Vanessa estava ao telefone quando Victoria entrou, fechando a porta atrás de si. Olhou Vanessa e não escondeu sua admiração, parando a passada, abrindo a boca, impressionada tanto pelo novo corte de cabelo dela e pela maquiagem. A assistente estava no viva voz conversando com Mark.>
― Entendi, Mark… Mas agora é com a Victoria. Ela já está aqui. Acabou de chegar!>
Mark se mostrou surpreso e deu as boas vindas a CEO perguntando como ela estava.>
― Esta tudo no lugar embora doa tudo ainda! ― Victoria exclamou.>
Mark diz que não quer atrapalhar a chegada da CEO e tornaria a vê-las mais tarde. Nesse ponto, Victoria já tinha puxado uma cadeira e se colocado ao lado da assistente.>
― E aí? Como você ficou sem mim?>
Vanessa não queria outra coisa senão pular para cima dela e beijá-la como na noite da virada. Sentia falta não só da presença, mas também da voz dela, das suas reações, manias de expressão e a forma de a tratar com atenção.>
― Eu fiz tudo como achei que você faria, Vic. Você me surpreendeu, e muito!>
Victoria sentia falta de Vanessa e percebeu isso estando ao lado dela. Sentia-se mal por tê-la usado e confundido, mas estava disposta a se redimir e galgar sua amizade.>
― Se fiz isso não foi a toa. Tampouco foi em vão a preparação que sempre te submeti sem você saber.>
― Max, me mostrou isso. ― Vanessa retirou o plano de carreira dela de dentro de uma pasta. Victoria começa a corar de leve. ― Eu quero saber se agora que sabe do meu potencial e me testou, vai querer me transferir para outro setor…>
Victoria sente certo desapontamento na voz de Vanessa. A causa do choro e comoção de Vanessa no dia da virada foi em parte por sentir que aquilo significava que ela não trabalharia para sempre junto de Victoria.>
― Confesso que penso sempre alto com relação a você. Você merece mais do que ser minha assistente.>
― E se eu disser que “prefiro” ser sua assistente, que gosto e que não me interessa outro cargo?>
Vanessa falava chegando perto de Victoria e repousando a mão sobre seu joelho de forma íntima. Victoria inocentemente coloca sua mão sobre a de Vanessa. Ouvir Vanessa falar que voluntariamente estaria disposta a servi-la para sempre era muito tentador. Se tinha uma coisa que Victoria amava e não escondia, era ter a atenção de Vanessa para si.>
― Eu te responderia que… você vai mudar de ideia.>
Victoria se levanta após perceber que por tocar Vanessa estava dando margem para ela fantasiar sobre as duas. Deu um olhar afirmativo para assistente e indo até sua bolsa, tirou alguns papéis de dentro.>
Vanessa respeitou o gesto de Victoria, presumindo que causou reações na CEO.>
― Bom, a passagem de serviço está aqui. Se discordar de alguma coisa posso te esclarecer.>
― Obrigada. Tenho certeza que você conduziu tudo de forma perfeita. ― Victoria voltou a ficar a seu lado na cadeira e assinou todos os papéis sem ler.>
― E como você está de saúde? Fiquei preocupada com você.>
― Eu estou bem agora, mas estou toda dolorida e um tanto traumatizada.>
― Imagino, Vic. ― Por dentro ela soltava fogos pois Victoria havia acabado de assinar a transferência de Martina.>
― E Martina, está bem?>
― Sim… Na verdade ela teve um corte na testa e levou alguns pontos. Você não sabe como foi horrível vê-la desmaiada dentro daquele avião cheio de fumaça.>
Sinceramente, Victoria não tinha planos de abandonar Vanessa, tampouco escolher entre as duas. Ela queria Vanessa como amiga, para desabafar, sorrir e contar detalhes da sua vida como sempre fez. Isso seria muito bom a seus olhos.>
Vanessa, porém, desejou internamente que Martina nenhuma tivesse aparecido ali. O ódio crescia cada vez mais, fazendo seu rosto esquentar. Tinha de eliminá-la e estava prestes a conseguir.>
― Bom, eu já vou indo, Vic. Qualquer coisa estou a disposição.>
― Desculpe, interrompo alguma coisa?>
― Não, eu já estava de saída. ― Seu rosto queimava de raiva de uma forma que nem ela se reconheceu. Foi quando Martina bateu na porta e entrou.>
Vanessa sai educadamente sem intenção de olhar no rosto de Martina. Se a olhasse sentia a degolar ali mesmo de ódio e raiva sem nenhuma dificuldade.>
Victoria pede que Martina tranque a porta e ela o faz.>
― Vem aqui, vem?>
Victoria se levanta e a chama para sentar-se no sofá com ela, recebendo a ruiva num abraço apertado.>
― Isso tudo é saudade?>
― O que você acha? ― Victoria a conduz para o sofá a empurrando de forma que a ruiva caísse de costas e se joga sobre ela. ― Não vejo a hora de fazer amor com você de novo.>
Queria beijá-la, sorvê-la, se fundir nela. Precisava sentir seu corpo nela. Estava em fogo e seu coração palpitava.>
― Sabe que eu nunca imaginei na vida que uma mulher pudesse me fazer sentir desse jeito? Eu fiquei assustada, claro! Mas também me senti livre, como nunca antes!>
― Tarada! ― Martina fazia questão de brincar com ela.>
Os últimos dias tinham sido uma correria só. O corpo delas parecia não corresponder à altura da demanda. Desde que chegaram à sede não pensavam em outra coisa senão voltar para casa ou gastarem a tarde inteira no sofá do escritório de Victoria.>
― Você leu meu pensamento me trazendo para este sofá e eu li o seu vindo aqui.>
A CEO recostava a cabeça no ombro de Martina sentindo a essência do perfume amadeirado. Percebendo a mulher visivelmente cansada e quieta a ruiva pensou em chamá-la para dar fim ao dia e ir embora, afinal, passaram a noite voando e tinham direito.>
― O que tem na agenda para essa manhã, chefe?>
Victoria repousava a cabeça agora no colo da mulher, com as pernas pendendo para o resto do sofá. As duas estavam cansadas demais até para pensar.>
― Apenas saber o que Vanessa fez na minha ausência. Sinceramente, confio nela de olhos vendados.>
― Se você diz. ― A ruiva novamente usou o tom irônico característico.>
― “Ta” com ciuminho de novo? ― Victoria olhava a ruiva de cima.>
― Ciúme é para os fracos, eu tenho é possessão! ― Martina exclamou, afastando a cabeça da morena e indo até a janela, fechando um pouco o blind e recostando-se no móvel, de braços cruzados.>
― Eu preciso saber de uma coisa.>
Martina não era tão curiosa quanto Victoria. Ela sabia esperar o momento certo das coisas se revelarem para ela. Victoria gelou na hora, mas não transpareceu. A ruiva estava “altamente comestível” daquela forma, séria e encabulada por querer saber, provavelmente, de mais detalhes sobre Vanvic.>
― Que história é essa de Vanessa ser louca por você? Não vai me contar? ― A perguntar que não queria calar. A indagação desde o primeiro dia que viu Victoria com sua assistente.>
Victoria a olhava sem piscar e em breve os olhos cinzentos lacrimejariam de irritação. A dona deles por fim piscou e chamou Martina para se juntar a ela. A ruiva não se moveu de pronto.>
― Por que isso é importante para você? Eu acabei de te dizer o quanto você mexe comigo. O que Vanessa pensa ou quer não importa. Nada vai mudar.>
Martina ponderou suspirando. O problema era que ela tinha certeza de que tinha mais naquela história.>
― Eu não quero ser inquisitiva, mas…>
― Então não seja. Por acaso você nunca amou sem ser correspondida? ― Victoria se levantou e foi até ela a enlaçando pela cintura e indo de encontro a sua boca. Entre uma bitoca e outra Martina não acreditava que ela estava sendo capaz de fazer aquela comparação entra ela e Vanessa.>
― Não tem comparação, Vic.>
― Você não quer ser inquisitiva e eu não quero ser grossa, mas você tem que se lembrar que quando eu não quero, eu não quero. Eu não te escolhi no passado, lembra? Porque EU não quis. ― Victoria comparava água com óleo, talvez? ― Eu não a desejo. Ela é uma pessoa de confiança que eu não quero perder, mas não! Eu não a amo dessa forma romântica que ela me vê.>
Victoria podia ter feito a comparação errada, mas foi genuína quando disse que não a desejava.>
Martina se convenceu, pelo menos naquele momento. Victoria afastou-se indo em direção a sua mesa olhando a passagem de serviço.>
― Eu estou cansada além da conta. Acho que vou ler essa passagem e vou embora.>
― Minha casa ou sua casa? ― Martina ousou perguntar já voltando ao sofá.>
― Onde nossos filhos não estejam, suponho.>
― Supôs certo.>
Thomas e Lucy escolheram ir direto para a casa da mãe de Lucy para descansar.>
Martina sentou-se no sofá olhando Victoria concentrada nas folhas de papel. O que ela menos queria era dormir com Victoria na cama que ela e o marido dormiam. Sabia que camas eram simples objetos sem sentimento e sem vida, mas aquele ambiente poderia estragar qualquer clima que viesse a surgir.>
Quando Victoria terminou de ler, assinou e colocou dentro de uma agenda que estava em cima da mesa. Martina cochilava no sofá igual um anjo que cairá do céu.>
― Psiu. ― Victoria a chamou de longe, quase assoviando tão baixo. A ruiva percebeu e abriu os olhos. ― Vamos?>
Viu a ruiva se espreguiçar para pegar a bolsa e levantou-se com ela, ligando para o motorista ficar a postos. Ao saírem pelo corredor Martina seguiu para sua sala pegar sua bolsa, no que Vanessa teve uma chance de abordar a chefe, que falou com ela primeiro.>
― Parabéns, Van! Você foi fenomenal. Eu não teria feito nada diferente. Apenas arquive este documento, ok?>
Era o envelope pardo com os documentos assinados pela CEO, os que ela deixou de ler. Dentre eles o pedido de transferência de Martina. Vanessa só faltou gritar com ela.>
― Tem certeza, Vic? Max já aprovou.>
― Certeza absoluta.>
― Ok, tire o resto do dia para descansar. Deve estar cansada da viagem.>
― Estamos. ― Victoria responde quando Martina aparece ao lado dela, agarrando seu braço de forma adorável e inconscientemente. A ruiva era uns centímetros mais baixa que as duas, que a olhavam de cima e ambas de salto pareciam superiores. Vanessa sentiu querer voar na ruiva ali mesmo.>
― Bom descanso então. Vocês merecem. ― Soou sincera até mas queria mesmo voar no pescoço de Martina.>
― Nos vemos amanhã, Van. Pode me ligar caso algo crítico surja.>
As duas tomaram o caminho do corredor calmamente, deixando Vanessa por si. A assistente não olhou as duas partindo, pois o que se partia era toda a sua sanidade. Esperou o barulho do elevador se fechar para olhar o corredor vazio. Seu telefone toca e ela atende, séria.>
― Está tudo certo. / Isso! Será amanhã. Agora tenho certeza.>
Ela desliga e joga o celular de qualquer jeito na mesa.>