Desde Sempre
Por: Paula Marinho
Esta é uma história de Paula Marinho. A postagem foi autorizada pela escritora.
Capítulo 18 –
Dois dias depois e Liz foi recebida novamente pela governanta com o agora menos extraordinário “Mrs Hathaway a aguarda na piscina”. Mais preparada, Liz apenas visualizou de relance o corpo moreno deslizando sobre a água e tomou-se de redobrado interesse pelas plantas do jardim ao lado da piscina. Ouviu Fabiana sair da água e mesmo que sentisse uma enorme vontade de olhar aquele corpo maravilhoso, firmou a atenção em uma samambaia como se ela fosse a última da espécie. E o fez com tanto afinco que quase deu um pulo quando Fabiana falou a centímetros do seu ouvido.
– Bom dia, Liz. Você pode me acompanhar aos meus aposentos?
Pega de surpresa, Liz virou-se bruscamente para quase tocar o rosto nos seios mal escondidos pelo biquíni. Inspirou com tanta força que sentiu vertigens.
– Qu..que?
– Você pode me acompanhar até o meu quarto, por favor? Eu tenho lá algumas fotos e documentos que poderão ilustrar as informações que darei hoje.
– Eu…ora, você pode pedir para algum dos seus empregados trazê-los à sala ou ao escritório, não pode?
– Posso, claro. Mas eu preferiria a sua ajuda para filtrar as coisas que são mesmo necessárias ao assunto que trataremos daqui á pouco.
– Eu…não sei…é muito…
– Liz, por favor. A verdade é que…bem, você pode julgar a minha sensibilidade excessiva, mas eu não gostaria de ver determinadas coisas manuseadas por estranhos, mesmo que sejam empregados de confiança. São coisas pessoais demais.
– Eu…está bem.
– Obrigada – Fabiana disse com simplicidade vestindo um roupão.
Seguiram pela escada e viraram à direita até os aposentos de Fabiana. O quarto era enorme como tudo naquela casa, mas era curiosamente despojado.
– Se você não se importa, Liz, eu vou tomar um banho rápido. Sente-se e fique à vontade. Ligue a televisão, se quiser. Não demoro – Fabiana disse e entrou no banheiro.
Liz se sentou na beirada da cama meio sem jeito pensando em como em tão pouco tempo o quarto já parecia ter o cheiro de Fabiana.
A morena entrou no banheiro consciente de que Liz estava a poucos metros dela, compartilhando de uma intimidade que elas não tinham há anos. A verdade é que a inspiração para o convite ao seu quarto surgira na hora. Nem saberia dizer como sustentara aquela argumentação tão improvisada, mas dera certo. Agora, precisava ter coragem. Entrou no chuveiro.
Liz passou a mão pela colcha macia segurando a vontade de se deitar e aspirar o cheiro dos travesseiros. Ela sabia que estava à beira de um abismo e contava com a proximidade do fim desses encontros e, a certeza de que provavelmente nunca mais a veria novamente para não cair. Contudo, neste instante sentia-se perigosamente sensível. Liz se levantou e andou pelo quarto, impaciente com os seus próprios sentimentos. Fabiana saiu do box procurando a toalha. Do ângulo formado pelo espelho, Fabiana a viu primeiro. Confiando nos caprichos do acaso, postou-se meio de lado como se não estivesse percebendo nada e começou a se enxugar. Segundos depois, Liz a notou. Quase perdeu o fôlego quando viu pelo espelho aquela mulher linda e nua, se enxugando devagar e desapercebida de que tinha uma perturbada audiência.
Fabiana enxugou o rosto, o pescoço e os braços e depois desceu a toalha pelo tronco contornando os seios lentamente e enxugando a barriga. Quando levou a toalha às costas, o sexo de aparados cachos negros apareceu. Liz sentiu o rosto em chamas e para seu completo suplício ou delícia, Fabiana voltou a toalha para a parte da frente e passou a enxugar a carne tenra da virilha com delicadeza até finalmente, tocar o centro da sua feminilidade, fazendo Liz suar como se estivesse numa sauna à vapor.
Era demais para um único e atormentado ser humano suportar com bravura. Ciente de que estava para explodir de tesão, Liz se virou para a parede, respirando com dificuldade.
– Fabiana, acabei de me lembrar de que não chequei o material de gravação. Desculpe, está bem? Eu vou te esperar lá embaixo – disse e saiu como se estivesse fugindo dos quatro cavaleiros do apocalipse.
Andando depressa pelo corredor, Liz pensava freneticamente: “ O que foi aquilo, meu Deus? Não é possível que eu vá agir como uma adolescente outra vez. Mas… Caramba! Como ela ainda consegue me deixar neste estado? Meu São Pedro! Esta deve ser a provação dos mártires. Isso tem que acabar. E logo”.
Depois que Liz saiu, Fabiana voltou para o quarto um pouco decepcionada, mas decididamente esperançosa com a saída intempestiva de Liz. Talvez fosse possível resgatar o seu grande amor.
E era agora!
Fabiana seguiu atrás de Liz minutos depois, com uma resolução na mente e o coração aos saltos, cheio de medo. Encontrou-a de costas, mexendo com menos cuidado que deveria no material que trouxera. Ela ainda respirava depressa e as mãos nervosas deixaram o pequeno gravador cair no chão, acompanhado de um sonoro praguejar.
Fabiana se aproximou devagar e chamou com simplicidade:
– Liz…
A loirinha fechou os olhos e não se virou.
– Liz… – repetiu.
A jornalista virou-se lentamente, como um condenado à pena capital. Respirou fundo e olhou para a Fabiana. Nos olhos verdes, a resignação com o inevitável.
Fabiana alcançou-a com três passos largos e a abraçou pela cintura, tirando-a do chão num mesmo movimento. Liz a pegou pelo pescoço, emaranhou as mãos nos cabelos ainda molhados e a beijou.
Arrepio. Saudade. Fúria. Calor. Maciez. Raiva. Tesão.
Fabiana a agarrava erguida do chão como se nunca mais fosse soltá-la. Beijava seu único amor arrebatadamente. Não cabia em si de prazer misturado com a incredulidade dos acontecimentos tão arduamente esperados.
Liz sentia o peito tentando se abrir como se houvesse nele uma explosão que se expandisse milhares de vezes. Chegava a doer. Se ela pudesse…se nunca mais precisasse abrir o olhos…
Cessaram o beijo colocando a testa na testa da outra, caladas, de olhos fechados, abraçadas na mesma posição.
Fabiana falou baixinho:
– Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.
Liz a escutou silente. Em sua mente, um enredo tumultuado de imagens e palavras passavam céleres e indistintas. Imagens antigas e atuais. Palavras faladas e palavras escritas.
– Solte-me.
– Liz?
– Solte-me.
Fabiana a soltou relutante.
Liz pegou o material com calma, recolocou-o na bolsa e foi saindo do recinto.
– Liz, aonde você vai?
– Eu vou pedir a outro jornalista para vir terminar a sua entrevista. Isso, se você… Se a senhora ainda quiser, Mrs Hathaway. Não me importa.
– Liz…porque você está…? Liz, me escute.
– Quer saber? Escute você, Fabiana! Eu não sei de onde você tirou a ideia de que poderia voltar e retomar aquilo que você desconsiderou com tanta frivolidade.
– Você não sabe do que está falando.
– Não sei? Fui eu quem ficou tentando, como uma idiota, imaginar porque você teria feito aquilo comigo.
– Liz, por favor, eu que era uma idiota…
– Hipócrita!
– Hipócrita, sim. E muito mais do que você quiser me acusar, pois eu sou merecedora. Mas, não foi frivolidade ou desconsideração. Eu sofri. Muito.
– Sofreu, sim. Nos braços do marido que você escolheu. E agora, veja só, você pode escolher sofrer numa casa de repouso na Suíça, se quiser.
– O que eu quero é você.
– Não…
– Escute, Liz…
– Não…Não faça isso.
– Perdoe-me. Fique comigo.
– Não! Não, Fabiana. Para que? Para acordar amanhã ou qualquer dia com um outro bilhete nas mãos e a alma em pedaços? Nunca! Nunca mais…Nunca mais me procure, por favor.
Com o ânimo prostrado e os pés colados no chão, Fabiana pôde apenas ouvir os passos de Liz sumindo, junto com as suas esperanças.