Capa: Tattah Nascimento>
Revisão: Isie Lobo e Nefer>
Texto: Carolina Bivard>
Capítulo 10 – Descobrindo tecnologias>
– Bom dia! Não precisava dormir em seu alojamento. Acredito que a cama da casa seja melhor que as da nave, além do que, o café da manhã, também é melhor.>
Bridget falou, tentando se aproximar de forma descontraída da engenheira que, logo cedo, se postou a frente do console, inserindo informações para a IA.>
– Vejo que Decrux teve uma conversa interessante com você, ontem à noite.>
A engenheira respondeu, sem parar a atividade que fazia e sem encarar a comandante.>
– Ei! Olha pra mim.>
Bridget segurou o braço de Kara, com delicadeza.>
– Fiquei irritada com você por ter me deixado no vácuo, ontem. Mas, entendo que era uma situação difícil, já que eu estava insistente e, seriamente, determinada a te levar para a cama. – Sorriu sem jeito. – Não a culpo por ter deixado acontecer, sem me… sem me esclarecer certos pontos.>
Kara parou o que fazia e encarou a comandante. Remoía incertezas. Havia um grande problema, que martelou durante a madrugada, depois que acordou e ficou insone. Não deixara o simples impulso sexual na noite anterior a levar. Convivera com a comandante, mais do que Bridget imaginava. Nutriu, ao longo do tempo, uma atração que nem ela sabia ser tão forte. Sempre tão contida e reservada, tentando se proteger dos olhos de todos, que não se atinou para as inúmeras vezes que, escondida, admirava a mulher que comandava aquela nave. Kara se importava com a opinião de Bridget, pelo simples fato de que a queria, verdadeiramente.>
– E depois que Decrux esclareceu os “certos” pontos? Como foi para você?>
– Direta, você, einh?!>
– Desculpa, mas a gente está enfiada numa enrascada infinda e ainda nos complicamos mais com essa nossa… nossa…>
– …História que arrumamos para nossas cabeças?>
– Isso.>
– Quanto às confusões com a República, vamos discutir os novos passos e quanto a nossa interação, acho que teremos que conversar mais, sobre isso. Não vou mentir. Quase não dormi pensando em nós. É um assunto delicado para você e, acredite, é delicado para mim também.>
– Então o seu tesão diminuiu?… Entendo.>
– Não, não entende. Eu mesma não entendo. Como você poderia? Você também está me julgando. E não é questão de tesão.>
– Não? Então é o quê?>
– Meninas! Eu sinto interromper uma discussão filosófica entre o que é tesão ou não, mas tenho duas notícias importantes. Uma é que consegui tirar a Olaf Helga da suspensão e a outra é que detectei duas naves sem assinatura de registro. Não sei quem são. Entraram na atmosfera, há cinquenta quilômetros daqui.>
As duas oficiais se entreolharam alarmadas e se voltaram para a IA da nave, que acabara de descer pela rampa, as alertando.>
– Vá para dentro e veja como a sua Olaf está, Kara. – Bridget voltou-se para Decrux. – Tranque a casa e acione o escudo de proteção dela. Depois vamos para a ponte e assim que você liberar, alçamos voo.>
Bridget deu as ordens sem pestanejar. Não facilitaria para que fossem pegas e, muito menos, que sua estada em Pontos se tornasse um perigo para os habitantes daquele planeta, especificamente, para a vila em que seus amigos moravam.>
– Vamos deixar os consoles aqui fora? – Perguntou a engenheira. – Eles podem ver o que estávamos fazendo.>
– Eu os destruo depois que estivermos seguras. – Retrucou Decrux.>
As três mulheres subiram a passarela e Bridget olhava para trás, observando sua casa. Kara correu para o depósito, enquanto Bridget e Decrux permaneceram na passarela, até a IA executar os procedimentos que a comandante ordenou. Escudos de “laidirium” cerraram as portas e janelas. Escutou um barulho contundente.>
– O que foi isso? – Inquiriu, assustada.>
– Destruí o emulador. Sinto muito, Brid, mas não poderia deixar nada que pudesse apontar para mim. – Decrux respondeu.>
– Droga!>
Apesar da comandante entender a necessidade, uma das poucas coisas que ainda valorizava em sua vida era a casa de seus pais.>
– Ele estava em meu quarto! Acha que sobrou alguma coisa?>
Perguntou irritada, enquanto caminhavam, a passos rápidos, pelos corredores da nave.>
– Sinto muito.>
Foi a única coisa que Decrux respondeu, antes de apressar mais o passo para se distanciar da comandante.>
– Droga!>
O tom alto e raivoso, deixou a entender que ela odiara aquilo. As duas se dirigiam à ponte e Kara chegara no depósito da nave onde o contêiner estava.>
– Tire a gente daqui, agora, Decrux!>
– Eu não posso fazer o “salto dimensional estático”. Kara vai se dar conta do que aconteceu e provavelmente a Olaf Helga também. Tenho que alçar voo e chegar à exosfera para agir.>
– Toda vez que você fala esse nome, eu fico pensando em como podemos dar um salto se ele é estático? Que merda de nome é esse?!>
– Cala a boca, Brid! Senta na tua cadeira e faz teu serviço! Eu nos tiro daqui e você dá as diretrizes. Já vi que está mais nervosa do que o normal. Fica especulando coisas sem noção. O que eu posso fazer se vocês humanos deram um nome popular para a “dobra espacial”?>
Elas discutiam, enquanto entravam na ponte. Bridget tomou o assento em frente à tela principal. Verificou o display e instrumentos no console de sua cadeira e ordenou.>
– Ativar propulsores. Decrux, faça uma varredura de área numa proporção de cinco quilômetros.>
– Varredura completa. Sem assinaturas de naves próximas. – Decrux respondeu.>
– Varredura vertical até o espaço aberto.>
– Sem assinaturas de naves no espaço aberto.>
– Levantar escudos de diamante e alçar voo vertical. Destruir consoles.>
Bridget dava as coordenadas e Decrux as executava com presteza. A tensão corria sob a pele da comandante. Tentava imaginar como aquelas naves sem assinatura registrada encontraram o planeta Pontos. Isto significava que eram piratas e que, provavelmente, Phil percebeu que não estava atracada em Anglada. Teve uma ideia.>
– Decrux, tem como camuflar a nossa assinatura de registro?>
– Provavelmente sim, mas tenho que fazer uma aferição em todo o sistema para descobrir alguma falha no registro da República. Levará um tempinho.>
– Faça.>
Bridget acionou o seu comunicador pessoal.>
– Kara, como está a Olaf Helga?>
– Ainda atordoada pela suspensão, mas já estou com ela no centro médico. Ela parece bem.>
– Ótimo! Vamos entrar em dobra espacial.>
– Entendido.>
Bridget desligou o comunicador pessoal. Voltou-se para a IA e a viu com a expressão apática. Estava em contato com o sistema, fazendo o rastreamento de registro que ela pedira. Acionou a tela principal através de seu console, digitando algumas funções num painel virtual 3D que surgiu diante dela. Olhou um mapa estelar. Tocava-o com os dedos, girando e observando várias galáxias. Antes de conseguir falar com Decrux, esta a interrompeu.>
– Ela sabe.>
– Sabe o quê?>
– A Olaf Helga sabe sobre mim… Sobre minha tecnologia. Está conversando com Kara, nesse exato momento.>
– Então faça o salto para o sistema solar de Karin, na galáxia de Osman. Estamos na interseção de três galáxias. A gente tem que deixar Leda, mas não podemos retornar ao espaço delimitado. Agora não temos mais nada a perder. Se entrarmos em dobra normal, ficaremos muito próximos. Poderemos colocar o planeta e este sistema solar em perigo.>
– Então se segure porque arrumou um lugar bem longe, desta vez.>
Parecia que o tempo havia parado. Uma sensação de paralisia tomou a comandante, por breves instantes. Quando sentiu os músculos movimentarem, sentiu-se nauseada.>
– Agrr. Odeio isso!>
Bridget falou, curvando-se sobre o próprio tronco. Já se acostumara com as dobras dimensionais estáticas, mas quando a pegava de surpresa, sempre se nauseava. Além de deixa-la com enjoo, também ficava com vertigens e ligeiramente atordoada.>
– Quer que eu transmita a conversa das duas que tiveram, antes do salto? Assim saberá o que elas especularam. Ah, e consegui camuflar a assinatura de registro da nave.>
– Ótimo. Pode transmitir, mas corte as partes sem importância.>
A IA iniciou a gravação da conversa.>
– Como? A androide não é uma androide? – Perguntou Kara.>
– Não no sentido dos androides físicos que conhecemos. Pelo pouco que me falou, sobre como me tiraram da suspensão, e como as estruturas dela se comportam, posso quase afirmar que ela é uma IA orgânica. Ela pode se aglutinar e desaglutinar, mais ou menos como um holograma, entretanto isto ocorre fisicamente. – A Olaf respondeu. – Você me disse que estamos em Pontos que é próximo a Ugor, não é?>
– Ok, me dê só um tempo para entender direito como isso acontece.>
– Essa era a tecnologia que estávamos negociando com Ugor, antes da guerra acontecer. Provavelmente, se tivéssemos mais tempo, conseguiríamos fazer algumas naves com IAs orgânicas e, com certeza nossa gente não teria sido dizimada, mas Cursaz agiu antes. Pense em partículas orgânicas que tem uma informação estruturada em cadeia. Como elos que se atraem e se repelem, mas cada uma das partículas, carrega informações suficientes para se aglomerarem corretamente, formando um organismo único.>
– Sim, isso eu entendo, mas quando elas se desaglomeram, o que acontece? As informações estarão dissociadas. Como ela pode atuar na condução da nave e na regulação de todo o sistema.>
– Aí é que vem a parte interessante. O que você vê à sua volta, não são somente paredes de metal. Os condutores do sistema e as próprias paredes tem uma estrutura híbrida. Ela desaglomera, mas suas partículas se unem aos centros condutores da nave, bem como da estrutura das paredes. Decrux é uma nave híbrida entre o orgânico e o metal. A IA consegue se estruturar em meio às moléculas minerais.>
– Por Eiliv! Não é à toa que Bridget protege tanto esta tecnologia. É um grande avanço, se cair na mão da República ou de Cursaz se tornará um perigo.>
– Não só da República ou de Cursaz, Kara. Imagina em planetas independentes, mas com uma cultura mais rudimentar e que queiram ganhar o espaço? Planetas que não tem conceitos e valores como os nossos. Eu concordo com sua comandante, em proteger este segredo a sete chaves. A nossa negociação com Ugor, na época, foi bem difícil e levamos mais de dois anos para fechar um acordo. Mesmo assim, eles que construiriam os sistemas e as diretrizes das IAs.>
– Decrux me contou que, apesar de Bridget ter acesso a programação, havia restrições do sistema. Ela não poderia modificar determinadas diretrizes.>
– Você falou isso para Kara?>
Perguntou, Bridget revoltada ao escutar a engenheira falar sobre as diretrizes de segurança de Decrux.>
– Ei, calminha aí, Brid! Você que começou a confusão toda, quando deu “uns amassos” nela, lá no console.>
– Não me irrita mais, Decrux e volta a transmitir o resto da conversa, antes que Kara venha até aqui. Já devem ter melhorado do desconforto que a dobra espacial causa.>
– Ela não vem até aqui, por agora. Isolei o centro médico e deixei-as em suspensão, pouco antes do salto. A conversa é bem interessante e você precisa escutar.>
Decrux acionou, novamente, o sistema de gravação.>
– De fato, tenho que agradecer muito a comandante Bridget. Eles estavam perto de decodificar meu DNA.>
– Como você foi pega? A República a pegou, ou foi uma ação isolada do general Phil?>
– Não foi a República que me pegou. Foi Cursaz. Após a guerra, eu permaneci numa estação intermediária. Fiquei morando lá. Tentava contatar com vocês… os ministros ou os chefes das sessões ministeriais. Achava que era a melhor chance de juntar o nosso povo, mas tinha se passado muito tempo.>
– Então, tanto eu quanto Bridget estávamos certas. Enquanto Decrux não conseguia tirar você da suspensão, especulamos as razões de você ter sido presa, mas achávamos que havia sido a Republica, pois esta encomenda de transporte, foi uma demanda do general de divisão Phil. Será que a República queria te libertar? Aqueles piratas que nos atacaram foram enviados por Cursaz?>
– Não sei, exatamente. Eu não fiquei em suspensão todo o tempo. Não há como coletar amostras para análise de DNA, se estivermos em suspensão. Houve épocas que me deixavam meses em suspensão, mas não todo o tempo. De uns meses para cá, uma médica que me acompanhava, começou a me fazer perguntas. Desconfiei que a maioria que trabalhava na pesquisa relacionada a mim, não sabia o real motivo de pesquisarem a decodificação do DNA de um freyniano.>
– Ela estava sondando para descobrir o que a corporação queria?>
– Sim. E foi por isso que fui parar nas mãos da República. Ela passou a conversar comigo frequentemente, e começou a se indignar com as ações da corporação. Passou a me deixar fora da “estase” na maior parte do tempo e articular um resgate com a República.>
– Perigoso para ela.>
– Certamente ela sabia dos perigos, mas estava determinada. Só não imaginava que a República pudesse querer fazer o que Cursaz fez. Depois que entrei em suspensão, no dia marcado para a República me resgatar, nunca mais a vi. Acordei num outro laboratório, com pessoas diferentes, fazendo testes comigo, mas uma coisa eu entendi: Jordana não entregou para a República os arquivos da pesquisa de Cursaz.>
– Como tem certeza disso? – Kara perguntou.>
– Não tenho, mas pelo que pude observar, eles estavam perdidos e era como se recomeçassem a pesquisa do zero. Por isso deduzi que Jordana se precaveu, não entregando os dados para a República.>
– Sabe o que ocorreu com ela? Será que está viva?>
– Não tenho ideia, mas gostaria de pensar que sim.>
– Temos que contar isto para Bridget. Estamos numa encrenca maior do que imaginávamos. – Kara pontuou.>
– Um fogo cruzado entre Cursaz e a República. Não sei qual dos dois é pior.>
Decrux parou a gravação, esperando Bridget assimilar tudo que escutara.>
– Tem mais coisas, pois Kara contou suscintamente quem é você e como tudo ocorreu. A conversa aconteceu enquanto Kara levava a Olaf para o centro médico e continuaram a conversar lá. Logo depois, fizemos o salto e deixei-as em suspensão.>
– Tire-as da “estase”. Você, pelo menos, se preocupou em como elas estavam? Devem ter despencado no chão quando colocou-as em suspensão.>
– A Olaf já estava na maca. Talvez Orelhinha fique com a bunda dolorida, mas acho que não se machucou.>
– Elas deverão vir para cá, assim que você as reanimar. Coloque online a transmissão do centro médico e dos corredores, para que eu saiba o que falam. Interrompa só quando entrarem na ponte.>
Decrux atendeu as demandas da comandante. A nave estava parada na orbita de um planeta anão e Bridget pretendia ficar ali, até que decidissem sobre os novos caminhos a tomar.>
– O que foi isso?>
Kara perguntava a esmo, levantando-se do chão, apoiando-se na maca.>
– Não sei, mas a sensação que tenho é a mesma de quando me tiram de “estase”.>
A Olaf Helga respondia, enquanto colocava a mão na cabeça, tentando se aprumar.>
– Vamos até a ponte. Assim você conhece Bridget e Decrux e descobrimos o que aconteceu.>
– Ok. Será um prazer conhecer a filha de Rhonda e Rezon Nícolas, mas se ela quiser me colocar em suspensão como os outros, juro que me suicido, já que seria a forma mais fácil de acabar com a brincadeirinha desse povo.>
– Ela não é assim. Você gostará dela, embora, às vezes, seja bem irritante.>
– Tome cuidado com as palavras se não quiser que ela lhe prenda por insubordinação. – A Olaf respondeu, rindo jocosa. – A IA da nave pode transmitir a nossa conversa diretamente para a ponte. Se a comandante for esperta, como presumo que seja, não deixaria de nos escutar para se atualizar.>
– Nisso eu acredito! Do jeito que ela é abelhuda.>
Da ponte, Bridget corava de raiva e Decrux gargalhava da conversa das duas freynianas.>
– Eu, abelhuda? Ela é que é a xereta dessa história toda! Ô, mulherzinha irritante. Tô quase deixando as duas num planeta cheio de enxofre e bem tóxico! Assim me livro logo dessa merda em que estou enfiada!>
– Às vezes, não entendo como vocês conseguem mudar o estado de paz para a guerra pessoal, em tão pouco tempo.>
– Vai observando, que se ela vier com uma gracinha, a coloco encarcerada na cela da nave.>
#deixesuaopinião>
Amei ??
Abrs ?
Oi, Lins!
rsrs Valeu! Um beijão pra ti!
Amei o capítulo, amei a Olaf, e ainda apaixonada por Decrux ???
A Olaf entrou pra tripulação e agora o bicho pega!
Decrux ainda vai mostrar algumas coisas que não foram reveladas sobre ela, então se segura! Só tenho a impressão que vai ter mais gente se apaixonando por essa figura. rs
Valeu, Anes! Beijos
Kkkkkkkk gente essas duas são ilarias, nossa pura ação hoje e mais descobertas . A Decrux é complexamente engraçada rsrs. Essa Olaf já gostei dela hahah.
Ps: o lado bom da orelhinha ter o “bichinho” é que elas não vão precisar comprar o “brinquedinho”
Cada vez mais apaixonada por por essa história. Parabéns pra as três.
Xero bem grande Bivard ?????
Oi, Flavinha!
Então, A Kara sai na vantagem na hora de inovar, não acha? kkkk Infelizmente não sei se isso é muito do gosto da Brid. Vamos ver…
Segura porque agora a nave Decrux vai decolar numas aventuras aí, e a IA Decrux vai trazer umas surpresas. rs
Obrigadão e Xero pra ti também, Flavinha!
Acho q a minha personagem predileta, é a Decrux! Ela é genial!
Estou amando, Bivard! Mistura perfeita de ficção, humor, romance, aventura… Foda! ?
Beijos
Oi, Bibi!
Então, acho que eu concordo com você. Tô me apegando a essa IA de verdade! rsrs
Eu amo ficção e gosto de humor, mas principalmente de aventura. A coisa agora vai ficar frenética. Se prepara!
Valeu, Bibi! Um Beijão pra ti!