Who You Are

Capítulo 25 – Uma coincidência desagradável

Estávamos andando no corredor, os olhares claramente se direcionando ao nosso grupo, principalmente para mim. Jill estava do meu lado direito com Lilly ao lado dela, do meu lado esquerdo, um pouco atrás, estava Carlos. Os outros tinham ido na direção de seus armários ou salas. Jill e eu teríamos a aulas juntos, mas Carlos e Lillan teriam aula em uma sala próxima a nossa. Estávamos a uns cinco metros do corredor certo onde deveríamos virar quando nos deparamos com alguém que não esperávamos ver tão cedo.

Mattheus estava escorado em alguns armários próximo a vários outros atletas quando nos viu. Imediatamente ele se desencostou e parou a nossa frente impedindo nossa passagem e ficando cara a cara comigo. Achei que ele seria inteligente e não diria nada, mas acho que superestimei a inteligência dele.

– Você pode ter dado sorte, mas a sorte não vai te ajudar por muito tempo – falou ele apontando o indicador direito na minha direção com ódio nos olhos.

– Nós dois, e seus amigos, sabemos que não teve nada a ver com sorte o que aconteceu na sexta – respondi não me intimidando com a postura dele, mas aparentemente isso o irritou e ele avançou um passo, mas foi segurado por um braço por um dos amigos que tinha próximo – Seja racional, Mattheus. Não vai querer que o mesmo de antes aconteça aqui, no meio de todo mundo, com tantas câmeras gravando o desenrolar dos fatos – falei tentando por alguma racionalidade nele, mas aparentemente não funcionou.

– Certo, você está se achando mesmo. Não é? – ele falou rindo e então continuando alto o bastante para todos no corredor poderem ouvir – Está amando ser confundido com o filho de duas famosas. Até porque, a ideia de você ser alguém importante além de hilária é completamente fantasiosa – ele disse e riu alto sendo acompanhado por algumas pessoas.

– Também me admira que você seja filho de alguém importante – falou Jill se colocando ao meu lado com um sorriso largo – Afinal, esse tipo de boa família não deveria ter filhos trogloditas e com tão pouca massa encefálica funcional.

Num primeiro momento achei que ele não seria capaz de entender as palavras dela, mas depois de algum tempo ele pareceu entender alguma coisa ou então apenas assimilou o tom debochado que Jill usou.

– E você, afinal, quem é? Porque, até onde eu sei, de importante você não tem nada – disse ele fazendo uma expressão de desgosto e superioridade – Aliás, pensando bem. Talvez esses boatos sobre você sejam mesmo verdades, Anderson – ele continuou ignorando Jill e me encarando com um sorriso de escárnio – Afinal, só sendo criado por duas vagabundas como elas para se transformar nessa coisa nojenta de gay disfarçado como você é.

O corredor todo ficou em silencio. Senti Jill e Carlos ficarem tensos, mas não sabia se era de raiva do que ele havia dito ou de preocupação por conta da minha reação. Já eu fechei as mãos em punhos e deixei minha mochila escorregar até o chão tomando uma longa e profunda respiração antes de responder.

– Se eu fosse você – disse com uma calma que eu definitivamente não tinha mais – Tomaria mais cuidado ao falar das minhas mães.

– Ah é? Porque? O que um nerdzinho homossexual como você pretende fazer? – ele perguntou colocando as mãos na cintura e me encarando como se não acreditasse que eu fosse capaz de reagir – Acha que tenho medo de esfregar essa sua cara irritantemente nojenta no chão só porque estamos no meio da escola toda?

– Na verdade achei que seria um pouco mais inteligente para não querer se humilhar publicamente em um novo confronto comigo – respondi com o meu melhor sorriso cínico – Afinal, eu até deixei você me acertar uma vez, mas quem acabou com óculos escuros que não disfarça nem metade do olho roxo foi você.

– Eu vou acabar com você, Anderson – falou Mattheus se aproximando até estar a um passo de mim e me encarando com raiva, mas a voz dele estava mais baixa – E não vai haver nada nem ninguém capaz de te ajudar. Muito menos as lésbicas nojentas que você chama de mães. Aliás, envolva as duas nisso que eu vou até adorar. Porque você pode não ser homem o bastante, mas eu sou – ele completou com um sorriso nojento e eu quase avancei socando a cara do desgraçado, mas por ter tentado me segurar não fui rápido o bastante.

Quando pisquei Mattheus estava dois passos para trás com a mão contra o lado esquerdo do rosto encarando a nossa direção com os olhos arregalados e a boca aberta. A minha frente estava Carlos com uma expressão de raiva e o rosto vermelho, assim como sua mão direita que estava em frente ao seu corpo.

– Quem você pensa que é seu filho da puta? – gritou Mattheus tentando avançar contra Carlos e sendo segurado pelos amigos – Eu vou destruir você. Seu imigrantezinho de merda!

Ele escapou dos outros e veio para cima de Carlos. Puxei meu amigo para trás pela camisa e empurrei Mattheus de volta contra os amigos que voltaram a segurá-lo com mais força.

– Mas o que é que está havendo aqui senhores?! – soou a voz autoritária, todos paramos para olhar o ponto um pouco atrás de Mattheus.

Vi o homem de meia idade atravessar o aglomerado de estudantes que havia se formado em volta de nós. Era o Diretor Simons que vinha acompanhado de um dos professores do conselho de professores. Seu terno impecável, como sempre, na cor preta. O cabelo curto e bem penteado e o olhar duro acompanhado da expressão séria comum a ele. Os alunos foram se afastando aos poucos, alguns saíram discretamente, mas a maioria continuou ali para ver o resultado da confusão.

– Vocês dois outra vez – murmurou o homem parando ao nosso lado – Para quem nunca havia me trazido nenhum problema você, Sr. Anderson, resolveu se envolver em muitos em tão poucos dias.

– Eu sempre procuro evita-los ao máximo – respondi sério e voltei meu olhar para Mattheus que já não estava mais sendo segurado pelo amigo – Infelizmente, Diretor Simons, essas situações inconvenientes parecem estar vindo atrás de mim.

O diretor olhou entre nós e então fez uma expressão desgostosa. Parecia irritado com toda a movimentação que estava ocorrendo hoje e eu não o culpo.

– Não tenho tempo para confusões pequenas, vou relevar esse tumulto pois há coisas mais graves a serem tratadas – disse ele soltando um suspiro.

– Mas Diretor! Eu acabei de ser agredido! – Mattheus resolveu se pronunciar com raiva e apontou na direção de Carlos que estava atrás de mim – Não admito que ele saia sem punição alguma depois de me agredir fisicamente. Você tem obrigação de tomar alguma atitude Diretor Simons!

Vi o diretor olhar para todos nós considerando a situação. Sabia que se não interferisse provavelmente Mattheus fizesse algo acontecer com Carlos e não pretendia permitir que isso ocorresse.

– Devo ressaltar, Senhor Diretor, que não sou a favor de agressão de qualquer forma em que ela se apresente – falei chamando a atenção de todos para mim, mas direcionando meu olhar sério para Mattheus – Entretanto, se vamos julgar agressões aqui, tenho o dever de deixar claro que o Senhor Corbb não foi aleatoriamente agredido. Afinal, se meu amigo reagiu da forma que reagiu contra ele foi por causa das agressões verbais que ele proferiu contra mim e minha família – vi que Mattheus iria dizer algo, provavelmente para fingir-se de inocente e acrescentei – Tenho certeza de que o senhor pode conseguir o relato e até algumas imagens do que acabou de ocorrer se interrogar alguns dos presentes no corredor. Não isento o Sr. Rodrigues de sua culpa, mas ele apenas reagiu de forma mais enérgica do que o necessário ao me defender.

O diretor olhou entre todos os, aparentemente, envolvidos. Carlos estava ao meu lado de cabeça baixa e retraído, realmente parecendo arrependido da sua atitude, que não se poderia ser negada tendo em vista a coloração avermelhada de sua mão direita. Mattheus tinha uma pequena marca avermelhada no maxilar, mas nada que parecesse realmente muito sério. Os olhares do diretor ainda se voltaram para s alunos em volta que apenas assistiam ao que ocorria ali.

– Isso é completamente Ridículo! – falou Mattheus soando indignado – Eu exijo que ele seja punido.

– Pois então exigirei que você também seja – respondi impedindo que ele continuasse com seu discurso de falsa vítima.

– Já chega! – o diretor elevou a voz interrompendo ambos de nós – Eu vou tratar disso mais tarde. Como disse antes, há assuntos mais urgentes e importantes a serem tratados agora. Quanto a vocês – ele apontou para mim e, consequentemente, para Jill, Lillian e Carlos que estavam as minhas costas – Quero todos longe de problemas. Não vou tolerar vocês se envolvendo em mais confusões. Agora, me acompanhe até a minha sala Senhor Corbb – disse ele se virando para Mattheus que arregalou os olhos.

– Mas diretor! Não pode me culpar assim por nada – falou ele indignado e ainda se fingindo de inocente – Não vou admitir que eu seja…

– Quieto! – quase gritou o Diretor Simons fazendo todos os alunos se assustarem já que nunca haviam visto o homem se exaltar – Eu que não irei admitir que continuem me contrariando. Não sou eu quem solicita sua presença. Já estou sendo bom demais cedendo minha sala para essa situação embaraçosa. Agora, me acompanhe, Senhor Corbb, seu advogado lhe espera na minha sala – disse o diretor começando a caminhar e o professor que o acompanhava colocou uma mão sobre o ombro de Mattheus fazendo-o acompanha-los – O resto de vocês, para as suas salas. Imediatamente – completou o Diretor antes de se afastar demais do grupo de alunos ainda parados no mesmo lugar.

O resto dos alunos começou a se dispersar rapidamente, mas nós nos aproximamos dos armários, saindo do meio do corredor. Minha mente ainda estava raciocinando a velocidade com que Joshua e Tia Mel haviam colocado o tal processo contra Mattheus para frente. Mas eu também tinha outra coisa em minha mente e, por isso, segurei um dos braços de Carlos fazendo-o me encarar.

– Como está sua mão? – perguntei e ele pareceu envergonhado.

– Não tem que se preocupar – ele respondeu soltando um suspiro – Me desculpe por reagir assim. Sei que não deveria. Você não caiu nas provocações, mas eu acabei me deixando levar. Sinto muito mesmo por isso.

– Eu entendo porque reagiu – falei com um suspiro também, ainda estava forçando meu autocontrole quanto aquilo – Mas uma coisa não podemos negar. Foi um belo soco – tentei amenizar o clima e Carlos riu sem graça.

– Pra quem não sabe socar, acho que até pode ter sido – ele resmungou dando de ombros.

Queria dizer algo a mais, mas o sinal indicando o início do primeiro período de aulas tocou nos fazendo correr para nossas salas. Mas a expressão de Carlos não me saiu da cabeça pelos próximos minutos. Ele era um apaixonado por UFC, mas tinha na própria cabeça que não sabia socar. Vinha de uma família latina e tinha primos envolvidos com coisas não corretas e perigosas, mas não se deixava ir para aquela realidade mesmo aparentando ser alguém quieto e até fraco. Algo mais havia ali e eu iria descobrir, já até tinha um plano para como fazer isso.



Notas:



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