BRINCAR DE COLORIR

11. Intenso – que se manifesta ou se faz sentir com força, com vigor, com abundância, que ultrapassa as medidas ou o grau habitual; febril, excessivo, árduo.

Na manhã seguinte, depois que Marcela vai embora, Serena manda uma mensagem para Luísa:

“bom dia Lu, como vc tá?”

Quase na sequência vem a resposta:

“oi Serena, estou meio confusa, mas bem. E vc?”

“tô chateada, nunca poderia imaginar que a Laís e vc estivessem juntas…logo vc que me aconselhou tanto…”

“a vida traz essas surpresas.”

“queria conversar com vc, podemos marcar hj?”

“sim, que tal no parque hj depois do almoço?”

“na mesma árvore?”

“sim!”

“até logo, bjs”

“bjs”

Serena chega antes e se senta no banco para esperar Luísa, que chega depois de alguns minutos. Se abraçam.

– Que bom que você veio! – diz Serena.

– Imaginei que seria bom conversarmos Sê.

– Não sei bem como começar….

– Olha linda, sei o que sente pela Laís. Sei que ela agiu como uma idiota com você, mas também sei que estou apaixonada por ela.

Serena a olha e por um segundo fica com medo de falar o que pretende fazer.

– Sabe, esse lance com a Laís ficou meio estranho. Quero colocar um ponto final nisso.

– Acho que já deveria ter feito antes. Se for esperar a Laís tomar a iniciativa, vai cansar. Estamos poucos meses juntas, mas já a conheço um pouco para saber que ela tem medo do que sente por você Serena.

– Ela foi uma cretina comigo…

– Sim, por puro medo.

– Pensei em ir falar com ela, falar tudo que senti e passei.

– Sentiu ou ainda sente Sê? – Luísa tira os óculos escuros e encara Serena.

Ela fica em silêncio, abaixa a cabeça e pensa em Marcela, no quanto é bom ficar com ela e como é fácil a relação das duas. Depois lembra dos momentos com Laís.

– Eu e a Marcela temos uma linda relação sabe? Gostosa, boa e alegre. Ela me faz bem e me deixa leve.

– E com a Laís?

– Tenso e pesado.

– Por que não vai a casa dela hoje e resolve de uma vez?

– Adoro você Lu, não quero de forma alguma te magoar.

– Sê eu sei e também adoro você, se tem alguém que pode me magoar sou eu mesma e a Laís. É com ela que namoro. Você só foi uma vítima do medo que ela tem de se relacionar.

As duas se abraçam e Serena diz:

– Vou mandar uma mensagem pra ela, ver se podemos conversar hoje.

– Ela não vai responder. Ela ficará em casa hoje, simplesmente vá até lá e fale.

– Você acha?

– Sim. Pra que adiar? Pra doer mais um tempo? Pra deixar todas com uma interrogação na cabeça?

– Vou sim, vou agora então! Já acabo com essa coisa mal parada.

Se despedem e Serena vai rumo à casa de Laís. Luísa ainda no banco, apenas contempla a paisagem e se perde em seus pensamentos, sente um medo querendo brotar dentro do peito.

O interfone toca e Laís se assusta quando o porteiro diz que Serena está lá. Libera sua subida e corre para se olhar no espelho. A campainha toca e ela abre a porta.

– Oi Serena.

– Oi Laís, posso entrar?

Laís faz um gesto para que entre. Serena senta no sofá.

– Que surpresa você aqui. – sua voz demonstra seu nervosismo.

– Acho que adiamos muito essa conversa. – Serena diz de forma seca.

Laís se senta na outra ponta do sofá, fica quieta, esperando Serena falar.

– Olha Laís, eu tentei, de verdade. Por quase dois meses. Você apenas sumiu. Sei que foram três encontros, mas eu sei o que senti e não acredito que a gente meça sentimento pelo tempo.

Laís a olha e mexe a cabeça concordando. Serena continua.

– Por quê?

– Serena, primeiro quero te pedir desculpas. Sei que fui uma imbecil com você.

A menina cor de leite apenas a olha, com uma expressão de raiva.

– Eu também me envolvi com você, aliás, de um jeito que nunca consegui antes. Também aprendi a não medir sentimentos pelo tempo. Eu de fato me entreguei a você e isso me deu muito medo.

– E esse medo te fez sumir? Achou que seria o melhor a fazer?? – seu tom está ainda mais ríspido.

– Serena a gente mal se conhece. Somos tão diferentes, nunca falamos das coisas em que acreditamos, dos nossos objetivos…

– E não seria simples apenas conversarmos ao invés de você simplesmente me ignorar??? – a corta.

– Você tem razão, agi de forma imatura.

– Você foi cretina!!!!

Laís percebe a alteração de Serena, tenta não brigar, quer resolver a situação de uma vez por todas.

– Olha Serena, peço desculpas de coração!

Serena não esconde seu choro, deixa que ele expurgue todo sentimento ruim e a dor que estavam dentro dela. Laís senta ao seu lado e a abraça.

– O que tá fazendo??? – Serena se levanta com raiva.

– Calma, só queria te confortar.

– Vá pro inferno Laís!!!! – ela já está gritando.

– Se você ficar assim, não vamos resolver isso!

– E o que você sugere, bonita???? Que a gente se abrace, eu te perdoe e você fique livre do remorso???? – diz andando de um lado ao outro da sala.

– Não Serena. Apenas acho que você deve se acalmar. Quer beber alguma coisa?

A menina não diz nada, Laís vai até a cozinha e serve duas taças de vinho.

– Toma, vai te acalmar. – estende a taça para Serena.

Ela bebe quase que de uma só vez. Serena começa a chorar ainda mais, Laís vai até ela e a abraça.

– Calma Serena!

Ficam abraçadas por um bom tempo.

– Por que não tentou ao menos Laís?

– Menina, menina…. é uma resposta que não sei direito. Medo talvez.

– Não cobrei, não invadi seu espaço, só queria tentar sabe? Poderia ter sido bonito…

Laís beija a cabeça de Serena e a enlaça com carinho.

– Poderia….

Ficam quietas. Laís sente seu coração bater descompassadamente. A menina de cabelos cor de fogo mexe com ela de uma forma intensa. Seu corpo reage instintivamente ao seu contato. Por mais que a situação fosse ruim, ela se sente em paz dentro do abraço de Serena. Percebe nesse momento quantas saudades tinha dessa menina.

Sem se darem conta, o beijo acontece. O abraço se intensifica. A urgência toma conta de ambas. Quando percebem, estão nuas deitadas na cama. Se entregam, deixam os corpos conversarem, os sentimentos aflorarem, sem palavras. O gozo vem junto para as duas. Serena deita no peito de Laís.

– E agora Laís? – a voz sai baixa e com uma ponta de receio da resposta.

– Sabe, o que acabou de acontecer foi tão natural e tão bom…

– Mas foi errado, temos namoradas….

– Sim, foi errado, mas tão inesperado. Tenho certeza que você não veio com essa intenção.

Serena levanta a cabeça e a encara.

– Claro que não!!!

Laís a puxa num abraço terno, beija sua boca e diz num tom delicado:

– Menina o que a gente sente é muito intenso. Mesmo você gritando comigo, só queria te beijar, te abraçar…

– Não devia ter acontecido, não assim. A Marcela e a Luísa não merecem isso.

– Não, mas concorda que isso tudo foi mais forte do que esperávamos?

– E agora Laís? Como vai ser?

Laís pensa por um momento.

– Sua proposta ainda está de pé?

Confusa Serena a olha.

– Que proposta???

– A de me colorir…

– Você se lembra disso??

– Claro! Não tem um dia que me esqueço Serena.

-Você foge….tem medo…não quero mais isso pra mim…

– Eu tentei todos esses meses te esquecer. Investi na relação com a Luísa, querendo de verdade que desse certo. Mas hoje…hoje ficou muito claro pra mim.

– O que ficou claro Laís? Diz com todas as letras por favor…

– Serena quero te conhecer, quero perder meu medo. Quero você. Me ajuda?

Serena fica etada com a declaração da mulher com olhos de neblina.

– Nossa…não esperava isso…de jeito algum…

– Quer me colorir menina??

– Tenho medo de você sumir de novo….

– Prometo que não sumirei. Estou sendo absolutamente sincera. Não posso garantir que será para sempre, mas vou me permitir. Você quer tentar Serena?

O medo e a dúvida invadem Serena. Pensa em todas as pessoas envolvidas, não quer magoar ninguém. O que sente por Marcela é algo bom e leve.  Ao mesmo tempo em que tem em sua frente, tudo o que há meses deseja.



Notas:



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