A FILHA DO NOIVO

4. Coisas corriqueiras

– Eu realmente não consigo te imaginar como uma adolescente espinhenta, não que isso faça alguma diferença, mas sua pele não parece ter carregado a quantidade de espinhas que fala.

– Isso é sério, por muito tempo me escondi do mundo, mas como algumas coisas são apenas da idade, gradativamente elas foram sumindo, mas eu já estava no final do secundário.

– Se isso te conforta eu era um pouco desengonçada, na verdade sou até hoje, vivia caindo ou derrubando algo. – Falei terminando mais uma taça de vinho, passava das duas da manhã e simplesmente a conversa não acabava.

– Sua mãe me contou do casamento da sua tia, quando derrubou a pirâmide de taças.

– Sim, todo o salão de festa parou para me olhar, foi tipo: “Ah, tinha que ser a Kayla”. Foi tão vergonhoso que passei quase seis meses sem olhar para minha tia, mas quando a vi ela não parava de gargalhar.

– De todo o mal o menos pior, poderia ter se machucado. – Falou me olhando como se quisesse desvendar a minha alma.

– O que foi? Me olha de um jeito que fico pensando que me acha uma tola. – Me levantei sem esperar resposta e caminhei até a cozinha.

– Não te acho uma tola, creio que estou encantada, é apenas isso. – Sentou no banco em frente a ilha da cozinha.

– Não tenho tanto para causar encantamento. – Me servi de um copo de água. – Servida?

– Por favor. – Pegou um biscoito que estava no pote. – Isso é uma delícia.

– O biscoito da minha mãe é uma verdadeira perdição. – Entreguei o copo com água e sentei ao seu lado pegando a metade do biscoito em sua mão.

– Ei, era meu, você não tinha notado?

– Não pude resistir, mas sei onde tem mais. – Puxei a porta do armário que ficava na ilha e tinha uma lata cheia deles. – Ela tem essa mania de esconder aqui. Desde que eu era nova.

– Talvez por medo de você acabar com ele todo de uma única vez. – Pegou um dos biscoitos. – Preciso da receita.

– Talvez ela te passe, já que será da família… Mas digo uma coisa, até hoje ela não me passou.

– Serei bem insistente, ou talvez não, isso me fará engordar horrores. – Pegou mais um e afastou o pote. – Por favor, tire de perto de mim.

– Vou guardar, espero que ela não note. – Terminamos o último biscoito em silêncio.

– O dia de hoje foi bom, tirando algumas partes que poderiam mudar, mas foi um dia bom.

– Sim, eu me diverti como nunca. Não tenho palavras para agradecer, você foi uma grande companhia.

– Não fale assim, você também foi, exatamente a pessoa que eu imaginava que era.

– Você me deixa sem jeito falando assim. – Tomei o restante da água e logo completei. – Deixarei o ciúme que senti mais cedo de lado.

– Isso sim é uma boa notícia, não há motivos. – Se levantou e esticou sua mão. – Acordo de paz?

– Acordo de paz. – Toquei sua mão e senti os pelos do braço arrepiar. – Tem noção de que horas precisamos sair?

– Não faço a menor ideia, mas creio que não temos pressa.

– Acho melhor de qualquer forma ir dormir. Sei que se demorarmos muito minha mãe vai começar a ligar.

– Então até amanhã. – Ela falou já da porta do meu antigo quarto.

– Até. – Fechei a porta e deitei na cama, apesar de querer dormir minha cabeça não parava de funcionar. Peguei meu celular e vi todos os tipos de mensagens de Yousef, desde as mais doces pedindo desculpa e dizendo que me ama, até as mais estúpidas falando que iria me colocar na linha por bem ou por mal. Apenas desliguei o celular sem mover nenhum dedo para respondê-lo, cada vez que pensava que tinha agindo mal levando o caso até a polícia minha cabeça discordava me fazendo lembrar de suas palavras.

Tive um sono péssimo e sonhos terríveis. Me levantei antes das nove e fui direto para cozinha preparar café, enquanto a cafeteira fazia todo o trabalho sentei na ilha da cozinha, uma velha mania que senti necessidade de fazer novamente, olhava para a casa e senti o velho gosto de infância, tive vontade de voltar atrás no tempo e reviver cada momento e talvez tomar um rumo diferente em minha história.

– Buongiorno.

– Bom dia! – Lhe servi uma xícara de café enquanto se sentava em um dos bancos próximo a mim.

– Obrigada, o cheiro do café entrou no quarto e me fez levantar. Acordou faz muito tempo?

– Não, na verdade eu não dormi direito, levantei faz meia hora, no máximo.

– Poderia ter me chamado, te faria companhia. – Tomou um gole do café quente. – Nada como café caseiro.

– Não te acordaria de modo algum e quanto ao café, é de máquina, você sabe…

– Deixa eu me iludir, faz anos que não tomo café num ambiente “familiar”, sempre vou a cafeterias ou na revista mesmo.

– Bem, não sei o que tem na geladeira, mas tenho certeza que posso fazer uma mesa de café da manhã digna. – Pulei do balcão e fui até a geladeira em busca de frios e sucos, coloquei tudo que encontrei na mesa e via de relance um par de olhos me seguindo. – Você pode dar uma olhadinha no armário à sua esquerda se tem alguma geleia? – Falei enquanto pegava alguns pães e torradas no armário próximo a geladeira.

– Frutas vermelhas e uva.

– Pega as duas, por favor. – Veio caminhando na direção da mesa equilibrando os dois potes e sua xícara de café. – Pode sentar. Você gosta de leite, achocolatado… essas coisas?

– Não, já está ótimo tudo o que tem aqui, acho que você pensa que tenho um batalhão dentro da barriga. – Sorriu enquanto se sentava. – Obrigada pela mesa de café da manhã.

– Não me agradeça, faz tempo que também não faço isso. – Me sentei de frente pra ela e seus olhos não saiam da minha direção. – Seus olhos estão me deixando sem graça de novo.

– Sinto, é só que seus olhos parecem tão iluminados que é impossível não olhar. – Desviei o olhar e sorri. – Não precisa ficar vermelha, sabe?

– Não sou adepta a elogios, sempre me deixam sem graça. – Peguei uma torrada e passei geleia de frutas vermelhas e entreguei a ela e logo que nossos dedos se tocaram percebi o que havia feito. – Eu nem perguntei se queria, acho que foi hábito.

– Claro que quero e devo admitir que estou adorando ser “mimada” dessa forma, vou te contratar e levar para Itália comigo.

– Não sou boa dona de casa, se é isso que pensa.

– Jamais, vou te levar para ser minha companhia mesmo, sabe, apesar de trabalhar com várias pessoas sinto que não posso ter um momento agradável e sereno como esse.

– E você não namora ou algo do tipo?

– Na verdade faz bastante tempo que não sei o que é namoro, acho que ainda não encontrei a pessoa certa.

– E será que essa pessoa realmente existe? Digo, não tive muitas experiências com relacionamentos, mas todas foram um verdadeiro fiasco, tiro pela última.

– Eu ainda acredito que isso seja possível, todos tem falhas, mas quem sabe não esbarre no amor da sua vida…

– Amor da minha vida… Isso seria interessante, mas creio que nem tão cedo me permitirei envolver.

– Penso que não é por escolha, simplesmente acontece quando tem que acontecer. – Quando pensei em responder o telefone de casa tocou, deixei a torrada que havia preparado no prato e fui caminhando até o telefone que ficava na cozinha, atendi e voltei a sentar à mesa.

– Alô! Oi, mãe. Sim, já acordamos…Estamos fazendo isso agora… uhum… vou sim, não se preocupe em voltar mais cedo. Não sei que horas sairemos… – Tapei o microfone. – Que horas sairemos?

– Em uma hora e meia, só o tempo de terminar de tomar café da manhã e um bom banho.

– Ela disse que em uma hora e meia, mais ou menos… Tudo bem, eu lembro o caminho, não se preocupe, qualquer coisa ligaremos… Também te amo. Ela mandou um beijo…

– Diz que mando outro.

– Ela mandou outro, mãe, iremos com cuidado sim. Até mais. – Desliguei o telefone e finalmente dei uma mordida na minha torrada.

– Bem que você disse que ela ligaria logo cedo.

– Conheço ela, mais apressada que tudo. – Terminei de comer e esperei que Belinda terminasse também. – Antes de ir eu preciso passar em alguma loja, comprar algumas peças de roupa.

– Claro, serei sua motorista particular. Vou tomar um banho, precisa pegar alguma coisa no seu quarto?

– Vou ver se encontro algo mais decente que short e camiseta de banda. – Com muito custo encontrei uma calça jeans e uma camiseta branca. – Não é muito, mas posso sobreviver.

– Eu acho perfeito, veja, irei de havaianas, short e camiseta, hoje o calor está de matar e duvido o ar-condicionado do carro dar conta.

– Isso é verdade, bem, não demoro no banho. – Em quarenta minutos já estávamos a caminho do shopping mais próximo, como não seriam muitos dias peguei poucas peças, apenas roupa de banho, shorts e camisetas, fora um vestido, pois fui intimada a sair.

– Não vou te deixar ficar em casa com meu pai e sua mãe e mais quem quer que tenha ido jogando baralho, vamos ir em algum bar beber um vinho, ouvir boa música.

– Você consegue convencer alguém com seus argumentos? Eu adoro jogar baralho. – Falei enquanto levava o vestido para provar.

– Para meu azar você gosta de baralho, mas te prometo uma noite sem blábláblá familiar.

– Esse sim é um bom argumento. – Olhei como o vestido havia ficado no meu corpo e tirei logo em seguida.

– Ei, era pra ter me mostrado! Fiquei curiosa.

– Quando usá-lo você irá ver, acha mesmo que vou confiar numa editora de revista de moda? Jamais.

– Não seja cruel, sou uma editora fashion, você não iria se arrepender.

– Não importa, vou leva-lo e quando sairmos você verá. – Peguei as compras e sai com ela atrás de mim. – Mesmo que está chateada?

– Não, imagina, só estava dando uma olhada nas lojas em volta, fiquei com vontade de tomar um sorvete, sabe se nesse andar tem alguma?

– Hum, acho que no andar de cima tem, vamos lá!

– Não quero atrasar muito. – Falou meio sem jeito.

– Ei, eu já atrasei o suficiente escolhendo roupas e quem é que pode dizer não pra um sorvete?

– Não estou acostumada com pessoas como você!

– Que vive se atrasando?

– Não, as que não se importam em chegar atrasada e que gostam de sorvete, normalmente as pessoas que conheço não comem mais que uma ervilha para não engordar.

– Então não fique muito tempo ao meu lado, vai comer horrores, não sou nada preocupada com isso. – Ela sorriu e caminhamos lado a lado conversando sobre coisas do cotidiano. Paramos numa sorveteria artesanal e comemos duas taças enormes com vários tipos de sabores. – Me deixa provar esse de pistache?

– Pode pegar, finja que a taça é sua, enquanto isso vou pegar esse de cereja com menta que você pegou, parece uma delícia.

– Hmmm. – Falamos ao mesmo tempo.

– Eu preciso voltar aqui com mais tempo, acho que vou deixar todo meu dinheiro.

– Não se esqueça de me convidar!

Entramos no carro e ela deixou a trilha sonora por minha conta, emparelhei meu aplicativo do celular com o som do carro, ao ligar o telefone centenas de mensagens começaram a aparecer, pelo que pude perceber ele já havia recebido a intimação e estava furioso, me mandou uma foto de todas as minhas roupas rasgadas pelo chão do quarto, respirei fundo e me mantive olhando pela janela após bloquear o mesmo, era sábado e o dia estava lindo, eu deveria realmente deixar para me preocupar com essas coisas um outro dia, não queria estragar o final de semana.

– Olha, não quero me meter, mas desde que olhou o celular ficou um pouco mais quieta, não faço a menor ideia do que viu, mas saiba que estou aqui para o que precisar. – Soltou do volante e segurou minha mão que estava apoiada no joelho, olhei para aquele gesto e segurei sua mão e levei até meus lábios e ali deixei um beijo, sorri para ela e voltei meu olhar para a janela.

– Estou pensando em voltar a morar no Rio, estava apenas a um passo de me tornar uma associada do escritório que trabalho, mas isso não importa, talvez aqui a paz seja uma constante.

– Te dou todo apoio, se quiser buscar suas coisas em São Paulo, podemos ir juntas, nada melhor que um carro para isso.

– Não vou precisar me preocupar, Yousef rasgou se não toda, grande maioria das minhas roupas, os documentos mais importantes estão comigo, não faço ideia do que ele fez com objetos pessoais, mas não quero pensar nisso agora.

– Eu sinto muito que tenha que passar por isso. Você vai contar para sua mãe o que está acontecendo?

– Preciso, acho que vou precisar ficar na casa dela por um tempo, até eu conseguir me ajustar por aqui.

– Eu ainda tenho meu antigo apartamento, você pode ficar nele se quiser, meu pai estava pensando em alugar, mas eu sempre enrolo falando que isso é apenas dor de cabeça.

– Mas ter um imóvel sem uso hoje em dia é apenas gasto.

– Bem, se você aceitar, a partir de quando quiser ele terá uso, então de tudo não foi tal mal eu não ter vendido ou alugado.

– Se eu aceitar será somente se entrarmos num acordo de locação.

– Jamais, Kayla, você é da minha família agora.

– Então eu não aceito, Belinda… Nada disso de morar de graça.

– De onde saiu sua cabeça dura?

– Talvez da parte do meu pai, mas prefiro pensar que isso é uma qualidade minha.

– Qualidade? – Me olhou por um segundo. – Você é do contra.

– Ei, primeiro diz que minha cabeça dura não é qualidade e agora que diz que sou do contra? – Falei me virando totalmente pra ela tentando segurar o sorriso.

– Não falei para ofender, certo?

– E se ofendeu?

– Creio que terá que dormir ofendida. – Falou me observando por mais de um segundo.

– Posso até ficar ofendida, mas não tire os olhos da estrada. – Voltei a sentar reta no banco. – Mas não fiquei ofendida, sou realmente cabeça dura, mas aceitar me deixar morar de graça já é abuso.

– Não será totalmente de graça, sabe? As despesas serão suas… E eu irei cobrar sua companhia pelo final de semana.

– Tipo me fazer de refém das suas vontades?

– É assim que imagina?

– Você tem mania de responder uma pergunta com outra?

– Isso é problema para você?

– Você se sente confortável?

– Você não?

– Isso é um jogo?

– Parece um jogo?

– Não parece para você?

– Isso está começando a te irritar?

– Estou parecendo irritada?

– Em qual momento você começa a se irritar?

– Em qual momento você para?

– Eu posso passar a tarde inteira com isso, acredita?

– Se eu me irritar, vai arcar com as consequências?

– Haverá danos em minha pobre cabeça?

– Não é isso que está fazendo com a minha?

– Você é boa nisso, finalmente arranjei uma parceira de perguntas.

– Sou advogada, você deveria saber que a primeira coisa que tem em meu currículo é a habilidade de fazer perguntas.

– Tão humilde.

– Acima de tudo humildade. – Olhei para o lugar que estávamos e tentei identificar. – Acho que é na próxima saída, vai dar na avenida principal.

– Parece que você está um pouco mais perdida do que imaginava.

– Não vem com essa, só faz bastante tempo que não venho pra cá, mas seremos justas, vou colocar no GPS.

– Ela admite que está perdida. – Parou o carro no acostamento.

– Não precisava parar, essas pistas são perigosas, podemos ser assaltadas.

– Relaxa, coloca o endereço e já dou partida, a motorista precisa de um pouco de água. –  Pegou uma garrafinha na mochila que estava no banco de trás e tomou quase a metade do conteúdo. – Quer? – Peguei a garrafa de sua mão enquanto aguardava a rota.

– Viu, acertei, é na próxima saída mesmo. – Dei língua pra ela num gesto infantil.

– Qual a sua idade mental? – Repetiu a pergunta que eu havia feito na noite passada.

– Uns 4 ou 5 anos. – Sorri e ela deu a partida no carro novamente. – Não sei você, mas eu estou morta de fome.

– Quer parar e comer alguma coisa?

– Jamais, minha mãe deve estar fazendo um banquete, bem conheço a minha mãe, ela é nesse nível de cicerone.

– E, diga-se de passagem, que a comida dela é deliciosa. Acho que até abriu meu apetite. – Passou a mão na barriga e eu aumentei o volume do som, tocava Linger – The Cramberries, cantamos juntas até o final, aos berros dentro do carro. – Acho que esse foi o melhor show na estrada que já tive. – Falou pegando a saída indicada.

– Eu costumava sempre cantar no carro, na verdade eu costumava ser uma pessoa mais leve, e ontem de noite e hoje eu voltei a me sentir assim, deve ter a ver contigo, ainda não consegui definir bem.

– Eu sou uma pessoa incrível.

– Não fique se achando, acho que sua idade mental afeta todos ao seu redor. – Falei empurrando o ombro dela de leve com a mão e sem que eu percebesse ali ela repousou.

– Ainda sim me acho uma pessoa incrível. – Colocou sua mão na minha e ficou brincando com meus dedos e umas sensações estranhas começaram a me tomar naquele gesto, mas não tive coragem o suficiente para tirar a mão dali. – Ok, estamos na principal, pra onde eu vou agora? – Voltou a colocar as duas mãos no volante e apontei a rua que levava até a casa da minha mãe.

– Só pegar a Rua Angra Azul e seguir por ela. Te mostro qual a casa. – Em menos de 5 minutos estávamos estacionando em frente a casa. – Ô de casa. – Bati palmas pegando as minhas bolsas de roupa.

– Kaykay, Bela, chegaram bem na hora do almoço. – Minha mãe me abraçou e puxou Belinda para o abraço também. – Fizeram boa viagem?

– Graças ao GPS sim, Vera, sua filha como co-piloto é ótima em piadas.

– Mentirosa, eu mostrei o caminho, só quis ter certeza.

– Meninas, sem briga, o importante é que chegaram. – Bela me deu língua quando minha mãe virou de costas.

– Você ouviu a Vera, sem brigas. – Dei língua pra ela também e entramos. O almoço foi tranquilo e a paz reinava dentro daquele lugar, Maurice, minha mãe, Belinda, Clara, tia Lena e eu conversávamos sobre a vida, sobre a infância e preparativos para o casamento.

– Só espero que a Kaykay não derrube nada. – Tia Lena disse, estávamos sentados perto da piscina aproveitando o sol.

– Não sou mais tão desastrada.

– Mas por precaução é melhor ficar longe de qualquer coisa de vidro. – Todos sorriram com o comentário, menos eu, claro, quem é que gosta?

– Não vamos pensar nisso agora, o que farão mais tarde, meninas?

– Eu só penso em dormir, ainda não posso acreditar que minha mãe me acordou cinco e meia da manhã.

– Estava pensando em sair um pouco, tomar um vinho, dançar, quem sabe!? Vem também, Clara.

– É, vai ser legal alguém com a mentalidade de alguém normal, além da minha pessoa, é claro!

– Iiiih, você hoje tirou o dia pra caçoar da minha cara, Kayla.

– Estou apenas devolvendo o que recebi.

– Não lhe dei nada além de carinho e atenção, está vendo, Vera, como ela me trata. – Todos rimos com o drama.

– Eu estou é vendo que quando estão juntas voltam a ser crianças, vê, Maurice, vamos já já ter que puxar a orelha das duas.

– Não me coloque nessa, elas já são bem grandinhas.

– Mudando de assunto, vem conosco, você, Maurice e tia Lena, assim vamos nos divertir mais.

– Acho que nós, pobres senhores de idade, não temos mais pique para isso, mas as três devem ir. Mas não voltem tarde, estamos combinando de ir até Ilha Grande.

– Eu adoro aquele lugar. – Falei.

– Então não se demorem muito na Rua, vou entrar e preparar um café.

– Vou com você mãe, preciso conversar com a senhora. – Olhei para Belinda e ela fez sinal positivo com a cabeça. Contei tudo que havia acontecido na noite anterior e o que vinha acontecendo com menos gravidade, mas ainda sim acontecendo. Minha mãe estava sentada à mesa, segurando minha mão esquerda enquanto eu gesticulava com a direita. – Então eu o denunciei ontem, pedi medida restritiva de distância.

– E como fará, minha filha, tudo que é seu está por lá.

– Bem, os documentos que são mais importantes estão comigo, lá apenas coisas materiais e muitas delas ele já destruiu, me mandou uma foto hoje, provavelmente logo assim que recebeu a intimação.

– Minha Nossa Senhora, esse rapaz é completamente desequilibrado.

– É o que parece, mãe, meus planos agora são ligar para o escritório, ver uma melhor solução com eles e voltar para o Rio de Janeiro.

– Vai ficar comigo!

– Talvez, mas a Bela me ofereceu o apartamento dela também, disse que está fechado desde que foi trabalhar na Itália, mas o grande problema é que não quer me deixar pagar por ele…

– Não foi bem assim, você vai pagar apenas as contas, condomínio, ele já está parado há tanto tempo que receber algo de você que é alguém que já cativou minha amizade e carinho, acho totalmente injusto.

– Viu, minha filha, aceite, é de bom coração, mas se preferir também pode ficar com a mãe até pensar melhor na proposta da Bela. – Olhei para ela que estava segurando três copos e logo veio com a jarra de água.

– Nada melhor que encerrar essa conversa com água para limpar o corpo. – Ela levantou o copo e fizemos um tim-tim.

– Viu como essa menina é especial, Kaykay?

– Estou vendo, mãe, pena que longe da senhora ela gosta de mostrar o seu lado mais obscuro. – Minha mãe me olhou, seguida de Belinda. – E ainda sim é o mais iluminado e cativante que já conheci. – O sorriso que Bela me lançou foi tão lindo e meigo que me deixei observá-lo enquanto sorria de volta.

– Enquanto as moças estavam conversando eu procurei alguns lugares para irmos, Kayla, achei um que é como uma balsa, achei bem interessante.

– Eu gostei, já falou com a Clara?

– Sim, ela disse que uma amiga de longa data a chamou para ir ao shopping, bem, creio que não poderemos disputar com essa concorrência.

– Então será apenas a Bela e a Fera. – Apontei respectivamente para ela e para mim.



Notas:

Olá! Perdoem essa que vos fala, pela demora a postar o capítulo, mas peguei uma gripe capaz de derrubar lutadora de MMA. 

Espero que estejam curtindo a história, logo as coisas começam a acontecer entre Kayla e Belinda… É uma promessa. Até logo ;*




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