Capítulo 36

A Clara aproximou-se ainda mais de mim e sedutoramente sussurrou em meu ouvido:

-Vamos?

Sorri e consenti com a cabeça, pagamos a conta e seguimos para o hotel. Assim que entramos no quarto, a Clara disse que ia preparar a banheira para nós duas:

-Gin?

-Só com duas pedras de gelo.

Preparei sua bebida e me servi com um pouco de vinho, senti meu celular vibrar no bolso:

-Fala irmãzona – sorri.

-Como você está? – sorriu de volta.

-Até agora está tudo bem, só falta meu pai acordar para ficar tudo ótimo.

-Quer dizer então que já está tudo certo entre você e a Clarinha?

-Está uma maravilha.

-Estou quase vendo o brilho dos seus olhos.

-Acho que dá para chegar aí em Salvador.

-Quem é, amor? – A Clara entrou no quarto.

-A Dani.

-Quero falar com ela.

-Dan, a Clara quer falar com você. Beijo.

-Tá, beijo.

Conversaram animadamente por alguns instantes. Fui para a porta da varanda e fiquei admirando a paisagem dos inúmeros prédios, todas as luzes que vinham deles. A Clara me abraçou por trás e fiquei curtindo o carinho oferecido:

-Estou tão feliz por você estar aqui comigo, sabia?

-Eu sei, Du. Também estou adorando cuidar de você.

Ela beijou minha nuca e todo o meu corpo ficou arrepiado. Começou a passar as mãos por baixo da minha blusa até chegar aos seios e ficar ali, ainda por cima do sutiã, apertando, acariciando os bicos que já davam sinais que estavam gostando da especial atenção.

Vir-me-ei de frente para a Clara e beijei-lhe os lábios de forma carinhosa, mas não menos exploradora.  Ela tirou minha blusa junto com o sutiã e desabotoou minha calça. Parou, admirou e beijou-me colocando as mãos em meus seios, brincando com eles.

Sem ao menos desgrudar os lábios dos dela, desabotoei sua blusa sem pressa alguma, tirei e joguei em qualquer lugar do quarto, fiz o mesmo com seu sutiã. Puxei sua calça junto com a calcinha e empurrei a minha namorada com meu corpo até o banheiro. Tirei o resto das minhas roupas e parei por alguns instantes com a imagem mais linda que já havia visto da Clara.

Tudo bem que eu já estava mais do que acostumada com seu corpo, já conhecia todos os sinais que nele tinha, já o tinha visto de todos os ângulos possíveis, mas acho que ela parecia diferente depois de todos esses dias sem vê-la, sem tocá-la. Parecia mais linda do que nunca, seu sorriso, seus olhos tinham se tornado ainda mais encantadores.

Eu havia criado uma pasta em meu notebook com músicas que me faziam lembrar a Clara e estava escutando todos esses dias que estávamos separadas. Resolvi colocá-las para tocar de forma aleatória, a primeira foi “A noite sonhei contigo” da Paula Toller:

“À noite sonhei contigo/ E não tava dormindo/ Justo ao contrário/ Estava bem desperto/ Sonhei que não fazia/ O menor esforço/ Para que te entregasses/ Em ti já estava imerso/ Que lindo que é sonhar/ Sonhar não custa nada/ Sonhar e nada mais/ De olhos bem abertos/ Que lindo que é sonhar/ E não te custa nada mais que tempo/ Sofrer com tanta angústia/ Por coisas tão pequenas/ Gastar essa energia/ Assim não    vale à pena/ Quem me dera me livrar/ Pra sempre de mim mesmo/ E só me reencontrar/ Lá no teu doce abismo”

Olhei-a de forma abobalhada, a Clara aproximou-se se mim:

-O que foi, amor?

-Não sei se isso é possível, mas você está ainda mais linda.

A Clara sorriu lindamente e me puxou para entrar na banheira. Sentamos de frente uma para a outra e ela transpassou as pernas em minha cintura. Toquei em seu rosto, mais precisamente em suas sobrancelhas fazendo o contorno, desci pelo nariz, passei pela boca e parei no queixo.

Eu queria muito beijá-la, mas não conseguia parar de admirá-la. A Clara estava com os olhos fechados gozando do carinho que recebia. Com a ponta dos dedos, alisava meus braços, subiu pelo meu pescoço e parou em minha nuca com os dedos entre meus cabelos. Segurei seu rosto com as duas mãos e aproximei meus lábios dos seus. Meu coração parecia que ia sair pela boca, eu tinha a sensação que aquela era nossa primeira vez, a primeira vez que fazíamos amor.

Rocei nossos lábios, pedi passagem para a minha língua e foi cedido prontamente. O beijo que começou explorador, delicado, calmo, rapidamente transformou-se em apaixonado, cálido, sufocante e mais  gostoso ainda – se isso realmente era possível. Nossas mãos não estavam mais paradas, passeavam pelos corpos uma da outra em pontos estratégicos, pode-se dizer.

Rapidamente meus dedos encontraram seu clitóris e estimulava-o vagarosamente arrancando alguns gemidos da minha namorada. Ela estreitou ainda mais o espaço entre nós duas e fazendo nossos sexos se tocarem, guiou minha mão para onde queria, penetrei-a e ela soltou um gemido mais alto. Nossos movimentos tornaram-se cadenciados, suas mãos arranhavam minhas costas, nossos sons já eram os mesmos, não havia distinção.

Meu gozo estava muito próximo, acelerei ainda mais nosso ritmo até atingirmos juntas o clímax tão desejado. Ficamos ainda abraçadas por longos segundos, minutos, não sei dizer ao certo. A Clara tinha o poder de me fazer perder a noção das coisas. Tentei prestar atenção na música que estava tocando: “Rústica” – Paula Toller.

“Sonhei que era uma rosa/ Feminil e delicada/ Acordei viril/ Musculosa e inadequada/ Sonhei que era uma voz/ A propor belas falas/ Não a rudez que tolhe/ Em prosa que não calha/ No andar/ No pensar/ No amar/ Um eterno mal-estar/ Pra que fui o amor inventar?/ Sou aquela que se entrosa/ Com todos os meninos/ Vigorosa e desprendida/ Nas bandas da vida/ Países não me explicam/ Parentes não me abrigam/ Poetas me perfuram/ E palavras me penetram/ No andar/ No olhar/ No tocar/ Um eterno desejar/ Pra que fui o amor revirar?/ No feminino tímida/ Do masculino íntima/ Sou de improviso lúbrica/ De propósito rústica”.

Sorri.

-O que foi? – ela perguntou quase sussurrando.

-Prestou atenção nessa letra?

-Tudo haver com você – sorriu.

Beijamo-nos, terminamos nosso banho nos amando mais algumas vezes – impossível contar estando com a Clara – e só saímos dali para dar continuidade em pé na porta do banheiro, encostadas na cômoda, na varanda, em qualquer parede que víamos pela frente e enfim terminamos na cama gozando mais outras vezes e exaustas com o dia começando a clarear.

Decidi que mais uma vez só iria ao hospital após o almoço, tinha que dar um pouco de trabalho para a inútil da Regina e descansar um pouco com minha futura mulher que estava ali ao meu lado com o corpo enroscado ao meu – do jeito que ela adorava – e com a cabeça em meu ombro dormindo lindamente. Depois de ter ficado tanto tempo observando a minha Clara dormindo, fui vencida pelo cansaço.

***

Senti vários beijos em minhas costas e acompanhado de uma cabeleira me fazendo cócegas, resmunguei, mas de nada adiantou. A Clara continuou nas tentativas de me acordar:

-Me deixa dormir só mais um pouquinho, amor. Ontem você me deu muito trabalho e acabou com minhas poucas energias.

-Nada disso. Levanta, amor… Já são 12:30h e temos que ir ao hospital.

-Eu tenho que ir para minha casa, isso sim. Não agüento mais aquele hospital. Vem aqui – puxei-a – deita um pouco e dorme – abracei-a.

-Não – levantou – Eduarda! Deixa de preguiça – puxou o lençol – temos que visitar seu pai.

Enfim abri os olhos e dei de cara um uma fisionomia enfezada da Clara. Levantei, sorri e a abracei deixando seu corpo todo mole, beijei-a:

-Bom dia, meu amor – sussurrei em seu ouvido.

-Humm, que bom dia gostoso… – disse fazendo dengo.

-Tenho que fazer jus a você, não é? Uma delícia… – mordi a ponta de sua orelha.

-Não, nada disso. Nós não podemos demorar. Temos que ir ver seu pai, amor.

-Tá, tudo bem. Você venceu – beijei levemente seus lábios e entrei no banheiro.

Almoçamos e chegamos ao hospital mais ou menos no mesmo horário que o dia anterior. Encontramos   o Dr. Marcelo:

-Como ele está, doutor?

A Clara segurou minha mão e entrelaçou os dedos.

-Já o retiramos do estado de coma, estamos aguardando ele acordar para sabermos sua real situação. Até agora está tudo sob controle.

-Que ótima notícia, Dr. Marcelo. Será que podemos vê-lo?

-Podem sim, mas não por muito tempo ainda.

-Mais alguém veio visitá-lo hoje?

-Não.

Olhei para a Clara e balancei a cabeça negativamente. Caminhamos de mãos dadas – ainda – para o  quarto que meu pai estava. Ficamos ali por alguns minutos, a minha namorada ficou um pouco distante e eu sentei na ponta da cama – na altura do seu quadril – beijei sua testa e fiquei acariciando suas mãos.

Perdi a noção do tempo que fiquei ali olhando aquela fisionomia tranquila, mas que estava me deixando deveras preocupada. Só acordei do meu estado de transe quando o celular da Clara começou a tocar, ela o pegou dentro da bolsa e saiu para atender, voltou alguns minutos depois:

-Amor, tem visita para você.

-Para mim? Quem está doente aqui é meu pai – não conseguia imaginar quem poderia ser.

-Deixa de reclamar e vem aqui fora comigo.



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