Gentilmente Alicia colocou a mão esquerda de Maia sobre seu braço direito depois de colocar a mochila nas costas. A mais nova segurou um sorriso que quis surgir em seu rosto sem uma razão aparente e elas seguiram para a escada descendo os degraus e indo na direção do pavilhão de baias. Nenhuma palavra foi trocada, mas o silencio entre elas era confortável e nenhuma sentiu falta de conversas porque era agradável estarem quietas enquanto caminhavam lentamente. Alicia aproveitava a proximidade para sentir o perfume floral suave de Maia, mas se controlava para não demonstrar o quanto gostava de estar tão perto da mesma.
Chegaram as baias e percorreram o longo caminho até o final do corredor. Havia um pequeno espaço coberto também e, onde antes haviam baias, agora estavam as portas de pequenas salas que serviam como depósito. Antes da porta dos fundos do pavilhão, que era idêntica a porta do outro lado, havia uma estrutura que Maia não soube o que era. Giulio, Carlos e Eduardo estavam ali conversando enquanto os dois rapazes pareciam organizar algumas coisas que Maia reconheceu como selas de montaria.
A estrutura era feita de metal, quatro postes com mais de dois metros numa disposição retangular de aproximadamente 2 metros de comprimento por 80 centímetros de largura (N/A: as medidas padrões são 2,5×2,2×0,75m). Nas laterais maiores haviam duas barras paralelas unidas por barras transversais mais finas. Nas partes menores haviam pequenas portas. Enquanto Maia observava a estrutura Alicia cumprimentava aos homens com apertos de mão. Maia já havia soltado o braço dela e estava mais próxima a estrutura ainda desconhecida para enquanto a veterinária colocava sua mochila sobre uma longa mesa encostada numa das paredes do corredor. Havia outra mesa igual do outro lado que estava ocupada pelas selas.
– Doutora, podemos trazer um dos potros para cá? – perguntou Carlos limpando as mãos em um pano que guardou de volta no bolso.
– Não sei ainda Carlos, vou precisar olhar eles – respondeu Alicia retirando algumas pastas da mochila junto com um lápis – Quero ver o tamanho deles. Se forem muito pequenos ainda acho melhor leva-los para o outro tronco. Não quero que eles se machuquem por se moverem demais.
*N/A: existem dois tipos de tronco de contenção para cavalos, esse que Maia viu primeiro e um segundo que é mais usado para bovinos, mas serve para grandes animais em geral. Esse primeiro é desmontável e muito prático.
http://img.olx.com.br/images/61/618626112637201.jpg
– Não vai ser preciso não doutora – falou Giulio fazendo um sinal com a mão para que Carlos fosse buscar um dos animais – Estão todos com mais de um ano e meio, já os colocamos todos nesse tronco mesmo e eles ficaram bem calmos ali.
– Certo, então vai ser melhor assim mesmo – concordou Alicia sorrindo e retirando algo que Maia achou ser uma camisa de dentro da mochila.
Alicia pegou aquilo que se parecia com uma blusa grossa sem mangas de um verde bem escuro e vestiu por cima da blusa azul de mangas que usava. Maia apenas acompanhou os movimentos da veterinária notando que a ‘blusa’ tinha um bolso grande na frente e um pequeno na altura do lado direito do peito dela onde estava bordado “Dra. A. A. Ferraz’. Os olhos verdes acompanharam a mais alta começar a preencher algo na pasta que tinha em mãos e, logo depois, viram a veterinária se aproximar.
– Eduardo, ache uma cadeira e traga para a Srta. Almeida se sentar – disse ela olhando para o rapaz enquanto continuava a se aproximar de Maia, quando chegou bem perto dela parou ao seu lado com um sorriso antes de lhe dirigir a palavra – Como acredito que você vá querer acompanhar tudo para aprender eu acho que vai ser uma boa experiência se você ficar com essas fichas e preenche-las para mim – disse ela estendendo a pequena pasta que tinha papeis presos na parte interior.
– Será um prazer – disse Maia retribuindo o sorriso – Mas não vai te atrapalhar ter que me explicar o que preencher ou onde e essas outras coisas? – perguntou receosa de ser um peso durante o trabalho de Alicia.
– Não será incomodo nenhum te explicar – respondeu a veterinária sorrindo e pendurando o estetoscópio em volta do pescoço – Além do que você tem cara de quem aprende rápido, se estiver certa você vai acabar me ajudando a terminar mais rápido, mesmo que nos atrasemos um pouco agora no começo – disse ela piscando para Maia antes de se virar para abrir a portinha do tronco por onde entraria o potro.
Eduardo chegou com a cadeira e colocou-a um pouco afastada do tronco. Enquanto Maia se sentava Carlos chegou com um dos potros e ela observou a veterinária ajuda-lo a colocar o animal no lugar. Depois ela se aproximou da cadeira onde Maia estava ainda com um sorriso.
– O que devo fazer? – perguntou ela com os olhos verdes brilhando em expectativa por aprender.
– Primeiro de tudo – disse Alicia sorrindo e se abaixando em frente à ela pegando a ficha e colocando sobre o colo da mais nova – Vamos preencher a resenha dele. Se algum dos potros já tiver nomes o Giulio vai te dizer e você anota aqui – ela falou apontando para o local certo – O resto das informações nós vamos preencher depois quando pegarmos os registros deles. Eu vou ditar o que você tem que escrever aqui na descrição – ela apontou uma parte com mais linhas logo abaixo de um desenho de um cavalo – Quando eu terminar volto aqui para te mostrar como preencher o desenho de acordo com a descrição que você escreveu, ok? – ela perguntou olhando para Maia pela primeira vez desde que começou a explicação.
Os olhos verdes se prenderam nos castanhos que estavam dourados pelo reflexo do sol. Maia se perdeu por um segundo no sorriso e no olhar de Alicia que estava numa posição mais baixa que ela por estar ajoelhada ao seu lado. Ela logo voltou ao normal acenando com a cabeça para concordar com a veterinária. Mas ainda estava um tanto distraída com o olhar de Alicia e, por isso, quando percebeu já estava fazendo uma pergunta aleatória que vinha percorrendo sua mente.
– O que é essa camisa? – ela perguntou um pouco distraída ainda e logo pareceu ficar envergonhada.
– É apenas algo que usamos no campo – disse Alicia sorrindo divertida com a curiosidade da menor – No consultório usamos jaleco, no campo usamos macacões. Isso se chama pijama cirúrgico, o nome é esse mesmo – disse rindo e segurando a gola do pijama com a mão – Pode ser usado em salas cirúrgicas, consultórios, ambulatórios ou em consultas a campo também. Acho ele muito mais prático que o jaleco quando estou lidando com grandes animais porque ele não precisa ser branco. E também é muito útil por ter bolsos grandes. Agora podemos começar?
Maia apenas concordou com a cabeça ainda envergonhada por ter deixado sua curiosidade falar mais alto quando poderia ter se segurado até outro momento. Ganhou um largo sorriso de Alicia antes dela se levantar e acabou sorrindo de volta e ajeitando a pasta em seu colo e o lápis em sua mão para preencher a ficha como Alicia dissesse para fazer. Levaram uma manhã inteira avaliando dois animais, no segundo Maia já conseguiu completar quase tudo o que Alicia dizia para preencher sem muitos problemas, tendo apenas algumas dúvidas no final.
A veterinária fez a resenha do primeiro, depois todos os exames padrões de uma avaliação física. Verificou os aprumos e a conformação óssea e muscular do animal ainda no tronco. Depois ela explicou todas as informações que havia dito para Maia anotar e o mesmo foi feito com o segundo animal. Alicia ainda conseguiu avaliar o primeiro potro no redondel por quase uma hora enquanto o fazia dar algumas voltas variando o passo dele até o galope.
*N/A: aprumo diz respeito à angulação dos membros de um animal, cada tipo de animal tem uma angulação específica para cada articulação. Quando uma ou mais articulações não seguem essa angulação correta diz-se que o animal tem defeito de aprumo. Esse defeito, que pode ser de origem genética ou congênita, pode restringir a pratica esportiva do animal ou até provocar lesões e incapacidade permanente de exercer algum tipo de função.
Assim que terminaram a resenha do segundo potro Giulio as avisou de que estava perto do meio-dia. Maia muito insistiu para que Alicia almoçasse com ela no Rancho, mas a veterinária teve de recusar. Mesmo querendo muito poder almoçar com a dona dos olhos verdes ela não poderia correr o risco de se atrasar para a consulta que tinha na parte da tarde e que estava marcada para às 130.
– Nos vemos no sábado a tarde então – disse Maia com um dar de ombros após aceitar com um sorriso os motivos de Alicia para não acompanha-la no almoço – Novamente eu tenho que te agradecer por estar fazendo isso por mim. E também por estar me ensinando tanta coisa. Muito obrigada, Alicia.
– Não precisa agradecer – respondeu a veterinária com um sorriso sem jeito – Não é nada que você não poderia aprender sozinha. E não é nada mais que um pequeno favor para uma nova amiga – ela reiterou com o mesmo sorriso.
Estavam as duas nas escadas da varanda da casa principal, Maia no primeiro degrau e Alicia logo abaixo dela, ficando um pouco mais baixa que a mais nova. Trocaram sorrisos por alguns segundos até que a veterinária suspirou dizendo que tinha que ir para não se atrasar.
– Até sábado, Maia. Se cuide – disse a veterinária piscando para a menor e se virando para ir até seu carro.
Maia a assistiu entrar no Troller prata, ligar o veículo e sair do Rancho com uma sensação estranha e diferente. Era a primeira vez que Alicia não lhe chamava de Srta. Almeida ou apenas senhorita. Por algum motivo gostou muito mais de ser chamada pelo seu próprio nome pela voz da veterinária.
Interessante essa avaliação dos animais e da forma que voce explica para nós leigas no assunto entendermos!
vamos ve se ate o fim dessa avaliação sai um beijo, rss.
Química e sentimento entre elas tem e muito!
Bjs
Mascoty
Eu expliquei muito por alto exatamente para todos entenderem. Feliz em saber que consegui fazer ser algo mais fácil de compreender =]
Não fique ansiosa por esse beijo não. Aviso que ele vai demorar, mas a espera valerá a pena
Bjs
;]