Capítulo 30
Acordei por volta das 12h e a Clara ainda dormia, pedi um pequeno “café da manhã” e quando chegou fui acordar, ainda, minha namorada e só consegui depois de muita insistência:
-Poxa amor, deixa eu dormir só mais um pouquinho.
-Nada disso, preguiça. Temos um almoço na casa da minha mãe, esqueceu que hoje é o aniversário dela? E ainda temos que passar em seu apartamento para pegar o presente que eu acabei deixando lá.
Tomamos o banho regado de carinho, comemos o que pedi e fomos embora. No apartamento da Clara, trocamos de roupa e pegamos o presente. Fomos para a casa de minha mãe de moto mesmo. O almoço foi uma maravilha, a única exceção foi a presença da minha madrinha que eu não gosto porque de madrinha ela nunca teve um comportamento parecido, eu costumo dizer que ela é uma amiga de minha mãe que me batizou. A gente só se via uma vez no ano que era meu aniversário, e olha que moramos sempre na mesma cidade e em bairros relativamente próximos. Depois que minha orientação sexual foi revelada, aí mesmo que nosso relacionamento foi por água abaixo. Nem nos falamos, para dizer a verdade. Ela não me procura e nem eu faço a mínima questão. Eu estava ali para o aniversário da minha mãe e ia me divertir de qualquer forma, ela estando no local ou não. Procuramos ficar afastadas o máximo possível, minha mãe foi muito gentil com a Clara, minha avó nem se fala, ficou paparicando mesmo a minha namorada sob os olhares de reprovação da mulher que me batizou.
Almoçamos, bebemos, rimos, nos divertimos muito, era uma festa pequena, um simples almoço entre a família e alguns amigos de minha mãe, mas muito divertido como há muito tempo não acontecia. Decidimos ir embora por volta das 17:30h porque tínhamos marcado um encontro com Dani, Paula, Bruna e Rafa no Originally.
O bar Originally é uma espécie de casa de show LGBT que funciona aos domingos com música ao vivo, o lugar consegue atrair um seleto grupo de meninas – em maioria – além de alguns rapazes.
Chegamos no local após as 18h e as quatro já estavam a nossa espera. Definitivamente meu fim de semana estava perfeito, minhas amigas estavam ali comigo dividindo essa alegria. Eu queria contar para Rafa sobre o casamento, mas eu estava esperando essa iniciativa da Clara, afinal de contas não havíamos conversado se faríamos alguma coisa, se seria surpresa quando ela voltasse de viagem.
-Amiga – Rafa estava visivelmente alterada pela bebida – você está com um brilho diferente nos olhos. O que foi que você ainda não me contou? – disse alto o suficiente para que todas da mesa parassem de conversar e escutar minha resposta.
Eu estava com o braço apoiado no encosto da cadeira da Clara, olhei para ela, em seguida para minha amiga e passei os olhos pelas outras três. Sorri.
-Impressão sua Rafa, preciso de outra Coca-Cola – tentei mudar de assunto.
A Clara passou a mão em minha perna e sorriu me beijando em seguida. Tomou um gole de seu Gin:
-É simples Rafa – pausa – a gente vai casar e no fim do ano vamos para Portugal para a Duda fazer a especialização dela.
Sabem quando uma notícia é dada assim de repente que você acaba fechando os olhos e quando não escuta o estouro, abre somente um? Pois é! Foi isso o que acabei fazendo inconscientemente, em seguida abri o outro e todas continuavam olhando para nós duas esperando uma explicação para aquela informação.
Rafa parecia que tinha saído do transe fazendo várias perguntas não dando tempo para serem respondidas. Olhei para a Clara, ela sorriu e apoiou a cabeça em meu ombro, já que meu braço continuava apoiado no encosto da sua cadeira:
-Amiga, por que você adora complicar as coisas que são tão fáceis de assimilar?
-Você está me chamando de burra?
-De maneira alguma, amiga. É que você adora achar complicações em coisas simples.
-Tá, então me explica.
-Eu e a Clara vamos nos casar assim que ela voltar dessa viagem, concluiremos a ONG e iremos para Portugal em dezembro, onde eu farei minha tão sonhada especialização e ela pesquisará algumas coisas para tirar do papel seus próprios projetos.
-Só não gostei porque ficarei longe de você – disse manhosamente.
-Rafa, eu sei que você me ama, mas agora eu amo a Clara e você tem que se contentar com a Bruna.
-Idiota! – riu – vou sentir falta dessas suas besteiras.
-Hei, eu não vou embora amanhã. Isso é só em dezembro e estamos em março, deixa de drama, Rafa.
Todas riram e minha amiga ficou me batendo. Continuamos nossa conversa, bebendo, brincando, rindo muito, zoando umas com as outras.
-Clarinha!
Respirei fundo, joguei minha cabeça para trás com os olhos fechados.
-Oi Rê – Clara beijou-a no rosto
-Dani, quanto tempo…
-Graças a Deus – sorriu cinicamente.
Tentei esconder meu sorriso, mas foi complicado e levei uma leve cotovelada da Clara:
-Bruninha, como vai?
-Ótima, e você?
-Muito bem também.
-Eduarda, não larga mais a Clara, hein?
-Tenho que cuidar do que é meu porque tem pessoas nada confiáveis e muito inconvenientes a solta principalmente agora que vamos casar.
-Uau – não escondeu o eto – Rápida, Eduarda.
-O nome disso é amor, querida.
Depois dessa a tal Renata sumiu e caímos quase todas na gargalhada, cheguei a chorar:
-Vocês não deveriam ter feito isso. Dani e Duda, que duplinha vocês, hein?
-Claro, Clarinha. Ela é minha irmã, esqueceu? – rimos.
Continuamos nos divertindo e a Renata foi esquecida:
-Vamos ao banheiro comigo, Duda?
– Só vou porque estou com vontade mesmo – virei para a Clara – já volto, amor – beijei levemente seus lábios. Tive um pressentimento ruim. Beijei seus lábios novamente e me afastei um pouco para olhar em seus olhos.
-Duda, você vem ou não? – Rafa estava impaciente. Puxou-me.
Andei em direção ao banheiro, mas olhando a Clara até onde a minha visão alcançava.