15
O encontro
*Encontro: S.m. Ato ou efeito de encontrar.
Casual posição face a face com uma pessoa ou coisa.
Colisão de dois corpos.
– Já está na hora? Ela já chegou?
– Não! __ era a vigésima vez que Maysa respondia aquelas perguntas.
Mas, realmente torcia para que Agatha se atrasasse um pouco, já que ela também estava bastante atrasada, o dia não foi nada fácil e a sua cozinha parecia um cenário de guerra. Não que isso fosse novidade, a própria Maysa jamais entendeu como alguém podia preparar uma refeição digna sem fazer uma ou outra bagunça. Ao menos o peixe estava com um aroma agradável, mas tinha receio quanto ao resultado final.
– Quem mandou você experimentar uma receita nova justo hoje? Que ficasse no clássico, pois ali sim não teria erros, mas não, você precisava inventar. Será que você ainda não entendeu que as leis de Murphy são reais? Porra, Maysa… não… não… não dava para servir purê de batatas para Agatha, tudo bem que eu e o Daniel amamos, mas não se convida alguém para jantar a primeira vez na tua casa e você vai fazer purê de batatas. Você fez bem em testar algo novo, vai dá certo!
– Mamãe, você tem certeza que ela vem?
– Daniel Limas Barreto, você sabe o que acontece com crianças que ficam perguntando a mesma coisa a cada dois segundos?
– Não…
– Continue fazendo isso e você logo descobrirá! Agora vá conferir se o Tapioca não está comendo algum móvel, porque por hoje já basta a mangueirinha da máquina de lavar.
– Mas…
– Vai, Daniel!
Não demorou para que ela ouvisse os gritos e gargalhadas do filho misturando-se aos latidos agudos de Tapioca, com certeza já estavam brincando pela sala. Gostava de ver o filho interagindo com o cão, mas aquele barulho fez com que sua cabeça latejasse com mais força. – Calma, Maysa. Você só precisa de um analgésico e férias… férias por tempo indeterminado! Colocou o fogo em temperatura baixa, respirou fundo e podia jurar que sentiu cheiro de flores.
– Hum… o aroma está muito bom! __ Agatha estava parada na porta
Maysa sorriu ao dar-se conta de que aquele perfume de flores e brisa marinha já estava registrado em sua mente. Olhou por cima do ombro e rezou mentalmente para que o sabor do peixe estivesse tão bom quanto o aroma. Logo esquecera disso, Agatha estava dentro de um vestido bordô, tomara que caia, parecia ter sido feito sob medida, delineando suas curvas e deixando as pernas a mostra. A morena ainda fazia uso de um pingente bastante parecido com o cristal que havia dado a Maysa semanas atrás, preso em uma corrente de prata, o objeto pendia bem ali, no decote… onde os olhos de Maysa pararam, e ela engoliu a seco. Agatha sorriu satisfeita, as horas que passou tentando escolher uma roupa parecia ter valido a pena.
– Sexta-feira!
– A-aham… sexta…
– Não vai me convidar para entrar?
– Nossa, desculpa! __ sabe quando você fica parecendo um completo idiota, por estar na presença da pessoa por quem você está apaixonada? Pois bem – É que estou meio bagunçada, vamos, entre!
Agatha olhou para as panelas e vasilhames, ergueu a sobrancelha e mais uma vez lembrou de que realmente algumas coisas não mudavam. Quando dividiram o apartamento em Salvador, e que chegava os dias em que Maysa era a responsável por cozinhar, podia-se esperar muita louça para lavar e uma cozinha bem desarrumada.
– Precisa de ajuda?
– Não… você é convidada. E, está tudo sob controle. __ Maysa pegou a garrafa que Agatha lhe entregava, olhando para o rotulo. – Acho que não conheço esse.
– Feito em casa, na fazenda do Lucas na verdade.
– Tem alguma coisa que seu primo não faça?
– Também vivo a me perguntar isso! __ Agatha aproximou-se mais do balcão, enquanto Maysa pegava as taças. – Nenhuma caneca, dessa vez?
– Infelizmente, minhas canecas sofreram um ataque fatal. __ Maysa deixou que Agatha abrisse e servisse o vinho. – Foi uma cena bem triste.
Agatha sorriu, já imaginando que Tapioca estava envolvido no incidente. Entregou uma das taças para Maysa e ergueu a sua para um brinde.
– A boa vizinhança!
– Oh, com certeza a boa vizinhança! __ e bebeu o primeiro gole. – Nossa, o próximo brinde é ao seu primo, por fazer um vinho tão delicioso.
– Talento de família! __ já se sentindo mais à vontade, Agatha aproximou-se do fogão, ergueu a tampa da panela e aspirou o aroma. – Ah, esse cheiro está me deixando com fome. Estou impressionada!
– Talento de família! __ gargalhou.
– O que foi isso na sua mão?
– Hã… eu me cortei! Foi um dia e tanto.
– Deveria ter me procurado, teria cuidado disso. __ Agatha passou os dedos sobre a pele cortada. – Dói?
– Um pouco. __ falou com a voz mais manhosa que poderia ter. – Sabe, eu sempre dou um beijo nos machucados do Dan.
– O beijo da pessoa certa cura qualquer ferida. __ e deixou um beijo delicado na mão de Maysa. – O que mais a senhorita está sentindo?
– Dor de cabeça! __ e dessa vez não era manha para ganhar um beijinho.
Com um sorriso, Agatha colocou a taça sobre o balcão. Depois passou os dedos pelo rosto de Maysa colocando uma mecha loira atrás da orelha.
– Você anda trabalhando bastante, conseguiu arrumar a casa. __ falava em relação a não ter mais caixas espalhadas pela casa. – E tem dormido muito mal, sem contar que ainda deve estar se perguntando se voltar para cá foi a melhor ideia!
– Não sabia que você era vidente.
– Engraçadinha, não é difícil de perceber. __ Agatha pressionava seus dedos nas têmporas de Maysa, fazendo pequenos círculos. – Você é a melhor mãe que o Daniel poderia ter, tem feito um excelente trabalho, com certeza suas decisões não foram tomadas de forma impulsivas.
– Hum… não…
– E ainda teve todo esse trabalho de fazer um jantar para mim. Poderíamos ter pedido de um restaurante.
– Eu queria…
– Xiuu, eu sei… __ Agatha deixou seus lábios tocarem os de Maysa, foi um beijo calmo e cheio de carinho. – Obrigada!
– A-aham, vou adorar cozinhar para você sempre que aceitar os meus convites. __ e deixou que o beijo ganhasse intensidade. Sentiu os dedos de Agatha deslizarem de sua testa, parando com certa delicadeza sobre seus ombros.
– Hum… Maysa… __ ainda meio incerta, Agatha afastou-se um pouco.
– Eu sei, dissemos que iriamos com calma. Mas, não posso te impedir de me beijar, como também não vou me boicotar sempre que tiver a oportunidade de beijar você. Mas, não se preocupe, não vai acontecer nada até que você diga que sim.
– Obrigada, eu acho!
– Não por isso! __ bebeu o vinho e sorriu. – Às vezes fico pensando, e me dou conta de que o Dan crescerá e passará por situações parecidas, não gostaria que ele fizesse nada antes da hora, antes de estar realmente pronto, justamente porque eu consigo compreender que cada pessoa tem o seu tempo. Hum, talvez, se eu o trancar dentro de um quarto… __ sorriu!
Agatha fez suas observações, enquanto Maysa estava parada bem na sua frente. Seria tão fácil amá-la, e com certeza, assim que isso acontecesse nada e nem ninguém no mundo conseguiria fazer o sentimento passar.
– Você falou como uma legitima mãe paranoica! Daniel terá trinta anos e você vai ligar porque viu a previsão do tempo da cidade onde ele estará morando e quer lembrá-lo de se agasalhar!
– Paranoia, maternidade e previsão do tempo são sinônimos, acredite. Quando os gêmeos nascerem, você verá como a Eva vai ficar. Ela vai começar a aprender todas as técnicas de segurança do lar para bebês, e primeiros socorros. Um chorinho mais insistente na madrugada, ela estará chorando junto e desesperada ligando para o pediatra.
– Alana a manterá sob controle, afinal, nesses casos, só é preciso que a outra mãe seja mais equilibrada para … __ a voz de Agatha foi desaparecendo. – Desculpa.
– Ah, tudo bem! Até prefiro quando falam de forma natural sobre esses assuntos, sem tamanhos cuidados como se eu fosse quebrar. Alessandra se foi, claro que houve um período qual pensei que não ia consegui continuar sem ela. Mas, as feridas aos poucos foram cicatrizando, principalmente quando as recordações são boas. __ antes mesmo que Maysa concluísse a frase, ouviram barulho de pezinhos correndo, não demorou para Daniel aparecer, já se atirando nos braços de Agatha. – Boas recordações e um filho que me deixará de cabelos brancos em breve.
– Agatha, você veio mesmo! Pensei que você não ai chegar! __ Daniel praticamente pulava no colo da morena.
– Sim, meu pequeno explorador de mundos. Nunquinha que eu recusaria um convite dos meus vizinhos preferidos. Acho que você cresceu mais um pouco nesses últimos dias!
Daniel arregalou os olhinhos, ressaltando a cor de madeira envernizada que ganhou brilho. Tratou de descer do colo da vizinha e correr para a marcação da parede, tentando confirmar aquela nova informação.
Enquanto observava a interação entre Agatha e o filho, Maysa notou que a dor de cabeça havia passado, e abriu um sorriso, pensando nas palavras de antes “o beijo da pessoa certa cura qualquer ferida”. Desligou o fogo e começou a preparar-se para servir o jantar.
Não posso dizer que foi um jantar romântico, mas também não posso dizer o contrário disso; haviam velas acesas e flores sobre a mesa. O jantar foi servido em uma sala, onde a larga janela se parecia mais com uma tela que retratava o mar. Por falar em mar, essa foi a trilha sonora, o barulhinho do mar e o som de algumas gaivotas. Porém, não houve o silencio, ou as confissões murmuradas em momentos como estes. Havia sorrisos e voz de criança. Ainda que Maysa observasse em como a luz das velas iluminava a pele de Agatha e escurecia a cor dos seus olhos. Ou, ainda que Agatha notasse o olhar de Maysa, e tomasse consciência do quanto aquele verde ficava cada vez mais intenso, e dava bênçãos aos deuses pela luz das velas esconder o fato de seu rosto ficar ruborizado, pois não era preciso de muito para ler o que se passava pela cabeça da loira nos momentos em que os olhares se encontravam. Porém, os assuntos comentados eram sobre as aulas de Daniel, sobre Tapioca que ganhara o apelido de “o destruidor” e sobre as possíveis ideias que Maysa tinha para um novo livro.
Se vistos de fora, por outrem, ninguém poderia não dizer que as duas mulheres, a criança e o cão, não eram uma família. Principalmente, quando depois do jantar, depois de Daniel contar todas as suas aventuras e descobertas feitas no colégio, Agatha conseguiu convencer Maysa a dar um passeio na praia com “Tapioca, o destruidor”, enquanto ela e o pequeno se encarregavam de organizar a cozinha. O que foi bem fácil, já que Daniel se mostrou bastante prestativo e estava adorando ter aquele momento, além de encher Agatha de perguntas: “Você sempre morou aqui?” “Quando você vai me levar para ver os cavalos?” “O que é novidade?” “Você acha que pode se casar com a mamãe?”
Créditos musicais:
Tão sonhada – Saulo Fernando (https://youtu.be/rrlSC9NcHvs)
Afrodite, eu sempre gosto das histórias que você trás para nós, sua visão sobre a vida, dificuldades, diferenças, aceitações e principalmente o amor.
Eu acho tão incrível como você pega duas mulheres totalmente conhecidas ou desconhecidas e as transformam em pessoas novas de acordo com a história, dando intensidade e realismo nela!
Daniel é uma criança muito fofa, da vontade de apertar ele.
Eitcha, Dan acabou de deixar a morena numa saia justa, kkkk.
Ainnn Cidinha!
Fiquei sem jeito aqui, obrigada pelas palavras.
Obrigada, obrigada e obrigada.
Beijão.
Ola Mohine
Adoro essa interação do pequeno com a Agatha e ele faz cada pergunta. O que se torna difícil para elas para ele tudo é fácil.
Bjs e até o próximo capítulo
Oi, Jamille.
Acho que é sempre assim, muitas vezes o que nós “adultos” complicamos tanto, para os pequeninos parece tão simples de resolver.
Obrigda pela companhia, beijinho.
Adorei o jantar, Daniel é um docinho de criança. Realmente elas poderiam ser uma família muito linda. Faltou a sobremesa né??? 😉
Oiê, “Zoe”
Esqueci de avisar para Agatha levar o sorvete! Hahah’
Sendo sincera, eu também adoro o Daniel!
Beijo, “dinda”.