Marie Analyn d’Santuria, este era o seu verdadeiro nome. Fora batizada com o nome de duas rainhas famosas, das quais descendia diretamente. Ambas, mulheres fortes e sábias, que guiaram Midiane para uma Era de prosperidade em seus respectivos reinados.

Mas, no palácio, apenas Analyn era utilizado, já que sua falecida mãe também se chamava Marie, a terceira com este nome em sua linhagem. Então, o primeiro nome caiu no esquecimento do povo, sendo utilizado apenas em cerimônias oficiais. Mas a irmã caçula, Emya, sempre a chamava por ele na intimidade. E, quando ingressou na Ordem, escolheu ser reconhecida somente por ele; o que veio a calhar para mantê-la em sigilo.

Embora títulos de nobreza não importassem na irmandade, estava certa de que alguns a tratariam diferente se soubessem a verdade. Preferiu o anonimato, ciente de que isso tornaria sua vida mais fácil em muitos aspectos.

O crepitar do fogo capturou a atenção de todos por algum tempo. Era como uma balada envolvente para a qual ansiavam se entregar a fim de escapar da realidade. Mas não podiam fugir dela por muito tempo e necessitavam falar sobre os próximos passos e traçar novos planos.

Fantin resolveu ser a primeira e foi direta, como sempre:

— Se ela descobrir na Cidade dos Eleitos, será pior.

Não se deu ao trabalho de ocultar o desagrado pela situação, assim como acontecia sempre que tocava no assunto. Jamais aceitaria que Marie estava destinada a pertencer àquele monstro.

Quando a grã-mestra lhe contou o que a chegada de Lorde Verne e companhia a Ilha Vitta significava, recusou-se a acreditar. Por um tempo, não teve palavras, e quando elas retornaram à sua garganta, expressou toda a sua indignação de uma forma nada condizente para uma mulher adulta e mestra de uma irmandade que apreciava a paz. Com certeza, surpreendeu Melina quando começou a chorar e, desde essa conversa, não conseguia mais olhar para Marie sem sentir um nó a se formar na garganta.

Não que fossem as melhores amigas, mas tinha um carinho especial pela mestra. E, de certa forma, Marie e Melina eram o mais próximo que tinha de uma família. Sim, a Ordem inteira se via dessa forma, uma grande família; mas no meio de tanta gente, era natural firmar laços mais profundos e estreitos com as pessoas mais próximas no seu dia-a-dia. E, desde que se lembrava, aquelas duas sempre estiveram ao seu lado.

Após as lágrimas e gritaria, veio uma ingrata sensação de traição. Ainda que soubesse que essa não era a realidade. Ao longo daqueles minutos relembrando a conversa que teve com Virnan e outros tantos momentos que presenciou nos anos de convivência, pegou-se a pensar em como a guardiã reagiria ao se deparar com essa verdade, no mínimo, inquietante. Se ela gostava de Marie como demonstrava, descobri-la na Cidade dos Eleitos não seria nada agradável. Não que pudesse ser menos intragável em qualquer outro momento ou lugar.

— Se tem mesmo que fazer essa idiotice de sacrifício, o faça em paz com todos que te amam, principalmente, com ela. — Concluiu.

No fundo, desejava que a guardiã aprontasse das suas loucuras e acabasse por impedir a cerimônia. Mas então, relembrava o que aconteceu com Melina, quase cinquenta anos antes, e as consequências para Caeles. Uma angústia profunda a tomava e se adensava sempre que recordava a sua incapacidade de fazer algo para salvar a amiga.

A princesa abriu os lábios e, em vez de “falar”, como desejava, expulsou o ar dos pulmões, afundando a vista nas chamas da fogueira, que jamais seria capaz de alcançar o fogo que queimava em sua alma. Fantin e a tia estavam com a razão, Virnan precisava saber da verdade; o problema era que, em relação a guardiã, nunca conseguiu se preparar para dizer “adeus”.

Abandonou a contemplação do fogo.

As coisas não deveriam ser assim. Ela nem deveria fazer parte desta viagem ou saber a verdade antes que tudo estivesse feito! O planejado é que eu tivesse de ir com Alina em uma missão de cura em Primian. E, de lá, seguiríamos para Midiane, para que pudesse me despedir dos meus familiares antes de partir para a Cidade dos Eleitos. Mas isso tudo aconteceu…

Verne apertou os olhos, duplamente irritado. Primeiro, pelas novas percepções que causaram um alvoroço em seu peito, trazendo consigo uma dor tão profunda que, por um momento, sua visão nublou. Por último, porque não podia ler os sinais que ela fazia, pois quando conviveu com a princesa, ela ainda falava.

— Inferno! — Ele explodiu, pondo-se de pé. — Será que você poderia falar, pelo menos um pouco? Eu não consigo entender esses sinais idiotas!

Do outro lado da fogueira, Alina atiçou as brasas com um galho, desprezando uma fagulha que lhe tocou a pele de aspecto alaranjado, graças à luz das chamas. Era a perfeita personificação da calma e chamou a atenção para si, sem demonstrar desconforto diante da expressão colérica do homem.

— Sabe que a princesa não pode falar muito, Alteza. Palavras tem poder e o dom dela é mais forte quando fala.

Largou o galho, desprezando a fúria que se adensava nele. Explicou, mantendo um tom de voz firme, apesar de suave:

— Com os ânimos inflamados, uma palavra pronunciada rápido demais ou incorretamente poderia ser muito danoso para todos nós.

Ele fez um barulhinho com a garganta, recordando à Mestra dos Escritos da Ordem, o rosnado de um cão. Ela tentou não revirar os olhos. Quando era apenas uma serva da Princesa Analyn, acreditava que esta não poderia ter um destino mais bonito do que casar-se com aquele homem.

Em sua juventude e ignorância, pensava que o mundo girava em torno daqueles nobres e que era uma privilegiada por servi-los. Eram todos altivos e inalcançáveis, mas a princesa se mostrou diferente. Analyn sempre a olhava nos olhos quando falava. Nunca lhe ordenava algo, pedia; sempre fazendo uso de palavras gentis.

Ela a enxergava e a todos os outros criados do palácio. Para a princesa, todos tinham nome e rosto. Seu modo de agir a fez muito querida e amada entre os servos e o povo. Era certo que seria uma grande rainha, mas o destino tinha outros planos e o mensageiro do cavaleiro chegou a Midiane, trazendo na ponta da língua a destruição de muitos sonhos.

Alina era a serva pessoal da princesa e quando esta decidiu se juntar à Ordem, implorou que a deixasse acompanhá-la. Jamais se arrependeu disso. A irmandade ampliou seus horizontes, deu novos objetivos e expectativas e lhe permitiu ser amiga, em vez de serva de uma princesa.

Embora não demonstrasse, havia um grande pesar em seu peito. A lógica lhe dizia que o sacrifício de Marie era necessário para o bem do seu povo, mas nem tudo podia ser medido dessa forma.

Como amiga, buscou encontrar um meio de evitar o sacrifício. Enterrou-se entre as prateleiras abarrotadas de livros e pergaminhos antigos do castelo, lendo avidamente tudo que fizesse referência a esse ritual, tentando encontrar mais informações sobre o cavaleiro, mas tudo era muito vago e vinte anos foram insuficientes para percorrer todas as estantes da biblioteca.

— Não me importa a dicção! — Verne grunhiu e voltou-se para Marie. — Estou farto do seu silêncio! Ou será que guardou sua voz apenas para os ouvidos daquela mulher?

Não… Marie iniciou, mas se interrompeu e suspirou, exasperada. Mirou a grã-mestra, com ar impotente. Fazia um pedido silencioso.

A velha lhe sorriu, complacente, e deslizou a mão sobre o pingente em seu pescoço num gesto nervoso, ao mesmo tempo em que prendia a língua para não aumentar a tensão que se estabeleceu. Certamente, Lorde Verne merecia ouvir tudo o que Virnan lhe disse naquela estalagem, mas, aparentemente, não foi o suficiente. Cerrou os olhos, limpando a mente de todas as preocupações. Pouco a pouco, uma suave aura mágica se espalhou em volta do acampamento.

— Está tudo bem — meneou a cabeça. — Mas seja rápida, não me encontro na melhor das formas, graças a correria e emoções dos últimos dias.

Marie balançou a cabeça, agradecida. Limpou a garganta e falou:

— Não se trata de nós, Verne.

Um arrepio percorreu a coluna do lorde ao ouvi-la pela primeira vez em vinte anos. O coração disparou, apertado de saudade da época em que passavam horas conversando nos jardins do palácio.

Ela mantinha-se equilibrada, embora estivesse contrariada por ser obrigada a ter aquela conversa diante de outros. Contudo, não poderia fazê-lo com sua própria voz se não fosse pela magia da tia, que evitava que seus dons emergissem e acabassem por sugar a magia e força vital dos presentes.

Ainda que a grã-mestra gostasse de falar que todos os dons eram dádivas, sempre encararia o seu como uma maldição.

Fantin se remexeu, inquieta. Tirando o momento quando conjurou o nevoeiro, jamais ouviu a amiga. Acabou por concluir que a voz rouca, suave e baixa, combinava com ela. Decerto, era bastante agradável e imaginou como teria sido conviver com uma Marie falante ao longo daqueles anos.

Se perguntou se ela teria aquela mesma calma resignada ou expressaria seus dissabores com a mesma rapidez e língua afiada que Virnan possuía.

Com um movimento brusco, se pôs de pé, pegando a mão de Alina e dando uma tapinha nada gentil nas costas de Fenris.

— Venham. Esse assunto não nos diz respeito.

Empurrou os dois em direção ao riacho, recebendo um olhar agradecido de Marie, que tomou um alento e voltou a se concentrar no lorde.

— Sinceramente, acho inútil retornar a uma conversa que tivemos há vinte anos. Pensei que tudo tivesse ficado claro e resolvido naquela época. — Afastou alguns fios de cabelo do rosto, usando de muita força de vontade para que ele não notasse o tremor na mão. Falar sempre a deixava em pânico, diante do que poderia acontecer aos ouvintes.

— Resolvido?! Nada ficou resolvido! Você tomou uma decisão unilateral e me obrigou a aceitá-la. Me forçou a levá-la para aquela ilha e lhe dizer adeus, como se o que sentia não lhe importasse!

A mestra endireitou a postura, adquirindo um ar quase sombrio. A dureza das feições acentuou a das palavras, embora não tivesse alterado o tom.

— Não seja infantil. Nós crescemos juntos e estávamos prometidos, mas quis o destino que fosse eleita. Nunca houve e não há nada que possa ser feito quanto a isso. Deveria ter permitido que se prendesse a mim, quando eu já estava condenada?

— Sim! Você desistiu rápido demais! — Ele acusou.

Ela circundou a fogueira, chegando mais perto dele.

— Você mesmo disse naquele navio, em centenas de anos, ninguém conseguiu descobrir uma forma de evitar o sacrifício e, quando algo próximo disso aconteceu, há cinquenta anos, as consequências foram devastadoras.

Olhou para Melina, desmanchando a severidade.

— Desculpe, Tia.

A idosa limitou-se a aquiescer, como se aquilo não lhe ferisse, mas sempre que o assunto vinha à tona, seu pesar transparecia. Decidiu concentrar-se na tarefa de cercear os dons da sobrinha e fixou o fogo, abstraindo-se da conversa.

— Acha que isso não me machucou, também? Acha que não tive medo? Que não sofri por ter de partir?

Ela falava devagar, ainda que desejasse gritar, mas temia que a barreira que Melina impunha aos seus dons não pudesse suportar esse desabafo.

— Você poderia ter tido vinte anos… — Verne insistiu, agarrando-se àquela mágoa para sustentar seu argumento.

A mestra escorregou a mão pelos cabelos em um gesto puramente nervoso.

— Nós não tínhamos um futuro juntos — proclamou.

— Construiríamos um! Procuraríamos uma solução juntos, mas você preferiu fugir e se enfiar sozinha naquela ilha!

Ela gemeu, revelava a irritação. O encarou profundamente, fazendo-o se perguntar se perscrutava sua alma.

— Eu fiz escolhas que o magoaram porque também fizeram uma escolha por mim. Não irei lhe pedir desculpas, se é isso que está buscando.

Sabia que, no fundo, era aquilo mesmo. Verne desejava que ela se arrependesse por tê-lo feito sofrer ao escolher passar seus últimos anos na Ordem, em vez de ficar ao seu lado.

— A Ordem segue uma filosofia que sempre me agradou e quando meus dons despertaram, um pouco depois da eleição, foi natural pedir o auxílio da minha tia que, como ex-eleita, poderia me orientar para a cerimônia. E, como grã-mestra, me ajudaria a dominar a magia. — Seu semblante voltou a parecer áspero, ainda que continuasse falando de forma branda.

Contemplou o rosto dele, cansado e marcado pelos anos. Uma tristeza saudosista a tomou, trazendo a certeza de que nunca amou Verne como ele a amava.

As pessoas lhe diziam que estavam prometidos desde que eram recém-nascidos, que formavam um casal bonito, que eram perfeitos juntos. Então, sempre lhe pareceu natural a ideia de que um dia pertenceriam um ao outro. Quando o reencontrou no castelo da Ordem, após tantos anos, confirmou o que descobriu nos primeiros meses de ordenada. Nunca o enxergou como um amante.

Apreciava sua companhia, o sorriso cálido, a gentileza e bondade, as horas conversando sobre os mais variados assuntos. Deixou que isso lhe bastasse e enganou-se, acreditando que isso era paixão. Contudo, sempre foram amigos, nada mais. E a maior prova disso era o modo como se sentia quando Virnan estava por perto, fazendo seu coração disparar com um sorriso; reação que Verne jamais lhe causou.

O lorde fez menção de falar, mas ela continuou sem lhe dar espaço. Relembrava-o de algo dolorido.

— Você sabe que quase matei Emya quando meus dons afloraram.

Marie só tinha pedido a irmã caçula que lhe desse água. Jamais imaginou que a palavra era parecida com uma linguagem mágica antiga e significava alma. Angústia e culpa lhe envolveram, trazendo a recordação do terror que foi ver aquela luz multicolorida deixar o peito de Emya.

Felizmente, um dos ministros do reino estava passando diante do salão de refeições, onde as duas princesas estavam, e ouviu os gritos dela. Por ser um mago habilidoso, o ministro conseguiu anular a invocação, mas não sem ter uma grande dificuldade. Ele percebeu logo do que se tratava e a instruiu após o acontecido, recomendando que evitasse falar.

Ela ofereceu um sorriso sofrido para o ex-noivo. Verne recordava o episódio que a deixou transtornada. Depois dele, Analyn se tornou reservada e taciturna.

— Eu tentei por algum tempo, você sabe. Mas sentia esse poder crescer dentro de mim como uma raiz maléfica revolvendo minhas entranhas.

Fitou as mãos.

— Aquilo atormentava meus sonhos e, por um tempo, não consegui olhar para Emya sem chorar. Não poderia continuar vivendo daquela forma, com medo de falar algo e matar alguém, enquanto definhava esperando o dia do despertar do Cavaleiro. Estava decidida a não ir adiante com nosso compromisso e precisava aprender a controlar esse poder para manter vocês seguros. Hoje, o domino, mas fui privada de expressar meus sentimentos e vontades com a minha própria voz. Não fosse por minha tia, não estaríamos tendo esta conversa agora.

Voltou a fitá-lo e se aproximou um pouco mais.

— Mas isso tudo é passado e esta é a última vez que falaremos dele. Então, por favor, pare de agir como um idiota!

Melina virou a face para ocultar um sorrisinho de satisfação. As pessoas tendiam a julgar Marie, embora fosse uma mestra da Ordem, como uma pessoa delicada demais. Alguém que necessitava ser cuidada e protegida. Ela certamente foi assim quando vivia na corte. Mas sua estadia na Ordem trouxe à tona sua verdadeira natureza.

Ela era gentil, serena, mas também era firme, forte e decidida. Estava surpresa por ela não ter lhe pedido para permitir aquela conversa antes, pois logo ficou claro, no navio, que o modo como o lorde agia a estava desagradando. Imaginou que a presença de Virnan a tivesse segurado.

— Eu segui em frente, você também.

Verne inspirou fundo, reunindo seu orgulho. Tinha muito a dizer, mas estava claro que seria inútil. Mesmo assim, alfinetou:

— Em algumas semanas você estará morta e, pelo que aquela guardiã disse, não restará uma alma para seguir rumo as Terras Imortais. Chama isso de seguir em frente?!

A mestra sorriu, lhe causando estranhamento.

— Chamo isso de escolha. Eu poderia ter fugido desse destino de inúmeras maneiras.

Diante daquele sorriso, Verne finalmente entendeu que a mulher que um dia amou, não existia mais. Aquele olhar não tinha nada doçura e delicadeza que recordava. Tinha sido um tolo de buscar nela a mesma mulher por quem se apaixonou. Aprumou-se, mascarando a tristeza.

— Morrer nas mãos daquele monstro não lhe causa medo?

— Tive medo por muito tempo, mas ele não me pertence mais. — Afirmou, resoluta.

— Então, você não é mesmo a Analyn que conheci. — Disse ele, tentando engolir o nó na garganta.

Ela sorriu de novo, embora fosse um gesto menos confiante que o primeiro.

— Analyn é apenas um nome, Verne. Me despi da mulher que ele representava há muito tempo. Mesmo assim, o destino dela ainda será o meu. Agradeço se puder me chamar de Marie, assim como os outros. Sei que, assim como o meu pai, você nunca gostou deste nome. Mas, agora, ele representa quem realmente sou.

Deu um passou atrás, tomando um pouco de ar. Percebia que a magia da tia enfraquecia.

— Perdoe a minha dureza, mas, de Analyn, tenho as memórias e ainda guardo os sentimentos, mas é só isso.

Apertou as mãos.

— Eu vivi quarenta anos plenos. A primeira metade deles foi doce e inocente, entre os muros do palácio. Tive o carinho de minha mãe, embora por pouco tempo. Vi Emya crescer e se tornar uma bela e adorável mulher. Apesar da rigidez, amei cada momento ao lado do meu pai, mesmo que ele não demonstrasse os mesmos sentimentos. Tive você! Fui feliz ao seu lado.

O badir curvou os ombros.

— A Ordem me trouxe outro tipo de felicidade. Me ensinou coisas que jamais me chegariam entre os muros do palácio. Vi crianças sorrirem por terem algo para comerem, descobri que podia curar a dor de outros com os mesmos dons que feriram minha irmã…

— E conheceu ela. — Ele a interrompeu.

Ela sorriu. Desta vez, abrandando o olhar.

— Não foi tão fácil e rápido quanto imagina. Levei anos para admitir para mim mesma que ela tomou conta do meu coração. Mesmo assim, jamais tive intenção de ultrapassar o limite da amizade. Assim como foi com você, que futuro teríamos?

— Não é assim que parece.

— Certamente. Virnan é intensa em tudo que faz e diz. Ela me ama, logo demonstra isso de todas as formas possíveis. E quanto mais eu lhe peço para não fazer essas coisas, mais ela faz.

Ele suspirou, recuperando a si mesmo. Teve vinte anos para se acostumar com a ideia de que a mulher que amava estava condenada à morte. O mesmo não aconteceria com a guardiã e, no fundo, ele regozijou-se por isso. Seu amor rejeitado desejava vingar-se, ao menos, um pouco.

— Virnan é uma mulher de muitas camadas e, depois de doze anos, ainda estou muito longe de conhecê-la de verdade. Ela não aceitará, assim como você também não aceitou. Mas estou contando com sua ajuda, com a de todos vocês, para impedi-la de cometer algumas loucuras. Ela não deveria estar nesta missão, mas a forma que você chegou…

O lorde fez um gesto, irritado.

— Você não tem culpa — ela emendou.

Uniu as mãos sobre o ventre e lhe ofereceu uma breve reverência.

— Talvez, esta seja a última vez em que conversamos desta maneira. Então, me desculpe pela forma rude com a qual o tratei e me permita agradecer pelo carinho que me dedica após tantos anos. Obrigada por cuidar de Emya e Midiane. Obrigada por cuidar de mim no passado e agora também. E com todo o afeto e respeito que lhe tenho, peço novamente que esqueça o passado e busque sua felicidade no presente.

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Alina soprou um fio de cabelo, grata pelo fim da discussão.

Apesar de terem se afastado bastante, ainda era possível ouvir cada palavra proferida. Ao seu lado, Fantin contemplava as águas escuras do riacho. Fenris não estava à vista. Assim que se distanciaram, o cavaleiro avisou que iria fazer uma ronda e adentrou na floresta.

— Sinceramente, não consigo imaginar Marie com esse sujeito. Eles não têm nada em comum. — Fantin declarou.

Alina sorriu, chamando a atenção dela.

— Eu era apenas uma criada no palácio e isso me permitia observar melhor os nobres. Creio que ela amava Lorde Verne, mas não do mesmo jeito que ele a amava. A princesa nunca verbalizou isso, claro. Pelo menos, não para mim.

Fechou os olhos, por um instante.

— Ah, são apenas as minhas impressões. Que sei eu dos sentimentos alheios?

Ficou em silêncio, de repente. Deslizava o indicador pelo queixo, pensativa. Uma suave brisa soprou, chamando sua atenção para o fato de que tinha se tornado objeto de contemplação de Fantin.

— Algum problema? — Indagou.

Fantin se deu conta de como deveria parecer estranho a forma como a encarava, mas não se importava. Sorriu largo, observando com atenção cada traço delicado do rosto dela, recordando uma noite perdida no tempo e ainda muito vívida em sua mente.

— Não. Apenas uma curiosidade.

— Sobre?

— Me perguntava se a noite que passamos juntas, no Festival de Mirdes, lhe foi satisfatória.

Agitou os cabelos, sorrindo com um jeitinho malicioso. O Festival de Mirdes era um famoso baile de máscaras, regado a bebidas afrodisíacas. Dois anos antes, as duas mestras se encontravam na cidade de Tamariana, no Reino de Primian, assim como outra dezena de ordenados, e decidiram participar do evento onde praticamente tudo era liberado em relação aos prazeres carnais.

O fato de todos usarem máscaras tornava tudo ainda mais excitante e não tardou para que Mestra Fantin se encontrasse entre os lençóis de uma velha estalagem nos arredores da cidade, suspirando entre as curvas de uma mulher ardente e misteriosa. E foi assim durante toda a noite. Um pouco antes do nascer do sol, despediram-se com um beijo guloso e a máscara da mestra caiu. A surpresa da amante ao ver sua face não lhe passou despercebida, mas só veio descobrir que estivera com Alina meses depois, por conta de um acidente.

Desde então, divertia-se em deixar Alina embaraçada com frases como essa.

— Você é muito irritante! — A mestra dos escritos reclamou, grata pela escuridão que ocultava o rubor que lhe tomava. — Mirdes é uma noite em que tudo pode acontecer. Uma noite para saciar seus desejos e ficar no esquecimento sem arrependimentos. Mas você não me deixa esquecê-la!

— Eu não consigo! — Riu suave.

Alina revirou os olhos, irritada. Sabia bem que a colega do Círculo da Sabedoria só fazia aquilo porque não era o tipo de pessoa que costumava participar de festivais como o de Mirdes. Era uma mulher introspectiva e que apreciava mais a companhia dos livros do que das pessoas e isso pôs a perder vários relacionamentos dentro e fora da Ordem. As más línguas dos ordenados gostavam de afirmar que a Mestra dos Escritos só amava a si própria e as letras.

O riso de Fantin crescia na mesma medida que sua indignação.

— Ora, Mestra Fantin, sou humana e adoro sexo, porque isso tem de ser uma piada para você? Acaso foi tão ruim o que vivenciamos? Por que insiste em me atormentar?

— Pelo contrário! Nunca estive com homem ou mulher mais ardente. E isso é apenas uma das coisas que me fascina em você. — Sorriu. — Mas acho que passou muito tempo olhando para os livros e esqueceu como se lê e interpreta as pessoas.

A bibliotecária franziu o cenho, confusa.

— Viu? — Fantin apontou para o vinco na testa dela e tornou a rir.

— Ora! Seja mais clara, então! — Agastou-se, chutando uma pedrinha.

— Como quiser! — A puxou pela cintura e a beijou.

<p “text-align:=”” center”=””>***

O quinto dia, após deixarem Bantos, raiou sem novidades e o silêncio era um companheiro desanimador. Esperaram Virnan por mais um dia, antes de abandonarem o acampamento junto ao riacho.

Não houve discussões. No entanto, os ânimos ficaram abalados. Desde então, as ordenadas recolheram-se aos seus próprios pensamentos, mal conversando entre si e limitando-se a interagir com os demais apenas quando interpeladas.

O próprio Verne se encontrava desanimado após a conversa difícil que teve com Analyn. Entretanto, buscava se manter inabalável para seguir em frente com a missão. Obviamente, seu modo de agir causou algum desagrado entre as mulheres, mas elas nada diziam e o silêncio o incomodava muito mais que antes. Chegou mesmo a sentir falta dos gracejos provocativos da guardiã. Nem mesmo Fenris, que era sempre irritantemente falante, parecia disposto a conversar.

Estavam a poucas horas da fronteira com Axen, mas depois de muito deliberar, na noite anterior, o Lorde acabou se convencendo de que a sugestão da Mestra Fantin, de seguirem adiante e cruzarem a fronteira do extinto reino de Caeles, poderia ser o mais seguro para eles. A decisão foi resultado das últimas movimentações feitas pelo exército axeano.

Optaram por fazer um caminho mais longo e fora das estradas usuais para evitar um encontro indesejável com patrulhas do exército de Bévis. Embora tivesse ficado claro que os governantes daquele reino estavam alheios a sua presença em Bantos e não se envolveram no que aconteceu na estalagem, o lorde preferia evitar que algo do tipo tornasse a acontecer.

Pessoas gananciosas existiam em todos os níveis da sociedade e Bévis era um reino famoso pela corrupção, devido as disputas pelo trono, o que tornava o governo instável e incapaz de fiscalizar o exército e suas ações. Obviamente, o Lorde de Axen sabia como se aproveitar disso e fez muitos aliados naquele reino.

Sendo assim, a viagem se tornou mais longa. Percorriam as matas, evitando se distanciarem demais das estradas principais para não se perderem. Sempre que estavam próximos de uma vila, o Lorde enviava Távio para adquirir mantimentos e notícias. Foi assim que descobriram que havia uma caçada a um grupo “criminoso” que causou confusão em uma taverna de Bantos. Nenhuma menção sobre suas identidades foi feita, mas a recompensa era alta o suficiente para atrair mais caçadores de recompensa, além daqueles que já se dedicavam a procurar a eleita.

Quase esbarraram em um grupo desses, no dia anterior. Felizmente, os homens conversavam alto e, Távio, que seguia à frente do grupo fazendo as vezes de batedor, os fez desviar do caminho.

Também foi em uma das vilas que descobriram sobre o reforço do exército axeano na fronteira. Boatos diziam que grupos com mulheres eram os mais visados pelos soldados. Diante dessas notícias, Verne não teve mais como rejeitar a sugestão de Fantin. Ele conversava sobre suas preocupações com Fenris, em um canto mais afastado do acampamento. O cavaleiro limitava-se a responder com inclinares de cabeça e gestos curtos, mas estava claro que a ideia de entrar em Caeles o desagradava.

Mestra Fantin dormia a poucos metros deles. Tinha pego o último turno de vigília do acampamento e agora descansava, alheia as preocupações que os rondava. Alina, por sua vez, tinha despertado com os primeiros raios de sol e, naquele momento, aguardava a fervura de um chá. Brincava com um galho, fazendo desenhos irreconhecíveis no chão, enquanto pensava sobre o beijo que Fantin lhe deu, tão ardoroso e, ao mesmo tempo, carinhoso. Quando se afastaram, a loira lhe sorriu e caminhou em direção ao acampamento com passos gingados e silenciosos, deixando-a em meio a uma profusão de sentimentos confusos, que a arremeteram para coisas que imaginava ter superado.

Desde àquela noite, evitava ficar às sós com ela e, apesar da melancolia que se apossou do grupo, às vezes capturava um olhar provocativo por parte da mestra de beleza estonteante. Nessas ocasiões, recolhia-se aos seus pensamentos na esperança de que o transtorno que ela lhe causava não fosse visível.

Tinham montado acampamento próximo a uma nascente e Melina lavava o rosto na companhia da sobrinha, que parecia absorta e exibia olheiras profundas, acentuando o aspecto doentio que a acompanhava desde o desaparecimento de Virnan.

— Ela virá — elevou a voz, chamando a atenção de Marie. Repetia aquela frase todos os dias, como se sua insistência pudesse tornar as palavras realidade. Recusava-se a crer que Virnan pudesse ter perecido.

A mestra não respondeu. Já se encontrava a beira do desespero por não ter notícias da amiga, mas naquele momento fitava as águas cristalinas, recordando os sonhos que tivera durante a noite, nos poucos momentos em que conseguiu cochilar.

Melina se pôs de pé, notando que uma lágrima traçava um caminho úmido pelo rosto dela. Uniu as mãos, espalhando sua aura mágica em volta das duas.

— Teve outro sonho?

A princesa tomou fôlego, confirmando. Raramente conversavam daquela forma, mas nos últimos dias Melina vinha dando preferência a ouvi-la em vez de ler seus gestos. A luz do sol refletiu nas íris azuis da idosa, transmitindo o conforto que a sobrinha necessitava para falar.

— Lembrança. Tenho certeza de que são lembranças dela. Só não entendo como é possível.

Não tinha conseguido dormir bem nos últimos dias, a preocupação com Virnan dominava seus pensamentos, formando imagens assombrosas das diversas situações que a moça poderia estar vivendo. Não se importava consigo, teve vinte anos para pensar na cerimônia que ceifaria sua vida, mas Virnan era jovem e tinha um longo caminho a percorrer. Poderia realizar grandes feitos, ser ainda mais fabulosa do que já era. E, desde que estivesse bem, Marie não temeria, nem amaldiçoaria seu próprio destino.

— Tenho uma teoria.

A expectativa de ouvi-la fez Marie se voltar para sua figura. Naqueles dias, a idade da grã-mestra se tornara mais evidente e o desgaste da viagem plantou um aspecto lânguido em suas feições.

— Acredito que, como Virnan não pode mais usar sua magia nata, não consegue bloquear seus pensamentos e lembranças quando você lhe doa ou toma a magia dela.

— Quer dizer que, involuntariamente, ela me deu essas memórias?

— Acredito que sim.

Mordiscou o lábio, enxugando outra lágrima que lhe escapava.

— Preferia nunca tê-las visto — revelou, prendendo a atenção nas nuvens que enfeitavam o céu. Pássaros cruzaram sua visão, preenchendo seus ouvidos com um chilrear tristonho ao pousarem nos galhos de uma árvore distante.

— São tão ruins assim?

Outra lágrima lhe chegou a face e sorriu, mórbida. Vinha segurando o pranto desde que despertou. Engoliu em seco, tentando afastar o nó que a tomava.

— Ela é um monstro. — Disse.

A grã-mestra deu um passo atrás, sem conseguir disfarçar a surpresa.

— Pelo menos, é assim que ela se vê. — Concluiu, fungando. — O sonho da noite passada foi um tormento e, sinceramente, não entendo como ela pode se manter sã depois daquilo.

— Do que está falando?

Marie rilhou os dentes, ouvindo o trote forte de cavalos. Verne e Fenris se puseram de pé com as espadas em mãos, enquanto aguardavam o sinal que combinaram para indicar a aproximação de amigos. Mestra Fantin despertou com o barulho, mas permaneceu deitada e uma pequena luz dourada escapou dentre as dobras do cobertor.

— Eu senti a dor dela, Tia. Ela chorava e, a cada lágrima derramada, algo em seu interior se perdia. Estava diante de túmulos, dezenas deles. Ela os cavou. Às suas costas havia uma vila em chamas e dezenas de outros corpos. As pessoas nos túmulos eram os moradores daquele lugar e ela chorava por não ter conseguido chegar a tempo de salvá-los. Os outros mortos eram as pessoas que destruíram a vila.

Tomou um pouco de ar.

— Virnan os matou. — Olhou para as mãos, assim como a guardiã fizera no seu sonho. Buscou pelas manchas de sangue e barro que vira nas dela e sorriu aliviada por não as encontrar. — Recordo o ódio dela, a dor, o desespero e o desejo de tirar cada uma daquelas vidas “malditas”. Deuses, ela é muito melhor com uma espada do que nos deixou saber!

Mordiscou o lábio, pois agora compreendia a verdadeira natureza da magia de Virnan, cujo despertar vivenciou no sonho que narrava. Desde o início, entenderam errado os poderes da guardiã. Ela podia controlar a magia elementar, que era tão rara quanto a de Marie, mas a dela, Virnan, era muito mais rara e, pelo que recordava, a princesa jamais conheceu ou ouviu falar de alguém que a possuísse.

Um assovio longo, seguido de três curtos, indicou que era Távio e companhia a se aproximar, retornando de uma vila próxima. Ainda assim, o badir e o cavaleiro não baixaram as espadas até avistarem um rosto conhecido. Não era Távio, mas outro dos homens do badir, que chegava sozinho.

— Recordo tudo isso e me parte o coração, porque não consigo reconhecer na mulher dessas lembranças, aquela que amo. — Finalmente, libertou as lágrimas que prendia. — Céus! Se ela tiver morrido… — Soluçou e Melina a puxou para si, oferecendo o ombro para consolá-la.

O soldado apeou do cavalo, indo até o badir. Falava alto e eufórico, um sorrisinho satisfeito lhe dominava os lábios.

— Ela está viva! — Disse. — A guardiã está viva.

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Boa noite, amores!

Mil desculpas pelo atraso na postagem, estava viajando. Espero que a Páscoa de todas tenha sido doce e muito bem acompanhada por seus familiares.

Prometo responder a todos os comentários amanhã e postarei novo capítulo na sexta ou sábado. Talvez antes, tudo depende do tempo para concluir a revisão.

Um beijão enorme para todas.



Notas:



O que achou deste história?

7 Respostas para 11. Analyn

  1. Parabéns a você escritora fez eu acreditar que a guardiã estava morta e descoberto da Fantin tem um amor náo correspondido cada vez mais emocionante. Bjs

    Vai ter continuação né??????

    Bjssssssss e abraçosssssssss.,.,…..,………

  2. Muito obrigada! Finalmente Marie começa a se revelar. Ela é intensa e muito mais forte do que aparenta. É possível compreender o fascínio que gera.
    Bom, vc não mataria a Virnan, seria muita maldade. Ansiosa pela conversa delas. Elas precisam. E sim, Virnan não vai me decepcionar. Ela fará de tudo para salvar Marie…contando com isso rsrs
    Toda vez que sai um capitulo novo, eu tento esperar pelo próximo pra ser feliz rsrs não aguento.
    Amando cada dia mais.
    Beijos

    • Kkkkk…

      Adoro causar essa ansiedade, Bibiana! rs… Sim, Marie é uma mulher muito intensa, mas como “não” fala fica um pouco difícil perceber no início. Às vezes, é um pouco complicado escrever sobre ela, mas reações como a sua me alegram porque sei que consegui alcançar meu objetivo.

      Quanto a Virnan, bem que pensei em deixar vocês no vazio por mais algum tempo. rs (brincadeira).

      Um xêro pra ti!

  3. Já não estava me aguentando de curiosidade de saber sobre a Virnan! Concordo com a Carol que foi maldade com as leitoras acabar nesse momento…
    E a Fantin abrindo o jogo com a Aluna! Curti a “chegada” junto.
    Olha, por fim, foi bem esclarecedora a passagem sobre porque a Marie não fala. E a conversa com Verne, bem, acho que o colocou em seu lugar, finalmente!
    Valeu!

    • Haha, como respondi para a Carol, Naty, não considero maldade, apenas estratégia. rs… Bem, talvez seja um pouco de maldade mesmo. Abafa o caso! rs…

      Beijo enormeee!

      Até!

  4. Mmmm… Quer dizer que Fantin, tem lá sua paixão também. Gostei disso, Tattah. rsrs
    Olha, acho que os sonhos de Marie podem assustá-la, mas se a Virnan matou os assassinos da vila, eu não me importaria. rsrs Ok! entendo que a Ordem vive pela vida e para preservá-la, mas… Os caras mereceram. rs
    Quanto ao Lorde, ele teve a conversa que merecia.
    Tenho para mim que a passagem por Caeles será dolorosa e não só para Virnan e as lembranças dela. Algo me diz que a grã-mestra Melina também terá seus momentos, não sei por que. rs
    Resumindo, gostei demais de saber sobre Fantin e Alina e também, da Guardiã Virnan.
    Contudo, você fez maldade acabando exatamente nessa hora. Maga má! he he he
    Um beijo grandão, Tattah e um xêro pra você e esposa!

    • Olá, Mestra!

      Com certeza, será uma passagem dolorosa para Melina, mas creio que ela conseguirá se manter firme, afinal é a grã-mestra da Ordem. Não está nessa posição à toa.

      Ah, adoro a Fantin. Eu sei, sou suspeita para falar, mas ela é um personagem que cresceu muito na minha mente e por ser oposta a Alina, combina perfeitamente com ela. rs…

      Bem, não é maldade, é apenas um jeitinho de deixar vocês curiosas para retornarem logo. rs…

      Beijo grande pra ti e esposa também!

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