Um olhar do destino

9 – Mais mágica que o outono

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Mais mágica que o outono
As horas que passou com Sophie, foi como ter bebido litros de felicidade, essa era a melhor definição para explicar como Jenny ficou quando a jovem fechou aquela porta e foi embora. A alegria misturada a empolgação fez um agito dentro dela, que até pensou por alguns instantes que Sophie poderia ter algum poder mágico, já que sempre conseguia lhe fazer tão bem e sem esforço algum.
Tomou banho, preparou o café da manhã e depois foi às compras, até fez mercado, pois estava decidida aventurar-se na cozinha. Era o “efeito Sophie”, queria preparar algo e convidar a jovem para um jantar, para agradecer pelo apoio.

Sabe quando estamos pensando em alguém, e de repente, essa pessoa entra em contato conosco? Foi bem assim que aconteceu, já era quase tarde quando Jenny chegou em casa, pensava em ligar para Sophie e fazer o convite para que jantassem naquela noite, então, seu celular tocou. Era Sophie, lhe convidando para sair.

Sophie queria ter a oportunidade de encontrar-se com ela em situações diferentes das quais normalmente se “esbarravam”, e também tinha certeza que Jenny precisava respirar outros ares, sair um pouco, afinal, ninguém poderia viver apenas de trabalho, se afogando em tristeza por conta de um marido idiota. Jenny ponderou, mas acabou aceitando o convite, o jantar ficaria para o dia seguinte.

Sophie estava tão ansiosa, que antes mesmo da hora marca apareceu, lá estava ela, em frente à casa de Jenny, esperando dar 21:00 para poder chama-la. Por sua vez, Jenny acreditou que a jovem a levaria em uma dessas baladas lotadas de pessoas e com música barulhenta, o que não dava muita chance das pessoas terem uma boa conversa, ou ter espaço confortável para transitar, mas, para sua surpresa, elas estavam entrando em um barzinho, e estando ali, conheceu alguns amigos de Sophie.

Os amigos já tinham escolhido a mesa, e Sophie não podia negar que foi uma escolha perfeita, a mesa dava de frente para o mar. E de forma tão natural, Jenny já parecia se encaixar perfeitamente com aquele lugar, com aquelas pessoas, Jenny encaixava-se ao mundo de Sophie, e isso não passou despercebido pela jovem, afinal, havia sido assim com o James, porque seria diferente com seus amigos? A única coisa lhe incomodava, era o fato de Fernando não tirar os olhos de Jenny desde que passaram pela porta.

Os Arqueiros da Rainha, a banda que se apresentava naquela noite, entraram no bloco de rock nacional, as músicas eram boas e a interpretação da banda não deixava a desejar, Jenny não conseguiu manter-se quieta, as pernas balançavam por debaixo da mesa, e não tardou para que ela estivesse mexendo a cabeça também…

– Você quer dançar, Jenny? __ foi instintivo, sem contar que os drinks que havia tomado a deixou mais desinibida.
– Não tem ninguém dançando, Sophie. __ olhou para os lados, buscando confirmações. – Veja, acho que eles não dançam aqui.
– E o que tem? Não vi cartaz algum dizendo que não pode!
– E nem dizendo que pode…
– Ah, deixe disso, eu quero. Vamos, Jenny, dance comigo?!
– Você é louca, menina.
Culpa sua, essa minha loucura com certeza é por você! – Eu sei, isso é um sim?
– Sim!

Sophie puxou Jenny pela mão, antes que houvesse tempo dela mudar de ideia, e foram para o meio do salão. Jenny ainda estava um pouco tímida, sabia que as pessoas as olhavam, Sophie dançava divinamente, já estava mais solta, pela bebida e também na tentativa de deixar a parceira de dança menos acanhada. Por alguns minutos, era apenas elas, os olhos estavam novamente conectados, e todas aquelas sensações sentidas na primeira vez que se encontraram, parecia ter voltado. Infelizmente o momento foi quebrado pelos amigos de Sophie que apreciaram a ideia e resolveram juntarem-se a elas.
Do rock dançante, para o rock romântico de Bebel Gilberto e Cazuza:

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo, que medo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto…

Sophie deu um passo meio incerto, para continuar a dançar com Jenny, mas o Fernando conseguiu ser mais rápido. Puxou Jenny e começaram a dançar, obviamente Sophie ficou de cara feia e se afastou um pouco, apenas observando e querendo ser uma mosquinha para saber o que falavam.

– Então Jenny, há quanto tempo você e a Sophie se conhecem?
– Semanas…
– Você dança muito bem!
– Obrigada! __ e lembrou das aulas de dança que fez certa vez, herança de Carlos, era mais uma das ideias loucas que ele tinha para que salvassem o casamento, depois da terceira aula ele parou de ir, mas ela já estava tão apaixonada que continuou por quase um ano. – Você também não manda mal.
– Estava pensando, que tal a gente se encontrar qualquer dia desses?
– Será bem legal, gostei de conhecer todos vocês, seria divertido um reencontro.
– Não, você não entendeu. Não a turma toda, apenas nós dois.
– Então Fernando…

Ao longe, Sophie não precisava ser uma adivinha para saber que Jenny já não parecia tão à vontade com o teor da conversa, com certeza Fernando não havia dito algo agradável, e para Sophie, ficava cada dia mais fácil reconhecer as expressões de Jenny, e aquela parecia gritar por socorro. Então, ela praticamente entrou no meio deles, pedindo licença ao Fernando, mas sem tirar o olhar de Jenny, começaram a dançar.

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo

– Acho que o Fernando ficou bravo! __ sorria
– Você acha?
– Sim, ele não tirou os olhos de você desde que chegamos. Mas, pelas suas expressões durante a dança, acredito que ele estava se excedendo.
– Hum, minha heroína.
– Não é para tanto, ele é uma boa pessoa, mas não sabe manter a compostura diante de mulheres bonitas.
– Eu sou bonita? Acho que vocês precisam de óculos!
– Aff’, claro que é bonita. Se você não se enxerga assim, é você quem precisa de óculos.
– Já que é assim, ele deve se exceder bastante contigo.
– Não, comigo não. Ele sabe que não tem chances.
– Por que? Seu coração já tem alguém?

Ora, ora… de repente, o que parecia ter sido uma cantada barata, jogada por Sophie, se tornou uma pergunta sobre seus sentimentos. E, o coração da jovem estava “desocupado” há muito tempo, não tinha outra função a não ser bombear o sangue, mas, dentro daquela pergunta, ela pensou que talvez, se a Jenny quisesse… tudo poderia começar a ser diferente.

– Longa história.
– Hum…
– Essa música é tão linda, não acha?
– Acho sim Sophie, acho sim…

Jenny apoiou a cabeça no ombro de Sophie e seus corpos aproximaram-se.
Ficaram ali, dançando…
Sophie sentia-se como criança, que segurava algo muito delicado e morria de medo de que, sendo ela um ser desastrado, quebrasse aquilo. O arrepiou que sempre explodia em sua nuca, naquele momento causou pequenas explosões em todo o seu corpo… e perguntava-se o que estava acontecendo com ela.
Jenny sentia-se inebriada pelo cheiro que a jovem exalava. A música, os passos naquele salão, as batidas lentas, porém fortes do seu coração, fazia com que se sentisse dançando não em um barzinho, em meio a mais umas oito pessoas, e sim, no universo, em meio as estrelas, e a única pessoa que existia além dela, era Sophie.

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Tentando achar em cada gesto uma bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É eu preciso dizer que te amo tanto

Realmente, elas estavam em outro mundo.
E posso afirmar que essa sensação era sentida por ambas.
Mesmo quando a música acabou, elas ainda continuaram ali, a dançar.
Mas, só para não deixar de devolver a “sutileza”, Fernando as trouxe para a realidade, dando um leve tapa no ombro de Sophie e informando que a música havia acabado. Jenny abriu os olhos primeiro. Posso dizer que Sophie até sentiu certa dor, não pelo tapa no ombro, e sim, por ter que sair daquele momento. Mas quando seus olhos, aterrissaram nos olhos de Jenny, ela teve toda a sorte de sensações e sentimentos explodindo em seu coração.

Ainda relutaram em sair dali. Mas, tiveram que voltar para a mesa, onde receberam elogios pela dança. E quando o Joe, dono do barzinho foi até a mesa, Jenny segurava firme as mãos de Sophie, estava com medo, acreditava que iriam levar uma bronca e até mesmo serem convidadas a se retirarem do local. Ao contrário, ele apenas ratificou sua alegria com aquela ideia, e declarou solenemente, que a partir daquele dia, seria implantado o dia da dança. Todos vibraram com a ideia, afinal, quem não gosta de um lugar com qualidade, boa música e ainda com espaço para dançar?!

Já ameaçava amanhecer quando saíram do Joe.
Sophie deixou Jenny em casa e foi para o seu apartamento, dirigia com o vidro do carro aberto, o vento entrava e agitava alguns fios de seus cabelos, o sorriso era largo e feliz.
E devo contar que, como um vício, como se estivessem entorpecidas por um sentimento que não sabiam ainda como descrever, trocaram mensagens e das mensagens, partiram para uma ligação. O sol já despontava no horizonte e pássaros cantavam, quando Sophie, vencida pelo cansaço, adormecera. Jenny foi incapaz de desligar a ligação, continuou ouvindo aquela respiração e sentiu-se em paz, até que acabou adormecendo.



Notas:



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