A Ilha - Livro 1

40. A Ilha

Uma noite perdida / Um estado de coisas tão puras / Que movem uma vida / E um verde profundo no olhar / A me endoidecer / Quisera estivesse no mar e não em você / Ela balançou a cabeça concordando. / Por dentro a curiosidade era maior

A Ilha – Djavan  

08:20

O caminho para o hotel era de poucos minutos. Poderia ir a pé se quisesse. Passou a noite muito bem embora sentisse falta de Martina. Para ela e para Lucy a companhia de mãe e filho já era algo tão necessário quanto respirar.

Ao chegar ao quarteirão do hotel, saiu da orla e entrou à direita, para que desse entrada no estacionamento subterrâneo. Na rua restaurantes ainda fechados, por ser cedo demais, e um ponto de ônibus antes da próxima esquina com mais ou menos umas cinco pessoas esperando a próxima linha passar.

A marcha automática do carro deveria estar em terceira quando uma van preta surge da esquerda surpreendendo Victoria e a forçando a frear bruscamente. Parou na frente do carro. A van agora, obstruindo a passagem sem aparente objetivo, abre a porta de correr. Dois homens saem de dentro dela e Victoria, prevendo que seria sequestrada começa a tatear pelo botão do acionamento de roubo e sequestro do seguro do carro. O botão ficava abaixo do banco, estrategicamente entre um botão de comando do banco e outro.

Os homens a forçam a sair do carro. A rua estranhamente deserta evidenciava que foi algo muito bem planejado. As mãos musculosas a direcionam para dentro da van em milésimos de segundos.

― Anda, entra na van, rápido! ― O homem que segurava seu braço não a machucava, mas seu toque era urgente.

Amedrontada ela simplesmente entrou na van, suas pernas tremiam, o abdome contraía, o estômago ia na boca. Outros três homens dentro da van, assistiam tudo prontos a intervir se necessário. A CEO se convenceu que lutar contra eles não adiantaria em nada. Não havia nada que pudesse fazer.

A van saiu em certa velocidade, um dos homens sentados a sua frente abria uma maleta branca e preparava uma seringa.

― Nós não vamos te fazer mal algum. Só colabore. É para o seu bem.

Victoria estava perdida numa nuvem de desespero e tentava fazer sentido de tudo aquilo. Foi vendada com um lenço e depois sentiu suas mãos serem amarradas numa espécie de pano macio como algodão para depois sentir uma picada de leve no braço esquerdo.

― Pelo amor de Deus, se é dinheiro que vocês querem, é só pedir que…

Não conseguiu terminar a frase e desmaiou em sono profundo.

08:35

Vanessa andava tranquilamente em direção à sede, após buscar um café na cafeteria que havia na frente do prédio. O telefone tocava provavelmente para confirmar se o plano havia dado certo ou não.

― O que? Como assim sequestrada? Você são uns imprestáveis! ― Vanessa esbravejava falando o mais baixo que podia mirando o copo de café na primeira lixeira que viu. O destino fez seu plano dar errado de forma inexplicável.

O telefone toca novamente após a ligação cair.

― Temos gravação da hora que eles a sequestraram.

― Eu não quero gravação nenhuma, eu quero Victoria raptada, mas por vocês, ouviu? Faça isso acontecer e só me retorne quando conseguir. 

Sua voz era firme e carregada de presunção. Arrumou a blusa para entrar na sede e seguiu como se nada tivesse acontecido.

9:00

O relógio bateu nove horas quando a assistente, sentada normalmente em sua mesa, recebe a ligação do seguro do carro de Victoria.

― Sim. É do escritório dela.

― Recebemos um alarme de roubo acionado manualmente ás 08:22 e viemos ao endereço que nos levou o GPS. Encontramos o carro da Sra. Weber abandonado no meio da rua. Gostaríamos de confirmar onde ela está.

― Ela não está aqui. Provavelmente está numa reunião no hotel.

― Entendo, senhora. Acreditamos que o fato de ela ter acionado o alarme pode ser um sinal de que estava pedindo socorro. Poderia confirmar que ela realmente está em reunião?

Vanessa sentiu-se revelar tudo o que sabia. Parte de si amava Victoria doentiamente e temia que ela realmente estivesse em sofrimento ou angústia. A outra parte era puro ódio por não tê-la sequestrado antes.

― Irei enviar seguranças para o hotel para averiguar. O que acontece se não a encontrarem?

― Iremos fazer uma busca nas imagens das câmeras da rua junto a polícia. Daí para frente é com eles.

Vanessa se movimentava estranhamente na cadeira. Suas mãos tremiam ligeiramente ao passo que digitava no celular uma mensagem.

Me envie esse vídeo o quanto antes possível. Vanessa.

10:20

― Não é possível! O que aconteceu com a minha mãe? ―Lucy se desesperava ao ver as imagens projetadas na tela do computador de Vanessa. Era o vídeo que as câmeras captaram no exato momento do sequestro. O seguro havia acionado a polícia para conseguir a gravação. Agarrada a Vanessa, as lágrimas de Lucy escorriam sem aviso.

Martina permanecia chocada observando as imagens que iam e voltavam numa edição sem fim. O vídeo tinha boa qualidade e bom ângulo. Ver Victoria ser praticamente empurrada para dentro daquela van causava um aperto enorme em seu peito. Ela estranhava uma coisa, porém. As reações de Vanessa não condiziam com o sentimento que tinha pela CEO. Ela abraçava Lucy com muita resiliência. Martina a olhava com olhos de quem vê uma história muito mal contada.

Na frente da sala da CEO uma pequena multidão se formava: Max, Martina, Vanessa, Lucy, a maioria dos diretores, Mark, o pessoal do seguro e três agentes da polícia, sendo uma mulher.

― Onde ela esteve ontem? ― A policial mulher perguntou.

― Fomos a uma churrascaria e depois deixamos ela e Lucy em casa. ― Martina respondeu séria. 

― Tomamos café juntas hoje de manhã. Ela saiu por volta de 8:05. ― Lucy completou.

― E ontem? Com quem ela passou o dia? ― A policial parecia não desistir do inquérito.

Vanessa sentiu-se no dever de responder.

― Ela chegou de Portugal de manhã e ficou até o horário do almoço, indo depois para…

― minha casa, sim. Estávamos cansadas da viagem e precisávamos descansar. ― Martina resolveu terminar a frase ela mesma porque Vanessa terminaria num tom nada apropriado.

A policial logo entendeu que se tratava de um casal.

― Me desculpe interromper, mas qual o sentido desse interrogatório? Pelo que tudo indica Victoria foi sequestrada e só nos resta esperar os sequestradores entrarem em contato e ver o que querem em troca. ― Mark ponderou, chamando a atenção da policial para si e salvando Martina de mais perguntas indiscretas. A policial o fuzilou com os olhos como se tivesse interrompido Jesus no sermão da montanha.

― E quem é o senhor? Qual sua relação com a CEO? ― A mulher continuava sem dó.

― Mark Klein, consultor jurídico, advogado da senhora Weber.

A policial chama os outros dois policiais e pede uma sala para que conversem com Mark a sós. Eles entram na sala de Victoria, após autorização de Vanessa e deixando o resto dos ali presentes curiosos.

Dentro da sala a policial explica que todos ali eram de certa forma suspeitos e que uma investigação teria de ser iniciada. Uma investigação minuciosa sobre os últimos dias da CEO e dos envolvidos com ela seria o ponto inicial. Mark escutava atenciosamente, vindo a responder mais algumas perguntas da policial. 

No hall, apenas Lucy, Vanessa e Martina permaneciam. Max retornara à sua sala, claramente entristecido com o que tinha visto acontecer com Victoria. Se algo acontecesse com ela ele sofreria muito e se culparia por não ter tido o poder de fazer nada.

Martina olhava as reações de Vanessa e cada vez mais se convencia de que não era normal. Ela escondia alguma coisa. 

― Lucy, Thomas está chegando. Eu preciso conversar com Vanessa na minha sala. A sós. ― A ruiva já andava para sua sala sem deixar opção alguma à morena.

Vanessa olhava a figura magra com desprezo e a seguiu pelo corredor e entrando em sua sala, fechou a porta atrás de si. Martina tinha gastado muito pouco tempo naquela sala. Estava praticamente da forma que havia a recebido há mais ou menos um mês e meio atrás. 

― Bom, eu irei direto ao assunto e espero que você também vá. ― Vanessa só faltava virar os olhos para ela. Vontade não faltava. Ela não suportava Martina. A presença de Victoria era o que a segurava de não tratar a ruiva mal, mas agora não tinha Victoria alguma para a segurar. ― Você tirou a paciência da Victoria ontem a noite indo buscar alguma coisa com Lucy contra a vontade dela. O que você fez com aquele pacote que foi buscar? 

As palavras saiam da boca da ruiva sem esforço algum. Ela não tinha mais filtros com a assistente.

― Acredito que isso não seja da sua conta, Martina. Ainda existem coisas que são confidenciais e você, embora esteja envolvida com Victoria, não tem permissão para saber. 

― É melhor você se abrir comigo do que com aquela policial. Em breve será ela te interrogando. Não tem medo?

― Medo do que, se não fiz nada?

― Olha, eu não quero te julgar. Eu tenho razões de sobra para te tratar mal, mas eu não o farei, em respeito a Victoria. Apenas me diga que não tem nada a ver com esse sequestro. 

― Pelo amor de Deus, Martina. Quem você acha que é? Você não é NADA nessa empresa. Você chegou ontem aqui e quer resolver tudo sozinha. Você acha que conhece Victoria, não é? Você não sabe das coisas que ela se mete. ― Martina tinha resolvido se sentar e assim o fez. Aquela conversa iria render mais do que estava esperando. ― Você não enxerga? Tem todo esse respeito por Victoria, mas não vê que ela te engana. Ela está longe de ser perfeita.

― Não fale dela assim. ― A ruiva não reconhecia Vanessa. A personagem havia caído diante da sua face.

― Ela só ficou com você por conveniência. Ela é uma mulher fantástica, eu sei, eu não posso negar. Ela também me deixa assim, aérea, inspirada, fora de mim.

― Então se a ama, porque não revela o que esconde? Faça isso por ela. ― Martina olhava Vanessa nos olhos de uma forma a desnudá-la apenas com a iris. A morena sentia-se nua perto dela, o que a fez pensar que Martina não desistiria nunca em incriminá-la, a não ser que tocasse no seu ponto mais fraco. 

Vanessa não respondeu de imediato. Resolveu olhar para além do rosto de Martina e começar a rir diabolicamente. 

― Eu entendo perfeitamente o encanto que você tem nela. Quando nos beijamos pela primeira vez, eu também fui a lua e voltei! Foi assim com você também, não foi? ― Vanessa agora falava andando pela sala, fingindo reparar na decoração. Escutar aquilo da boca de Vanessa fazia o rosto da ruiva ferver de tensão.

― Não vejo a relevância disso para a nossa conversa.

― Ah, mais já já você vai entender. Eu ainda não terminei…  Você sabe como ela é, não sabe? Dominadora, cheia de si e de suas vontades na cama. Quando fizemos amor foi um caminho sem volta… Ai, Ai! A Victoria é a amante perfeita. ― Martina a olhava séria, sem piscar nem respirar. ― Você deveria saber disso, que ela não aguenta ficar com uma só mulher ao mesmo tempo. Então, pense duas vezes antes de prestar a ela todo esse respeito que você tem. Esse é o meu recado. ― Vanessa para na frente da ruiva com uma pose atrevida. 

Martina a olhava tentando interpretar tudo que ela dizia. Parte dela não queria acreditar, e a outra? A outra parte se sentia enormemente traída.

― Você não sabia? Se não acredita em mim pergunte a Lucy e a seu filho. Pelo visto me interroga, mas você mesma não sabe do que acontece a sua volta. ― Vanessa saiu da sala sem avisar, deixando Martina sozinha, paralisada. Como se tivesse sido nocauteada, mas não por completo. Ela segue até o corredor, onde encontra Lucy e Thomas, prestes a sair. Sem sinal de Vanessa. ― Ah, e outra coisa…

Vanessa estende a Martina um envelope. A ruiva se recusou a pegar.

― Pode abrir sem medo, vai ser bom para você, acredite!

Martina pegou o envelope de cor parda, relutante. Abriu o envelope e puxou a folha de dentro. Descobriu que era uma carta formal com a assinatura de Victoria no final.

― O que é isso?

― Essa é a prova de que você não pode confiar em Victoria. 

Martina olhava Vanessa evitando olhar o papel. Vanessa tinha fogo nos olhos e tentadoramente ameaçava sair da sala.

― Eu vou te deixar sozinha para tirar as próprias conclusões, Martina. Só peço que preste atenção na data da carta. 

Vanessa sai fechando a porta e deixando Martina num silêncio difícil de manter. Seus pensamentos estavam qual escola de samba em plena Sapucaí. Ela sabia fundo no peito que não confiava plenamente em Victoria e nem colocava a mão no fogo por ela. Mas aquilo era demais. Ela não queria ler e finalmente provar a si mesma o que suspeitava. Já estava abalada pelas palavras de Vanessa e embora soubesse que a assistente deveria ter exagerado em tudo que disse, um fio de verdade havia naquilo tudo.

Ela não se importava que eles tivessem uma espécie de rolo. Os momentos que teve com Victoria foram únicos e perfeitos. Mas o que aquela carta continha de tão pavoroso?

Quando Martina resolveu voltar a si e ler a carta, percebeu que começava a cair um temporal do lado de fora. Trovoadas cada vez mais altas anunciavam que um dilúvio estava a cair. 

Pegou a folha e começou a ler se recostando na cadeira na tentativa de aliviar a tensão. 

A/C Sr Maximiano Torres
Diretor de Recursos Humanos 

Prezado Senhor, estou encaminhando a Srta. Martina Ayres Ferret, a título de transferência, que desempenhará a função de Supervisora de Qualidade e Segurança na base da BRASFLY em Brasília, a contar da data 10/01/2018.

A Srta. Ferret desempenha hoje a função de Diretora de Qualidade e Segurança e assinou contrato como tal. Solicito manter todos os seus benefícios, porém o contrato será rebaixado à supervisão. 

Ela desempenha suas funções de forma satisfatória e será transferida com o objetivo de prover um melhor suporte a operação de aquisição de novas aeronaves para voos intercontinentais.

Solicito o mais rápido possível os trâmites de sua transferência.

Agradeço e me coloco à disposição para quaisquer outras informações.

Atenciosamente,
Victoria Weber
.

― Mãe? Você está pálida. ― Martina corria os olhos pelo corredor procurando por Vanessa ou por sua própria sanidade que havia sumido e corrido para longe. ― Mãe? Você está nos assustando. 

Martina se encosta numa das paredes e leva uma das mãos à testa, balançando a cabeça para os lados, rindo ironicamente. Thomas e Lucy não reconheciam a ruiva.

― Não é possível. Como eu não percebi isso antes? ― Ela conversava consigo mesma num tom de voz quase inaudível.

― O quê, mãe? ― Thomas começa a se preocupar com mãe. Nunca a tinha visto naquela estado de espírito antes.

― Vocês querem me ajudar? Então me confirmem uma coisa. Só uma… ― Martina respirava fundo, almejando a confirmação do que havia escutado de Vanessa e do que havia lido. ― Victoria e Vanessa… Elas… Elas…

― Sim. ― Lucy respondeu de pronto. Martina olhava para ela derrotada. ― Eu sinto muito. Eu achava que ela tinha te contado. 

A ruiva olhou o filho nos olhos, para o encontrar cabisbaixo. Olhou de volta para Lucy, como que agradecendo a resposta. 

Agora tudo fazia sentido para ela. Concluiu que Victoria havia de fato a usado. Antes de viajarem para a Europa a CEO já tinha decidido a sua transferência. Victoria havia a usado para então poder jogar fora. 

Virou-se no corredor indo de encontro ao elevador. A torrencial de sentimentos a assolava de maneira que não sabia nem quem era mais. A porta do elevador se fechou, a pressão em seu ouvido, o elevador descendo e a levando para longe daquele andar a fazia correr da realidade que acabara de vir a si. O burburinho da recepção, o andar apressado das pessoas na calçada debaixo da chuva torrencial, o taxi que a levou para casa, tudo parecia estar alheio e não se importar com o que tinha acabado de acontecer. Ela seguia alheia, encharcada do temporal, desmantelada, despedaçada, deixando partes de si pelo caminho onde passava.

20:00

Lucinda apareceu pela primeira vez no palco sublime e divina, num vestido branco que parecia ser de veludo. O jogo de luzes e dançarinos tornavam a abertura um tanto retrô. Felizmente os arranjos e a letra eram demasiadamente comtemporâneos.

(the Very Thought of You)

Lucinda abriu o show de forma magnífica, com uma música do segundo álbum da carreira, fez Martina se arrepiar com as lembranças que a acometeram.

Ela tinha 16 anos quando a mãe ensaiava em casa para a gravação. Lembrava-se disputar a atenção da mãe com o irmão, mas quem sempre ganhava era a música. Acabou por cantar junto da mãe e virou parte de si.

Lucinda interpretava a música com muita profundidade atrevendo-se a mudar um acorde ou outro, fazendo Martina transportar-se para outra dimensão. A dimensão onde a letra fazia puro sentido. Ela realmente sentia-se uma completa foolish (tola, insensata), por ceder-se sem reservas a Victoria. Não tinha como sair ilesa daquela “aventura”.

A música inicial deu passagem à segunda, um pouco mais animada, até chegar a terceira, arrancando lágrimas da ruiva, que não chorava há muito tempo.

Desde que você foi embora os dias ficaram longos / E em breve eu ouvirei velhas canções de inverno / Mas eu sinto mais saudade de você, minha querida, / Quando as folhas de outono começam a cair

(Autumn Leaves)

A fez pensar se aguentaria passar por tudo que passou novamente. Victoria era o início de tudo e também o fim. Era onde sua vida começava e também onde poderia terminar.

Lucinda avistou Martina na primeira fileira e piscou para ela. Entre a quarta e a quinta música a dirigiu algumas palavras.

― Essa próxima obra de arte eu dedico com todo meu coração para ela, minha filha Martina. ― Martina leva a mão ao peito. Não estava aguardando por aquilo. ― Ela, que de corpo e alma se entrega ao amor sem se importar ser um naufrágio sem volta. Mas… o que seria de nós sem o amor, sem amar?

(Body and Soul)

Martina quase soluçava pelas verdades que aquela letra carregava por entrelinhas. Aquelas letras, aquele show inteiro parecia ser feito para provar a ela que apostara todas as suas fichas num amor bonito, mas imperfeito e fútil.

Se convencia agora que sua mãe só poderia estar certa. Victoria a usou numa de suas aventuras. Cedo ou tarde retornaria a seu caprichos e indecisões. Ela poderia amá-la com todas as forças, de corpo e alma, mas sempre terminaria sozinha e machucada.

(the Girl from Ipanema / Non Dimenticar)

Ironia do destino? Talvez.

No fim do show a última música, o destaque do último álbum: a regravação de Non Dimenticar. Era muita emoção para uma noite apenas.

Martina resolveu seguir para casa no final do show, deixando um recado para a mãe, combinando que se veriam no outro dia.

A dor que sentia era algo difícil de revisitar. Era madura o suficiente para digerir aquilo. Havia digerido bem e não cometeria o mesmo erro duas vezes. Ou seria a terceira vez?

22:00

Victoria acordou zonza, como se estivesse ressurgindo de uma sedação de horas. A sala branca ofuscava seus olhos causando uma dor aguda na cabeça. Tudo era estranhamente branco, as paredes, os móveis, o chão.

Sente uma mão a tocar no braço e uma voz suave, em Inglês britânico perfeito, começa a se dirigir a ela.

― Está tudo bem. Tome isso. ― Victoria, cerrando os olhos, tenta enxergar seu interlocutor. A mão que a tocava era a de um homem mais jovem que ela, loiro e alto. Ele estendia um copo que continha algo cor de madeira dentro. Victoria se sentia tão mal que não pensava em negar a bebida. Hesitou, porém. ― É um estimulante natural. Pode tomar, confia em mim. ― Ela não sabia onde estava e nem o que tinha acontecido com ela. O homem parecia genuinamente interessando em ajudar de forma que ela tomou o que tinha no copo. O gosto era muito amargo. De tão amargo acabou por despertá-la completamente a ponto de conseguir se sentar na cama.

― Onde estou? O que aconteceu?

― Eu poderei te responder todas as perguntas que tiver, você só precisa colaborar.

Victoria se encontrava em completa confusão mental. A última coisa que se lembrava era de estar dirigindo para o hotel onde teria um encontro com outros CEOs como ela e no caminho um carro a imprensou, homens a tiraram do carro e a forçaram a entrar em uma van preta para depois aplicarem uma injeção dolorida nela. Não poderia ser boa coisa.

― Se é dinheiro que vocês querem eu tenho bastante. É só fazer a oferta de vocês.

O homem a olhava com pena. Se o dinheiro resolvesse a situação deles, já teriam resolvido o problema.

― Não é dinheiro que queremos, Victoria.

― Então o que vocês querem?

― Preciso que confie em mim, ok? Eu te levarei a um lugar onde entenderá porque está aqui. Para isso preciso ter a sua palavra de que se comportará bem.

O homem parecia realmente inofensivo aos olhos dela.

― Só me diga onde estou.

― Você está na Ilha, Victoria.

Ela não fazia ideia do que aquelas palavras significavam.

― Que ilha?

O homem a estendeu a mão para ela, na esperança de que ela estivesse recuperada o bastante para andar. A CEO apoiou-se na mão dele e se pôs de pé. Percebendo que ele ainda aguardava uma confirmação de que ela confiava nele, decidiu verbalizar.

― Eu confio em você! Agora, me diga que encrenca é essa onde me meti!

O homem a guiou pela porta onde dava para um jardim de inverno e um corredor seguido de uma escada. Subiram três andares e chegaram a uma porta de metal. O homem abriu a porta depois de digitar uma senha numa tela touchscreen.

Ao entrarem, Victoria fica abismada ao se deparar com mais quatro homens de jaleco e em quanta tecnologia tinha naquela sala: painéis de controle do chão ao teto piscavam e recebiam dados de alguma máquina maior. A sala estava em meia-luz contribuindo ainda mais para deixá-la temerosa. Ela estremecia por dentro tentando adivinhar qual era o objetivo de estarem ali.

― Bem-vinda Victoria, é um prazer tê-la aqui.

Victoria apertou a mão do homem que estava estendida há mais ou menos dez segundos. Ela não respondeu nada em troca, apenas olhava em volta tentando entender. Iriam fazer testes nela?

O homem loiro que a tinha guiado até ali se volta para ela avaliando sua figura, que agora não estava tão dopada como antes.

― Você está pronta para saber por que está aqui?

Ela balançou a cabeça concordando. Estava com muito medo, mas por dentro a curiosidade era maior. Victoria assiste o homem loiro andar para o lado oposto da sala e começa a apertar um botão num dos interruptores, causando um pequeno clique na parede branca que parecia ter parte dela revestida de vidro.

Aos poucos a parte de vidro começa a revelar o que tinha do outro lado. Era na verdade uma janela de vidro que tinha uma espécie de persiana interna. À medida que a persiana se abria luz entrava na sala, ofuscando os olhos da CEO.

Quanto mais ela chegava perto da janela de vidro, mais ficava fora de si, totalmente impressionada com o que estava diante de seus olhos. A visão que lhe era revelada tirava toda a sanidade. Com as mãos espalmadas no vidro e lágrimas rolando de seus olhos no que parecia ser alegria profunda misturada com eto e surpresa, ela não aguentava falar, embora tentasse. Perdeu a voz.

O avião do voo A232 aparece iluminado por luzes refletoras no meio de um enorme galpão.

Era o avião do acidente. Era o seu avião.

 

Fim do Livro 1



Notas:



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4 Respostas para 40. A Ilha

  1. Escritora onde podemos ler ou comprar o livro 2 de a Ilha.

    Ruim muito ruim isso de começar a ler a história muito boa, gostar e não ter como acompanhar se não existe a continuidade…

    Péssimo isso.

  2. A Vanessa está envolvida com esse negócio de A Ilha né? Eu desconfiava que ela tinha algo com o sumiço dos passageiros…eu realmente não sei como eles vão sair dessa, como Victoria vai sair? Ainda não entendi bem como é/função da A Ilha

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