e quando ele usava todas aquelas palavras doces, tão carregadas de amor e carinho. Havia admiração nos olhos dele, como alguém consegue fingir tão bem um sentimento? Eu me deixei levar por tudo aquilo outra vez, e assim que ele se recuperou, foi embora. Mais uma vez eu havia sido a idiota. Porém, eu não pensei que ele seria capaz de reaparecer.

– Você ainda sente algo por ele?

– Eu não o amo, mas já acreditei, um dia, que o amava mais que a mim mesma. Eu já senti muitas coisas pelo Roberto; compaixão, medo, raiva… Eu não posso negar que ficaram muitas marcas do relacionamento que tivemos. Marcas ruins, essas são as mais difíceis de esquecer, Maysa. Mas, também é verdade que passar por tudo isso me trouxe a oportunidade de aprender a ser feliz comigo mesma e eu acreditava até hoje que isso me bastava.

– Até hoje?

– Sim. Eu e minha solidão, era como se tivéssemos em acordo. Mas, desde que aquele garotinho sapeca atravessou a cerca das flores com um filhote de cachorro nos braços, me enlouquecendo com tantas perguntas e fofurice… __ sorriu ao recordar de quando conheceu Daniel. – Confesso que fiquei em estado de choque ao descobrir quem era a mãe do garotinho. __ foi a vez da loira sorrir. – Você voltou! E depois de todas as coisas que nos aconteceu, eu compreendi que embora eu goste da minha solitude, o que realmente faz com que eu me sinta completa, é estar com você. Com vocês. O que eu mais desejo, é ficar com você.

 

Daniel que ainda brincava no gramado, vendo Maysa abraçar a morena, sorriu feliz. Parecia que finalmente a mãe e Agatha estavam novamente se falando. Correu para as mulheres de sua vida, enroscando-se entre as pernas delas, era o seu jeito de também fazer parte daquele abraço.

 

– Filho, estava pensando…

– Em que mamãe? __ a olhava curioso.

– A Agatha está precisando de nossos cuidados. Que tal convidarmos ela para dormir lá em casa essa noite?

– Sério?!

– Sim, será que ela aceita?

– Aceita, Agatha? Por favor… __ teria como recusar um pedido daqueles?

 

Os olhos da morena estavam marejados, mas não eram lagrimas de tristeza, ao contrário, era uma sensação pulsante de que apesar de todos os medos que ainda sentia, tinha a crença de que era possível um recomeço. Tudo ficaria bem, pensou, com as bênçãos e proteção de Hera, tudo teria que ficar bem.

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

Eva colocava a pequena Anna, que adormecera em seus braços enquanto cantarolava alguma canção de ninar, no berço. Admirava seus filhos. E não sabia o porquê, mas naquela noite, sentia-se ainda mais feliz.

 

– As flores ficaram lindas no vaso que mamãe me deu! __ entrou no quarto comemorando.

– Se você não fosse uma bruxa… __ Eva caminhou até a esposa. – Com certeza, seria uma deusa! Todo o Olimpo cairia aos seus pés, alguns enlouqueceriam de inveja, outros de amores.

– É?

– Uhum… __ a abraçou. – E eu seria uma mera mortal que todos os dias iria te prestar adorações.

– Nossa, minha mulher está inspirada!

– Culpa sua.

– Pois, fique sabendo que se eu fosse uma deusa… __ a beijou e sorriu. – Humm, se eu fosse uma deusa, abdicaria da minha imortalidade, do templo e das adorações para viver ao teu lado. __ mas o semblante de Alana modificou-se, era dor?

– Vida, o que houve? __ primeiro foram as mãos trêmulas, depois, todo o corpo.

– Não s… __ o olhar estava fixo em na esposa, mas sua mente vagou. O que Alana estava a ver, não teria coragem de contar para Eva ou quem quer que fosse. Mas soube, assim que voltou a si, teria que agir antes do tempo pretendido. – Me abraça, amor.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Que horas vamos comer? __ Daniel perguntava pela terceira vez, fazendo com que a mãe caísse na gargalhada.

– Meu amor, tenha paciência. A Agatha inventou de fazer algo para jantarmos e dispensou nossa ajuda. Vamos ter que esperar um pouco.

– Por que ela não quer a nossa ajuda?

– Porque eu queria fazer algo para nós! __ apareceu na sala. – Vamos? __ o pequeno foi o primeiro a sair correndo em direção a mesa.

– Olha, o cheiro está maravilhoso! __ a loira abraçava a outra. – Embora esse teu cheiro de flores e brisa marítima seja muito melhor.

– Ora, Maysa! __ corou. – Vamos, acho que consegui preparar uma refeição descente.

– Você não precisava se preocupar com isso, minha intenção em te trazer aqui…__ foi interrompida.

– Eu sei. Mas, eu queria fazer esse agrado. __ sorriu. – Agora vem, antes que o Dan e o Tapioca comam tudo!

– Dan?

– É… desculpa. Sempre ouvi você o chamando assim, e acho tão lindo. Deveria perguntar se podia, né?

– Pode, claro que pode. __ e ficou a admirar a morena caminhando a sua frente, lhe guiando para a mesa.

 

Maysa se perguntava se aquilo era um sonho, não poderia ser apenas um sonho. As cores, os risos, o sabor do frango com molho e ervas finas, o gosto do vinho… A voz de Daniel preenchendo o ambiente, o latido do cão nem a incomodava. E o olhar de Agatha, nele havia brilho, cumplicidade e esperança. Agradeceu em silencio por aquele momento.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Isso é sério, Lucas?

– Não brigue comigo, amor.

– Você entende a gravidade disso? Claro que entende! Onde você está com a cabeça?

– Olih, não sou eu quem fará. __ sorriu sem ânimo. – Não faz parte das minhas habilidades evocar tais coisas, e mesmo que fizesse, não sei se teria coragem.

– Eva já sabe dessa sandice?

– Não. Mas, ela disse que contará. __ abraçou a esposa.

– Vocês são loucos.

– Amor, a Alana seria capaz de qualquer coisa para proteger um de nós. Muitas vezes, parece ser uma louca pela postura que toma, mas não é. Confio na minha irmã, não concordo, mas confio nela e vou ajuda-la.

– Eu sei.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

Naquela noite, fora Agatha quem contou histórias sobre reinos, magias e finais felizes para que o pequeno explorador de mundos dormisse. Em seus sonhos, ele era o guerreiro que salvaria a aldeia, montado em seu alazão. Enquanto Maysa estava no terraço admirando céu repleto de estrelas, a brisa suave da noite com cheiro de mar…

 

– Oi? __ a loira foi retirada de seus pensamentos. – Desculpa, não queria te assustar.

– Tudo bem, senta aqui. Vamos admirar essa noite, está linda. __ ao que a morena se sentou ao seu lado. – Agatha…

– Sim?

– Te devo um pedido de desculpas. __ a morena pareceu confusa. – Quando cheguei na sua casa e vi aquele cara te chamando de noiva, senti tanta raiva.

– Você não precisa…

– Preciso sim. Eu fiquei muito brava e não ouvi o que você tinha a dizer. Me perdoa, por favor. Prometo que sempre irei te ouvir antes de tomar qualquer atitude ou fazer meus julgamentos.

Há muitos anos, em um lugar longínquo e triste, havia uma montanha enorme de pedras negras e ásperas… __ Maysa teve sua curiosidade despertada, a voz da morena era suave e os olhos brilhavam. – Ao cair da tarde, floria, todas as noites, uma rosa que conferia imortalidade. Mas ninguém ousava se aproximar dela, pois seus muitos espinhos eram venenosos. Entre os homens falava-se mais sobre o medo da morte e a da dor, e nunca sobre a promessa da imortalidade. E, todas as manhãs, a rosa murchava incapaz de conceder sua dadiva, esquecida e perdida no topo da montanha fria e escura, sozinha até o fim dos tempos.  __ fez uma pausa, perdia-se nos olhos de verde-mar e no brilho que eles emanavam. – Esse conto se chama A Rosa da Imortalidade, está no filme O Labirinto do Fauno, eu adoro esse filme. Enfim, o que quero dizer com isso, é que eu estava sozinha e fria no topo da montanha, e então você voltou para a minha vida, provavelmente deve ter tido medo dos espinhos e venenos, das lembranças e de sofrer, porém, do seu jeito, você lutou por mim. Você não desistiu de mim, mesmo quando achou que deveria fazer isso. Você ilumina meus dias, teu sorriso é como o sol despertando depois de uma noite sombria. E… é… eu não poderia entregar a minha dadiva, ou seja, o meu coração, a nenhuma outra pessoa senão você!

 

Algumas lagrimas já deixavam-se escorrer pela face da loira, a morena ao seu lado também tinha os olhos avermelhados, pelas lagrimas. Um vento carregado de energia boa, soprou entre elas, ou para elas. Era como se a vida estivesse a sorrir e comemorar aquele momento.

 

– Eu te amo, Agatha.

– Você não faz ideia de como meu coração se alegra quando você diz. Eu também te amo, Maysa. __ aproximou mais seu rosto ao da loira.

– Você fica ainda mais bonita quando a luz da noite se reflete em teu rosto dessa forma. __ disse sem jeito, rouca e inebriada pelos sentimentos que gritavam dentro dela.

 

Os dedos da loira tocaram o rosto de Agatha e limpou as lagrimas com o polegar. “Eu a amo tanto”. Pensou, logo sentiu seu corpo ser envolvido pelos braços e calor da outra. Sentiu-se ofegar, fitou os lábios da morena, já ansiando o que viria a seguir. Agatha deslizou as palmas das mãos no contorno do corpo de Maysa, fazendo-a estremecer e suspirar. O beijo foi quente, mas ao mesmo tempo tinha sutileza. O corpo da morena se acomodava cada vez mais ao corpo da outra, uma mão ia na cintura e a outra se perdia entre os fios loiros dos cabelos de Maysa, enquanto o beijo se tornava mais intenso.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Ora, ora… então o casalzinho realmente não me levou a sério! Aproveite, Agatha. Aproveite bastante, enquanto pode.

 

Jogou a garrafa de whisky vazia contra o chão e sumiu na escuridão da noite.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– O que foi isso? __ a morena assustou-se.

– Calma, com esse ventinho, alguma janela na vizinhança pode ter se quebrado.

– Sei não… __ a morena ainda sentia um certo incomodo.

– Vem, vamos para o nosso quarto. __ a loira lhe sorria, e dentro daquele sorriso haviam promessas.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

Roberto caminhava pela rua Alegrea indignado, passara boa parte da tarde e noite atrás daquela arvore observando loira e morena. Não achou que elas se entenderiam, e acreditava piamente que sua ex noiva voltaria para ele, era só uma questão de tempo. Mas, com a presença daquela mulher, tudo estava indo por água a baixo. Precisaria de uma tática infalível, e na sua mente, o novo plano já estava formado. Ele avisou. Ele avisou inúmeras vezes, mas Agatha não lhe deu ouvidos. Pensava. Agora entraria em ação. E estava certo do sucesso.

 

*   *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Por favor, Agatha… não deixa isso escapar de nós. __ dizia a loira, entre os beijos que recebia.

– Eu quero tanto quanto você, viver todas as coisas que o amor pode nos ofertar. Maysa, eu ouço a sua voz, eu sinto o seu cheiro, mesmo quando você não está. Eu vou para o meu jardim, e sorrio só por saber que você está naquela janela me observando. __ a loira se sentiu pega em flagrante e sorriu arteira. – Ouço músicas e leio histórias de amor, e tudo que me vem à mente é você. Passei tanto tempo da minha vida com medo de correr riscos, e amar é isso, né? Correr riscos. E eu quero correr todos os riscos ao teu lado. Porque eu nunca amei alguém como estou te amando. Tem aquele filme nacional, que diz assim:” o amor é como um precipício, a gente se joga e reza para nunca chegar o chão”.

– Lisbela e o Prisioneiro.

– Sim! E eu quero. Eu quero me jogar. Com a crença de que nunca vamos chegar ao chão!

 

Maysa abriu um sorriso, era a primeira vez que via a morena tão segura desde que começaram a se envolver. Agatha apenas sentiu o impacto do corpo da outra no seu. O beijo foi eloquente, gostoso e entregue.

 

Os botões da blusa de Maysa foram abertos, deixando-a livre daquele pedaço de tecido, a loira aproveitou para tirar o vestido que Agatha usava, ainda se beijavam, mas não é mentira se eu disser que ambas estavam com pressa para o que viria depois. Era saudade, desejo, amor. Era tudo!

 

As roupas estavam espalhadas pelo chão, o beijo foi pausado, elas se olhavam. Maysa caminhou de costas para cama, levando a morena consigo pela mão. Sentou-se, depois deitou, e acompanhou com o olhar a outra fazer o mesmo. Ela abraçava o corpo da mulher que amava, que sempre amou, contra o seu. Segurou o quadril e apertou, sentindo o calor da pele, depois a macies. Suspirou baixinho, ao sentir os lábios de Agatha descer pelo contorno dos ombros, colo, alcançando os seios, e ali permaneceu por algum tempo. Sorria ao ouvir o gemido contido da loira.

 

A morena tinha fome e pressa, uma mão tratava de arranhar e apertar o corpo da amada, a outra encontrava-se espalmada na coxa, segurava firme. Sorriu vitoriosa quando sentiu Maysa se abrir mais para ela. Não havia mais a timidez da primeira vez, apenas a paixão a guiando. Abocanhou o sexo da outra e começou sua exploração com lento deleite. A loira fechou os olhos e entregou-se ao prazer, suas mãos ora seguravam os cabelos de Agatha, ora arranhavam sua nuca. Seu quadril arqueava, e muitas vezes precisava morder o próprio lábio para conter o gemido mais alto. A tortura lenta ganhou mais ritmo, dedos, chupões…

 

Os movimentos de Maysa tornaram-se mais urgentes, segurava os lençóis, estava corada e respirava forte. Seu corpo ardia. Ardia feito um vulcão prestes a explodir. Não ia demorar para acontecer o que as duas mais queriam. Pedia por mais, pedia mais forte! Foi uma questão de tempo para Agatha sentir o ápice da loira e a umidade cobrir sua boca muito além do que que esperava. Estava em êxtase, ao ver em como Maysa se contorcia e gemia o seu nome. Subiu pelo corpo da mulher amada, beijou-lhe fervorosamente. Estavam tão repletas de sentimentos uma pela outra.

 

Para Maysa, fazer amor com Agatha sempre seria como adentrar as portas do paraíso, alcançar céus, parar em outras dimensões. Era aquilo também uma espécie de magia. Queriam continuar a fazer amor, e continuaram. Queriam fazer amor todos os dias, pelo resto da vida.

 

Crédito musicais:

Estado de poesia – Chico Cesar (https://youtu.be/krgPPze689Y)

Trevo (Tu) – AnaVitoria (https://youtu.be/6Gh5YvNKAmA)



Notas:



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9 Respostas para 34. Estado de poesia

  1. Que Capítulo maravilhosamente maravilhoso!!
    Amei o momento delas, desceu até lágrimas aqui.
    Não vejo a hora desse mal carácter ter o que merece e ir pro inferno de vez.
    Bom te ver de volta por aqui Afrodite!❤❤
    Bjussss…
    Cidinha.

    • Já saiu do forninho, rsss’
      Obrigada pela tua companhia.
      Por favor, não queira matar a escritora devido aos próximos acontecimentos. Rs’

      Beijos, moça

  2. Obrigada pelo 34º, Mohine. Ma-ra-vi-lho-so!!
    (Queria ter dito isso tão logo o capítulo foi postado, mas a confirmação do cadastro aqui demorou…). Que bom que temos vocês de volta! E, agora, espero que nada mais atrapalhe a magia em torno dessa família linda… (Xô, ex-noivo!). ;*

    • Então, Iza…
      Vamos ver se conseguimos dar um jeito nesse ex-noivo?
      Obrigada pelo carinho.

      Beijinhos

  3. Estava morrendo de saudade dessa história! Finalmente Aghata se entregou à Maysa e a esse amor lindo destinado a elas. Bom te ver de volta por aqui! ?
    Beijos

    • Oi, moça.
      É bom estar de volta, infelizmente não com a mesma frequência de antes (dias corridos), mas ainda assim, de volta.

      Beijos, senhorita Beurmann 🙂

  4. Que delícia, a inspiração voltou com tudo!
    Que bom que elas se entenderam. Espero que o Roberto cace logo seu rumo.
    Valeu!

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