Uma noite perdida / Um estado de coisas tão puras / Que movem uma vida / E um verde profundo no olhar / A me endoidecer / Quisera estivesse no mar e não em você / Ela balançou a cabeça concordando. / Por dentro a curiosidade era maior>
A Ilha – Djavan >
08:20>
O caminho para o hotel era de poucos minutos. Poderia ir a pé se quisesse. Passou a noite muito bem embora sentisse falta de Martina. Para ela e para Lucy a companhia de mãe e filho já era algo tão necessário quanto respirar.>
Ao chegar ao quarteirão do hotel, saiu da orla e entrou à direita, para que desse entrada no estacionamento subterrâneo. Na rua restaurantes ainda fechados, por ser cedo demais, e um ponto de ônibus antes da próxima esquina com mais ou menos umas cinco pessoas esperando a próxima linha passar.>
A marcha automática do carro deveria estar em terceira quando uma van preta surge da esquerda surpreendendo Victoria e a forçando a frear bruscamente. Parou na frente do carro. A van agora, obstruindo a passagem sem aparente objetivo, abre a porta de correr. Dois homens saem de dentro dela e Victoria, prevendo que seria sequestrada começa a tatear pelo botão do acionamento de roubo e sequestro do seguro do carro. O botão ficava abaixo do banco, estrategicamente entre um botão de comando do banco e outro.>
Os homens a forçam a sair do carro. A rua estranhamente deserta evidenciava que foi algo muito bem planejado. As mãos musculosas a direcionam para dentro da van em milésimos de segundos.>
― Anda, entra na van, rápido! ― O homem que segurava seu braço não a machucava, mas seu toque era urgente.>
Amedrontada ela simplesmente entrou na van, suas pernas tremiam, o abdome contraía, o estômago ia na boca. Outros três homens dentro da van, assistiam tudo prontos a intervir se necessário. A CEO se convenceu que lutar contra eles não adiantaria em nada. Não havia nada que pudesse fazer.>
A van saiu em certa velocidade, um dos homens sentados a sua frente abria uma maleta branca e preparava uma seringa.>
― Nós não vamos te fazer mal algum. Só colabore. É para o seu bem.>
Victoria estava perdida numa nuvem de desespero e tentava fazer sentido de tudo aquilo. Foi vendada com um lenço e depois sentiu suas mãos serem amarradas numa espécie de pano macio como algodão para depois sentir uma picada de leve no braço esquerdo.>
― Pelo amor de Deus, se é dinheiro que vocês querem, é só pedir que…>
Não conseguiu terminar a frase e desmaiou em sono profundo.>
08:35>
Vanessa andava tranquilamente em direção à sede, após buscar um café na cafeteria que havia na frente do prédio. O telefone tocava provavelmente para confirmar se o plano havia dado certo ou não.>
― O que? Como assim sequestrada? Você são uns imprestáveis! ― Vanessa esbravejava falando o mais baixo que podia mirando o copo de café na primeira lixeira que viu. O destino fez seu plano dar errado de forma inexplicável.>
O telefone toca novamente após a ligação cair.>
― Temos gravação da hora que eles a sequestraram.>
― Eu não quero gravação nenhuma, eu quero Victoria raptada, mas por vocês, ouviu? Faça isso acontecer e só me retorne quando conseguir. >
Sua voz era firme e carregada de presunção. Arrumou a blusa para entrar na sede e seguiu como se nada tivesse acontecido.>
9:00>
O relógio bateu nove horas quando a assistente, sentada normalmente em sua mesa, recebe a ligação do seguro do carro de Victoria.>
― Sim. É do escritório dela.>
― Recebemos um alarme de roubo acionado manualmente ás 08:22 e viemos ao endereço que nos levou o GPS. Encontramos o carro da Sra. Weber abandonado no meio da rua. Gostaríamos de confirmar onde ela está.>
― Ela não está aqui. Provavelmente está numa reunião no hotel.>
― Entendo, senhora. Acreditamos que o fato de ela ter acionado o alarme pode ser um sinal de que estava pedindo socorro. Poderia confirmar que ela realmente está em reunião?>
Vanessa sentiu-se revelar tudo o que sabia. Parte de si amava Victoria doentiamente e temia que ela realmente estivesse em sofrimento ou angústia. A outra parte era puro ódio por não tê-la sequestrado antes.>
― Irei enviar seguranças para o hotel para averiguar. O que acontece se não a encontrarem?>
― Iremos fazer uma busca nas imagens das câmeras da rua junto a polícia. Daí para frente é com eles.>
Vanessa se movimentava estranhamente na cadeira. Suas mãos tremiam ligeiramente ao passo que digitava no celular uma mensagem.>
Me envie esse vídeo o quanto antes possível. ― Vanessa.>
10:20>
― Não é possível! O que aconteceu com a minha mãe? ―Lucy se desesperava ao ver as imagens projetadas na tela do computador de Vanessa. Era o vídeo que as câmeras captaram no exato momento do sequestro. O seguro havia acionado a polícia para conseguir a gravação. Agarrada a Vanessa, as lágrimas de Lucy escorriam sem aviso.>
Martina permanecia chocada observando as imagens que iam e voltavam numa edição sem fim. O vídeo tinha boa qualidade e bom ângulo. Ver Victoria ser praticamente empurrada para dentro daquela van causava um aperto enorme em seu peito. Ela estranhava uma coisa, porém. As reações de Vanessa não condiziam com o sentimento que tinha pela CEO. Ela abraçava Lucy com muita resiliência. Martina a olhava com olhos de quem vê uma história muito mal contada.>
Na frente da sala da CEO uma pequena multidão se formava: Max, Martina, Vanessa, Lucy, a maioria dos diretores, Mark, o pessoal do seguro e três agentes da polícia, sendo uma mulher.>
― Onde ela esteve ontem? ― A policial mulher perguntou.>
― Fomos a uma churrascaria e depois deixamos ela e Lucy em casa. ― Martina respondeu séria. >
― Tomamos café juntas hoje de manhã. Ela saiu por volta de 8:05. ― Lucy completou.>
― E ontem? Com quem ela passou o dia? ― A policial parecia não desistir do inquérito.>
Vanessa sentiu-se no dever de responder.>
― Ela chegou de Portugal de manhã e ficou até o horário do almoço, indo depois para…>
― minha casa, sim. Estávamos cansadas da viagem e precisávamos descansar. ― Martina resolveu terminar a frase ela mesma porque Vanessa terminaria num tom nada apropriado.>
A policial logo entendeu que se tratava de um casal.>
― Me desculpe interromper, mas qual o sentido desse interrogatório? Pelo que tudo indica Victoria foi sequestrada e só nos resta esperar os sequestradores entrarem em contato e ver o que querem em troca. ― Mark ponderou, chamando a atenção da policial para si e salvando Martina de mais perguntas indiscretas. A policial o fuzilou com os olhos como se tivesse interrompido Jesus no sermão da montanha.>
― E quem é o senhor? Qual sua relação com a CEO? ― A mulher continuava sem dó.>
― Mark Klein, consultor jurídico, advogado da senhora Weber.>
A policial chama os outros dois policiais e pede uma sala para que conversem com Mark a sós. Eles entram na sala de Victoria, após autorização de Vanessa e deixando o resto dos ali presentes curiosos.>
Dentro da sala a policial explica que todos ali eram de certa forma suspeitos e que uma investigação teria de ser iniciada. Uma investigação minuciosa sobre os últimos dias da CEO e dos envolvidos com ela seria o ponto inicial. Mark escutava atenciosamente, vindo a responder mais algumas perguntas da policial. >
No hall, apenas Lucy, Vanessa e Martina permaneciam. Max retornara à sua sala, claramente entristecido com o que tinha visto acontecer com Victoria. Se algo acontecesse com ela ele sofreria muito e se culparia por não ter tido o poder de fazer nada.>
Martina olhava as reações de Vanessa e cada vez mais se convencia de que não era normal. Ela escondia alguma coisa. >
― Lucy, Thomas está chegando. Eu preciso conversar com Vanessa na minha sala. A sós. ― A ruiva já andava para sua sala sem deixar opção alguma à morena.>
Vanessa olhava a figura magra com desprezo e a seguiu pelo corredor e entrando em sua sala, fechou a porta atrás de si. Martina tinha gastado muito pouco tempo naquela sala. Estava praticamente da forma que havia a recebido há mais ou menos um mês e meio atrás. >
― Bom, eu irei direto ao assunto e espero que você também vá. ― Vanessa só faltava virar os olhos para ela. Vontade não faltava. Ela não suportava Martina. A presença de Victoria era o que a segurava de não tratar a ruiva mal, mas agora não tinha Victoria alguma para a segurar. ― Você tirou a paciência da Victoria ontem a noite indo buscar alguma coisa com Lucy contra a vontade dela. O que você fez com aquele pacote que foi buscar? >
As palavras saiam da boca da ruiva sem esforço algum. Ela não tinha mais filtros com a assistente.>
― Acredito que isso não seja da sua conta, Martina. Ainda existem coisas que são confidenciais e você, embora esteja envolvida com Victoria, não tem permissão para saber. >
― É melhor você se abrir comigo do que com aquela policial. Em breve será ela te interrogando. Não tem medo?>
― Medo do que, se não fiz nada?>
― Olha, eu não quero te julgar. Eu tenho razões de sobra para te tratar mal, mas eu não o farei, em respeito a Victoria. Apenas me diga que não tem nada a ver com esse sequestro. >
― Pelo amor de Deus, Martina. Quem você acha que é? Você não é NADA nessa empresa. Você chegou ontem aqui e quer resolver tudo sozinha. Você acha que conhece Victoria, não é? Você não sabe das coisas que ela se mete. ― Martina tinha resolvido se sentar e assim o fez. Aquela conversa iria render mais do que estava esperando. ― Você não enxerga? Tem todo esse respeito por Victoria, mas não vê que ela te engana. Ela está longe de ser perfeita.>
― Não fale dela assim. ― A ruiva não reconhecia Vanessa. A personagem havia caído diante da sua face.>
― Ela só ficou com você por conveniência. Ela é uma mulher fantástica, eu sei, eu não posso negar. Ela também me deixa assim, aérea, inspirada, fora de mim.>
― Então se a ama, porque não revela o que esconde? Faça isso por ela. ― Martina olhava Vanessa nos olhos de uma forma a desnudá-la apenas com a iris. A morena sentia-se nua perto dela, o que a fez pensar que Martina não desistiria nunca em incriminá-la, a não ser que tocasse no seu ponto mais fraco. >
Vanessa não respondeu de imediato. Resolveu olhar para além do rosto de Martina e começar a rir diabolicamente. >
― Eu entendo perfeitamente o encanto que você tem nela. Quando nos beijamos pela primeira vez, eu também fui a lua e voltei! Foi assim com você também, não foi? ― Vanessa agora falava andando pela sala, fingindo reparar na decoração. Escutar aquilo da boca de Vanessa fazia o rosto da ruiva ferver de tensão.>
― Não vejo a relevância disso para a nossa conversa.>
― Ah, mais já já você vai entender. Eu ainda não terminei… Você sabe como ela é, não sabe? Dominadora, cheia de si e de suas vontades na cama. Quando fizemos amor foi um caminho sem volta… Ai, Ai! A Victoria é a amante perfeita. ― Martina a olhava séria, sem piscar nem respirar. ― Você deveria saber disso, que ela não aguenta ficar com uma só mulher ao mesmo tempo. Então, pense duas vezes antes de prestar a ela todo esse respeito que você tem. Esse é o meu recado. ― Vanessa para na frente da ruiva com uma pose atrevida. >
Martina a olhava tentando interpretar tudo que ela dizia. Parte dela não queria acreditar, e a outra? A outra parte se sentia enormemente traída.>
― Você não sabia? Se não acredita em mim pergunte a Lucy e a seu filho. Pelo visto me interroga, mas você mesma não sabe do que acontece a sua volta. ― Vanessa saiu da sala sem avisar, deixando Martina sozinha, paralisada. Como se tivesse sido nocauteada, mas não por completo. Ela segue até o corredor, onde encontra Lucy e Thomas, prestes a sair. Sem sinal de Vanessa. ― Ah, e outra coisa…>
Vanessa estende a Martina um envelope. A ruiva se recusou a pegar.>
― Pode abrir sem medo, vai ser bom para você, acredite!>
Martina pegou o envelope de cor parda, relutante. Abriu o envelope e puxou a folha de dentro. Descobriu que era uma carta formal com a assinatura de Victoria no final.>
― O que é isso?>
― Essa é a prova de que você não pode confiar em Victoria. >
Martina olhava Vanessa evitando olhar o papel. Vanessa tinha fogo nos olhos e tentadoramente ameaçava sair da sala.>
― Eu vou te deixar sozinha para tirar as próprias conclusões, Martina. Só peço que preste atenção na data da carta. >
Vanessa sai fechando a porta e deixando Martina num silêncio difícil de manter. Seus pensamentos estavam qual escola de samba em plena Sapucaí. Ela sabia fundo no peito que não confiava plenamente em Victoria e nem colocava a mão no fogo por ela. Mas aquilo era demais. Ela não queria ler e finalmente provar a si mesma o que suspeitava. Já estava abalada pelas palavras de Vanessa e embora soubesse que a assistente deveria ter exagerado em tudo que disse, um fio de verdade havia naquilo tudo.>
Ela não se importava que eles tivessem uma espécie de rolo. Os momentos que teve com Victoria foram únicos e perfeitos. Mas o que aquela carta continha de tão pavoroso?>
Quando Martina resolveu voltar a si e ler a carta, percebeu que começava a cair um temporal do lado de fora. Trovoadas cada vez mais altas anunciavam que um dilúvio estava a cair. >
Pegou a folha e começou a ler se recostando na cadeira na tentativa de aliviar a tensão. >
A/C Sr Maximiano Torres
Diretor de Recursos Humanos >
Prezado Senhor, estou encaminhando a Srta. Martina Ayres Ferret, a título de transferência, que desempenhará a função de Supervisora de Qualidade e Segurança na base da BRASFLY em Brasília, a contar da data 10/01/2018.>
A Srta. Ferret desempenha hoje a função de Diretora de Qualidade e Segurança e assinou contrato como tal. Solicito manter todos os seus benefícios, porém o contrato será rebaixado à supervisão. >
Ela desempenha suas funções de forma satisfatória e será transferida com o objetivo de prover um melhor suporte a operação de aquisição de novas aeronaves para voos intercontinentais.>
Solicito o mais rápido possível os trâmites de sua transferência.>
Agradeço e me coloco à disposição para quaisquer outras informações.>
Atenciosamente,
Victoria Weber.>
― Mãe? Você está pálida. ― Martina corria os olhos pelo corredor procurando por Vanessa ou por sua própria sanidade que havia sumido e corrido para longe. ― Mãe? Você está nos assustando. >
Martina se encosta numa das paredes e leva uma das mãos à testa, balançando a cabeça para os lados, rindo ironicamente. Thomas e Lucy não reconheciam a ruiva.>
― Não é possível. Como eu não percebi isso antes? ― Ela conversava consigo mesma num tom de voz quase inaudível.>
― O quê, mãe? ― Thomas começa a se preocupar com mãe. Nunca a tinha visto naquela estado de espírito antes.>
― Vocês querem me ajudar? Então me confirmem uma coisa. Só uma… ― Martina respirava fundo, almejando a confirmação do que havia escutado de Vanessa e do que havia lido. ― Victoria e Vanessa… Elas… Elas…>
― Sim. ― Lucy respondeu de pronto. Martina olhava para ela derrotada. ― Eu sinto muito. Eu achava que ela tinha te contado. >
A ruiva olhou o filho nos olhos, para o encontrar cabisbaixo. Olhou de volta para Lucy, como que agradecendo a resposta. >
Agora tudo fazia sentido para ela. Concluiu que Victoria havia de fato a usado. Antes de viajarem para a Europa a CEO já tinha decidido a sua transferência. Victoria havia a usado para então poder jogar fora. >
Virou-se no corredor indo de encontro ao elevador. A torrencial de sentimentos a assolava de maneira que não sabia nem quem era mais. A porta do elevador se fechou, a pressão em seu ouvido, o elevador descendo e a levando para longe daquele andar a fazia correr da realidade que acabara de vir a si. O burburinho da recepção, o andar apressado das pessoas na calçada debaixo da chuva torrencial, o taxi que a levou para casa, tudo parecia estar alheio e não se importar com o que tinha acabado de acontecer. Ela seguia alheia, encharcada do temporal, desmantelada, despedaçada, deixando partes de si pelo caminho onde passava.>
20:00>
Lucinda apareceu pela primeira vez no palco sublime e divina, num vestido branco que parecia ser de veludo. O jogo de luzes e dançarinos tornavam a abertura um tanto retrô. Felizmente os arranjos e a letra eram demasiadamente comtemporâneos.>
(the Very Thought of You)>
Lucinda abriu o show de forma magnífica, com uma música do segundo álbum da carreira, fez Martina se arrepiar com as lembranças que a acometeram.>
Ela tinha 16 anos quando a mãe ensaiava em casa para a gravação. Lembrava-se disputar a atenção da mãe com o irmão, mas quem sempre ganhava era a música. Acabou por cantar junto da mãe e virou parte de si.>
Lucinda interpretava a música com muita profundidade atrevendo-se a mudar um acorde ou outro, fazendo Martina transportar-se para outra dimensão. A dimensão onde a letra fazia puro sentido. Ela realmente sentia-se uma completa foolish (tola, insensata), por ceder-se sem reservas a Victoria. Não tinha como sair ilesa daquela “aventura”.>
A música inicial deu passagem à segunda, um pouco mais animada, até chegar a terceira, arrancando lágrimas da ruiva, que não chorava há muito tempo.>
Desde que você foi embora os dias ficaram longos / E em breve eu ouvirei velhas canções de inverno / Mas eu sinto mais saudade de você, minha querida, / Quando as folhas de outono começam a cair>
(Autumn Leaves)>
A fez pensar se aguentaria passar por tudo que passou novamente. Victoria era o início de tudo e também o fim. Era onde sua vida começava e também onde poderia terminar.>
Lucinda avistou Martina na primeira fileira e piscou para ela. Entre a quarta e a quinta música a dirigiu algumas palavras.>
― Essa próxima obra de arte eu dedico com todo meu coração para ela, minha filha Martina. ― Martina leva a mão ao peito. Não estava aguardando por aquilo. ― Ela, que de corpo e alma se entrega ao amor sem se importar ser um naufrágio sem volta. Mas… o que seria de nós sem o amor, sem amar?>
(Body and Soul)>
Martina quase soluçava pelas verdades que aquela letra carregava por entrelinhas. Aquelas letras, aquele show inteiro parecia ser feito para provar a ela que apostara todas as suas fichas num amor bonito, mas imperfeito e fútil.>
Se convencia agora que sua mãe só poderia estar certa. Victoria a usou numa de suas aventuras. Cedo ou tarde retornaria a seu caprichos e indecisões. Ela poderia amá-la com todas as forças, de corpo e alma, mas sempre terminaria sozinha e machucada.>
(the Girl from Ipanema / Non Dimenticar)>
Ironia do destino? Talvez.>
No fim do show a última música, o destaque do último álbum: a regravação de Non Dimenticar. Era muita emoção para uma noite apenas.>
Martina resolveu seguir para casa no final do show, deixando um recado para a mãe, combinando que se veriam no outro dia.>
A dor que sentia era algo difícil de revisitar. Era madura o suficiente para digerir aquilo. Havia digerido bem e não cometeria o mesmo erro duas vezes. Ou seria a terceira vez?>
22:00>
Victoria acordou zonza, como se estivesse ressurgindo de uma sedação de horas. A sala branca ofuscava seus olhos causando uma dor aguda na cabeça. Tudo era estranhamente branco, as paredes, os móveis, o chão.>
Sente uma mão a tocar no braço e uma voz suave, em Inglês britânico perfeito, começa a se dirigir a ela.>
― Está tudo bem. Tome isso. ― Victoria, cerrando os olhos, tenta enxergar seu interlocutor. A mão que a tocava era a de um homem mais jovem que ela, loiro e alto. Ele estendia um copo que continha algo cor de madeira dentro. Victoria se sentia tão mal que não pensava em negar a bebida. Hesitou, porém. ― É um estimulante natural. Pode tomar, confia em mim. ― Ela não sabia onde estava e nem o que tinha acontecido com ela. O homem parecia genuinamente interessando em ajudar de forma que ela tomou o que tinha no copo. O gosto era muito amargo. De tão amargo acabou por despertá-la completamente a ponto de conseguir se sentar na cama.>
― Onde estou? O que aconteceu?>
― Eu poderei te responder todas as perguntas que tiver, você só precisa colaborar.>
Victoria se encontrava em completa confusão mental. A última coisa que se lembrava era de estar dirigindo para o hotel onde teria um encontro com outros CEOs como ela e no caminho um carro a imprensou, homens a tiraram do carro e a forçaram a entrar em uma van preta para depois aplicarem uma injeção dolorida nela. Não poderia ser boa coisa.>
― Se é dinheiro que vocês querem eu tenho bastante. É só fazer a oferta de vocês.>
O homem a olhava com pena. Se o dinheiro resolvesse a situação deles, já teriam resolvido o problema.>
― Não é dinheiro que queremos, Victoria.>
― Então o que vocês querem?>
― Preciso que confie em mim, ok? Eu te levarei a um lugar onde entenderá porque está aqui. Para isso preciso ter a sua palavra de que se comportará bem.>
O homem parecia realmente inofensivo aos olhos dela.>
― Só me diga onde estou.>
― Você está na Ilha, Victoria.>
Ela não fazia ideia do que aquelas palavras significavam.>
― Que ilha?>
O homem a estendeu a mão para ela, na esperança de que ela estivesse recuperada o bastante para andar. A CEO apoiou-se na mão dele e se pôs de pé. Percebendo que ele ainda aguardava uma confirmação de que ela confiava nele, decidiu verbalizar.>
― Eu confio em você! Agora, me diga que encrenca é essa onde me meti!>
O homem a guiou pela porta onde dava para um jardim de inverno e um corredor seguido de uma escada. Subiram três andares e chegaram a uma porta de metal. O homem abriu a porta depois de digitar uma senha numa tela touchscreen.>
Ao entrarem, Victoria fica abismada ao se deparar com mais quatro homens de jaleco e em quanta tecnologia tinha naquela sala: painéis de controle do chão ao teto piscavam e recebiam dados de alguma máquina maior. A sala estava em meia-luz contribuindo ainda mais para deixá-la temerosa. Ela estremecia por dentro tentando adivinhar qual era o objetivo de estarem ali.>
― Bem-vinda Victoria, é um prazer tê-la aqui.>
Victoria apertou a mão do homem que estava estendida há mais ou menos dez segundos. Ela não respondeu nada em troca, apenas olhava em volta tentando entender. Iriam fazer testes nela?>
O homem loiro que a tinha guiado até ali se volta para ela avaliando sua figura, que agora não estava tão dopada como antes.>
― Você está pronta para saber por que está aqui?>
Ela balançou a cabeça concordando. Estava com muito medo, mas por dentro a curiosidade era maior. Victoria assiste o homem loiro andar para o lado oposto da sala e começa a apertar um botão num dos interruptores, causando um pequeno clique na parede branca que parecia ter parte dela revestida de vidro.>
Aos poucos a parte de vidro começa a revelar o que tinha do outro lado. Era na verdade uma janela de vidro que tinha uma espécie de persiana interna. À medida que a persiana se abria luz entrava na sala, ofuscando os olhos da CEO.>
Quanto mais ela chegava perto da janela de vidro, mais ficava fora de si, totalmente impressionada com o que estava diante de seus olhos. A visão que lhe era revelada tirava toda a sanidade. Com as mãos espalmadas no vidro e lágrimas rolando de seus olhos no que parecia ser alegria profunda misturada com eto e surpresa, ela não aguentava falar, embora tentasse. Perdeu a voz.>
O avião do voo A232 aparece iluminado por luzes refletoras no meio de um enorme galpão.>
Era o avião do acidente. Era o seu avião.>
Fim do Livro 1>
Escritora onde podemos ler ou comprar o livro 2 de a Ilha.
Ruim muito ruim isso de começar a ler a história muito boa, gostar e não ter como acompanhar se não existe a continuidade…
Péssimo isso.
A Vanessa está envolvida com esse negócio de A Ilha né? Eu desconfiava que ela tinha algo com o sumiço dos passageiros…eu realmente não sei como eles vão sair dessa, como Victoria vai sair? Ainda não entendi bem como é/função da A Ilha
Eu estou sentindo uma raiva absurda nesse momento
E agora?????