Argentum

Capítulo 59

Faltava pouco menos de duas horas para chegarem na cidade. O céu estava nublado e uma fina garoa caia sobre a pista de forma que Alicia reduziu um pouco mais a velocidade mesmo que não houvesse trânsito de outros veículos. Uma rádio qualquer estava sintonizada, mas o volume era baixo apenas para que o ambiente não ficasse em completo silencio. As duas haviam conversado um pouco mais sobre a fisioterapia de Maia, mas o assunto logo acabou e elas se calaram, entretanto a mais velha notou que Maia parecia pensativa e decidiu quebrar o silêncio entre elas.

– Você está muito quieta – falou ela desviando o olhar rapidamente para o lado – O que está te deixando tão calada? – questionou sentindo os dedos da menor voltarem a brincar com os seus.

– Apenas pensando em alguns fatos que eu talvez deva compartilhar com você – admitiu Maia com um sorriso discreto que a outra não viu.

– Algo mais sobre seu acidente? – perguntou a veterinária preocupando-se um pouco e segurando uma das mãos de Maia com delicadeza.

– Não – riu a mais nova, mas estava um pouco sem graça mesmo que a maior não percebesse – Não é nada relacionado a isso. Apenas algo que estava pensando que você deveria ter conhecimento de que aconteceu.

– Certo, agora estou realmente curiosa – anunciou Alicia franzindo o cenho e olhando rapidamente para Maia – O que eu deveria saber?

Maia corou levemente ao se recordar de toda a cena, mas Alicia estava com o olhar na estrada e não pode notar esse pequeno detalhe. A mais nova estava se sentindo incrivelmente envergonhada com o que estava para revelar. Não que ela se arrependesse, depois das descobertas da noite anterior sobre os sentimentos de Alicia já existirem a algum tempo a mais nova não mais se sentia culpada pelo que havia feito. Entretanto isso não diminuía seu constrangimento pelo ato executado sem o consentimento da veterinária. Parte dela estava tentada a esconder o ocorrido e não voltar a comentar o assunto. Mas outra parte de si acreditava que era injusto privar Alicia do conhecimento sobre sendo que ela já nem seria capaz de se recordar do fato. Por fim soltou um suspiro em desistência e deu um riso baixo escolhendo contar tudo de uma vez.

– Lembra-se da noite em que esteve febril e por conta da chuva fiz com que dormisse no Rancho? – perguntou a menor vendo a mais velha acenar com um movimento de cabeça, as mãos menores continuavam a brincar com os dedos da mão direita da maior – Pois bem. Recorda-se que eu fiquei um pouco em seu quarto enquanto você já cochilava devido ao efeito dos remédios também não é?

– Sim. Ainda fico envergonhada de ter caído no sono enquanto você se recuperava – contou Alicia num tom de arrependimento.

– Não fique, os remédios apenas fizeram efeito – falou a menor com um riso baixo – Eu que ficarei envergonhada no momento em que você ouvir o que vou contar.

– Agora conseguiu me deixar ainda mais curiosa – se pronunciou a veterinária tentando disfarçar um sorriso – O que pode ter acontecido para te deixar envergonhada?

Maia sentiu seu rosto começar a corar e riu sem graça quando sua mente repassou as imagens daquela noite que acontecera a menos de uma semana, mas ainda assim parecia ter ocorrido a mais tempo devido a quantidade de coisas que aconteceram naqueles poucos dias.

– Bom, preciso iniciar dizendo que não fiquei pouco tempo como pretendia – Maia começou a dizer se encolhendo um pouco no banco, mas sem soltar a mão da mais velha que continuava em seu colo com a palma para cima – Você dormiu rápido por causa dos remédios e eu planejava ficar apenas alguns minutos mais até minhas pernas estarem mais firmes. Acontece que todo o cansaço do dia e daquelas últimas horas aparentemente foi maior do que eu esperava. Acabei cochilando ao seu lado. Não sei dizer por quanto tempo dormi, mas em algum ponto acabei me ajeitando na cama e deitando quase corretamente – Maia fez uma pausa e se permitiu encarar o rosto da veterinária que tentava desviar brevemente o olhar para o lado enquanto continuava a se concentrar na estrada – Quando acordei você estava com o braço em volta da minha cintura e tinha se aproximado do meu corpo. Seu rosto estava na mesma altura do meu. A ponta do seu nariz estava encostando no meu rosto.

– Oh meu Deus – murmurou a veterinária sentindo seu rosto esquentar de uma forma que lhe deu a certeza de que estava completamente vermelha – Eu não acredito que fiz isso. Maia eu sinto muito – ela começou a dizer se movendo de forma desajeitada no banco do motorista porque queria se desculpar e esconder o rosto, mas não podia desviar o olhar da estrada, então o riso da menor preencheu o carro se sobrepondo a música ambiente – Porque é que eu estou com vergonha numa história em que era você que deveria se sentir constrangida? – questionou a veterinária, mas não conseguia disfarçar sua diversão nem seu rosto corado.

– Isso porque você não me deixou terminar – falou Maia puxando a mão da mais velha que ela tinha colocado sobre seu rosto – Eu iria apenas me levantar e sair do quarto, você estava apenas dormindo. Mas cometi um pequeno erro – murmurou ela encarando o rosto de Alicia e sentindo que parte de si não tinha mais vergonha daquele momento – Eu olhei para você antes de sair do seu abraço. Seu rosto estava muito perto do meu. E foi quando você se aconchegou e seus lábios tocaram os meus de leve – os olhos cor de mel se arregalaram assustados, mas ela logo continuou – E quando percebi já estava pressionando mais meus lábios nos seus e te dando um selinho – terminou de contar erguendo a mão da maior até poder beijar a palma aberta.

Por alguns segundos Alicia não soube o que dizer enquanto olhava de Maia para a estrada. Depois, vendo o pequeno sorriso envergonhado no rosto da mais nova a veterinária abriu um sorriso que logo se tornou um riso baixo. No instante seguindo as duas estavam rindo e Maia se inclinou sobre o meio dos bancos para deixar um beijo no canto da boca da maior que entrelaçou os dedos das duas.

– Então nosso primeiro beijo não foi ontem? – murmurou ela trazendo a mão da menor até os lábios e deixando um beijo no dorso da mão esquerda de Maia.

– Eu diria que foi sim – respondeu a mais nova dando de ombros e direcionando um olhar apaixonado para a motorista ao seu lado – Aquela noite foi apenas um selinho não correspondido que me fez não mais conseguir parar de pensar no que sentia por você e na vontade incrivelmente grande que passei a sentir de realmente te beijar.

– Certo – murmurou a veterinária com um sorriso de canto – Apesar de que você foi uma pessoa muito malvada em me beijar enquanto eu dormia – falou ela em tom de brincadeira que provocou risadas em ambas – Não acho que importe realmente quando ou como tenha sido nosso primeiro beijo – continuou Alicia entrelaçando seus dedos nos dedos da mão esquerda de Maia e acariciando o dorso da mão da menor com o polegar – O mais importante é que foi só o primeiro.

Maia encarou o perfil da mais velha com os olhos brilhando e ergueu as mãos de ambas até sua boca para beijar seus dedos entrelaçados mantendo as mãos delas contra seu peito depois. Alicia manteve os olhos na estrada, mas tinha um sorriso bobo no rosto e continuou a acariciar a mão da menor com o polegar. Naquele instante a Dona do Rancho soube que não conseguiria nunca mais se afastar daquela mulher a seu lado. Simplesmente porque não queria deixar de sentir aquela sensação boa que tinha no peito naquele momento apenas porque a veterinária estava ao alcance de seu toque.

——xxx——

Depois de pararem para almoçar em uma cidade vizinha e percorrerem mais alguns quilômetros de estrada nos 50 minutos seguintes as duas finalmente se aproximavam do Rancho Aureus. O relógio do carro marcava 14h47 quando Maia olhou para ele um pouco antes de ambas enxergarem a entrada do Rancho. Maia disse para que a veterinária não tirasse suas coisas do carro porque Carlos iria para a cidade com ele, por isso Alicia pegou apenas a bolsa de Maia que estava no banco de trás e as duas desceram do carro logo em frente a escadaria de entrada. A menor se apoiou no braço da mais velha como sempre e as duas subiram as escadas.

– Antonieta? Maria? – Maia chamou enquanto percorria os olhos verdes pelo ambiente em busca de uma das duas.

– Que bom que chegaram – ouviu-se a voz de Antonieta antes que a mulher fosse vista vindo da direção em que ficava a cozinha até se aproximar e abraçar as duas – Como estão? Foram bem de viagem? Almoçaram?

– Acalme-se, mulher – riu Alicia pegando de volta a bagagem de Maia que ela tinha soltado no chão para abraçar a mais velha – Estamos, as duas, bem e já almoçamos.

– Sim, não tem que se preocupar – confirmou Maia – Sabe onde está Enzo? Achei que ele estaria me esperando – perguntou estranhando a ausência do amigo tendo em vista a mensagem que havia mandado a ele pela manhã.

– Oh, ele estava mesmo – respondeu Antonieta com tom de riso – Estava também a nos atazanar as ideias na cozinha, por isso o mandei sair – disse rindo baixinho – Mandei Eduardo leva-lo para conhecer os cavalos e os arredores do rancho. Devem estar por voltar.

Maia soltou uma gargalhada imaginando a dor de cabeça que seu amigo ansioso deveria ter dado em Antonieta e Maria na cozinha. Alicia cortou a conversa dizendo que iria acompanhar Maia até o andar de cima para que ela pudesse deitar-se e descansar da viagem que, apesar de tranquila, fora longa. Antonieta garantiu que avisaria Enzo assim que ele aparecesse e Alicia pediu para que ela preparasse um pequeno lanche e que o mandasse quando o rapaz subisse para ver Maia. Antonieta iria se oferecer para ajudar Alicia com a bolsa de sua patroa, mas algo a fez se calar e apenas concordar com o que a veterinária dizia.

Quando a senhora garantiu que prepararia um chá e alguns biscoitos para levar a Maia as duas mais novas sorriram e começaram a caminhar em direção a escada. Antonieta as deixou passar andando alguns passos atrás delas até as escadas para ir em direção a cozinha. Era uma mulher simples, mas perceptiva demais. Naquele pequeno espaço de tempo, mesmo assistindo a uma cena que já vira se repetir dezenas de vezes antes, ela sentiu que algo estava diferente. Conhecia a veterinária desde que ela era uma criança e nos pequenos segundos de interação que assistiu entre as duas, notou que havia algo acontecendo, mas nada disse. Seguiu a cozinha pensativa e um tanto confusa tentando compreender o que havia sentido ao ver as mais novas.

Enquanto Antonieta chegava a cozinha e colocava água para ferver Alicia e Maia alcançavam a porta do quarto da menor. Alicia abriu a porta e as duas caminharam até estarem próximas da cama onde a veterinária deixou a bolsa de Maia. A muleta foi encostada na cama pela menor e as duas mulheres se puseram frente a frente com sorrisos nos rostos. A mais nova deixou suas mãos se apoiarem nos ombros da maior se aproximando mais e usando Alicia como apoio. As mãos da veterinária seguiram até a cintura da dona do Rancho e os olhos castanhos encararam os verdes.

– Não quero que vá – disse Maia em tom baixo ainda sorrindo.

– Sabe que eu não quero ir, certo? – perguntou a veterinária recebendo como resposta um acenar de cabeça – Te juro que se pudesse ficaria aqui com você todo o resto da semana, do mês, do ano, todo o tempo que me quisesse por perto – afirmou ela com um sorriso deixando suas mãos escorregarem pela cintura da menor até que seus braços estivessem em volta de Maia.

– Teria que ficar por muito tempo – respondeu colocando os braços em volta do pescoço da mais alta.

Elas trocaram sorrisos e logo depois Alicia se inclinou tocando os lábios de ambas num selinho que passou a um beijo calmo depois de poucos segundos. Não foi um beijo longo, mas as duas já demonstravam a saudade que sentiriam no momento em que Alicia saísse. Quando finalizaram o beijo com pequenos selinhos Alicia apertou o abraço em volta da cintura de Maia e colocou seu rosto no pescoço da menor que sorriu largamente abraçando a veterinária pelos ombros.

– Se eu me demorar mais alguns minutos vou desistir de ir embora – sussurrou Alicia contra o pescoço da menor que riu.

– Nada me deixaria mais feliz do que você ficar, mas não posso te deixar desistir. Você tem um compromisso. É algo importante e me recuso a ser a razão de que negligencia seu trabalho – respondeu a menor beijando o ombro de Alicia.

– Se queria me convencer a ir tenho que te informar que me fez querer justo o contrário – avisou Alicia afastando o rosto do pescoço da menor apenas para encostar sua testa na de Maia – Mas você tem razão. Não quero, mas preciso ir – falou soltando um suspiro e depois um sorriso largo quando Maia encostou os lábios de leve na ponta de seu nariz.

– Não vamos ficar muito tempo sem nos vermos, ok? – falou a mais nova já sentindo saudades apenas por pensar que Alicia iria em alguns minutos.

– Não, não vamos – respondeu a mais velha se inclinando para beijar a dona do Rancho outra vez.

 

 

N/A: Perdão por não ter postado ontem. Mas eu estive desde sábado a tarde sem internet =,[

Apenas hoje o problema foi resolvido e eu pude voltar. E como Lizz não tinha o cap corrigido ela não pode postar p mim =[

Mas cá estou. Aliás, espero que tenham gostado.

Pessoinhas lindas, eu estou com muito trabalho nesse início de ano (o que é ótimo) e por isso estou escrevendo pouco. Mas farei de tudo para não atrasar o capítulo de quarta. Então até lá =]

Bjos

;]



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para Capítulo 59

  1. Quero vê por quanto tempo els vao conseguir ficar um longe da outra! e qual vai ser a reação da Mae da Alicia quando souber do namoro delas.
    E também a reação dos funcionários!
    Achei legal Maia contar do selinho que ela deu na Alicia, quando a mesma estava doente lá na fazenda. rss
    bjs
    mascoty

    • Aaaah não vai ser muito não kkkkkk
      E essa reação dos funcionários é oq eu ainda não sei como vai ser ‘-‘
      E eu já imaginava Maia contando desde o momento em que ela beijou a Alicia kkkkkk

      Bjs
      ;]

  2. Aguardando a reação do Enzo quando a Maia contar sobre essa viagem!!!

    E minha querida autora, não se cobre tanto, você já nos dá essa maravilhosa história, poste-a no seu ritmo.

    Abraços

    • Me cobrar demais é um defeito meu que nem minha namorada conseguiu corrigir ainda =P (e olhe que ela tenta).

      E Enzo terá muitas reações kkkkkk

      Abraços
      ;]

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