Argentum

Capítulo 53

N/A: Apesar de não ter sido previamente planejado, acho que trouxe um belo presente de natal para vocês. 

Espero que gostem.
;]

As duas conseguiram ver o técnico retirar as amostras e separá-las, depois disso o teste seria iniciado em outra sala, mas ambas viram quando o material foi levado para outro lugar. Logo depois saíram do laboratório com o botijão agora contendo apenas nitrogênio e foram para o carro. O relógio do painel marcava 168 quando as duas entraram em seus respectivos lugares, se encararam e uma sabia que a outra também estava pensando na cena com o veterinário. E então começaram a rir ao mesmo tempo. O ataque de riso delas durou alguns minutos até que ambas conseguiram parar respirando fundo para recuperar o fôlego perdido. Após isso Alicia ligou o carro e as duas seguiram em direção a um hotel, do outro lado da cidade, onde iriam passar a noite.

Maia não havia feito reservas pois não acreditava que haveria movimento nos hotéis. Surpreenderam-se ao chegar lá e descobrir que havia algum evento próximo ao hotel que escolheram. As vagas ali haviam se esgotado e elas tiveram que ir para outro hotel. Fizeram três tentativas com o mesmo resultado naquela parte da cidade e foram para a última antes de cruzar a cidade outra vez tentando achar um hotel com quartos vagos. Não queriam ter de fazer isso porque aquele bairro ficava mais próximo da saída por onde elas retornariam na manhã seguinte. Por sorte, na última tentativa, conseguiram um quarto. Era o último disponível e, para a sorte de ambas, tinha duas camas de solteiro.

Elas olharam uma para a outra e, numa conversa silenciosa, decidiram que ficariam ali mesmo. Alicia notou que, ao entrarem no quarto, Maia ficou um tanto desconfortável. Era um ambiente pequeno e não havia mais do que um metro e meio de distância entre uma cama e outra. Um criado-mudo entre elas com um telefone e dois controles sobre ele, um do ar condicionado e outro da televisão colocada na parede que dividia o quarto do banheiro. Alicia disse para Maia tomar seu banho e usar o banheiro primeiro e se sentou na cama que seria sua pela noite sentindo-se nervosa.

Elas haviam jantado após pegarem o quarto e vieram direto do restaurante do hotel para se instalarem. A veterinária ficou os próximos 40 minutos se controlando para não roer as unhas de ansiedade por pensar que Maia estava a metros de distância de si trocando de roupas. Quando ouviu a água do chuveiro cair no chão acreditou que perderia sua sanidade e, para evitar qualquer ação descontrolada, saiu do quarto deixando um bilhete sobre o criado mudo avisando que iria buscar coisas para assistirem a um filme depois.

Quando saiu do banheiro Maia encontrou o quarto vazio, mas viu o bilhete e tratou de terminar logo de se arrumar enquanto agradecia mentalmente por ter tempo de se deitar sem estar sob os olhos atentos da veterinária. Alicia não demorou a voltar trazendo uma sacola com doces e uma garrafa de suco. Deixou tudo com Maia e correu para o banheiro apoiando-se na pia após trancar a porta. O cheiro da mais nova estava em todo o ambiente e ela precisou de um tempo para conseguir normalizar sua respiração. Por fim tomou seu banho gelado e, com um longo suspiro saiu do banheiro.

O pijama de Maia era uma blusa fina de mangas compridas e uma calça de moletom, mas Alicia não chegou a ver a calça pois a menor já estava embaixo das cobertas quando ela voltou ao quarto. Já a veterinária usava uma calça de flanela e uma regata branca de malha que deixava seus ombros, braços e parte do top preto a mostra. Os olhos verdes não conseguiram continuar focados na televisão e desviaram para a pele exposta da maior enquanto ela, de costas, arrumava a cama e entrava embaixo de suas próprias cobertas. Quando Alicia virou o rosto para ela Maia rapidamente voltou a olhar a televisão e ergueu o controle mudando de canal.

Elas conversaram sobre que filme veriam e demoraram quase meia hora para escolher um. Depois dividiram os doces e o suco, desligaram as luzes e finalmente começaram a assistir ao filme. Era um drama com um pouco de romance e as duas ficaram um tanto distraídas com o enredo. No final os mocinhos, depois do que pareceram anos separados, finalmente ficaram juntos e os créditos começaram a rolar na tela. Alicia acreditaria que Maia estava dormindo se a voz da menor não tivesse soado logo que a música do encerramento começou.

– Você já se apaixonou? – ela perguntou sem encarar a mais velha que desviou o olhar diretamente para o perfil da dona do Rancho.

– Porque a pergunta? – quis saber Alicia confusa e um tanto na defensiva, apesar de tudo ainda não gostava de falar de sua última paixão e não queria acabar falando o que não devia para Maia.

– Apenas uma curiosidade – continuou Maia sem encarar a veterinária – Por conta desse final sabe. Todos que conheço já se apaixonaram verdadeiramente alguma vez na vida.

– Nunca se apaixonou? – perguntou Alicia confusa e curiosa sobre uma parte da vida de Maia que ela não tinha absolutamente nenhum conhecimento.

– Não fuja da minha pergunta – acusou Maia com um riso baixo se virando para encarar Alicia na penumbra da luz da televisão que ainda rolava os créditos – Eu tive minhas paixões adolescentes. Um namoro ou outro durante o ensino médio, mas nada muito sério. E você?

– Uma vez – contou Alicia encarando a tela da televisão e decidindo contar um pouco da sua vida, mas escolhendo as palavras que usaria a seguir – Tive dois namoros sérios na vida – contou ela com um suspiro colocando os braços atrás da cabeça ainda apoiada no travesseiro – O primeiro na época da faculdade, eu realmente me apaixonei por essa pessoa. Foi forte e eu realmente achei que duraria muito tempo, mas não aconteceu. Eu nunca cheguei a me apaixonar pelo meu segundo namorado, ele era um bom rapaz, mas nunca realmente me conquistou apesar de eu ter dado a chance a ele.

Maia notou que Alicia não usou pronomes para se referir ao primeiro namoro, mas se referiu ao segundo no masculino. Esse fato fez a lembrança da voz de Enzo em sua mente falando sobre a possibilidade da veterinária ser bissexual, mas ela tentou não se sentir muito esperançosa com isso. Quando terminou de ouvir o relato de Alicia ela ficou séria encarando a televisão. Pensou se seria a hora de realmente falar sobre coisas que nunca havia contado a ninguém antes. De realmente se abrir sobre seus sentimentos, principalmente os relacionados ao seu acidente e a forma com que ela passou a se enxergar depois dele. Com um longo suspiro Maia tomou a decisão e começou a falar.

– Tive apenas um caso após o acidente – contou ela em voz baixa olhando as letras passarem na tela da televisão, mas sentindo o peso do olhar de Alicia sobre ela – Eu não me apaixonei realmente por ele, mas foi uma surpresa tão grande quando ele disse que gostava de mim que eu acabei dando uma chance e começamos um relacionamento lento. Ele era residente no hospital onde eu fazia fisioterapia, um rapaz de uma origem mais humilde, sem muitas posses, mas que se esforçava nos estudos. Achei que ele era um bom rapaz, que gostava mesmo de mim, mas me enganei.

– O que quer dizer com isso? – questionou Alicia curiosa e séria ao notar o tom da mais nova que era carregado de certa mágoa e tristeza.

A veterinária se sentou na cama virando o tronco para Maia que continuava parcialmente sentada encarando a tela que continuava a exibir os créditos, mas a música de fundo havia mudado. A mais velha viu Maia suspirar e se sentar corretamente antes de continuar, mas os olhos verdes não tiveram coragem de se virar para a veterinária.

– Ele se aproximou demais da minha família. Minha mãe era viva na época e eu já estava cursando história – continuou ela num tom quase inexpressivo – Ele sempre estava por perto quando Giovani estava também, acreditava que era coincidência isso, mas depois entendi que não era. Nunca fomos um casal realmente, ele me pediu em namoro e nós saíamos algumas vezes, mas nunca tivemos nenhum envolvimento muito íntimo. Em parte por mim já que não aceitava muito bem meu corpo depois do acidente, principalmente as cicatrizes. Ele dizia que não se importava, que estava tudo bem e mais por comodismo do que qualquer outra coisa eu acreditava – ela contava e a cada instante Alicia ficava mais séria e preocupada com aquela narrativa – Um dia decidi fazer uma surpresa. Hoje sei que não me apaixonei de verdade por ele, mas eu realmente gostava do rapaz. Naquela tarde eu fui com um amigo, Enzo me levou até o prédio onde ele morava. Era um apartamento simples e eu havia ido até lá apenas uma vez, mas decidi fazer uma surpresa naquela tarde. Ainda estava com a cadeira de rodas, era desconfortável e trabalhoso, mas eu não conseguia ficar mais de uma hora em pé naquela época. Quando cheguei em frente a porta e toquei a campainha quem atendeu foi uma moça. Ela tinha a minha idade aparentemente e usava roupas simples que qualquer um usaria em casa. Perguntei por ele e ela me disse que estava no quarto, disse meu nome e ia terminar de me apresentar achando que ela poderia ser alguma diarista que ele contratava para arrumar tudo quando ouvi a voz de dentro do apartamento. Foram essas as exatas palavras: “Meu amor quem está na porta?”. Ele chegou por trás dela e então me viu, arregalou os olhos assustado e eu já tinha entendido a situação. Perguntei quem ela era e a garota se apresentou como a noiva dele. Eu sorri e disse que era uma amiga, menti que tinha ido dizer que meu irmão havia cancelado uma reunião. Me despedi e fui embora.

– Ele enganou você – sussurrou Alicia quase sem reação. Suas pernas saíram debaixo dos cobertores e ela se sentou na beirada da cama encarando Maia com os olhos arregalados, mas a mais nova continuava a não olhar para nada além da televisão.

– Ele queria se aproximar do meu irmão que era um médico em ascensão dentro do mesmo hospital. Provavelmente pretendia ganhar a confiança de Giovani e tentou me usar para isso – falou ela e soltou um riso sem humor – Em partes conseguiu, mas depois disso eu me afastei completamente e acho que ele não foi capaz de conseguir tudo o que almejava por mérito próprio.

– Maia eu….Meu Deus que cara imbecil! – falou Alicia sentindo a irritação começar a tomar conta de seu corpo só de imaginar alguém tendo coragem de fazer aquilo com Maia.

– Não me machucou tanto por eu não ter realmente gostado dele – contou ela – Mas depois disso eu me dei conta de que não deveria ter muitas esperanças amorosas levando em conta a minha situação. Com tudo o que me aconteceu, com todas as coisas que tenho que enfrentar. É bem lógico e esperado que ninguém se interesse por mim. No começo eu me culpava, por ter saído naquele dia, por ter resolvido atravessar aquela rua. Depois culpei o motorista do carro. No fim eu apenas aceitei que o acidente havia acontecido e que teria de conviver com as consequências dele. Com todas as cicatrizes que ele deixou não me surpreenderia se nunca ninguém voltar a se interessar por mim.

Nos primeiros segundos Alicia simplesmente ficou sem palavras. Naquele discurso ela pode ver, claramente, como Maia se enxergava e não era uma visão boa de si própria. A menor realmente parecia acreditar que as cicatrizes e sequelas físicas do acidente que sofreu afastariam os outros. E ela finalmente entendeu porque Maia estava sempre cobrindo seus braços e pernas e porque ela sempre tomava tanto cuidado para estar com roupas compridas o suficiente para não deixarem nada de seus membros a mostra. Alicia entendeu que Maia não acreditava que alguém pudesse amá-la e seu coração se apertou com essa compreensão. Quando percebeu já estava de pé e cruzando o espaço que separava as duas camas, sentando-se na beirada da cama da menor e segurando uma das mãos da mais nova que estavam sobre seu colo.

– Eu entendo que o que esse estúpido fez afetou você. Não o amava, mas confiou nele e foi traída e isso é horrível – ela começou a falar e, finalmente, teve os olhos verdes fixos nos seus – Mas você está errada sobre o que pensa a respeito si mesma – disse Alicia com firmeza – Maia você é a mulher mais forte, incrível, batalhadora e determinada que eu já tive o prazer de conhecer – falou num tom firme, mas com um sorriso carinhoso sentindo mais do que nunca a necessidade de cuidar da mais nova – Não são suas cicatrizes ou dificuldades que vão afastar ou aproximar alguém. Isso é parte de você e quem te amar vai te amar com cada imperfeição que tiver. Mas, acima de tudo, você precisa entender que é uma mulher incrível – disse a veterinária de forma séria, sem perceber ambas estavam próximas demais – Você é linda, Maia. Completamente linda. E quem disser o contrário é um cego que não quer ver a realidade – a veterinária continuou sem notar que sua expressão ficava mais séria e seu tom mais baixo – Então, por favor, acredite em mim – murmurou Alicia encarando os olhos verdes focados em seus castanhos – Acredite em mim, Maia. Você é uma mulher linda e incrível e qualquer pessoa que tiver seu coração vai ser incrivelmente sortuda por isso.

Alicia quase não conseguiu terminar de falar porque quando estava nas últimas palavras a mão direita de Maia se soltou das dela e subiu até o rosto da mais velha. No segundo seguinte os olhos verdes tinham se fechado quando Maia pressionou seus lábios contra os da veterinária que naquele instante não conseguiu reagir além de arregalar os olhos sentindo a textura dos lábios da menor contra os seus. Segundos depois de iniciar o selinho Maia se afastou. Surpresa demais consigo mesma e sem coragem de encarar as consequências de seu ato descontrolado ela apenas permaneceu com os olhos fechados e sem se mover.

Mas abriu os olhos rapidamente, apenas para fechá-los de novo logo depois, quando sentiu a mão direita da veterinária envolver seu pescoço e os lábios quentes tocarem os seus novamente. Com um suspiro Maia correspondeu ao beijo erguendo a outra mão para o pescoço da mais velha e se deixando levar por aquele momento. A mão esquerda de Alicia subiu até o rosto da menor e sua mão direita foi se apoiar no colchão ao lado do quadril de Maia quando ela se inclinou para mais perto da menor. Buscando mais do beijo e recebendo mais de Maia que deslizava delicadamente os dedos pelo maxilar da mais velha enquanto movia os lábios contra os da outra.

 

N/A: 

Gente, antes de tudo, queria que dessem uma olhada na nova capa de Argentum que eu ganhei *-* Créditos estão na imagem, mas eu realmente gostaria de agradecer ao meu amigo Lu (Tt: @mrsclrdby Wattpad: @princemajor) pela capa. Ficou realmente linda. Infelizmente não vou poder trocar a capa daqui porque ela teria que ser redimensionada e modificada e não quero que ele mexa em nenhum detalhe pq simplesmente acho que vai estragar kkkkkk

Mas deixo aqui para a apreciação de vocês:

Também quero deixar um aviso para quem leu Nightingale! Eu ainda não tinha trazido a segunda temporada por motivos de: não sabia se ela se enquadraria na proposta do site. Mas depois de falar com o pessoal responsável (Dona Carolina Bivard, muito obrigada pela atenção =D ) estou decidida a trazer Who You Are logo no começo de Janeiro, então quem quiser ler pode ficar no aguardo =]

Agora sim, um espero que tenham gostado do meu presente de natal. Sei que tem gente que talvez não curta a data, mas vou desejar um ótimo dia, um feliz natal e que vocês possam aproveitar o feriado da melhor forma possível e nas melhores companhias que existem.
Prometo que nos vemos de novo antes de 2017 acabar
Bjs pessoinhas
;]



Notas:



O que achou deste história?

10 Respostas para Capítulo 53

  1. Agradecer ao presente de Natal, eu li no dia 25 mas só hoje parei para comentar…
    Adorei que finalmente esse beijo aconteceu :D.

    e já na fila aguardando por Who You Are, ja que é inicio de janeiro e quiser me dar o primeiro capitulo de presente de aniversario ficarei no aguardo da primeira semana de janeiro mais especificamente na quinta :D.
    aos administradores senhora @Bivard obrigado.

    • Fico contente que todos tenham gostado do presente kkkkkk

      Já estou corrigindo os primeiros capítulos de Who You Are *-* Logo estarei começando a postar.
      =O Perdi seu aniversário, infelizmente, mas vou atualizar rápido para compensar como presente p vc.

      ;]

  2. AEE! que presente de Natal!ja estava ate me convencendo que esse beijo vinha só em 2018, kkk
    Cara, muito lindo! amo esse casal e que beijo!
    Agora meu dilema é ler o próximo capitulo e ficar sem capitulo para ler ou esperar voce postar mais um! kk
    Adorei a nova Capa!
    beijos
    Fica na Paz
    mascoty

    • O beijo quase sai em 2018 kkkkkk, mas veio antes (ainda bem). Acho que você não leu hehe, mas agora que voltei terá vários para ler hehe,

      Infelizmente não posso alterar a capa aqui porque não quero editar e cortar alguma parte (tá linda demais *-*)

      Bjs
      ;]

  3. Melhor presente de Natal, An.

    Ansiosa para saber tudo vai se passar.

    Obrigada, pelo presente!

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