Eram 101 quando a consulta que estava marcada acabou e Alicia se sentou atrás de sua mesa para guardar tudo antes de fechar a clínica. Talitha já havia ido embora e ela estava sozinha. Pegou seu celular que havia ficado dentro de uma das gavetas e, assim que destravou a tela, viu duas ligações perdidas de Maia. A primeira coisa que sentiu foi preocupação, mas logo tentou se tranquilizar pensando que se fosse algo sério ela teria ligado mais do que apenas duas vezes. Discou o número da dona dos olhos verdes e ouviu o toque da chamada por três vezes antes da voz de Maia soar por seu telefone fazendo-a sorrir.
– Oi – foi o que a mais nova disse ao atender, já sabendo quem ligava.
– Bom dia, Srta. Almeida – falou Alicia com um tom de riso que fez Maia rir também – Aconteceu algo? Você me ligou duas vezes.
– Não houve nada, apenas queria lhe falar algo. Presumi que você estava no meio da consulta quando a segunda chamada também foi para a caixa postal – falou Maia e Alicia poderia imaginar um sorriso no rosto dela.
– Presumiu certo – respondeu a veterinária – A consulta acabou agora mesmo.
– Posso presumir também que você não almoçou ainda? – perguntou Maia com um tom de riso.
– Pode – riu Alicia se afastando da mesa e erguendo os pés sobre ela – Mas por qual razão presumiu isso?
Por algo em torno de um minuto se fez silencio na linha. Alicia estava a ponto de tirar o aparelho da orelha para conferir se a chamada ainda estava ativa quando a voz de Maia foi ouvida de novo.
– Eu pensei em convidá-la para almoçar aqui – falou a voz dela com um tom incerto como se não estivesse tão segura em fazer aquele convite, mas logo o tom mudou e ela continuou – Te pouparia de dirigir logo depois de comer. Além de que agilizaria nosso serviço porque poderíamos começar mais cedo.
– Não acho que seja necessário – falou a veterinária com o sorriso querendo aumentar, mas ela não queria criar ilusões de que Maia apenas queria sua companhia – Estamos no prazo, não precisamos nos preocupar em agilizar nada.
– Estamos no nosso prazo, mas ele não é lá muito confortável – disse a mais nova com um tom entre sério e brincalhão – Seria bom agilizar as coisas, assim não terminaríamos muito tarde no domingo. Não seria bom nem para você que talvez tenha que voltar a noite e nem para meus empregados que trabalhariam até tarde num dia em que deveriam estar descansando em casa com as famílias.
– Se quer pensar assim então eu deveria passar a noite ai também, para começarmos no domingo bem cedo – falou Alicia brincando.
Maia riu junto com a veterinária e nenhuma disse mais nada. Novamente um silencio se fez na chamada, mas não tão longo quanto o anterior. Outra vez quem reiniciou o diálogo foi a nova administradora do Rancho.
– Talvez não seja uma má ideia essa – falou Maia, sua voz suave claramente mostrava que ela estava considerando a ideia – Na verdade me parece uma ótima ideia.
Alicia não soube o que responder, as duas ficaram em silencio, cada uma esperando a reação da outra. A única coisa que lhes dizia que a ligação seguia ativa era a respiração uma da outra que poderia ser ouvida. Mais uma vez foi Maia quem encerrou a longa pausa.
– É uma boa ideia. Nos facilitaria muito – disse ela de uma forma calma, enquanto isso Alicia ficava sentada de forma tensa em sua cadeira – Além de evitar a parte mais trabalhosa para você que é ter de ir e voltar. Seria incrivelmente mais prático se você passasse a noite aqui no Rancho. Há algum problema em você passar a noite aqui?
– Não, não existe nenhum problema – falou a veterinária pensativa, por um lado era realmente mais prático se ela fizesse isso, por outro ela não sabia se lhe faria bem estar perto de Maia por tanto tempo.
– Então? – perguntou Maia impedindo-as de entrar em um novo silencio.
– Eu acredito que seja uma boa solução para todo o deslocamento que eu teria que fazer no sábado e no domingo – falou a veterinária realmente considerando isso.
– E o almoço de hoje? – perguntou Maia antes de perder a coragem de insistir.
– Acho que não precisamos nos adiantar tanto se vou passar a noite ai – falou Alicia sorrindo largamente porque ficou claro que Maia queria a presença dela no Rancho.
– Certo – Maia concordou rindo baixo de uma forma que dizia que ela estava sem jeito ou envergonhada da própria insistência – Nos vemos mais tarde então?
– Sim, Maia. Nos veremos mais tarde – respondeu a veterinária com um sorriso bobo.
Quando a ligação se encerrou ambas tinham sorrisos largos em seus rostos, mas elas não sabiam desse fato. Alicia terminou de arrumar seu consultório e subiu. Tomou um banho, trocou de roupa colocando algo mais quente, porque a temperatura do dia estava baixa e separou algumas outras peças. Após vestir um jeans preto e grosso, sua bota preta e uma camisa de mangas compridas de um tecido jeans mais grosso ela parou em frente a sua cama. Separou uma muda de roupas e colocou em uma mochila preta que tirou de dentro do armário.
Guardou dentro da mochila os itens de que precisaria e arrumou tudo decidida a realmente passar a noite no Rancho. Depois de tudo pronto ela levou a mochila para fora do quarto e foi até a cozinha. Sua mãe havia preparado o almoço e as duas comeram sem trocar muitas palavras. Dona Marta ainda estava a ignorando depois da conversa durante o café. Ela apenas informou a mãe que passaria a noite no Rancho logo antes de ir para a escada e descer para a garagem sem ver o sorriso que sua mãe deu ao ouvir a notícia.
O caminho foi lento, quando chegou Maia já estava no final do pavilhão de baias a esperando com Eduardo e Giulio junto de mais um dos potros. Novamente elas trabalharam em conjunto e a mais nova cada vez ficava melhor e aprendia mais. A tarde foi incrivelmente agradável com os quatro conversando de qualquer tipo de assunto enquanto Alicia avaliava os animais. Maia e Alicia jantaram juntas num clima divertido de conversa. Descobriram que gostavam de várias coisas em comum e que tinham algumas preferencias muito parecidas e outras incrivelmente diferentes.
O café da manhã do domingo teve o mesmo clima de descontração e, aos poucos, elas iam se conhecendo e se identificando cada vez mais uma com a outra. Por várias vezes, principalmente enquanto Maia falava de sua faculdade e de si mesma, Alicia ficava a encará-la admirando-a, mas não notava que o contrário também acontecia. A dona dos olhos verdes, sem notar que estava fazendo isso, também admirava a veterinária, principalmente quando ela falava de sua profissão. Durante o almoço o assunto se focou em cavalos, Maia havia pesquisado muito sobre o assunto e lido diversas coisas que a veterinária havia lhe enviado. As duas já começavam a discutir qual animais iriam selecionar e Alicia ficou incrivelmente feliz ao notar que Maia começava a entender do assunto.
No período da tarde apenas um animal ainda não havia sido avaliado e foi com ele que elas foram trabalhar. Demoraram certa de 3 horas para completar todos os procedimentos e mais meia hora conversando para definir definitivamente quais potros seriam escolhidos por Maia. Ao final de todo o serviço o relógio de pulso de Alicia marcava 155 e o sol mantinha o clima mais quente do que os últimos dias haviam sido. Ambas estavam usando jeans, Alicia com suas botas pretas e Maia com uma bota de cano curto marrom com um pequeno salto. A mais nova usava uma blusa de gola alta branca e por cima um casaco de moletom bege. A veterinária usava uma camisa de mangas compridas azul claro que ainda estava com as mangas dobradas até os cotovelos, mas já havia retirado a camisa do pijama cirúrgico que havia usado enquanto examinava os potros.
As duas estavam sentadas num banco dentro do pavilhão enquanto Eduardo e Giulio estavam do lado de fora separando os animais que ficariam em um piquete próximo da casa e levando os outros dois potros escolhidos de volta para onde eles tinham estado antes. Alicia comentava o quanto todos os potros eram muito bons e Maia ouvia tudo se sentindo orgulhosa de poder aprender e seguir com aquela atividade. Ela estava simplesmente amando estar cercada de cavalos e de natureza.
– Aquela fêmea tordilha que separamos talvez se torne uma égua tão boa quanto Lua – disse a veterinária desdobrando as mangas da camisa e as abotoando – Com o Giulio treinando ela vai ser um animal incrivelmente agradável de ser montado daqui um ano ou pouco mais. Ela já tem um passo muito bem organizado, vai ser muito confortável.
– Quem sabe daqui um ano ou pouco mais eu possa ter coragem de aprender a montá-los para descobrir – brincou Maia rindo e olhando para a porta do pavilhão por onde Eduardo ia entrando.
– Você não sabe montar? – perguntou Alicia virando no banco comprido e encarando Maia com um olhar arregalado e surpreso – Como a proprietária de um Rancho de cavalos pode não saber montar? – perguntou a veterinária com um tom de riso.
– Não sabendo, ué – riu Maia dando de ombros.
– Pois vai aprender. Faço questão de ensinar – disse Alicia se levantando.
– Um dia quem sabe – riu Maia da animação que a veterinária parecia ter adquirido.
– Pois o dia será hoje, Srta. Almeida – disse Alicia já de pé e parando em frente a ela – Temos duas horas ou mais de sol e garanto que sou capaz de te ensinar a subir em um cavalo nesse tempo, ou não me chamo Alicia Ferraz – falou ela.
Maia começou a negar dizendo que não era boa ideia, que ela não se sentia muito confiante ainda para esse tipo de coisa e que ela ainda não tinha conhecimento suficiente sobre cavalos para aprender. Mas nada mudou a determinação de Alicia que respondeu que ela não precisava saber nada sobre cavalos para aprender a montar. Segundo a veterinária ela apenas deveria respeitar os animais e se sentir confortável perto deles. Quando Maia disse que não se sentia com coragem o bastante Alicia pediu que apenas confiasse nela. Após isso foi impossível Maia conseguir negar e, segurando na mão que Alicia ofereceu, as duas seguiram para um redondel de areia ao lado do pavilhão.
Eduardo trouxe uma das éguas mais mansas do Rancho e depois buscou a sela e os arreios. Alicia selou a égua explicando a Maia como fazer e para que servia cada uma das coisas. Depois a veterinária pediu a Eduardo para buscar um banco porque Maia não teria força para subir do chão na primeira vez. Antes de tudo Alicia fez Maia conhecer a égua, um animal de pelagem castanha com as patas brancas que se chamava Angel. A mais nova caminhou em volta de Angel com a ajuda de Alicia, sempre tocando a égua. Alicia explicou que Angel precisava conhecer o cheiro de Maia para saber quem ela era.
Maia acariciou muito a égua que era realmente muito calma. Quando Eduardo voltou com o banco Alicia explicou que se deveria, sempre, montar um cavalo pelo lado esquerdo. Mas, sabendo que Maia não teria força na perna esquerda ela montou e desmontou pelo lado direito de Angel várias vezes para que a égua acostumasse um pouco. Nas primeiras tentativas Angel recusou e se afastava de Alicia quando ela tentava. Depois da quarta a égua começou a aceitar e, depois de mais de 15 vezes, Alicia levou a égua até a cerca do redondel encostando a lateral esquerda do animal nas madeiras para que ela não se afastasse.
Colocou o banco do lado direito de Angel e chamou Maia. Era um banco largo de 70cm de comprimento e isso possibilitou que as duas subissem nele ao mesmo tempo. Alicia ajudou Maia a subir e depois montou atrás da mais nova. Fez Maia segurar as rédeas, explicou como realizar os comandos e começou a ajudar a mais nova a fazer Angel andar, virar e parar. No começo Maia ficou muito insegura, mas a presença de Alicia às suas costas pareceu relaxá-la rápido, tanto que a veterinária logo percebeu a tensão inicial dela se dissipar logo que começaram a cavalgar.
Ficaram quase uma hora andando a passo lento com Angel, depois de vários minutos Alicia havia deixado todo o controle com Maia. A veterinária estava amando aquela experiência. Seu coração batia acelerado e ela precisava forçar sua concentração para não se distrair com o cheiro do perfume de Maia. No entanto, ela fez o máximo possível para mante suas mãos longe da mais nova, não queria arriscar perder seu controle. Quando finalmente soltou as rédeas manteve suas mãos espalmadas em suas coxas para não coloca-las na cintura da menor. Depois de um tempo Alicia achou que Maia poderia experimentar ficar sozinha na sela.
Antes de descer explicou à mais nova que, se sentisse qualquer insegurança ou achasse que iria escorregar e cair ela deveria se inclinar para frente e abraçar o pescoço da égua. Maia não admitiria nem para si mesma, mas sentiu muita falta do calor e da presença de Alicia quando ela desceu de Angel. Mesmo assim tentou continuar confiante e, em parte, a presença da veterinária logo ao seu lado ajudou nisso. No fim Alicia havia cumprido sua palavra de ensinar Maia a montar antes do sol se por.
N/A: Capítulo 22 com momentos tensos (quem sabe eu não solte ele amanhã? hehe)
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uhuhu! Alicia vai dormir no rancho! aeee! essa da alicia ensinar maia a montar foi bem legal! acho que ate a saída da Alicia da fazenda deve rolar algo entre elas. rss.
beijos
mascoty
Adoro a ansiedade de vocês kkkkk. Vai rolar muita coisa entre elas. Sempre rola =P
Bjs
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Que aula boa heim??!!! Uma Boa professora opera milagres kkkkkkkkkkkkk
Poxa Alini já tensão novamente???
Agora que tava relaxando kkkkk???
Óootima aula kkkkk. Não se encontra professoras como Alicia por ai não hehe
Siiim Tensão outra vez. Se não tivesse não seria eu =P
Mas vai ter momentos fofos junto
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Apreensiva com o clima dessa casal!
Bela história, parabéns!
Apreensiva por qual razão?
Cada vez melhor!!!! :)))
Ebaa kkkk
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