A Magia do Amor

11. Sábado de sol: Reencontrando amigos

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Sábado de sol: Reencontrando amigos
 

– Alana, nós combinamos que você descansaria. No mínimo, intervalos de meia hora. __ ressoou a voz grave e levemente irritada enquanto a porta abria-se.

– Fala sério, viu. __ Alana passou pela porta, ainda olhando em direção a loja. – Parece que sou a primeira mulher no mundo que fica grávida de gêmeos. Eu não estou doente, Eva! E… __ engoliu as palavras ao notar a redoma de sedução que envolvia a prima e Maysa.

– Você é a única grávida no meu mundo. Você ainda não entendeu isso? __ Eva finalmente surgiu e deu graças aos céus por Agatha também estar ali. – Você é a pessoa que eu realmente estava precisando encontrar, será que tem como você explicar para sua prima que ela precisa descansar sim, e ir com mais cal… __ encarou um pouco mais a loira ao lado de Agatha. – May?

– Achei que não fosse me reconhecer, Eva! __ sorriu.

– Isso é sério? Maysa sua vac… __ interrompeu a frase ao perceber que tinha um garotinho observando tudo, atravessou a saleta e foi abraçar a amiga. – Nossa, quanta saudade de você. O que está fazendo aqui?

– Ao que parece, entregando suas encomendas! __ a loira gargalhou. – E você, por que está na minha cidade, pediu permissão?

– Depois passo o pedido formal por escrito, pois agora estou na ardilosa missão de manter minha esposa na linha.

– Ainda tenho o convite do seu casamento, na verdade, o e-mail, porque aquilo foi um comunicado e não um convite!

– Desculpa, amiga. Meu Deus, faz muito tempo que não nos vemos!

– Sim, algum tempo. Mas, você está do mesmo jeito, acho que até mais bonita. Deve ser os ares dessa cidade.

 

Eva gargalhou, mas logo engoliu a risada junto com a empolgação de ter reencontrado Maysa, pois a esposa a olhava séria e com as mãos cruzadas sobre a barriga.

 

– Estou vendo que vocês já se conhecem…

– Sim, amor! Maysa e eu nos conhecemos em um curso sobre como ser escritor. Uns oito anos atrás? Acho que isso… o curso era ridículo, não sei como fomos parar naquele lugar, então saímos e fomos jogar conversa fora. Mas, não a vejo desde que… __ Eva ponderou, não sabia se deveria tocar naquele assunto, lembrava perfeitamente de como Maysa ficou devastada com a morte de esposa.

– Desde que a Alessandra faleceu. __ Maysa completou a frase.

– Sim, como estão as coisas?

– Algumas coisas ainda precisam de ajustes. Mas, nós dois estamos bem!

– Eu fico feliz em saber disso. __ Eva segurou um pouco mais firme as mãos de Maysa, desses gestos que os amigos costumam fazer para demonstrar apoio. E então virou-se para o pequeno que a observava. – E você é o Daniel, como está grande!

 

Daniel abriu um sorriso e até deixou os cães de lado por um momento para caminhar até a moça que parecia lhe conhecer, apesar de ele não lembrar dela.

 

– Oi, quem é você?

– Eu sou a Eva. __ chegou mais perto do pequeno e abaixou-se. Os olhos eram idênticos aos de Alessandra, assim como o tom dos cabelos, mas o menino era mais parecido com Maysa. Estendeu a mão para um cumprimento formal. – É muito bom revê-lo.

– Foi você que colocou os bebês na barriga da Alana? __ Agatha, Maysa e Alana seguram o riso enquanto Eva ficou sem fala por alguns segundos.

– É, mais ou menos! __ gargalhou pegando o pequeno no colo. – Então, o que fazem em Cabritos?!

– Moramos aqui, bem ao lado da casa da Agatha. __ Daniel respondeu.

– Não brinca! __ olhou para Maysa. – Desde quando?

– Algumas semanas. Me disseram que você estava morando por aqui, mas as coisas estão um pouco corridas, ia te procurar quando tudo estivesse um pouco mais calmo, para tomarmos um vinho e colocar a conversa em dia. Só não imaginava que sua esposa era a prima da Agatha.

– Mundo pequeno e interessante esse, não é mesmo? __ Alana comentou enquanto olhava para prima, ciente de que Agatha não havia dito uma palavra desde que ela e a esposa entraram na saleta. – Bom, já que ninguém me apresentou formalmente, eu sou a Alana. Atualmente a gestante que pelo visto não pode fazer mais nada… só ficar descansando. __riu.

– Desculpa, vida. __ Eva colocou o pequeno no chão e puxou uma cadeira para que a esposa sentasse. – Mas, é porque você realmente precisa descansar.

– Estou muito bem.

– Alana, sente-se! __ dessa vez foi Agatha quem ordenou, mas em um tom de pedido.

– E que vença a maioria, viva a democracia! __ Alana suspirou e finalmente sentou. – Então Maysa, está gostando de Cabritos?

– Bastante! __ a resposta fez com que seus olhos se voltassem para Agatha. – Confesso que, bem mais do que previa.

– Eu amo ter mais do que previa. __ rindo, Alana passou a mão sobre a barriga. Embora o que tivesse passando por sua cabeça fosse que o desaparecimento de Agatha estava começando a ser explicado. – Temos que nos reunir em breve, as quatro, para que você me conte todas as coisas que Eva não quer que eu saiba sobre esse passado de solteirice dela. __ olhou para esposa e deu um sorriso malandro.

– Ah, será um prazer.

– Ei vocês, minha vida é um livro aberto! __ Eva gargalhou e depois beijou a testa de Alana. – Sobre o que já fiz quando estava solteira, deixou de ter importância no instante em que te conheci. __ antes mesmo que a esposa respondesse e ela ficasse ainda mais tímida, tornou seu olhar para Agatha. – São as encomendas?

– Sim, trouxe tudinho e mais um pouco. __ Agatha não via a hora de ocupar-se, seus pensamentos ainda estavam agitados. – Alana, quero que você experimente essa loção de jasmim, modéstia à parte, está incrível, mas quero que experimente antes de começar a vender e também trouxe um novo perfume.

– Ótimo, porque não temos mais nada das suas coisas aqui, é chegando e o pessoal comprando. __ Alana abriu a loção. – Nossa, o aroma é delicioso. Eu já quero uma! __ deixou alguns pingos caírem nas costas da mão e esfregou-a. – E essa textura, incrível. Você estava inspirada, hein?! __ sorriu e deu uma olhada para Maysa e em seguida voltou a olhar para prima.

– Eva, meu amor… porque você não mostra a loja para a Maysa e o Daniel, enquanto eu vejo essas coisas aqui, pelo menos descansarei sendo produtiva. __ Agatha revirou os olhos para Alana, se ela não estivesse grávida, merecia uns tapas.

– Excelente ideia, vida! May, acho que você vai gostar muito das coisas que temos por aqui. __ Eva já estava praticamente puxando a amiga enquanto abria a porta e sumiam pelo curto corredor.

 

Alana recostou na cadeira ainda olhando para Agatha e sorrindo maliciosamente.

 

– O que? __ Agatha se fez de desentendida enquanto abria outra caixa.

– Quer me contar?

– Não sei do que você está falando!

– Aí Thata, me dá nos nervos quando você se faz de boba, ainda mais comigo. Contar sobre você e a vizinha gostosa, que é amiga da minha mulher… da época que a minha mulher era solteira, não sei se gostei de saber disso! __ fez beicinho e conseguiu arrancar uma gargalhada sincera da prima.

– Você acabou de chamá-la de gostosa e fica com ciúmes dela com a sua mulher?

– Sim! Mas, não enrole.

– Não tem nada para contar…

– Thata, eu te conheço há muito tempo. E quando entrei nesta sala, a temperatura estava bastante elevada, se um furacão passasse por aqui, vocês nem perceberiam.

– Não seja ridícula, não passa furacões nessa cidade.

– Thata, eu amo você. Mas, às vezes sinto vontade de te dar uns tapas, meu amor.

– Eu sei, a recíproca é verdadeira nos dois casos.

– Normalmente você é uma pessoa calma. E é por isso que estou achando engraçado, fascinante e também preocupante, vê-la tão agitada dessa forma.

– Está louca? Não estou agitada, muito menos nervosa! __ Agatha bateu com força o frasco que tirava de uma das caixas sobre o balcão. – Certo, está bem. Talvez eu esteja um pouco. __ puxou outra cadeira e sentou de frente para prima. – Ela me deixa nervosa, não dá mais para negar isso. E é porque estou me sentindo muito atraída por ela, mas preciso pensar só mais um pouco.

– Pensar em que? Prima, é como disse, eu te amo, mas você é devagar demais! Vocês já tiveram um passado, então, não tem o que pensar.

– Não quero passar pelo que passei com o Roberto, também não quero cometer algum erro com a Maysa, até porque tudo que a envolve também envolve o Daniel.

– Ah Thata, preciso te contar uma coisa…

– Hum?

– Você está se apaixonando, ou descobrindo que sempre foi apaixonada por ela.

– Não… só estou nervosa porque não lembro de me sentir tão afetada assim desde… __ parou para pensar. – Desde nunca, nem com o Roberto foi assim. Nunca senti meu corpo doer por desejar alguém, será que isso é normal?

 

Alana riu, enquanto balançava a cabeça e pensava no quanto a prima estava parecendo uma adolescente descobrindo seu primeiro amor, sua primeira atração. Tudo estava tão obvio, mas ao que parecia, nenhuma das duas queriam enxergar.

 

– É normal, muito normal. Mas, só sentimos emoções tão completas assim, quando há mais que um simples desejo. Você está apaixonada, melhor, o amor que sempre sentiu por ela, está reascendendo. Quer que eu peça a Eva para descobrir o que ela está sentindo? A Eva acabaria me contando, e eu falaria para você.

– Não, se ela sentir o mesmo que eu estou sentindo e se algo acontecer, eu quero que seja de forma igual, não quero ter nenhuma vantagem injusta sobre ela.

– Se? Ela estava praticamente atirada em seus braços, acredito que vocês nem se lembravam que tinha uma criança aqui! E outra, mesmo que você tenha toda informação ou certeza, não há vantagens quando alguém toca o seu coração. __ Agatha assentiu.

– Quase nos beijamos!

– Eu vi, se a Eva não estivesse tão louca com isso de que eu preciso ter que repousar sempre e me empurrado para cá, seria um beijo daqueles!

– Não… quase nos beijamos na semana passada.

– O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeê????!

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

Enquanto Agatha contava para a prima o que ocorrera durante os últimos encontros que teve com a loira, Eva terminava de mostrar a loja para Maysa.

 

– Essa loja é incrível!

– Foi exatamente o que pensei quando entrei pela primeira vez. __ Eva pegou uma formação de cristal. – Acredito que as pessoas que escrevem o que nós escrevemos, ficariam loucas com essa cidade e com as coisas que encontrariam nessa loja.

– Escrever fantasias e morar aqui é como fazer parte da estória. Falando nisso, li seu último livro, juro que ri muito e também senti medo, como que você me inventa de querer matar o bom velhinho? Ainda bem que ele conseguiu sobreviver e há tempo de salvar Natal.

– Terror, humor, e magia de Natal!

– Nunca conheci alguém que conseguisse abordar esses temas melhor que você. __ Maysa olhou para Daniel que admirava alguns brinquedos. Mas, os olhos da criança arregalaram-se mesmo quando o sol atravessou a janela e refletiu uma escultura de m menino alado feito de cristal em tom azulado. – Com certeza não vou sair de mãos vazias daqui! __ e sorriu.

– Ele é muito lindo. Fico pensando em como serão os meus, espero que puxe para a beleza da Alana!

– Foi bom você tocar nesse assunto! Como que você, a rainha das solteiras, acabou casando e será mãe de gêmeos? De repente, parece que estamos vivendo em uma realidade alternativa!

– É quase isso! __ gargalhou. – Eu queria sair de São Paulo, estava cansada daquela correria. Pesquisando sobre cidades do Nordeste com uma boa qualidade de vida apareceu Cabritos na lista, e eu ri muito do nome, depois lembrei de você falando que nasceu aqui. Fiz mais algumas pesquisas e mudei… eles têm festivais culturais incríveis, e em um desses eu vi a Alana, mas ela não me viu. Fiquei pensando que nunca mais a veria. Um dia, fiquei curiosa “Loja Eclipse”, entrei, e lá estava ela.

– Simples assim?

– Não, claro que não. Nunca é fácil ou simples demais. Você é testemunha dos meus discursos sobre permanecer solteira e ter apenas sexo casual. Eu até tentei ficar longe, mas não consegui. Quando dei por mim, estava amando como nunca amei alguém nessa vida, me senti completa pela primeira vez.

– Eu fico tão feliz por isso, Eva. Todo mundo merece sentir amor, dar amor e receber amor. Mas, acho que ela sentiu ciúmes de mim.

 

Gargalham e continuaram uma conversa mais amena sobre planos literários…

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

Quando Agatha entrou na loja para colocar algumas coisas na prateleira, não viu apenas a escultura do menino alado sendo embalada, havia também brinquedos, uma caneta tinteiro, uma escultura em pedra jade que dava formato a um unicórnio, um mago de longa barba branca segurando uma bola de cristal esfumaçada e por fim, a escultura de uma bruxa, a própria Agatha já andava pensando em obtê-la.

 

– Somos fracos! __ Maysa falou como se tivesse perdido uma batalha, a morena apenas lhe sorriu. – Somos consumistas, ele não me freia e eu não consigo freá-lo.

– Mas, tem bom gosto! __ Agatha falou enquanto passava os dedos pela escultura da bruxa.

– É muito bonita, não acha?

– A mais linda que já vi! __ certo, Agatha não estava mais falando da bruxinha e acredito que ela nem se deu conta disso.

– Pensei em deixá-la no escritório, quem sabe ela não consiga me trazer inspiração?!

– Excelente ideia. __ Agatha inclinou-se sobre um balcão que continha várias pedras, seus dedos vasculharam os recipientes, selecionando-as. – Aqui, ametista fundida com pedra da lua; para intuição, clareza de pensamentos, sensibilidade e é claro, aliviar a confusão mental.

– Aham, é claro! __ com uma certa ironia.

– Ah, e esse cordão. O pingente é um cristal, para atrair coisas boas.

– Que lindinho, eu gostei.

– Que bom, a pedra e o cristal são por conta da casa. __ Agatha se despediu e voltou para a saleta.

 

Maysa não acreditava em pedras magicas, cristais, em esoterismo e/ou ocultismo. Mas, aquilo lhe daria bastante inspiração para um futuro livro. E com certeza todos aqueles objetos, depois que conseguisse organizar a casa, daria uma atmosfera interessante ao ambiente. Deixou um beijo para a esposa da amiga, deu outro abraço em Eva, pegou as compras e foi embora.

 

A loira observava o filho e concluía que o dia lhe trouxera inúmeros benefícios. Ela e Daniel se divertiram bastante, e não podia negar que o fato de ter encontrado com Agatha, foi como dar mais brilho àquele dia. E de extra, ainda reencontrou Eva. E Maysa andava sentindo falta da companhia de uma amiga, alguém em quem realmente pudesse confiar. Era engraçado, porque a amizade delas foi construída com base em ligações e trocas de mensagens, já que Eva vivia viajando, em feiras literárias, natais em cidades onde este se torna um grande evento, mas de todos os amigos que tinha, Eva se tornou a preferida; era leal, cheia de imaginação e bom humor. Sem contar, que seria divertido trocar experiências maternais com a amiga depois que os gêmeos nascessem.

 

Créditos musicais:

Fotografia – Leoni (https://youtu.be/FD_YHSMAsaE)



Notas:



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2 Respostas para 11. Sábado de sol: Reencontrando amigos

  1. Amei o capítulo!! ???
    Melhor amiga/prima que a Alana não existe, adoro <3
    Essa Agatha sabe nem disfarçar!! hahahahaha
    Maysa e Agatha tem uma cumplicidade linda, não é?
    É muito bom ver essa cumplicidade antes de qualquer coisa de safadeza!
    Ótimo capítulo, Afrodite!
    Partindo para o próximo…
    Beijos ????
    Cid.

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