Um olhar do destino

19 – Consequências ou destino? Brincadeiras do destino

19
Consequências ou destino? Brincadeiras do destino
 

Jenny olhou para o celular e percebeu a quantidade de ligações perdidas de Fernando, resolveu retornar. Começou uma conversa amena com o rapaz, e logo começou a desabafar. Aproveitou para pedir desculpas por não ter retornado as ligações, pois não sabia o que falar. Que a bem verdade já estava se tornando um habito não saber o que falar.

– Jenny, não havia o que falar. Por Shiva, você pensou que tínhamos transado?
– E não foi o que aconteceu? Desculpa, não consigo lembrar de quase nada daquela noite.
– Não fizemos sexo, eu nunca me aproveitaria de alguém. E bêbados do jeito que estávamos, nem tinha como alguma coisa acontecer. Eu te levei para minha casa por não saber aonde era a sua. E só tirei sua blusa e calça, porque você havia molhado quando te dei água com açúcar para fazer a glicose não cair tanto.
– Fernando…
– Agora tudo faz sentido!
– O que faz sentido?
– A Sophie triste, me tratado mal.
– Fernando, ela está indo embora. Estou arrasada! Eu a quero.
– E porque você não vai lá e a impede?
– Não tenho coragem, ela ainda está magoada comigo. Eu rejeitei tanto esse sentimento, e agora sinto que vou morrer com ele encravado em meu peito, sem contar que ela acredita que dormimos juntos!
– Mas, só dormimos mesmo. Não pode deixar que ela vá embora pensando isso. Se a quer, crie coragem e vá pega-la de volta. Eu posso te ajudar!
– Me ajudar como? Nem sabemos o horário do voo.
– Eu sei que ela vai embarcar no aeroporto Internacional, que o voo sairá às 13:00. Se você realmente quiser impedi-la de ir, é melhor começar a sair de casa, porque já estávamos ficando atrasados.
– Eu vou sim, preciso ir! Mas, falta menos de uma hora, e com esse transito!
– Mulher, vai logo que dá tempo. Até porque sempre tem voos atrasados.

Jenny sequer lembrou de desligar o celular, pegou as chaves do carro e saiu às pressas. Por sorte, só houve engarrafamento na chegada do aeroporto, o que era de praxe. Mas, quando ela conseguiu finalmente chegar no saguão de embarque, já passava das 13:00, e para o seu azar, aquela era uma das poucas companhias de aviação conhecida por cumprir os horários. Jenny frustrou-se, a sensação que teve, foi de que a sua alma saiu dela por alguns segundos e voltou, e nesse regresso, o impacto foi tão devastador, que conseguiu abalar até o que havia de mais sereno nela.

Então, o desespero…

Sentou em um dos bancos, e as lagrimas não poderiam mais ser contidas. As imagens de Sophie passeavam pela sua cabeça como se um filme estivesse a rodar. Todas as coisas que tinham feito, as descobertas, o James, sentiria muita falta do James… pensava no quanto foi tola ao deixar que sua racionalidade falasse mais alto, a ponto de conter seus sentimentos. Indagava-se em como poderia ter sido tão estupida, a ponto de deixar a felicidade lhe escapar facilmente por entre os dedos. Quando finalmente conseguiu parar de chorar e se lamentar, já era tarde. Voltou para casa, e estando em casa, mal tinha coragem de olhar-se no espelho, não conseguiu acreditar que tudo aquilo estava acontecendo com ela, talvez, se jogou na cama e quis dormir, tentando acreditar que quando acordasse, as coisas seriam diferentes, ou aquilo teria sido apenas um sonho que começou bom, mas tornou-se pesadelo.

Mas isso não aconteceu, no dia seguinte, as coisas continuavam as mesmas. Fernando havia ligado várias vezes, mas Jenny não sabia como falar que havia perdido. Que tinha deixado a mulher que amava ir embora. Não teve cabeça para ir trabalhar, ligou dando a desculpa de que havia pegado uma virose. Sentia doer na alma ao pensar em Sophie, doía se sentir culpada… quis ir até o parque, em uma ilusão, uma tentativa falha de encontrar-se ao acaso com a Sophie, mas no fundo sabia que ela não estaria lá, apenas encontrou as lembranças daquele dia de outono.

Passou todo o dia no parque, caminhou de ponta a ponta, comprou um lanche. Jogou maior parte do pão para os peixes… depois sentou em um banco, não o mesmo banco de quando conheceu a Sophie, mas um que ficava de frente. Quando voltou para casa a contragosto, já passava das vinte e duas horas, naqueles dias as noites estavam mais frias que o de costume. Foi até o quarto, pegou o cobertor, e arrastou até a sala. Jogou-se no sofá e pensava no quão deprimente estava ficando. Perdida em pensamentos de automotivação misturados a autodepreciação, ouviu as batidas na porta. Não quis abrir, resolveu ignorar, e por alguns minutos, tudo voltou a ser silencio. Mas, novamente as batidas na porta, firmes e apressadas. Jenny levantou brava do sofá, caminhou até a porta e estava preparada para perguntar se aquilo eram horas dar batidas insistentes na porta da casa das pessoas.

– Jenny, não me convida para entrar?

Era a Sophie, toda encolhida, com os lábios trêmulos e a respiração um pouco mais pesada.

….

Aeroporto, minutos antes do embarque

– Eu não posso fazer isso, Helena!
– O que?
– Ir embora!
– Sophie, a porcaria do voo está para sair, já estamos na fila de embarque. É por causa do James? Já disse, na próxima semana minha assistente o leva. Aquele hotel para cães é muito bom, ele será bem cuidado.

Sophie respirou fundo, e sim, apesar de partir o seu coração a ideia de deixar o James em um hotel para cães, porque a Helena esqueceu de comprar a passagem para ele. O que realmente estava lhe pesando era a ideia de que talvez nunca mais veria a Jenny, e que todas as palavras ditas na última vez que se encontraram foram ríspidas. Até mesmo a ideia da traição não parecia ter efeito perto daquele sentimento de estar perdendo a mulher que amava. Não poderia ir embora e precisava ver a Jenny, ainda que fosse só mais uma vez e não podia mentir sobre isso…

– Helena, eu não posso. Eu amo a Jenny, não posso fazer isso. Me perdoa.

Pela primeira vez, Sophie viu os olhos da loira encherem-se d’água e algumas lagrimas caíram. Não queria causar aquilo, se ela pudesse. Ah, se ela pudesse, todo o amor que sentia pela Jenny, transferiria para Helena e pronto, tudo estaria resolvido. Mas, havia aquela voz dentro dela, gritando para que ela não fosse embora. Para que não desistisse, e ela precisava ouvir essa voz.

Helena abraçou Sophie, e disse que não podia impedi-la, que gostaria que aquilo que estavam planejando desse certo e que esperaria por ela o tempo que fosse necessário. Ainda falou que se a Jenny a fizesse sofrer, mais do que já fez, que iria ter uma conversa sério com ela.

– Agora vai Sophie, vai atrás dessa mulher! Mas, não esquece de mim, não. Eu amo tanto você, minha menina!

E Sophie encerrou aquele abraço da maneira mais carinhosa que podia, sabia finalmente que Helena não estava jogando e os sentimentos eram reais. Mas, precisava lutar pela sua felicidade, e para Sophie, a felicidade chamava-se Jenny.
Saiu às pressas do aeroporto, tomou um táxi, passou no hotel para cães e praticamente sequestrou o James, que estava todo acuado, com medo dos outros cães. Entrou no táxi novamente e seguiu em direção à casa da Jenny, que por sua vez, estava chorando no aeroporto, por acreditar que havia deixado a mulher que amava escapar-lhe.

…..

– Jenny, não vai me convidar para entrar?

E Jenny acreditou estar tendo alucinações. Estava tão apaixonada e tão mal por ter deixado Sophie ir embora que estava vendo coisas, talvez, ela precisasse ir ao médico! Continuou encarando a figura na porta, ainda encolhida e tremendo mais do que o momento anterior.

– É você mesmo?!
– Aham, posso entrar?!
– Claro! Desculpa, entra.
– Uhhh, está congelando hoje!
– Não está esse frio todo, Sophie…
– Está mais frio que o normal.
– Sophie… você não tinha ido embora?
– Então, eu fui. Mas, aí eu não fui. Não consegui.
– Não estou entendendo…
– Eu fui, estava já na fila de embarque com a Helena… e algo dentro de mim pediu para que eu não fizesse aquilo.
– Uma voz?
– Sim, dessas que existe dentro da gente e tenta evitar que façamos besteiras. Conversei com Helena, ela me entendeu, eu pedi desculpas. Ela foi embora, sozinha.
– Sophie, eu…
– Jenny, me deixa te dizer apenas uma coisa. Preciso te pedir desculpas, fui grossa e má contigo. E ao te encontrar na casa do Fernando, aquilo me machucou muito… e você sabe dos meus sentimentos. Eu acabei ficando com raiva, eu…

Beijo…

Jenny beijou Sophie, com tanto carinho e amor. Não queria mais saber o que Sophie tinha para dizer. Apenas a beijou, e aquele momento parecia que estava no céu. O cheiro da Jenny, atiçavam todos os sentidos de Sophie.

Jenny sorriu, talvez achando graça da cara de Sophie que parecia não entender nada. Encostou-a o mais gentilmente que pode contra a porta, e chegou mais perto até que as respirações se misturaram. Sophie sentiu uma leve pressão das mãos de Jenny em seus pulsos, não que Jenny precisasse, pois Sophie estava tão a sua mercê, que jamais iria contra aquele momento. Jenny acarinhou o rosto da mulher amada, e a beijou outra vez. Não falou nada, nenhuma palavra, simplesmente encostou seus lábios molhados ao de Sophie, e gentilmente deixou que sua língua deslizasse para dentro da boca da sua amada como se pedisse licença para entrar.

Mas, como começou, terminou. Com dois ou três estalinhos e um sorriso encantador. Jenny ainda largou um beijo no cantinho da boca de Sophie, e se afastou alguns centímetros.

– Nossa, o que aconteceu?
– Eu não dormir com o Fernando, foi tudo um mal-entendido. E eu não quero que você vá embora. Eu não sei como posso conseguir viver sem você. Você se tornou parte de mim, Sophie. Promete que não vai embora? Por favor, promete que nunca vai embora de mim?
– Tudo bem, calma Jenny, eu não vou a lugar algum.
– Eu te amo, Sophie. Eu lutei contra isso o máximo que pude, mas esse amor é mais forte, e eu não tive mais forças. Eu quero estar contigo… quero você comigo, se você quiser, é claro. Eu nunca senti uma dor tão grande como a que senti ao pensar que tinha perdido você, então, por favor, nunca mais vá embora. Eu sei que sou uma louca, estupida, fui preconceituosa contigo. Sou complicada, mas amo você, então fica comigo? Seja minha namorada?!



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.