Quando viu a dona dos olhos verdes perder o equilíbrio tudo o que a veterinária conseguiu fazer foi estender o braço esquerdo. Sua mão agarrou a frente do moletom que Maia usava e ela puxou o corpo mais leve para longe do móvel que provavelmente acertaria seu rosto. Os braços abertos fizeram o cobertor sobre eles cair, a dona do Rancho foi puxada para o peito da veterinária sendo amparada pelos braços longos que a envolveram enquanto caía. Mas o corpo maior estava fraco pela febre e não suportou o peso extra caindo para trás. A testa da veterinária acertando um desenho em auto relevo na cabeceira da cama, mas Maia não ouviu o fraco gemido de dor da maior por estar concentrada no seu próprio.
O quadril da mais nova latejava e a dor fazia seus olhos lacrimejarem. Suas mãos foram, instintivamente até sua cintura, na lateral da perna esquerda, e a coxa esquerda o mais próximo possível do joelho. Mesmo lenta pela febre a veterinária ainda conseguiu ouvir o gemido longo e agoniante da menor. Esse som fez desaparecer sua dor na cabeça e colocou todo seu corpo em alerta aflorando seu instinto de proteção. Ela tentou se levantar, mas não tinha forças com o corpo da menor sobre o seu, então fez o que podia, Colocou um braço em volta do tronco de Maia e levou a mão esquerda sobre a mesma mão de Maia próxima ao joelho da mais nova.
Um ofego saiu pelos lábios da menor ao sentir o toque em sua mão, as pontas dos dedos da veterinária pressionados contra sua coxa. Por um mísero segundo seu corpo travou esquecendo da dor ao sentir as mãos de Alicia a agarrarem firmemente. Com certo esforço a veterinária conseguiu tirar seu corpo debaixo de Maia colocando a dona do Rancho deitada contra os travesseiros ao seu lado. Seu braço esquerdo ainda preso atrás das costas da mais nova e sua mão ainda sobre a mão menor contra a lateral externa da coxa da outra. Seu rosto preocupado, seu olhar vago, mas procurando o problema e a forma com que sua mão direita pairava sobre o corpo da menor demonstrando sua ansiedade em fazer algo que diminuísse a dor que via a menor sentir distraíram Maia por alguns instantes até a voz da veterinária surgir. Grossa, arrastada, num ritmo lento, mas ainda firme e preocupada.
– O que houve? – perguntou Alicia quase com certo desespero quando seus olhos notaram a expressão agoniada no rosto de Maia – O que está sentindo? Onde doí? – as perguntas começaram a sair em disparada apesar dela se atrapalhar com as palavras.
– É só minha perna – disse a menor controlando os gemidos ao notar o desespero da mais velha e como, mesmo doente, Alicia tentava fazer algo por ela – Está tudo bem – ela afirmou retirando a mão direita de seu quadril e agarrando a mão direita da veterinária que ainda pairava em movimentos aleatórios sobre ela sem saber o que fazer – Já vai passar. Deve ter sido porque me excedi nas caminhadas hoje – Maia continuou a falar escondendo a dor da voz enquanto trazia a mão da veterinária para baixo não percebendo que, sem quere, acabou colocando-a junto da sua em sua cintura.
– Você está sentindo dor? – a veterinária perguntou preocupada olhando para a bolsa de remédios fora de seu alcance – Eu vou pegar água e um analgésico para você, apenas…
– Não, Alicia – chamou a mais nova impedindo que a veterinária se afastasse para sair da cama e das cobertas – Eu só preciso de um momento. As vezes as pontadas ficam mais intensas e eu perco a força no lado esquerdo. Só preciso esperar um pouco e a dor vai diminuir.
Maia pode ver que o olhar preocupado não abandonou os olhos avermelhados da veterinária, mas agradeceu mentalmente por Alicia não tentar sair de onde estava. Não ser perdoaria se a gripe que a veterinária estava começando a desenvolver piorasse por conta dela. Notando que a maior não se movia ela apenas fechou os olhos, tentou ignorar o braço da veterinária ainda abaixo de seu corpo, soltou a mão direita da outra e começou a tentar massagear sua perna e seu quadril.
Sentiu um movimento abaixo de si e abriu os olhos vendo a veterinária retirar seu braço debaixo de seu corpo. Alicia puxou o cobertor novamente sobre seus ombros, a febre ainda alta fazendo-a tremer um pouco. Maia respirou fundo e tentou se sentar corretamente na cama já que continuava deitada de lado com parte de suas pernas para fora. Começou a se mover e, logo depois, ouviu a voz baixa da veterinária.
– Não se levante – disse Alicia se ajeitando próxima à menor – Tente se sentar – ela falou em tom baixo por conta de sua garganta e tocou o ombro da menor empurrando-a para trás ao mesmo tempo em que erguia um travesseiro para Maia se acomodar.
A dor ainda não era completamente suportável e por isso ela não discutiu. Se recostou aos travesseiros e colocou as pernas completamente para dentro da cama. Tendo o braço esquerdo livre de seu próprio peso ambas suas mãos foram para seu quadril e para a parte superior da coxa. As palmas escorregavam entre o quadril e o joelho enquanto ela tentava normalizar sua respiração. Estava tão concentrada em suprimir a dor que não sentiu a cama se mover conforme Alicia se colocava próxima às suas pernas. Por conta disso se assustou ao sentir uma das mãos da veterinária tocarem seu joelho esquerdo.
– Calma – falou ela sem mover a mão que estava quente, mais do que a menor se recordava, provavelmente por conta da febre – Onde está doendo?
A pergunta soou ainda mais baixa do que antes e Maia tentou não demonstrar todo o desconforto que sentia ao explicar que eram seu quadril e seu joelho e que sua coxa doía por conta da irradiação da dor. Quando terminou de dizer onde era a dor uma nova pontada a fez fechar os olhos e bater os dentes.
– Desculpe – ela ouviu ainda de olhos fechados e, logo depois, sentiu as mãos quentes por conta da febre da veterinária se colocarem sobre as suas – Você está tendo espasmos musculares. Eu posso? – ela questionou encarando os verdes que a olhavam surpresos.
A dona do Rancho não soube o que responder e nem precisou se esforçar muito para descobrir. Suas mãos foram afastadas delicadamente de sua perna e as mãos da veterinária começaram a esfregar o músculo numa massagem leve que aos poucos foi aliviando a dor. Ela realmente notou que sua coxa estava contraída, quase como se estivesse com câimbras. Os dedos firmes faziam pressão sobre o músculo, primeiro em volta do joelho, depois da metade da coxa para baixo. As mãos de Alicia estavam quentes e Maia sentia seu rosto esquentar por causa da vergonha de ter a veterinária tocando sua perna.
– Eu posso subir as mãos? – questionou ela olhando para os olhos verdes e Maia poderia jurar que, se não fosse a febre já deixando o rosto dela avermelhado, Alicia estaria com o rosto vermelho de vergonha – Se isso te deixar desconfortável eu não o farei – ela ainda se completou notando a demora da mais nova em responder.
Maia queria dizer que ficaria desconfortável, porque realmente achava que iria ficar. Mas já podia sentir seus músculos começarem a relaxar e a dor diminuir aos poucos com o que a veterinária fazia. Naquele momento ela decidiu atribuir sua aceitação ao fato de estar sofrendo com a dor, mas algo dentro de sua mente dizia-lhe que ela não teria permitido isso se fosse outra pessoa a sua frente. Com um aceno afirmativo ela permitiu que Alicia continuasse e a veterinária abaixou o olhar com uma expressão envergonhada.
Alicia evitou que seus dedos fossem para a parte interior da coxa de Maia, mas seus dedos subiram até próximos ao quadril da mais nova. Os olhos verdes se arregalaram um pouco quando os dedos quentes por causa da febre começaram a pressionar levemente. Um arrepio subiu por sua coluna, mas ela tentou não demonstrar isso. Os dedos firmes foram pressionando levemente cada parte do músculo trazendo alívio para as dores. Seus olhos se fecharam conforme as pontadas foram diminuindo e a sensação de alívio foi tomando conta de si.
Enquanto isso Alicia, mesmo com os sentidos embaçados por conta da febre, conseguiu perceber alguns detalhes. A forma como o joelho parecia ter cicatrizes ósseas, a inserção do fêmur também parecia estar mal angulada e a musculatura da coxa parecia frágil e era menor do que o esperado. Mas guardou para si mesma essas observações e se concentrou em massagear os músculos de forma que aliviasse o desconforto e diminuísse os espasmos. Passados alguns minutos ela percebeu que a expressão de Maia demonstrava que a dor havia diminuído e ela finalmente parou fazendo os olhos da menor se abrirem a encarando.
– Eu não sei que tipo de ferimento provocou essas lesões – disse ela em voz baixa, acentuando ainda mais a rouquidão provocada por sua garganta irritada – Mas você precisa de um fisioterapeuta logo.
– Eu tinha consultas semanais em Minas – respondeu a voz da mais nova enquanto ela se ajeitava melhor sobre o colchão e Alicia aproveitou para se mover até estar deitada novamente embaixo da coberta da cama – Tenho que encontrar outra pessoa aqui, mas não tive tempo para procurar ainda.
– Pois precisa arrumar tempo para isso. Não se deve interromper a fisioterapia, é importante pra sua saúde – afirmou a mais velha se virando e sentando na cama.
– Farei isso, pode ter certeza – disse Maia com um sorriso que sumiu rapidamente – Se importa se eu ficar aqui por alguns minutos? – ela questionou preocupada olhando os olhos castanhos começarem a se fechar – Não acho que consiga chegar ao meu quarto sem ter outra crise de dor agora. Preciso descansar alguns minutos antes de forçar a perna novamente.
– Claro que não me importo – murmurou Alicia cobrindo a boca com a mão direita ao bocejar e depois se estivando para jogar por sobre as pernas da menor o grosso cobertor que tinha estado sobre seus ombros – Fique mais confortável, se levante apenas quando se sentir melhor – ela completou ajeitando a lateral do cobertor que estava em frente a ela e logo depois fechando os olhos e se aconchegando às cobertas – Só peço desculpas se adormecer muito rápido, acho que o antitérmico está fazendo efeito.
Elas sorriram uma para a outra e a maior voltou a se ajeitar melhor embaixo do cobertor com a cabeça nos travesseiros. Um silencio relativamente longo preencheu o quarto, mas Maia podia notar pela respiração que a outra não havia dormido ainda. Ela estava confusa e curiosa, situação que, em sua experiência, era contrária quando alguém descobria a extensão dos seus ferimentos. Não estava acostumada a não ter perguntas dirigidas a si sobre como e o que acontecerá. Mas toda a postura da mais velha indicava que ela não pretendia perguntar nada.
– Alicia? – chamou a mais nova quando não suportou a própria curiosidade ouvindo um resmungo da veterinária que indicava que ela estava prestando atenção – Você não vai perguntar o que causou as lesões? – ela questionou virando o rosto para encarar o rosto da veterinária.
Alicia soltou um longo suspiro antes de abrir os olhos e fixar seus olhos castanhos nos verdes da menor. Ela então voltou a se mexer de forma a continuar deitada, mas conseguir olhar melhor para Maia.
– Não me entenda mal – disse ela, a voz um pouco grossa ainda, provavelmente pela irritação na garganta – Não é que eu não esteja curiosa sobre o que causou isso, mas eu tenho um bom conhecimento sobre lesões e sequelas. Sei que foi algo sério e muito grave. Pude perceber que existem sequelas que provavelmente nunca vão desaparecer. Mas só pela extensão das coisas eu acredito que não seja um assunto fácil de ser tratado – ela apoiou o cotovelo esquerdo nos travesseiros e colocou a cabeça sobre a mão se erguendo um pouco antes de continuar – Um dia você vai se sentir confortável e vai me contar o que lhe aconteceu. Mas apenas você vai saber quando isso irá acontecer. Eu não tenho que perguntar nada.
Com um sorriso cansado Alicia fechou os olhos e voltou a se deitar deixando Maia surpresa e comovida com a atitude da maior. Um novo silencio se fez presente, mas não durou mais do que poucos minutos até que a dona do Rancho voltasse a falar.
– Eu tinha quase 18 anos quando sofri o acidente – falou Maia se deitando melhor e olhando para o teto sem conseguir encarar a veterinária, mas sentindo os olhos castanhos cor de mel abertos e fixos em seu rosto – Foi numa segunda, eu estava correndo pelas ruas do bairro, bem cedo, como sempre. Um motorista bêbado saiu de uma rua lateral, virou invadindo a preferencial na contramão e me acertou – ela sentiu a mão da veterinária ser colocada sobre as suas que estavam apoiadas sobre sua barriga, mas não desviou o olhar, estava sendo mais fácil do que nunca contar aquela história, mas ela continuava sendo algo difícil de se recordar e ela não queria, de forma alguma, chorar com as lembranças na frente de Alicia – Fiquei seis meses em coma, nenhum dos meus médicos acreditava que eu acordaria por causa da força das batidas na minha cabeça. Como o carro me acertou do lado esquerdo os membros desse lado ficaram gravemente feridos. A cicatrização foi complicada por causa do número de fraturas e porque não estive consciente para começar a fisioterapia cedo.
– Felizmente, às vezes, médicos se enganam – sussurrou a voz de Alicia num volume baixo quando Maia parou de falar – O importante é que você passou por tudo isso, que sobreviveu e que está aqui agora. Todo mundo tem sequelas com as quais precisa conviver eternamente – continuou ela separando gentilmente as mãos que Maia mantinha entrelaçadas sobre sua barriga e envolvendo uma delas com sua mão direita que ainda estava um pouco quente pela febre – Visíveis ou não, elas sempre vão existir. Só precisamos aprender a lidar e conviver com elas. E você tem se saído muito bem.
Maia apenas segurou a mão da maior com um aperto leve e fechou os olhos abaixando a cabeça com um sorriso agradecido. Alicia havia, pela primeira vez, dito o que ela não sabia que precisava ouvir. Por um instante Maia desejou ter tido coragem de contar essa parte de sua vida para Alicia antes, mas logo deixou o pensamento de lado. Ela havia contado no momento certo e essa era uma certeza que carregaria para a vida toda. Nenhuma outra decisão seria tão acertada quando a dela contar à veterinária naquele momento.
Alicia havia sido a primeira pessoa a ouvir sobre o acidente pela própria Maia. E ela se sentia satisfeita da veterinária ter sido a pessoa certa para lhe ouvir. Porque, pela primeira vez, se recordava daqueles momentos sem sentir raiva do que lhe havia acontecido. E só poderia creditar isso a como se sentia confortável e confiante com a presença da mais velha.
ai.. ai! as coisas estao se acertando!Maia falando do acidente para alicia! demonstra confiança na veterinária! Amo esse casal, acho muito fofo! nao canso de repetir. rss
bjs
Mascoty
Tbm as acho fofas *-*
E sim, Maia está começando a se abrir =]
Bjs
;]
Olá, Alini! Estou amando esta história. É interessante, mesmo querendo muito q aconteça o primeiro bj da Alícia e Maia, vc consegue desenvolver os acontecimentos de uma forma tão leve, tão agradável q eu já nem estou torcendo tanto pro bj acontecer logo.
Acho q estou gostando tanto da história q pode deixar esse bj láááááá pro final!
Esse parágrafo é brincadeira! As outras leitoras me matam! rsrsrsrsrs
Olá =]
Eu acho que ir devagar deixa as coisa mais interessantes e emocionantes hehe. Mas o beijo vai acontecer na hora certa e eu espero muito que gostem da cena kkkkkkk
E ninguém vai matar ninguém kkkkkkk
;]
Oi Alini.
Eu estou completamente apaixonada por essa história.
Linda demais!!
Continue postando mais capítulos, por favor.
Vc está de parabéns!!
Bjs
Olá =]
Vou continuar sim, até digo que a maratona vai se alongar um pouquinho kkkkkk
E muito obrigada =D
Bjs
;]