― Boa tarde, senhores.>
Todos os que estavam logados na sala virtual, os da sala da diretoria da BRASFLY no centro do Rio e os da filial em Londres, responderam brevemente à CEO que aparentava estar um pouco sonolenta na pequena imagem projetada no canto superior direito do data show. O primeiro slide da apresentação já estava aberto e sendo projetado para todos e informava: Reunião de Emergência – BRASFLY London Headquarters.>
Ao ler o slide Vanessa olhou para Victoria tão incrédula quanto a chefe. Victoria pegou o controle da sala virtual e desligou o microfone para que pudesse conversar com Vanessa sem que ninguém escutasse.>
― Emergência, Van?>
― Até onde sei essa reunião é sobre as buscas, Vic. Estou tão etada quanto você. Liguei para Londres hoje cedo e ninguém me adiantou nada.>
Victoria ficou calada e pensativa e tornou a ligar o microfone, aguardando o pessoal de Londres começar a falar. >
O espaço de trabalho que Victoria tinha em seu apartamento não era apenas uma simples sala de reunião formal. O ambiente contava com uma sala ampla contendo uma mesa de reunião expansível, para até vinte pessoas e três estações de trabalho personalizadas ao fundo, com a mesa da CEO no meio. >
Contava ainda com um ambiente de relaxamento com sofás, um tapete felpudo, um aquário enorme com luzes e peixes exóticos num canto a esquerda e um bar moderno em aço e madeira. >
Victoria trabalhava ali ao menos um final de semana no mês, por ocasião dos fechamentos mensais da empresa e também quando não se sentia bem para sair de casa. O ambiente era tão seleto que as cadeiras executivas foram compradas num leilão que Victoria calhou de participar durante uma visita a Nova Iorque. A sala tomava quase metade de um andar inteiro do apartamento triplex dos Weber. >
― Boa tarde a todos. Aqui quem fala é George Beltrão, da BRASFLY London Headquarters. Seremos bastante breves nesta reunião de emergência… >
A imagem projetada desde Londres mostrava George numa mesa com mais ou menos umas cinco pessoas. Ele interrompeu a fala e prosseguia gesticulando freneticamente, bloqueando o microfone.>
― George? Tudo bem por aí? >
Victoria abriu o microfone e se atreveu a perguntar. Beltrão fora enviado a trabalhar em Londres pela própria Victoria. Ele chegou a fazer parte da equipe do Brasil por alguns anos antes de partir. >
― Só um segundo. >
Ele continuava gesticulando e agora havia se levantado. Victoria já estava bastante agitada balançando os pés embaixo da mesa, inquietamente. Seu coração não batia tão forte desde a notícia do sumiço do avião. Que emergência seria aquela? >
― Perdão… Não podemos demorar muito nessa ligação. Vamos começar. Esta manchete foi publicada hoje no The Sun. >
Beltrão passou para o próximo slide que mostrava a capa do maior tabloide britânico, estampando uma notícia polêmica, que nenhum britânico ficaria contente de ler. >
― O QUE? COMO ASSIM? >
Victoria e Vanessa falaram, quase gritando, ao mesmo tempo e se olharam incrédulas. A CEO levantou-se e foi de encontro ao fundo da sala virando-se de costas e colocando as mãos na cintura. Uma agitação peculiar de uma pequena guerra de perguntas e ideias dentre exclamações de desespero e compreensão dava para ser escutada da transmissão da sala da sede. >
― Senhores… Senhores? SENHORES, POR FAVOR! >
Todos estavam muito agitados para responder. Quando Beltrão se alterou o silêncio retornou. >
― Precisamos agir rapidamente! A situação aqui está caótica. Existe uma multidão em torno do prédio fazendo uma espécie de protesto que pode ficar violento e temos de evacuar o prédio. >
O homem falava de forma que sua voz parecia estar tremida. Olhava constantemente para o lado como se estivesse prestes a ter de sair. >
― Precisamos pensar no que fazer, em como agir. Não sabemos o que dizer as autoridades. Estamos sem chão… Victoria?>
Victoria estava de costas, em pé. Tinha uma mão nos lábios e a outra na cintura, chocada e pensativa. Passou a massagear o queixo. Tinha o olhar perdido e parecia buscar no nada as respostas para tudo que necessitava. >
Talvez as respostas estivessem naqueles átomos do ar, invisíveis aos olhos humanos. Uma coisa era certa: desesperar-se não iria adiantar em nada. Como seu pai reagiria naquela situação? Ora, ela não era seu pai! Um militar turrão da ditadura militar iria nadando para a Inglaterra se fosse preciso para resolver aquela situação e no caminho ainda acharia o avião perdido. De certo que essas coisas eram impossíveis de fazer, mas que ele teria pulso firme, ele teria.>
Acreditava que nada era por acaso. Se tudo tinha um objetivo aquilo não era sem sentido. Mas o que fazer então? Se não soubesse o que fazer não fazia sentido ser presidente daquela empresa.>
O que anos de experiência como presidente tinham a agregar àquela situação? O que suas viagens ao redor do mundo, suas pesquisas inovadoras, cursos de ponta, mestrado internacional, especializações, discussões com especialistas, condecorações, prêmios de segurança, uma carreira brilhante e cem por cento no alvo tinham a ajudá-la naquele exato momento da sua vida, senão o mais difícil? Ela era a própria Victoria Weber em carne e osso, CEO da BRASFLY. >
Mas por quê? O que é ser CEO da BRASFLY afinal? >
Ela pensou em tudo isso e no PESO que ela carregava em seus ombros, virou-se, andou até a mesa, sem se sentar e DETERMINOU, assertiva e emocionantemente:>
― Vocês devem fazer o que for preciso para manter a segurança de vocês aí em Londres. Evacuem o prédio e entrem em contato conosco assim que possível. Quero todos em segurança, ouviram? O que a BRASFLY e o governo brasileiro tem feito não mudará. Estamos no caminho correto. Não podemos fazer nada até que encontremos o avião, ou partes dele. O que tentarei fazer é pedir ajuda a mais países para que enviem aviões de busca. Estamos no caminho certo! O fato de alguém da realeza britânica fazer parte da lista de passageiros não é nossa culpa! Que dizer das outras vidas? São menos importantes? O que dizer das outras famílias? São menos importantes que a família real britânica? >
Após as palavras da CEO a expressão de Beltrão mudou para melhor. Ele completou com um detalhe interessante. >
― Pelo que eu li do artigo ela estava usando um nome falso para não ser reconhecida. >
― Bom para nós. Não podem nos acusar de ter encoberto informação… Vão! Evacuem o prédio. Eu irei a Londres essa madrugada! Irei pessoalmente cuidar disso, conversar com o governo britânico! Se eles querem uma posição nossa, eles terão!>
― Obrigada, Victoria. >
Após as despedidas, enquanto Vanessa desligava a videocon, Victoria se sentou na mesa colocando as mãos sobre a testa, como se estivesse fazendo uma oração. >
― Tudo bem, Victoria? Se não estiver bem, me avisa. >
― Pode deixar que se eu for desmaiar, desmaio dos seus braços da próxima vez.>
Vanessa riu com a piada da mulher, que sentou para tomar um pouco de fôlego da energia gasta. >
― Não estou brincando, Vic.>
A assistente ficou impressionada com tamanho poder de decisão e soberania da chefe diante da situação. Vanessa sentou-se ao lado da mulher, que além de ser seu desejo, era sua amiga.>
― Hoje percebi uma coisa, que nunca conversei com você… Nós somos tão próximas, e tão distantes ao mesmo tempo.>
A CEO tirou as mãos da face e as repousou ao lado esquerdo do rosto.>
― Como assim? >
Victoria sentiu suas batidas aumentarem. Vanessa estava finalmente tomando a inciativa. >
Anciosa para ler o próximo capitulo
Muito bom!!