Capítulo 44
Fiquei nessa uns seis dias. Voltei ao trabalho, não aguentava mais ficar dentro de casa e ainda de cama. Estava quase 100% recuperada, só estava um pouco rouca ainda por conta da inflamação da garganta. Assim que cheguei, como sempre cumprimentei todos os meus colegas e entrei na sala que eu dividia com a Clara. Sentei em frente a minha mesa, peguei meu mp3, liguei colocando os fones no ouvido e dei início ao trabalho. Várias músicas foram tocando e eu fazia tudo normalmente, em um determinado momento estava tocando “Lanterna dos afogados” do Paralamas:
“Quando tá escuro e ninguém te ouve/ Quando chega a noite e você pode chorar/ Há uma luz no túnel dos desesperados/ Há um cais do porto pra quem precisa chegar/ Eu tô na lanterna dos afogados/ Eu tô te esperando, vê se não vai demorar/ Uma noite longa por uma vida curta/ Mas já não me importa basta poder te ajudar/ E são tantas marcas que já fazem parte/ Do que sou agora mas ainda sei me virar/ Eu tô na lanterna dos afogados/ Eu tô te esperando vê se não vai demorar/ Uma noite longa por uma vida curta/ Mas já não me importa, basta poder te ajudar/ Eu tô na lanterna dos afogados”
Cantarolava a letra distraidamente e sorrindo, não percebi que a porta foi aberta até que vi a Clara passar em frente a minha mesa, tirei os fones do ouvido.
-Bom dia! – meu coração quase saia pela boca de tanto pular. Não de susto, mas de emoção em rever a mulher que amo.
-Bom dia mais uma vez – a olhei de uma forma que não havia entendido – os fones não deixaram você escutar.
-Desculpa.
-Tudo bem. Está melhor? – mais uma vez não entendi – você esteve doente.
-Ah sim, estou melhor, só a garganta que está incomodando um pouco.
-E por que já voltou?
-Porque não aguentava mais ficar em casa na cama e sem fazer nada.
-Como sempre – sorriu. Perdi-me em seu sorriso.
-Exatamente – respondi séria – como está a ONG?
-Precisamos ver as futuras instalações.
-Ótimo, quando isso vai acontecer?
-Hoje após o almoço.
Iniciamos nosso trabalho naquela manhã com muita tortura. Estar no mesmo ambiente que a Clara e ainda a sós e não poder tocá-la, beijá-la, acariciá-la era realmente torturante. Vê-la com aquela saia e blusa social do jeito que eu gostava, sentir seu perfume e não poder fazer nada me deixava impaciente. Apesar de ter muito trabalho para fazer, a manhã passou arrastada.
-Duda, vamos almoçar e quando terminarmos vamos direto ver as instalações da ONG.
-Tudo bem – me limitei falar somente isso.
Concluí o que estava fazendo já que só faltava uma pequena observação e me encaminhei para a porta, abri para ela passar, ela agradeceu como sempre e fomos almoçar no mesmo lugar que fazíamos quando namorávamos. Não comi muito:
-Por que está comendo tão pouco?
-Porque a minha garganta continua inflamada e não consigo comer direito.
Respondi rapidamente para não dar margem para que ela pensasse que era por causa dela que eu não comia direito. Claro que tinha grande influência alem da garganta, mas não ia dar esse gostinho a ela naquele momento. O almoço correu tranquilamente, conversávamos muito pouco e aquilo me incomodava ao extremo já que quando namorávamos tínhamos uma facilidade enorme para qualquer assunto.
Fomos para o local que foi destinado para ser a sede da ONG, estava quase do jeito que eu tinha planejado, só faltavam pequenas coisas que até o dia da inauguração dava para resolver e concluir, adorei tudo, estava perfeito:
-Demoramos, mas conseguimos encontrar esse espaço tem uns três dias.
-É perfeito, quase do jeito que eu queria.
-É, eu sei. Foi por isso que já fechei o negócio – sorriu, ali sim eu vi a mulher que me apaixonei – o resto já vamos conversar com o arquiteto.
-Ótimo.
Saí em direção a outro cômodo do local, estava quase não resistindo ao sorriso e ao olhar que tanto gostava. Retornamos ao escritório sem mais nada ser dito no espaço e no trajeto de volta. A Clara estava dirigindo e eu olhava para a rua através de minha janela.